EDWARD

SEGUNDA SEMANA – DISTANCIA

E eu  já não sabia mais o que fazer, como estava no contrato eu a levaria para o trabalho e um motorista particular levaria Nessie para a escola, na época fizemos isso para que nos aproximássemos, mas agora tinha visto que isso foi uma idéia idiota. Bella acordou, arrumou Nessie, verificou sua glicose e depois tomou café. Não me deu bom dia, não olhou nos meus olhos e muito menos se aproximou mais que o necessário. Entramos no carro e ela começou a telefonar, falava com tudo e todos. Ela queria terminar a fusão, estava empolgada com alguma coisa que eu não consegui captar o conteúdo. Não iria me interessar mais que o necessário. Ela não era minha, nós não tínhamos anda. Ela não me amava mais. Eu não merecia seu amor, não merecia nada que viesse da parte dela. Entramos na empresa e farsa começou, ela me beijou na frente do segurança e sorriu quando deixou o carro. EU DETESTEI AQUILO!

- Vai me buscar no hotel?- ela disse no elavador. – Sua voz era tímida, baixa.

-  Que hotel?

- Hoje eu não vou ficar aqui, tenho uns compromissos fora ,no contrato diz que tenho que ir e voltar com você... isso vai ficar complicado hoje...

- Hum... pode voltar sem mim. Pegue um taxi ou mande um motorista te pegar.

- Tudo bem. – ela disse de cabeça baixa.

Quando entramos ela se distanciou, sorriu e foi para sua sala. Não a vi mais, não procurei e também no fim do dia fui para casa. Sue cuidava de Nessie e fui brincar com ela, aquilo estava longe de ser uma família feliz, estava longe de ter algo normal. Minha esposa me odiava e precisávamos fingir até para nossa menina como as coisas estavam. Quando deu dez horas ela chegou com roupas diferentes, uma sacola na mão e eu precisei não pensar o que poderia ter acontecido naquele hotel para ela chegar aquela hora com outras roupas. Eu iria enlouquecer, juro que aquilo era a morte lenta e cruel que ela planejou, eu estava sentindo dor em cada parte do meu corpo. O perfume masculino nas roupas, eu senti quando ela foi tomar banho e eu revirei as roupas. Não perguntei, não pensei. Ela deitou com uma camisola longa, branca e transparente. Não dormiu, eu fingi e me virei para o outro lado. Ela estava no computar, trabalhando e  fazendo anotações em alguns papéis. Quando deu duas manhã a luz ainda batia forte no meu rosto, Bella estava adormecida na cama, o computador ligado. Desliguei depois de salvar e a coloquei numa posição melhor, ela gemeu um pouco, mas depois cedeu ao sono. Foi uma semana longe um do outro, ela me agradeceu no outro dia pela gentileza e foi só, não trocamos mais que duas palavras até sexta.

- CORRE! – eu disse brincando com Nessie um dia. – CORRE SE NÃO TE PEGO!

- PAI! ASSIM NÃO VALE!

E caímos no sofá rindo, Bella entrou nessa hora. Ela olhou o relógio e já eram onze horas.

- Para cama mocinha!

-MÃE! O BUBA PODE FICAR AQUI EM CASA?

-Não... – ela riu, o tal do cachorro tinha uma casa do lado de fora, mas Nessie dizia que o cachorro sentia falta dela. – ele vai dormir na casa dele e você na sua cama. 

- Como foi seu dia?

- Meu dia foi interessante.

- Comprou?

Bella sorriu.

- Deixei no carro depois a gente vê. Agora vamos dormir.

- Lê para mim?

Bella estava visivelmente cansada, mas ela iria fazer, eu tinha certeza.

- O quê?

- Austen... Razão e Sensibilidade. Aquele trecho...

- Pode ser, vai se arrumando, preciso falar com seu pai.

Eu estranhei.

- Tirei dez na prova, deixei na geladeira.

- ótimo!

Nessie saiu correndo e Bella me olhou nos olhos, primeira vez.

