Outtake V — Príncipe e Princesa

[...]

— Bella, você está linda! — Alice gritou assim que terminou de fazer a minha maquiagem. Não contestei. Apenas sorri, porque eu sabia que partindo de Alice eu tendia a ficar apenas mais bonita.

Eu estava nervosa.

Quero dizer, nervosa era um eufemismo para o que eu estava sentindo.

Era a minha festa de quinze anos. Exatos dois anos desde que eu conheci Edward, e exatos dois anos que estávamos juntos.

Na verdade, Renée acredita que estamos namorando há pouco mais de seis meses, mas ela não precisa saber que eu venho tendo encontros às escuras com o meu príncipe.

Hoje, ele seria o meu príncipe de verdade e eu seria a sua princesa.

Poderia até soar um pouco tosco, essas coisas de esperar por um conto de fadas, mas eu continuava acreditando no tão velho e conhecido "felizes para sempre" e porque a minha história com Edward não poderia seguir o mesmo destino?

Em menos de um ano Edward iria para a faculdade. Eu estava bem em lidar com isso, nós já havíamos nos acostumado com a distância que havia entre nossas residências, e isso era algo até bom. Sentíamos falta um do outro e isso apenas colaborava para que eu me apaixonasse ainda mais por ele. Novamente. A cada dia. A cada novo reencontro.

— Bella! — quase pulei do meu assento ao ouvir o grito estridente de Alice.

Virei-me para encará-la, com uma expressão que a fez dar de ombros. Tanto faz, nanica prepotente!

— Estou tentando falar com você há quase um milênio! — ela exagera, levando suas mãos para o alto. Ela está nervosa. Posso perceber isso pela agitação evidente em seus olhos, e a razão de seus orbes azuis vaguearem consideravelmente até a porta de entrada do meu quarto e novamente para mim. — Ele está aí — ela sussurra como se estivesse me contando o mais precioso segredo.

Encaro-a com a minha testa franzida. Estou tão desconectada com o mundo real que demoro a compreender quem seria ele que Alice se referia tão inquieta.

— Seu namorado! — ela diz um pouco mais alto e eu finalmente compreendo.

Edward

Edward estava aqui.

Ele cumpriu a sua promessa. Mais uma vez. Apesar de ter que estudar esse final de semana para o exame do SAT ele estava aqui. Na minha festa de quinze anos. Eu poderia novamente e novamente e novamente me apaixonar por ele?

Levantei-me pronta para me dirigir até a entrada do meu quarto e recepcioná-lo, mas as mãos de Alice presas em meu braço me impedem de continuar a minha rota.

— Alice... — encaro para os seus dedos.

Ela me encara de volta, e eu automaticamente fico intimidada com o seu olhar em resposta.

— Você ainda não está pronta! — ela aponta para mim. — Você não quer assustar o pobre rapaz indo ao seu encontro com vários bobs em seus cabelos, quer?

E então eu desabo.

A anã tem razão. Mais uma vez.

Sinto vontade de erguer o meu punho em direção ao nariz de Alice.

E essa não é a primeira vez que eu sinto esse desejo em colocar uma marquinha roxa em suas narinas, mas eu não sou boa com brigas. Eu seria capaz de acertar meus olhos ao tentar dar um soco na nanica.

Perceba como é a minha coordenação motora.

— Tudo bem — eu cedo. Sento-me novamente no assento de madeira, com os braços cruzado e evidentemente impaciente. Bato os saltos da minha sandália contra o piso, e até para mim aquele som estava sendo estupidamente irritante. — Não demore muito, eu não quero deixá-lo esperando.

Alice sorri. Ela volta a trabalhar em meus cabelos, sendo triplamente malvada ela não me deixa acompanhar o seu "serviço" através do meu reflexo no espelho.

— Você nunca poderá se casar, Bella — Alice diz quando desliza o pente sobre os meus cabelos. — Ao invés do noivo esperá-la, seria você quem esperaria Edward em cima do altar, reclamando a cada cinco minutos o quanto o noivo estava atrasado — eu não lhe respondo nada. Sei que Alice está um pouco certa. Pouco. Ok. Talvez muito. Alice acrescenta logo em seguida: — O detalhe é que faltárá cerca de duas horas para a cerimônia!

— Não seja tão exagerada! — censuro, apesar de saber que ela tem razão.

— Você sabe que estou sendo realista, Bella querida — responde-me com a sua voz de soprano. — O pior seria se um dia você engravidasse! — ela para o seu "trabalho" apenas para gargalhar. De mim. Ótimo. — Bella, você poria seu bebê para fora de sua barriga antes mesmo dos cinco meses!

