Eternal Dream escrita por Mel-chan


Capítulo 2
Capítulo 1 - Novos ares é tudo que preciso?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/25172/chapter/2

Eu estava cansada, um tanto confusa ainda, haviam poucas horas que eu tinha embarcado no avião em Nova York, rumo à minha nova vida, em Forks, no último e mais doloroso mês da minha vida em Nova York, meus avós decidiram que estava na hora de dar uma chance para meu pai. Eu ainda estava relutante ao fato de ter que ir morar com ele, em uma cidade pequena, onde todo mundo conhece todo mundo, essa era minha definição de Forks, uma cidade que possuía apenas uma rua, cheia de casinhas, e algumas lojas. Eu sei que estava enganada, mas eu nunca me liguei para aparência da cidade, afinal, quando eu vinha passar alguns dias das minhas férias com meu pai, eu ficava trancafiada em casa, assistindo a Tv, fazia janta e ia dormir cedo, estava sempre chovendo ou tempo nada agradável para se sair. Para mim, frio é para se ficar na frente de uma lareira quentinha, tomando chocolate quente ou comendo pipoca, assistindo um filme ou lendo um livro, ou até mesmo o que eu mais gostava, escrevendo. Eu, uma aspirante de escritora, já estava sentindo falta de escrever, fazia um mês que não possuía idéias, e sempre me travava ao tentar escrever, talvez pelo acontecimento inevitável, que me trouxe depois de quase cinco anos, à Forks novamente.

Tentei dormir no avião, mas era difícil, minha mente parecia um filme passando sem interrupções, escolhendo momentos mais vívidos de uma alegria do passado. Meus olhos marejaram, não conseguia mais segurar, minha mente gosta de brincar com meus sentimentos, no auge dos momentos mais vívidos, veio aquele, que se eu pudesse esquecer, eu seria, hum, talvez feliz, e talvez eu não estivesse indo a Forks nessa hora, começava com minha mãe sorrindo, linda como ela era, deslumbrante.

- Su! Venha logo! - me chamava, com sua voz que até as sereias teriam inveja.

- Estou indo mãe! Ixi! Ai mãe! Vai na frente eu vou a pé! - gritei para ela, estava terminando de imprimir o projeto que fizemos juntas para colônia de férias da escola, mas a impressora tinha que engolir o papel, logo agora que estávamos atrasadas. - Ai! Anda!

- Querida, eu posso esperar se quiser, já estamos atrasadas mesmo! - ela apareceu atrás de mim, tocando meu ombro.

- Não, mãe, pode ir na frente eu encontro com você lá, prometo chegar logo quando você estacionar o carro. Err, mãe pra quê ir de carro? - lancei-lhe um olhar duvidoso, mesmo com a minha mente mais fértil, eu as vezes não conseguia acompanhar o raciocínio dela, ela me mostrou a língua pela pergunta, e retribuí com a mesma ação, éramos duas crianças, a vi caminhar, ela parecia dançar a cada passo que dava, não parecia uma mãe, uma irmã mais velha sim, era assim que eu a considerava muitas vezes, me concentrei na impressora novamente, lançando-lhe um olhar mortal, depois de alguns segundos ela milagrosamente pegou. - não sabia que meu olhar dava tanto medo assim! - ri de mim mesma, peguei todos os papéis, joguei minha mochila nas costas, e saí correndo, a escola não ficava muito longe, só algumas quadras, mesmo com meu péssimo senso de direção, eu era capaz de chegar lá, me perder era o menor dos meus problemas. Já estava quase chegando, quando senti um arrepio antes de virar a quadra, talvez um aviso, pedindo pra que eu voltasse pra casa, mas eu me recusei a prestar atenção naquele arrepio, foi então que eu vi, muitas pessoas aglomeradas em volta de algo, pensei em ir até lá, mas já estava atrasada o suficiente, minha mãe estava me esperando, e com certeza as meninas iam me contar mais tarde, dei mais alguns passos em direção ao colégio, foi quando vi o carro da minha mãe. - o que ela tá fazendo aqui? - me peguei perguntando, agora eu tinha um motivo mais forte que a curiosidade para ver o que estava acontecendo, e se minha mãe que já estava atrasada o suficiente também estava ali, eu também podia estar, aquele arrepio chato, voltou um pouco mais forte a medida que eu me aproximava da multidão.

- Sim! Sejam rápidos! Ela parece não estar respirando! - ouvi uma voz gritar.

- Pobre mulher...- outro comentário.

Me alarmei, fui abrindo caminho, até me deparar com o acidente ocorrido, deixei cair as folhas que já estavam amassadas na minha mão, meus olhos não acreditavam no que viam, era a minha mãe, aquela pobre mulher, que comentaram, ela estava na rua, tinha um homem parecendo chegar seu pulso devia ser médico, tinha muito sangue em volta dela, sem conseguir pensar direito, corri até seu corpo esticado no chão, um senhor tentou me afastar, me debati o quanto pude e me aproximei, em pânico, meus joelhos fraquejaram, caí com força no asfalto duro, tirei o cabelo que escondia seu rosto, seus olhos estavam fechados, e seu rosto coberto de sangue.