- Tenho uma amiga que trabalha no governo. Ela disse que deu uma olhada no nosso caso, teremos uma visita surpresa amanhã.

- Como...

- Bom, eu sei que você tem Jasper controlando isso, mas achei melhor não arriscar. Ela virá de tarde, acho melhor ficarmos em casa amanhã.

- Tudo bem.

- Nessie tem um passeio no Museu Nacional de Geografia e Ciências. Deixe recado com sua secretária.

- Ela me avisou.

- Seremos só nós dois.- Ela disse num tom estranho.

- Sem problemas. Vai sair? Quero dizer...

- Só de noite, tenho um compromisso. Vou demorar, coloque Nessie na cama para mim por favor.

Meu sangue ferveu, SÁBADO A NOITE ELA SAINDO.

- Acha certo isso?

- Sair sábado?

- Você casou...

Ela riu. Um riso sem vida, sem vontade.

- Sabe Edward, você realmente não me conhece.

E eu fiquei em dúvida, o que ela estava falando.

SEGUNDA SEMANA – CONHECIMENTO

Acordamos cedo para levar Nessie na escola, eles iriam passar o dia inteiro fora. A professora programou um dia cultural interessante, mas os pais não haviam sido convidados e a escola era muito rígida nesses assuntos. Voltamos em silencio, Bella estava no telefone. Quando chegamos ela foi direto para o escritório e passou a maior parte da manha lá, ela gritou algumas vezes no telefone e eu estranhei. Quando resolvi ver o que tinha acontecido a campainha tocou.

- BELLA AMOR... TEMOS VISITAS. – Esse era o código. Olhei o relógio e vi que era cedo. Fui abrir a porta e era uma senhora com uma criança, não era a visita que esperávamos.

- Oi... Sr. Cullen... Bella está? – a voz dela era nervosa.

- Claro, no escritório. Entre...

Bella apareceu.

- Piper! Como vai?

- Ele não está bem.. eu tentei... mas não consigo....- ela começou a chorar e Bella foi até a criança. Olhei a cena espantado.

- Mike olhe para mim, quando foi a última dose?

- Ontem.

- Senta querido, vou pegar o aparelho de Nessie sim?

- Eu pego – me ofereci. E trouxe rápido. Bella foi rápida e aplicou a quantidade exata, o menino não parecia bem.

- Obrigada, eu tenho medo... ela sempre me pede... só que...

- Se acalme Piper, eu não vou comentar isso com ela. Voltem, deixe ele descasar e da próxima vez me liga, eu vou lá. Eu poderia não estar em casa... meu celular, vou te dar o número.

Ela correu no escritório e pegou um cartão, era o cartão pessoal e não da empresa.

- Obrigada, obrigada.

Piper e o menino saem e eu fico olhando Bella guardar as coisas de Nessie.

- Ela é a babá, Mike as vezes fica mal e ela não consegue aplicar. Tem medo de agulhas.

Ela explicou e voltou para o escritório. Eu não sabia que os vizinhos conheciam Bella. A visita da inspetora foi demorada e chata, fez perguntas pessoais, olhou os quartos, revistou o cesto de roupa suja! Achei abuso.

- Volto assim que der, a próxima será marcada. – ela disse.

- Volte sempre que quiser. – Bella disse com um tom sarcástico. Fechou a porta irritada – MULHER NOJENTA!

-Se acalma...

- Merda! Estou atrasada! – ela subiu as escadas e demorou um bom tempo se arrumando, como aquilo me doía, ela desceu linda, num vestido curto, saltos e cabelos escovados. Falando no telefone.

- Não sei... acho que sim... Me esperem, eu não sei onde fica isso. – ela procurava chave do carro.  – Não sei usar o GPS! MERDA! – ela olhou para mim e fez uma careta. – Sabe onde fica a Galeria Sant John?

- Sei. NO BRONX.

- Olha vou levar meu marido, só assim vocês não acham que ainda sou solteira.

Meu coração acelerou. O que ela estava fazendo?

- Pode se aprontar em alguns minutos? Preciso estar lá antes de Nessie voltar.

