- Vallie, Vallie! É hoje, Vall! Acorda!

Abri os olhos um pouco irritada com meu irmão, mas assim que lembrei que dia era aquele, sentei-me na cama e perguntei:

- O que, John, o show?

- Sim, Vallie! Pela primeira vez, eu vou tocar no Cavern! Não é o máximo?!

- É sim, Johnny!- Cavern é um pub daqui de Liverpool, um dos lugares mais divertidos e populares da cidade.

- Você vai, não vai? - John me olhou, suplicante. Seu olhar era vago por causa da miopía, mas seus olhos eram lindos, iguais aos de nossa mãe, Julia. Quando ela morreu, John começou a ter um certo desprezo pelas mulheres, exceto por mim, pois eu também perdi a mamãe, mesmo ela não tendo muito tempo de "mãe" para a gente.

- Claro que vou, Johnny Boy! eu não perderia isso por nada!

- Ótimo! Então o plano é o seguinte... - John desembuchou a falar sobre nosso plano de sairmos escondidos pela janela do meu quarto. Ele me ajudaria a pular.

 Enquanto isso, minha mente vagava por outros cantos, outros tópicos que meu irmão nem imaginava que existiam.

Paul McCartney. Eu sou simplesmente apaixonada por esse garoto desde que eu tinha 14 anos. Ele tinha 15 e vinha diretto aqui em casa para ensaiar com John. Ele é uma graça: tem cabelos escuros e sedosos, olhos esverdeados, tem uma boca carnuda (que parece que pede para ser beijada) e, por incrível que pareça, aparentemente, suas feições são feitas de porcelana. Sua voz melosa parecia ter sido cuidadosamente tecida pelos anjos mais belos.

Paul e eu nos falávamos bastante, mas ele nunca demonstrou nenhum interesse em mim, talvez porque John sempre estivesse por perto, ou talvez porque houvessem tantas garotas aos seus pés que ele não estivesse interessado em uma garota sem graça como eu.

Paul e meu irmão eram os galãs de Liverpool. Todas as garotas que eu conhecia eram definitivamente apaixonada por eles. Bem, John era mais do estilo bad boy, que transava com todas as garotas em uma só noite, mas Paul... Paul era diferente...

- Vall, você está me escutando? Eu disse que o Paul vem aqui nos buscar com aquele furgão idiota.

- Ah, o Paul! - disse com meu coração acelerado - O Paul!

- Que isso, Valentina?! Andou se drogando, é?! - John caiu na risada e, para não parecer estranho, ri com ele

- É difícil pensar direito quando alguém te acorda gritando, não é? - ri e abracei John. Ele era o mais próximo de uma figura paterna que eu poderia ter, mas eu e John éramos mais do que isso.

Tia Mimi nos chamava de 'irmãos amantes' porque costumávamos fazer tudo juntos, mas sem nenhuma maldade. Não tínhamos segredos entre nós e éramos totalmente amáveis um com o outro

Continuamos abraçados por algum tempo, sentindo a respiração dele no meu pescoço. eu amava aquela sensação e aqueles eram os únicos momentos que eu me sentia realmente amada.

- Te amo, Johnny!

- Eu também te amo, Vallie!

- John, Valentina! Vocês vão se atrasar! - gritou Mimi ao pé da escada

- Já vou! - dissemos os dois no mesmo momente, o que nos levou a uma outra rodada de risos.

- Vai lá, Vall, senão ela nos mata. - disse ele, dando-me um beijo na testa.

Levantei-me e, com muita preguiça, fui andando lentamente até o meu quarto, porque havia dormido no quarto de meu irmão na noite anterior.

Puz meu uniforme e peguei um pãozinho na cozinha para comer no caminho. Nem esperei John, pois nossas escolas eram completamente de lados opostos. Peguei minha bicicleta no jardim e saí pedalando pelas ruas calmas de Liverpool.

Quando estava já na metade do caminho, algo aconteceu com a minha bicicleta e eu caí de cara no chão.

- Ah! - exclamei, examinando minhas mãos e meus joelhos, que continham uns cortes, não muito feios mas que ardiam muito. - Merda!

- Está tudo bem moç... Vallie! O que houve com você?