- Mãe! - Gritei em desespero, meus olhos não paravam de soltar as teimosas lágrimas, eu não sabia o que fazer, me joguei em cima dela, já soluçando de tanto chorar.

Aquilo já era demais pra mim, balancei a cabeça tentando afastar essas lembranças, eu queria esquecer do que vi aquele dia, lembrar da minha mãe feliz, e não daquele jeito, morta. Quando percebi já estávamos pousando em Seatle, iríamos de carro passando por Port Angeles e em seguida viria, Forks.

Respirei fundo, joguei minha mochila nas costas, e desci as escadas do avião, tentei me concentrar, parecer feliz por estar alí, mas feliz era uma palavra que no meu vocabulário, não fazia parte à um mês. Não me preocupei em pegar bagagens, pois minhas coisas já vieram antes de mim, semana passada, vovó fez questão de mandar tudo, para ter certeza que não mudaria de idéia de uma hora para outra. É claro que eu não mudaria, mesmo querendo ficar lá, meus avós precisavam de descanso, foi um mês muito difícil para nós, e eu estava tirando a alegria deles, da forma depressiva que eu me encontrava. Psicólogo? Não, não tentavam me levar à um, segundo minha vó, esse é médico pra louco, e sua neta não era louca. Eles acharam que se eu ficasse longe daquele lugar, eu ficaria melhor, "novos ares é do que você precisa" foram exatamente essas suas palavras. Novos ares, talvez se eu não morrer de tédio em Forks, eu fique bem.

Meus passos arrastados, me levaram até Jonathan, meu pai, ele havia engordado desde a ultima foto que ele me mandou, em seu rosto oval, ostentava um bigode, seus cabelos ralos estavam mais claros, talvez começando a ficar branco. Meu pai era dono de um supermercado em Port Angeles, uma pequena loja de conveniências em Forks e em Seatle. Ao me ver abriu os braços e um sorriso largo.

- Su! - abraçou-me fortemente, quase sufocando.

- Pai! Está me sufocando.

- Oh! Desculpe, mas, faz tanto tempo, minha querida... - era evidente sua alegria em me ver, tentei ostentar um sorriso no rosto, para deixá-lo feliz, por mais que eu não esteja feliz, é muito errado fazer com que as pessoas à minha volta fiquem infelizes também, não ia cometer o mesmo erro que cometi em Nova York, que deixei transparecer minha tristeza, dessa vez não ia fazê-lo.

- Sim, também senti sua falta!

Ele pegou a mochila de minhas costas, e seguimos para sua caminhonete F1000 prateada, qual era sua preciosidade desde sempre, sentei no confortável banco de couro.

- Vovó me disse que reformou a casa...- tentei puxar assunto, por mais que eu quisesse ficar quieta, ele não era o tipo de pessoa que se sentia bem com silêncio.

- Claro! Acho que você vai adorar, agora o porão é uma adega de vinhos, e...

Já não conseguia ouvir a voz do meu pai, acabei me distraindo, olhando a única paisagem que se podia ver, árvores, não sabia como tinham me distraído,mas eu estava satisfeita, já que ia ver tudo com meus próprios olhos mesmo, não era algo que eu devesse realmente prestar atenção, fazia tempo que eu não via aquela paisagem, foi então que vi algo grande passar por meio das árvores, estremeci.

- Pai, tem algum bicho a solta em Forks? - o interrompi de sua explicação sobre a casa e perguntei com a voz trêmula, não sabia o que tinha visto, mas vi o suficiente pra ter medo.

- Hã?! A cidade está alertando aos aventureiros que tem lobos a solta, ou seriam urso? Mas, não tem com o que se preocupar, você não pensa em fazer trilha, pensa? - ele me lançou um olhar duvidoso.

- Claro que não pai...- virei o rosto para a janela novamente, analisando o local.

- Só para ter certeza, você viveu muito tempo com seus avós...

Não o retruquei, era verdade, vivi por muito tempo com meus avós, o suficiente para meu pai achar que sairia por aí desvendando a floresta, afinal, meus avós eram muito aventureiros, antes de minha mãe morrer eles planejavam fazer uma viagem ao redor do mundo, quase como mochileiros, sem destinos, eram meio doidinhos, mas eu os amava, talvez agora que estou longe eles possam retomar os planos, era o que mais desejava, eles precisavam de um descanso, de paz, de diversão.