Eu me levantei e fui para o quarto como uma criança boba que acaba de ganhar um presente  de Natal. O que aquilo significava? Eram ainda seis da tarde, Nessei voltaria as oito, seria rápido.

- Vamos precisar deixar Nessie em Esme, não tenho certeza que horas vai acabar.

Ela disse enquanto eu tomava banho. Sai do banheiro já vestido, era hábito, ela reclamou de me ver de toalha pelo quarto. Não queria brigar mais, estava cansado de brigas, aquela primeira semana foi chata demais, cansativa demais.

- Já ligou ou quer que eu ligue? – Perguntei tentando ser atencioso.

- Vou ligar do escritório. Acaba de se arrumar e vamos. É longe?

-Um pouco.

- MERDA! MERDA! LUGAR DOS INFERNOS!

Ela desceu as escadas e acertou tudo com Esme. Eu iria sair com Bella, mas onde iríamos? Uma galeria? Tinha ido alguns eventos ali, todos chatos. Na viagem Bella não tentou ser evasiva como nas outras conversas pelo celular, estava estranha.

- John estou chegando, começa... INFERNO... NÃO COLOCASSE SUA EXPOSIÇÃO NO BRONX! – Ela desligou na cara dele.

- John é...

- Um antigo amigo de faculdade. Ele se formou em fotografia e toda vez é isso, ele só começa se eu estiver. Sua agente já está nervosa.

- Ele fez faculdade com você? Fizeram aulas juntos?

- Não... – ela riu – vai parecer estranho, mas moramos juntos.

- O quê?

- Nunca namoramos, eu dividia o apartamento com ele, Nessie conhece ele. Sue também, era um apartamento grande e ele quase não estava casa.

- Ele fazia o quê?

- Viajava muito, seus pais são como ciganos, para vê-los ele tinha que ir aonde eles estivessem e se apaixonou pelas cidades e lugares, daí a exposição, ou as exposições. Ele me ajudou muito, moramos lá sem cobrar nada. Ele foi um bom amigo, se bem que nos falávamos mais por telefone que outra coisa.

- Ele nunca... sei lá...

- Ele é gay. – e ela riu. Riu muito. – Mas você vai conhecer a esposa dele então não faça cara de espanto.

- ELE É CASADO?

-Sim... não grita! – ela riu mais, e me deixou louco, estava linda, feliz. – ele precisou para garantir a herança, seus pais são muito tradicionais. Ela é um amor.

- Você conhece ela...

- Eu que os apresentei, Ana fazia parte do jornal da faculdade, ela é um amor.

- Que confusão.

- Foi mesmo. Até eles se acertarem foi difícil. Ana não gostou da idéia,ele achava perfeita, eu tive que me intrometer.

E ela falou da faculdade, dos amigos que reveria na festa, de Nessie indo nas aulas quando Sue não podia ficar com ela. Falou da sua paixão por livros antigos e também do carinho que tinha por John. Ele foi muito importante, a ajudou demais. Ela não mencionou James ou esse casamento, mas havia sombras nas histórias. Um olhar triste as vezes dominava ela. Chagamos e ela cumprimentou a todos, me apresentou. Não bebeu, não foi rude comigo e me deu os braços quando estávamos lá. Foi uma Bella maravilhosa que eu conheci. Queria tê-la sempre, seus amigos me fizeram ameaças de morte se eu a fizesse chorar e ela corou, queria entender o que foi aquilo. Queria entender sua mente.

Entramos no carro e ela estava cansada, visivelmente esgotada. Não sabia do que exatamente, ela acabou dormindo no carro e eu precisei levá-la para cama, só tirei seus sapatos e a cobri.

- Você me ama? – ela perguntou de olhos fechados.

- Sim. Eu te amo.

- Por que me traiu? – eu a olhei, seus olhos estavam fechados, parecia dormindo.

- Porque fui um tolo.

- Demorou tanto que eu achei que não mudaria nunca.

- Mas eu mudei. Mas você também.

- Se você soubesse... – e ela voltou para seu sono. Se eu soubesse do quê?