— E por que as mocinhas estão conversando sobre gravidez? — Acho que naquele momento eu estava entalhada na madeira. Eu havia perdido os meus sentidos, e acho que Alice estava de modo semelhante a mim. Renée entrou em meu quarto em um momento que nem percebi qual, tamanha era a minha distração com a conversa de Alice e suas justificativas para a minha eventual pressa para qualquer tipo de coisa. — Alguém irá me responder? — Renée questionou outra vez.

Completamente assustada, virei o troco em direção à porta de entrada, encontrando rapidamente a figura de Renée. Minha mãe é aquele tipo de mulher que intimida as pessoas. Isso era bom. Apenas em sua profissão. Mas no dia a dia era cansativo demais vê-la sempre com aquele semblante fechado e parecendo que iria explodir a qualquer minuto. Renée é muito semelhante a uma bomba-relógio, e parecia que ela estava no ponto exato de explodir.

— Estávamos apenas conversando... — Alice começa a falar. Ela está com medo, eu percebo. Quem não ficaria, afinal? — Sobre como a Bella é apressada.

— E como uma gravidez se encaixaria nesse defeito de Isabella? — minha mãe novamente interroga. Sinto uma vontade assoladora de choro me atingir. Renée sempre tinha que chegar o momento errado para acabar com a minha felicidade.

Ela não era feliz com Charlie e eu descobri isso há apenas um ano. Meus pais vivem um casamento de aparências; vivem na mesma casa, dormem no mesmo quarto, mas não são mais um casal desde a volta de Renée. Talvez por eu ser nova demais, nunca compreendi que Charlie jamais aceitou de forma completa o retorno de Renée depois de sua longa ausência. Mas eu não estava mais cega para isso.

Controlando a vontade de chorar, eu respirei fundo. Renée não estragaria a minha felicidade com a sua áurea maligna.

— Mãe, por favor, — quase implorei. — Não estraga a minha festa.

Renée abriu a boca para contestar, mas antes de isso acontecer eu levantei-me da cadeira, arrastando Alice para o quarto de hóspedes onde ela poderia terminar o meu penteado. Em seguida, nós poderíamos nos dirigir até o pequeno jardim nos fundos da casa onde estava ocorrendo a minha festa de aniversário. Recusei veemente a proposta de Renée em fazer-me uma festa pomposa em Seattle, em um espaço mais amplo e com mais riqueza. Mas não haveria os meus amigos, sendo assim não seria uma festa para mim. Seria uma festa para Renée. E aquele era o meu dia. Sendo simples ou não, eu estava feliz.

Chegamos ao quarto de hóspedes que ficava no mesmo corredor que o meu. Ao passarmos pela porta, tomei o cuidado em trancá-la para não corrermos o risco de mais uma vez obtermos uma interrupção e atrasar ainda mais o meu momento de encontrar Edward.

Depois de vinte minutos puxando o meu cabelo de um lado a outro, alisando-o com uma escova, passando vários e vários sprays que eu desconhecia a sua utilidade, e ter meu couro cabeludo variadas vezes machucado quando Alice enfiava alguma presilha, tiara, etc., eu estava finalmente pronta.

— Agora sim, Bella, você está pronta! — Alice declarou orgulhosa de seu próprio resultado. Contudo, ela não me deixou observar por mim mesma como eu estava produzida para a minha festa. Eu estava ficando irritada com Alice, mas eu não seria capaz de contrariá-la. Apesar de desejar ardentemente fazer isso. — Tenha uma boa festa. — Ela me deseja e eu não posso me conter. Abraço-a apertado porque a minha festa seria incompleta sem a presença de Alice.

Porém, eu compreendia que ela precisava ir embora. Seu pai, Carlisle, estava doente e como Alice não tinha uma mãe presente e a governanta da mansão estava em seu período de férias, Alice estava cuidando do pai. Não fiquei magoada, pois eu faria o mesmo por Charlie. Apenas por Charlie.

— Sentirei sua falta — consigo murmurar. Abraço-a ainda mais apertado. Fico receosa em quebrar o seu corpo tão frágil.

— Estarei aqui logo pela manhã, eu prometo — ela toca o meu rosto, limpando uma lágrima que escorreu de meus olhos. — Não seja idiota estragando a maquiagem que eu demorei uma era para fazer! — ela me recrimina, mas eu reconheço que não há nenhuma espécie de fúria subliminar. — Não posso ter meu trabalho desperdiçado por uma crise de menininha, Isabella!

Tento lhe oferecer a minha melhor expressão. Mas eu não consigo fingir nem mesmo para mim.

— Divirta-se! — ela grita antes de correr para fora do quarto. Quando ela some do meu campo de visão, eu apenas arrumo o meu vestido que ficara um pouco amassado e ando a passos curto até a escada que me levaria até a sala de estar e então eu seguiria para o jardim.

Não seria na verdade uma festa grande demais. Seria apenas uma comemoração simples, com a presença de alguns amigos — poucos —, alguma comida e uma boa música amplamente selecionada a dedo por Renée.