Não pareceu a eternidade que achei que fosse ser, para chegarmos a Forks, seguimos direto para aquela casa que não via faziam cinco anos, ao dobrarmos a esquina, eu a avistei, era maior do que me lembrava, com a reforma, aquele sobrado ganhou um terceiro andar, se eu tivesse prestado atenção em meu pai, talvez não ficaria tão surpresa, ainda com aquele andar extra, parecia ser a mesma casa, os três degraus para chegar a varanda coberta, com uma pequena mesa redonda e duas cadeiras, a baixo de uma grande janela que iluminava a sala, ao entrar na casa, que notei a reforma, a sala estava mais moderna, a cozinha embora com armários novos, possuíam a mesma cor dos antigos, ao subir as escadas, notei as fotos na parede, fotos de quando era bebê e ainda vivia nesta casa, ao chegar ao fim da escadaria, o mesmo corredor com as 3 portas, e a outra escadaria para o próximo andar, fui até a porta qual lembrava ser meu antigo quarto, ao abrir não imaginei me deparar com ele reformado também, todo branco com detalhes em dourado, e tinha ganhado uma porta extra, curiosa abri, vendo um banheiro.

- Achei que ia gostar de mais privacidade...- a voz do meu pai vinha da porta do quarto.

- Obrigada pai! É lindo! - realmente era lindo.

- Quero que você veja o outro andar, fiz ele pensando em você...

- Oh! - não sabia o que dizer, ele pensava em mim? Eu não o via fazia cinco anos, me senti horrível, por não querer vir vê-lo nesses anos que se passaram, não é que eu não gostasse do meu pai, é que, nunca fui muito boa em me relacionar com pessoas, e meu pai, bom, era difícil eu me relacionar com ele, não que não fosse bom pai, muito pelo contrário, mas, ele ainda faltava com uma coisa, atenção, seu trabalho sempre tomou todo tempo, por isso minha mãe o deixou.

Me guiou até o outro andar, ao chegar no ultimo degrau, meu queixo caiu, fiquei boba com o que via, tinha uma lareira, duas estantes grandes cheias de livros, um sofá na frente da lareira com um tapete super peludo no chão, em um canto quase escondido um frigobar, e um microondas.

- Achei que seria melhor deixar a comida aqui, quando você estiver lendo. Como das ultimas vezes que esteve aqui, não saiu por causa do frio, agora que você vai ficar mais tempo, achei que seria bom ter algo pra se distrair além da TV.

- Pai... - não havia palavras para descrever, isso me deixou feliz, por um momento, mas feliz, agora Forks seria suportável e não tediosa. - Obrigada pai! - abracei-o, vendo seu sorriso se alargar em seu rosto.

- Bom querida, eu pensei em pedir umas pizzas pra comemorar sua volta. Ainda gosta de pizza né? - perguntou duvidoso.

- Claro pai! Que adolescente não gosta de pizza? - retruquei.

- É...- ele concordou descendo as escadas.

Corri até o sofá, me aconchegando nele, era macio, quentinho, confortável, eu podia trocar até minha cama de Nova York por ele, fechei os olhos por um minuto. Minuto suficiente para minha mente querer brincar comigo novamente, mas eu fui mais rápida, balancei a cabeça e me levantei em um pulo, fui curiosa ver os livros nas estantes.

- Romeu e Julieta, Sonho de uma Noite de Verão, Darkness...? Não acredito que a vovó! - sorri automaticamente.

Os livros da estante eram todos os meus favoritos e os que eu ainda queria muito ler, podia apostar toda minha mesada, que minha avó havia dado uma ajudinha para meu pai. Fique distraída por tempo suficiente até ouvir uma moto parar em frente à casa, olhei pela janela vendo o motoqueiro carregar duas pizza e um refrigerante, senti meu estômago implorar por elas, fazia algum tempo que eu não comia pizza, desci as escadas rapidamente, sendo guiada pela fome.

- Já ia te chamar, querida. Pegue dois copos alí. - apontou para um dos armários, enquanto cortava a pizza, fazendo exalar o cheiro de mussarela.

- Claro! Vou levar na sala! - até onde me lembrava, meu pai sempre comia pizza na frente da TV, ele comia praticamente tudo na frente da TV, mas pizza era sagrado.

Caminhei com os dois copos para sala, vendo na mesinha de centro o refrigerante, me ajoelhei no tapete fofo, e servi refrigerante nos dois copos, tomei um gole. Abri espaço entre os copos enquanto ele colocava as duas caixas na mesinha.

- Pode atacar! - falou em seu tom de zombaria.

Assenti com a cabeça, pegando um pedaço de mussarela. Foi mais agradável do que imaginei que seria, não conversamos, só assistimos à uma comédia que estava passando em um dos vários canais, ao acabar, subi para meu quarto, tinha que desfazer minhas malas, entrei em meu quarto, dessa vez percebi que a maioria dos meus objetos já estavam em seu devido lugar, meu lap top estava na escrivaninha, junto à alguns livros de estudo, meus cds, estavam empilhados em uma estante mágica perto do rádio, ao lado da minha cama, meu abajur que ganhei da minha mãe natal passado, e meu despertador, percebi que só minhas malas de roupas não foram mexidas, coloquei-as em cima da cama e organizei meu guarda roupa, peguei um pijama e fui direto ao banho. Deixei a água cair sobre mim, parecia que estava tirando um peso das minhas costas.

