-Santo Deus! - exclamei ao olhar para o relógio. Já passava das nove horas da manhã, horário no qual eu costumava caminhar até a universidade. Revirei os olhos enquanto me arrumava, lembrando de um dos discursos de minha mãe. "Você deveria seguir a carreira da sua irmã, ser atriz como ela e largar a faculdade. É só dinheiro jogado fora, Lis." 

Seguir os passos de minha irmã? Não, obrigada, eu prefiro ter uma carreira de verdade. Pseudo atriz, patricinha e arroz de festa; foi nisso em que Bianca se transformou por causa do Leto. Oh Deus, por que ela? Caramba, meu único suporte agora havia se tornado minha maior inimiga. Que vida.

Correndo para a escola, não percebi alguém vindo em minha direção e o esbarrão foi inevitável. Levantei os olhos e, quando vi quem era, recolhi meu material rapidamente voltando a correr para a escola enquanto tentava controlar a raiva que escondia em meu olhar.

[Casa dos Leto, 8:30 p.m]

-Porra, Bianca, eu não quero! Quantas vezes eu vou ter que repetir esta droga até você entender que eu me recuso a entrar na casa desses idiotas, patifes, malditos capitalistas... -  resmungava, enraivecida, enquanto Bianca me puxava porta adentro da casa dos irmãos idiotas. - Só porque nossa mãe também viria, não quer dizer que eu seja obrigada a vir, droga.

-Cala a boca, isso é pela mamãe. É o aniversário dela, então me ouça: você calar a boca, engolir suas opiniões, botar uma droga de sorrisinho falso nessa sua boca torta e tratar de fingir que está gostando da maldita da festa, entendeu? - Bianca retrucou e, em um gesto rude, mostrei-lhe o dedo do meio.

Não havia jeito... Entrei na festa com o melhor sorriso falso que consegui transparecer (o que, ao meu ver, devia estar fazendo muito bem, pois acreditaram) e tratei de ficar em um canto isolado o tempo inteiro. Minha mãe, então, veio sentar-se ao meu lado na escada.

-Filha, o que foi? Te conheço bem, e esse sorriso falso não me engana.

-Mãe... - suspirei. - Você sabe que eu vim forçada, certo? Eu te amo demais, mas esses... esses... - respirei fundo para me controlar. - Eu não me dou bem com eles. Enfatizei o sujeito da frase referindo-me a Jared e a todos que o rodeavam. - Hoje mesmo o irmão dele esbarrou comigo na rua e me fez derrubar todos os livros, e sequer me ajudou a recolhê-los. A única coisa que consigo ver são pessoas mesquinhas e com o ego inflado. Será que eu sou a única que vê mal nisso?

-Para de drama, Lis. Você sabe que sua irmã está apaixonada. - ela concluiu.

-Por um idiota, isso sim. - murmurei. - Este não é o caso, afinal. O que quero dizer é que eu vou me mudar para...

-Oi Alice! - Shannon, o mais velho dos irmãos Leto, me interrompeu. Olhei para ele com um olhar assassino.

-Oi. - respondi seca. -Não vê que está atrapalhando?

-Modos, Alice, tenha modos. - minha mãe sussurrou após me dar uma cotovelada discreta. Revirei os olhos novamente.

-Desculpe, Lis, só vim me explicar pela atitude de hoje. Eu estava atrasado para uma reunião da banda, por isso não tive tempo de ajudá-la a recolher seus livros. - ele respondeu docemente, mas percebi a falsidade em sua voz... Pena que minha mãe não percebeu.

-Sem problemas. - respondi, igualmente falsa. Ele se virou e voltou para seu irmão mais novo, Jared, sussurrando algo. -Cara idiota, filho da puta... - comecei a resmungar, mas minha mãe me repreendeu com o olhar antes de ir de encontro a aniversariante, Constance Leto iniciando um animada conversa me deixando novamente sozinha. Como sempre.

O grande problema de ser a irmã mais nova era o fato de que minha mãe achava que eu deveria ser exatamente igual a Bianca... Não. Eu era o exato oposto de minha irmã: cabelos, modo de se vestir, de agir... E ainda assim era sempre comparada a ela.

Sentia saudades da sua velha irmã, do modo com que se tratavam antigamente. Sim, mais que irmãs, eram almas amigas de muitos éons atrás. Sentia um vazio no peito ao pensar em Bianca, mas não  por muito tempo; pois logo atrás vinha um sentimento de aversão e repulsa pelos Leto.

Por que eu? Por que Bianca?

Eu quero minha irmã de volta!

Dirigiu seus olhos para Bianca, que encontrava-se no encalço do namorado enquanto dançava sensualmente para ele.

Ao ver tal cena obrigou-se a desviar o olhar tal era o constrangimento que sentira. a irmã estava tão obcecada (apaixonada, seria correto?) por aquele canalha que sequer se lembrava de sua essência. Se não tivesse convivido com ela por tempo suficiente, diria que sempre foi assim... Mas no fundo eu sabia a verdade: eu havia morrido para ela, e ela havia morrido para mim.

Nossos corações clamavam por união, mas nossa alma, nosso ego não nos permitiria uma vida assim novamente. O destino, se esse fosse o dela, havia me decepcionado e me enfraquecido. Desisti de lutar. Voltei para casa enquanto todos preparavam-se para cantar os parabéns. E, mais uma vez, com o coração sangrando por velhas memórias de um recente passado.

Me derramei em meus sonhos noturnos e esperei silenciosamente por mais uma manhã vazia... Que venha mais um entediante e tortuoso fim de semana.