Eu não estava vestindo nenhum vestido espalhafatoso que me fizesse ficar semelhante a uma noiva. Eu estava até que... simples, mas combinando com a informalidade da ocasião.

O vestido que eu usava era um rosa todo em cetim brilhante e tomara que caia. O decote do vestido era em formato de um V, e na parte dos seios havia uma sobreposição de um tecido rendado preto com formas de flores e na direção da cintura havia um enorme laço. Presente de Alice. Eu nunca seria capaz de escolher algo do tipo. Em meu pulso havia uma pulseira de ouro branco que Edward havia me dado como presente de aniversário de quatorze anos. Apesar de eu ter negado o presente, a princípio. Era algo caro demais, mas eu não consegui recusar o seu presente quando Edward fez uma expressão triste diante da minha recusa.

Assim que terminei de descer as escadas, eu encontrei Charlie. Ele estava feliz, eu conseguia perceber. Principalmente pelo largo sorriso em seus lábios.

— Parabéns garota — ele me cumprimentou, assim que eu estava à sua frente.

— Obrigada papai — dei-lhe um abraço apertado.

— Quinze anos, Bells, eu ainda não consigo acreditar! — ele murmura beijando meus cabelos. Afastamos-nos apenas para ele beijar a minha testa. — Lembro como se fosse ontem o dia em que você era uma criatura tão pequena que se perdia em meus braços.

Fiquei surpresa e emocionada com a revelação de Charlie. Meu pai costuma ser discreto e ser bem evasivo quando se trata de sentimentos. Tenho uma breve desconfiança que Charlie seja tímido.

— Papai! — abraço-o novamente.

— Está na hora de você ir aproveitar sua festa, menina — Charlie me diz, assim que começamos a andar em direção ao jardim. — Edward está à sua espera. Devo me arriscar a dizer que o garoto não é muito paciente.

— Edward é uma boa pessoa.

— Sim, ele é. Sua mãe também está presente. Ela me pareceu ansiosa em lhe conhecer.

Eu fico surpresa imediatamente.

A mãe de Edward estava presente?

Então, apresentar-me a sua mãe era a surpresa ao qual Edward se referia quando conversamos ao telefone há exatos dois dias?

— A mãe de Edward está aqui, em nossa casa? — murmuro a Charlie, assim que consigo encontrar a minha voz.

— Você não sabia? — Charlie pareceu surpreso quando se pronunciou novamente. Ele suspira. Ajusta o seu bigode, e eu sinto vontade de gargalhar com o seu ato. — Ela é uma mulher muito bonita e agradável — discorre o chefe, como se estivesse conversando sozinho. — Você, por acaso, sabe que ela é a ex-esposa de Carlisle Cullen, o pai de Alice?

— Sempre desconfiei, mas eu nunca abordei nenhum dos dois sobre isso. Acredito que isso não seja do meu interesse.

— E realmente não é — Charlie me garante rapidamente. Ergo as minhas sobrancelhas para ele, confusa por ele saber tanto assim da vida do conhecido médico de Forks. — Carlisle e eu somos amigos. Esporadicamente saíamos para caçar juntos, mas isso não acontece há... — ele deu uma pausa apenas para pensar. — Acredito que fazem mais de dez anos.

— Eu não sabia que vocês eram... Amigos.

— Forks é uma cidade pequena demais para se criar inimizades, Bella. Carlisle é um médico. Eu sou o Chefe de Polícia da região. É quase inevitável que não mantenhamos contato. Apesar de ser bem pouco.

Nossa conversa termina ali. Não porque eu não aprecie dialogar com Charlie, mas a questão era que meus olhos haviam sigo guiados diretamente para Edward. Ele estava sentado em uma cadeira mais adiante de todos, debaixo de uma grande árvore e havia uma mulher ruiva ao seu lado. A sua mãe, talvez. Ela segurava uma das mãos de Edward, enquanto seus olhos percorriam por todo o ambiente procurando por alguma coisa. Ou pessoa.

O olhar da mulher repousa sobre mim. Eu rapidamente enrijeço, mas Charlie está ao meu lado e ele percebe a minha hesitação. Logo após ser reconfortada por meu amado pai, continuamos com a nossa trajetória em direção à mesa onde estava o meu príncipe.

A mãe de Edward rapidamente me alcançou com seus enormes olhos azuis — como os de Alice — e ela cochichou algo no ouvido de Edward, pois logo em seguida ele virou-se em minha direção. Seu sorriso quase me fez derreter. Eu nunca havia me acostumado com a beleza de Edward e quão absurdamente lindo ele estava ficando a cada dia. E quando eu lembrava que ele me amava e que estávamos juntos... Eu realmente acreditava que estávamos vivendo em um conto de fadas.