Estava tão cansada, mas não tinha certeza se iria conseguir dormir, ultimamente eu não conseguia dormir mais do que meia ou uma hora no máximo, era o tempo que levava até meus pesadelos me acordarem e eu não conseguir mais voltar a dormir. Joguei o corpo pesadamente em minha nova cama, ela ainda tinha cheiro de novo, deixei meus cabelos que estavam quase secos bagunçarem no travesseiro, suspirei pesadamente, olhando o teto, reparei, que por mais que o quarto estivesse diferente, aquelas estrelinhas fosforescente ainda habitavam o teto, brilhando pra mim. Meus olhos fecharam sem demora, minha mente pareceu por um minuto se esvaziar, como se tivesse um ralo e alguém tivesse puxado a tampa. Mas não demorou muito para fecharem novamente e as memórias começarem a me atormentar agora em forma de pesadelos.

Eu estava andando pela rua em Nova York, carregando a mochila e as mesmas folhas daquele dia, corri para virar a esquina, sabia que veria as pessoas aglomeradas, e acidente, mas, para minha surpresa não havia pessoas aglomeradas ou acidente, ao observar bem, não havia nenhuma pessoa, não haviam carros, caminhei até aonde minha mãe deveria estar caída, toquei o chão, não conseguia entender nada, porque ela não estava aqui? Foi só um sonho? O acidente foi só um sonho? Então, ir para Forks..? Abri um sorriso e comecei a correr para a escola, eu estava atrasada para entregar o projeto, mas o que eu estava mais atrasada era pra ver minha mãe, e dizer à ela que nunca mais ela vai ter que sair sozinha. Ao chegar no estacionamento, não havia carro algum. Não havia nada, quando percebi tudo já estava negro. Dois olhos apareceram à minha frente, vermelho-vivo, aterrorizantes.

Quando dei por mim, estava vendo as estrelas do meu quarto, ofegante, assustada, confusa.

- O que...? O que foi aquilo... - nunca sonhei daquela forma antes, me sentia vazia por dentro.

Sentei na cama, olhando o despertador, ainda eram duas horas da manhã, eu havia quebrado meu recorde, se bem que não havia reparado que horas fui dormir, mas sentia que tinha dormido mais do que os outros dias, joguei minha cabeça de volta no travesseiro, sabia que fechar os olhos não ia adiantar, não ia conseguir dormir de volta. Levantei me espreguiçando, senti o frio invadir meu corpo, me enrolei nas cobertas, saí de meu quarto rumo ao terceiro andar, subi lentamente as escadas, ascendendo a luz por onde eu passava, odiava o escuro, fui direto à lareira, ligando-a, senti o cômodo se esquentar, estava agradável, não que a casa fosse fria, nem perto disso, pois ela possuía calefação, como qualquer casa em Forks tem, mas é que minha circulação não era muito boa, sempre sentia frio mais do que o necessário.

Peguei Romeu e Julieta, já havia praticamente decorado este livro, mas nunca é o bastante até decorá-lo e recitar fala por fala, claro isso é um exagero, mas eu realmente amava romances, e Romeu e Julieta é o romance mais lindo que já existiu, fora os que eu mesma escrevia, é claro. Ri, do caminho que meus pensamentos estavam levando, até que me lembrei, fazia muito tempo que eu não conseguia escrever, me senti impotente, a coisa que mais me deixava feliz, foi tirada de mim, assim como minha mãe.

Me concentrei no livro, me distraindo por completo, só percebi o horário quando ouvi meu despertador anunciar que era hora de levantar. Fechei o livro, marcando com o marca página qual eu parei de ler. Desliguei a lareira, e fui ao quarto, desliguei o despertador, arrumei a cama, seguindo a mesma rotina que fazia em Nova York, ao terminar tudo, e estar pronta, desci as escadas, sentindo o cheiro do café invadir a sala, vindo da cozinha.

- Bom dia pai! - anunciei minha chegada

- Bom dia querida! - disse ele colocando café em uma xícara. - Coloquei a mesa já...

- Ah...obrigada pai, mas prefiro só um café com leite... - fui fazê-lo, não sei quando começou essa minha mania de café com leite como café da manhã, mas acho que foi depois que fomos a fazenda de um amigo do vovô. - Já vai pai? - perguntei percebendo que ele já procurava as chaves do carro, havia bebido o café em um gole, e mordeu um pedaço de pão com geléia.

