Era impressionante como tudo corria pior a cada dia que passava. Claro, eu era feliz em Londres, óbvio. Mudara-me para cá há dois anos, tenho atualmente 17 e não me arrependo minimamente da minha mudança. Claro que tinha sido dificil uma vez que eu era portuguesa e o meu inglês não era perfeito na altura mas que importa? Era bom para mim mudar daquela maneira. Ainda assim, sentia que faltava algo. Continuava a faltar algo. Mas o quê? Sempre pensei que fosse a felicidade a única coisa que me faltava mas eu já era feliz... Então o que é que faltava? Raios partam os ovos de dinossauro todos, detestava esta sensação de vazio que ainda estava em mim. Faltava algo para me completar. Mas o quê, caralho?

- Aria, vais chegar atrasada. - Anunciou a minha mãe à porta.

A minha mãe era parecida comigo pra caralho. Era morena de cabelo negro e olhos castanhos que mudavam de cor para verdes. Eu tinha saído ao meu pai nos olhos, mas não muito, uma vez que eu sempre tivera os olhos negros e os do meu pai são da cor do mel. Coisa que eu detestava agora era o facto de os meus olhos estarem a ficar mais claros à medida que o tempo passa, sofrendo uma mutação, passando de negros a verdes. Mudança esquisita e odiosa. Adorava os meus olhos negros e detestava olhos verdes. Raios partam os meus genes.

O meu pai morrera quando eu tinha 10 anos mas a minha mãe voltou a casar quando eu tinha 14 anos. O Paul era de Inglaterra e foi um dos motivos para nós nos mudarmos para aqui. Já não me lembrava do meu pai, quase, mas não me importava pois lembrava-me de que a minha relação com ele não era muito boa, uma vez que passávamos dias inteiros a discutir por tudo e por nada. O Paul, por sua vez, tratava-me bem e, apesar de não fazer tudo o que eu queria, tratava-me como uma filha. Nunca tive aquelas crises de criança mimada quando a minha mãe anunciou que tinha um novo namorado, passados três anos da morte do meu pai e quando um ano depois anunciou o seu casamento com aquele homem corajoso e honrado que eu tinha orgulho de chamar padrasto. 

- Estou a descer já. - Anunciei, pegando na mochila e saíndo do meu quarto em direção à cozinha. 

Comi o pequeno-almoço e, depois de me despedir da minha mãe, caminhei até à escola que era a três quarteirões da minha casa. Odiava as pessoas da escola. Não era por mal mas... sei lá, eles não mostravam quem eram, andavam sempre com uma máscara de pessoa perfeita que enganava imensamente bem. Claro, eu não tenho muita moral pra falar uma vez que também eu usava uma máscara. Com a excepção de que a minha era de arrogância, evitando assim a aproximação de alguém. Claro que isso não mudava o facto de eu ter amigos, porque eu tinha. Tinha aqueles que eu permitira a entrada na minha vida, aqueles em quem eu pensava poder confiar.

Cheguei à escola de fones nos ouvidos e música no máximo, sem me preocupar sequer em cumprimentar os conhecidos falsos que passavam por mim. Caramba, era impossível ser totalmente feliz quando não há nem uma pessoa honesta à nossa volta.

Cheguei à primeira aula e sentei-me no meu lugar, esperando a aula começar, até que um rapaz se sentou ao meu lado na carteira dupla.

- Olá, sou o James. - Apresentou-se o rapaz.

- Ariadne. - Disse eu, com simplicidade.

- Prazer, Ariadne. - Disse ele, estendendo a mão num cumprimento.

- Igualmente. - E apertei-lhe a mão, sem mostrar um único sorriso.

Nesse momento a campainha soou, dando início a uma aula de inglês super entediante leccionada pela Miss Bolton. Quem queria estudar literatura inglesa nesta altura? Pelo amor da deusa, matem-me agora e deixem-me dormir. E assim fiz, dormitei a aula inteira até a professora me acordar batendo com a régua na minha mesa, quase me matando de coração. Credo, que bruta mal-criada. Já não se pode dormir nas aulas?