- Sim, me ligaram de Seatle, hoje terei que ir pra lá... Meu amor, suas chaves estão aqui. - me entregou uma chave com um chaveiro gracioso.

- Hã?! - peguei-a percebendo ser chave de um carro, corri até a porta da frente, e lá estava, reconheci ser um fiat pela marca na frente. Era um modelo conversível, não conhecia muito bem sobre carro, mais até onde eu conhecia ele era com certeza conversível, embora dificilmente eu baixaria sua capota, pois Forks mais chove do que faz sol, mesmo assim, era demais ter um conversível. - Nossa Pai!

- Que bom que gostou, mas esse presente não é meu, seus avós que me mandaram o dinheiro e mandaram eu comprá-lo. É um fiat 500 cabrio... eles acharam que você ia gostar.

- Eu amei! Obrigada pai! Vou agradecer a vovó e o vovô depois! - abracei-o.

- Estou atrasado Su, tenha um bom dia na escola! - ele beijou minha testa.

- Tenha um bom dia no serviço, pai! - acenei, enquanto o via entrar em sua caminhonete.

Fiquei ali por um momento contemplando o carro prateado, olhei a chave na minha mão, parecia irreal, corri para dentro arrumando a cozinha o mais rápido que pude, subi as escadas rumo ao meu quarto, peguei o que seria necessário para o primeiro dia de aula, coloquei tudo na mochila e a joguei nas costas, desci as escadas e fui direto para o carro, depois de trancar a porta.

- Uau!

Me deslumbrei, dei a partida deixando o ronco baixo do motor invadir o silêncio, liguei o ar para afastar o frio, fechei os olhos por um breve momento, suspirando, mas, foi momento suficiente para a lembrança daqueles olhos de meu sonho invadir minha mente, abri os meus assustada, balancei a cabeça para esquecer, enfim dirigi. Fazia tempo que não dirigia, eu havia tirado a carteira, mas quase nunca pegava o carro da minha mãe, sempre ia para escola à pé. Por mais que a escola aqui de Forks fique perto de casa, eu tinha certeza que ir à pé, seria como implorar por gripe, já chega minha circulação não ser das melhores, imagina viver o resto da vida com gripe.

Não demorou muito até avistar a entrada do estacionamento do colégio, não haviam muitos carros, então logo estacionei em um lugar perto da saída, de fácil visualização, onde eu tivesse certeza que não o perderia de vista, e seria fácil de achar, caso eu me perdesse, o que parecia estar prevendo já. Lembrei - me da ultima vez que fui com minha mãe em um shopping, ficamos mais tempo procurando o carro no estacionamento, do que vendo as lojas, sorri pela lembrança feliz.

- Aproveita que não tem muita gente, assim ninguém te vê chegar! - me encorajei a sair do carro, esfreguei minhas mãos e desliguei o motor, sentindo o vento quentinho parar de soprar, olhei pela janela vendo que caía uma fina garoa, que devia estar gelada, respirei fundo e abri a porta. - Aja! Aja! Fighting!***

Apertei o botão do alarme, escutando o bip vindo veículo, caminhei apressada, seguindo para onde a placa dizia : Secretaria. Adentrei o local, estava uma temperatura agradável, mais até do que imaginei que estaria. Dei alguns passos até um balcão que dividia a pequena sala, onde uma mulher de cabelos grisalhos, presos em um coque no topo de sua cabeça, estava sentada de costas para mim.

- Licença...- chamei-a educadamente.

- Hã?! Sim? - ela se virou, seu rosto estava cansado, com olheiras fundas embaixo de seus olhos azuis, que eram um pouco disfarçadas por seus óculos de lentes grossas. - No que posso ajudar? - ajeitou a armação olhando atentamente para mim.

- Sou... Suellem Olsen...- me apresentei.

- Ah! Sim! Você é a filha de Jonathan? - me perguntou mexendo em um dos cestos de arame parecendo procurar algo.

- Sim, a senhora é?

- Ginna Gomez, era amiga da mãe de seu pai, eu o vi nascer. Grande homem! - seu tom parecia orgulhoso, ao falar de meu pai. Estendeu - me três folhas. - Querida, aqui estão, seus horários, um pequeno mapa da escola para que não se perca e esse último papel, é para que pegue a assinatura dos professores, e me entregue no fim das aulas. - acompanhei ela falar, olhando atentamente os papéis que havia me entregado.

- Sem problemas! Muito obrigada.

- Boa aula, querida! - ouvi desejar, enquanto eu saía.

O colégio já estava quase cheio, achei incrível quando olhei de relance o estacionamento, agora lotado, não tanto quanto estaria em Nova York, nesse horário. Senti olhares curiosos sobre mim, minha pele parecia queimar de vergonha, era como se eu fosse um animal novo no zoológico, tentei me distrair olhando pela primeira vez meu horário, analisando-o atentamente.

- Primeira aula: Literatura. Luck! - pensei em voz alta.

- Literatura? - ouvi uma voz suave vindo logo atrás de mim, virei-me rapidamente um pouco surpresa, uma garota de longos cabelos negros e olhos verdes, que brilharam de curiosidade, estava parada ostentando um sorriso amigável em seu rosto infantil. Nunca esperei que iriam me abordar assim no primeiro dia de aula, ou melhor, nos meus primeiros minutos do colégio, realmente Forks era muito diferente de Nova York. A menina parada agora a minha frente, pareceu notar minha surpresa, e se adiantou. - Você é a aluna nova, né?

- Si..sim...Suellem Olsen. - me apresentei, ainda um pouco surpresa.

- Sou Thifany Gomez... Thify ou Thi, como preferir. - Gomez? Ela era parente da senhora da secretaria? Queria perguntar, mas a vergonha me atingiu, preferi ficar quieta. - Sua primeira aula é Literatura, Suellem?

- Su... - a corrigi. - Sim.

- Ah! - ela sorriu, mais hospitaleira ainda quando lhe informei o apelido. - A minha também! Vem! Ainda tem um tempinho antes da aula, vou lhe mostrar o colégio!

Sem que eu pudesse questioná-la, ela enganchou em meu braço e me guiou. Não precisava de um mapa, se eu a tivesse comigo, apesar de ouvi-la tagarelar o tempo todo sobre o colégio, me senti um pouco confortável, ela parecia com uma das minhas colegas do outro colégio. Uma das que eu abandonei, depois daquele acidente, entrei em meu mundinho particular, não tinha mais vida social, não tinha mais nada, minhas amigas ainda tentaram me animar por algum tempo, mas desistiram quando viram que eu não iria sair dessa tão cedo, logo não éramos mais nós, e sim eu e elas, nos separamos, não conversava com mais ninguém, e ninguém ficou sabendo que eu viria à Forks, será que notaram minha ausência? Talvez sim, talvez não. Queria poder me desculpar com elas, mas uma vez em que eu me afaste, não consigo criar coragem, nem sequer para pedir desculpas, me sentia completamente envergonhada. Mas como tinha ordenado a mim mesma, não iria demonstrar meus sentimentos mais horríveis para os outros, não é justo, principalmente com meu pai, que me acolheu com os braços abertos depois de cinco anos, e eu devia isso para meus avós, que acabei fazendo com que sofressem mais, seria tudo diferente, meus avós estavam certos, novos ares é do que preciso. Me peguei distraída em pensamentos, quando notei já estarmos em frente a sala, percebi que não havia prestado um pingo de atenção no que a menina falara, e que em menos de meia hora já tinha esquecido o nome dela, minha mente estava péssima.

- Esse é o senhor Browns. - ela apontou um senhor risonho escrevendo algo no quadro.

- Chegamos atrasadas? - perguntei alarmada, em pleno primeiro dia, chegar atrasada em alguma aula seria ruim, muito ruim.

- Não, não... senhor Browns sempre passa uma lista de livros antes da aula começar, e sempre chega adiantado no primeiro horário. - explicava paciente, vendo que eu estava alarmada.

- Ah! - sorri agradecida pela informação, caminhei com passos incertos até ele, quase implorando silenciosamente para que ele não me apresentasse a turma, como sempre faziam com alunos novos. - Com licença...sou...

- Suellem Olsen... - disse ele sem tirar os olhos do quadro.

- Si..sim...-me desconcertei. - A senhora Gomez pediu para que os professores assinassem este papel... - mostrei-lhe a folha.

- Ah sim!

Aquele senhor risonho, virou-se me encarando com um sorriso, pegou gentilmente o papel, apoiou no quadro, tirando uma caneta do bolso de seu palitó, assinou seu nome em uma das linhas, e me entregou.

- Obrigada. - me virei pronta para fugir da apresentação.

- Espere...- ele tocou meu ombro com sua mão pesada. - Vou apresentar você a turma.

Ok! Tudo o que eu não queria, já era o suficiente ser aluna nova e receber olhares curiosos de todos, também tinha que ter apresentações, lancei-lhe uma careta, o que fez com que sorrisse mais ainda, se isso era possível, ele parecia estar se divertido, não notando minha vergonha evidente.

- Muito bem pessoal! - chamou a atenção de todos, olhei pra baixo, tentando me concentrar em não ficar vermelha, o que seria muito difícil, devido a vergonha que eu estava. - Essa é Suellem Olsen... - apresentou. - Se puderem passar à ela o que perdeu... - ele fez uma pausa em sua fala, parecendo esperar alguém se candidatar, foi então que olhei para frente pela primeira vez, todos os olhares estavam sobre mim, atentos, analíticos, senti um arrepio percorrer todo meu corpo, era a vergonha anunciando que meu rosto já estava vermelho. - Senhorita Gomez, conto com você! - quando ele falou da menina que havia me ajudado, olhei diretamente para ela, vendo-a com a mão levantada, havia se candidatado para me ajudar com o que eu precisasse, pelo menos nessa aula, ela lançou-me um sorriso, realmente muito amável, percorri meus olhos novamente pela sala, até me deparar com olhos de topázio, fixados em mim, me senti completamente nua diante à eles, como se pudessem ver minha alma, um arrepio gelado tomou conta do meu corpo, abaixei a cabeça quase que automaticamente, pela vergonha. - Pode se sentar ao lado da senhorita Gomez... - disse o professor, apontando-me o local, apenas assenti com a cabeça e caminhei rapidamente até a carteira, sem ter coragem de olhar aqueles olhos novamente.

Não sabia definir o que senti, além da vergonha, quando me encontrei com aqueles olhos. Era uma sensação estranha, realmente sem definição. Tentei me concentrar na aula, o tema era Romeu e Julieta, estavam interpretando o livro. Apesar do tema, ser um dos meus livros favoritos, pelo romance imposto nele, não foi o suficiente para me distrair totalmente, aquela sensação percorria meu corpo. Levei um susto quando ouvi o sinal ecoar pela sala.

- Su...? Qual sua próxima aula? - a menina perguntava-me curiosa.

- É...Cálculo...- fiz uma careta ao checar no papel a matéria.

- Ah.. a minha é biologia... - senti o desapontamento em sua voz, ela estava mesmo desapontada em não ter a aula comigo?

- Err...você pode me guiar até lá? - eu podia usar o mapa, mas não queria deixar a garota triste, ela realmente estava sendo legal comigo.

- Claro! - pareceu se animar novamente.

Imaginei se ela não teria mais amigos, pois, ainda era um pouco estranho pra mim ela ser tão legal, do jeito que estava sendo, afinal eu era a novata. Normalmente, as únicas pessoas que vão conversar com novatos em seu primeiro dia de aula, são os típicos excluídos, aqueles alunos que nunca conversam com ninguém, ou só com o seu grupinho particular, e quando entra uma pessoa nova na escola, eles logo querem abduzi-la para o grupo, também tem as pessoas do jornal, isso porque querem apenas saber de algum passado obscuro da sua outra escola, para publicar na primeira página. Bom ela não parecia se encaixar nos típicos alunos excluídos, talvez ela fosse alguém do jornal, mas ela não me fizera nenhuma pergunta, ainda não. Não sabia como definir a garota que estava me ajudando.

- Te vejo depois então Su! - acenou para mim indo para sua sala.

- Até! - a vi dobrar o corredor, e então me virei, percebendo que senhora sentada na mesa do professor, parecia já ter notado minha presença, como na primeira aula, andei com passos inseguros até ela, estendi-lhe a folha de assinatura. - Sou Suellem Olsen...-me apresentei. - a senhora Gomez pediu para que os professores assinassem esse papel. - pensei em quantas aulas mais iria repetir essa frase.

- Sou Hillth, sua nova professora de cálculo. - disse ela assinando com sua caneta vermelha a folha, e me entregando em seguida. - Se tiver alguma dúvida na aula, me procure depois que ela acabar.

- Sim...obrigada! - agradeci, caminhando rapidamente para uma carteira vazia ao fundo da sala, antes que ela tivesse a idéia que o senhor Browns teve de me apresentar. Ela não fez questão de me chamar de volta para apresentações, fiquei mais aliviada.

Não tive dificuldade que achei que teria em cálculo, passou pela minha cabeça que talvez estivessem mais à frente com a matéria, mas para minha sorte a que eles estavam vendo eu vi pouco antes de viajar, ainda estava fresco o conteúdo na minha cabeça, de certa forma, no ultimo mês eu quase não prestava atenção em mais nada, de maneira geral eu era uma boa aluna, mas com cálculo sempre tive um pouco mais de dificuldade, então foi a única matéria qual eu tentei prestar um pouco mais de atenção. A manhã passou rapidamente, uma aula antes da hora do almoço, me deparei com a menina que me ajudara, estávamos na mesma classe de espanhol, ela pareceu animada como de manhã ao me ver, ainda não conseguia lembrar seu nome ou seu apelido. Fomos juntas para o refeitório na hora do almoço, quando entramos no local, meus olhos percorreram automaticamente, por mais que esse refeitório fosse muito diferente do de Nova York, era como se eu estivesse lá novamente, as mesas com seus devidos grupinhos reunidos. Percebendo que parei, a garota me deu uma leve cutucada, me guiou até a fila do almoço.

- Não sei como é a comida de Nova York, mas a daqui é boa...- ela comentava enquanto me passava uma bandeja.

- Hmmmm, eu também não sei como era a de lá....- falei sem pensar.

- Hã?! Como assim? Você levava seu almoço de casa? - perguntou impressionada, é, acho que realmente era estranho, no colegial, levar lanche feito em casa, mas eu realmente não ligava, minha mãe que preparava meus lanches e isso à deixava feliz, toda manhã ela cantarolava com sua voz divida, as mais esquisitas musicas que alguém já pode ter ouvido, ela gostava de inventar coisas.

- Ah..Sim...- respondi tentando ser breve, pensar e falar de minha mãe eram coisas completamente diferente, pois, uma hora ou outra viria a pergunta "o que aconteceu com sua mãe?" e eu ainda não estava preparada para dizer a resposta.

- Hmmm, bom então acho que você vai gostar! - disse pegando um pedaço de pizza para comer.

Não pensei muito para pegar o que comer, haviam umas opções consideráveis, desde pizza até maçã, peguei uma maçã, já estava cheia de pizza, havia comido noite passada até dizer chega. Fomos para uma mesa, onde tinham três meninos e uma menina já sentados, conversando animadamente. Ela sentou-se ao lado de um garoto de arrepiados cabelos negros e olhos verdes vivos como os dela, deviam ser irmãos, eram bem parecidos, apontou a cadeira para que eu me sentasse ao lado dela.

- Thi! - a menina que já estava ali chamou-a, ela tinha cabelos cor de chocolate e olhos castanhos escuros, quase negros. Agradeci mentalmente à ela por me fazer lembrar o nome da minha nova amiga, era Thifany. - Essa é a nova menina? - perguntou com um certo desdém na voz.

- Sim, essa é a Su! - ela me apresentou. - Su, esse é Max, meu irmão - apontou o garoto ao seu lado, estava certa quando pensei que eram irmãos. - Aquele é All! - apontou para um garoto de óculos, de louros cabelos arrepiados como o cabelo de Max.

- All de Allfonse...- explicou ele parecendo orgulhoso do nome, ostentando um sorriso no rosto. - Muito prazer...- acrescentou.

- O do lado de All é o Robe... - explicou ela, olhei para o garoto de cabelos vermelhos, com o cabelo divido do lado, fazendo que a leve franja ficasse com um pequeno topete, seu rosto era um pouco mais infantil que dos outros, e possuía sardas. No momento que percebeu meu olhar sobre ele, abaixou a cabeça automaticamente. - ele é tímido... - ela sussurrou para mim. - E aquela ali... - apontou a menina que me olhou parecendo ser muito orgulhosa. - é Aly.

- Oi...- fiz um gesto com a mão, envergonhada por estarem me olhando tanto.

- Você veio de Nova York? - perguntou All.

- Sim... - concordei dando uma mordida pequena na maçã.

- Nossa...deve estar estranhando Forks, cidade pequena... - comentou Max.

- É, um pouco... - tive que admitir, não que estranhar fosse uma boa definição, mas não era a exata, não sabia definir o que sentia em relação à Forks, ou se sentia algo.

- Mas o que está achando da cidade? - perguntou All parecendo interessado.

- Fria! - respondi prontamente. - Mas...Só estou aqui à um dia, ainda não tem muito o que achar. - sorri tentando não parecer rude, não pensei muito pra falar, mas me aliviei, vendo que eles riam, qualquer um que seja novo na cidade acharia ela fria em um dia de chuva, isso era até óbvio demais.

- Podemos combinar de sair para lhe mostrar a cidade... - ofereceu Thi gentilmente.

- Ah! Se quiser vir com a gente, não é bem em Forks, mas, vamos à Port Angeles amanhã, vai estrear um filme muito bom... - convidava Max. Tirando Aly que me lançou um olhar mortal com o convite, todos estavam parecendo que queriam que eu fosse, pois concordavam freneticamente com a cabeça.

- Bom...tenho que falar com Jonathan... - comentei, me sentindo idiota de ainda ter que pedir para meu pai certa coisas, mas não achei muito certo decidir antes de falar com ele, ele podia estar preparando algo, o que parte de mim duvidava muito disso, mas eu não queria estragar se ele realmente preparasse algo, afinal eu estava aqui em Forks à um dia, e faziam cinco anos que ele não me via à não ser por fotos, sem falar que talvez eu não estivesse pronta ainda para ter programas com amigos, nem sabia se estava pronta pra ter uma vida social, mas parece que o destino estava fazendo decisões por mim, depois disso tudo, ainda tinha o fato da chuva, só de pensar em enfrentar a chuva só para ir no cinema, fazia com que eu me arrepiasse de frio.

- Ah...tudo bem, nos diga amanhã se puder ir! - falou All sendo simpático.

- Claro... - sorri para ele, disfarçando o arrepio, deixei meus olhos percorrerem o local novamente.

Procurei por todo local, encontrei vários olhos me olhando curiosos, menos os que eu queria ver, não estava no refeitório, não tive coragem para olhar quem era dono daqueles olhos tão penetrantes, tentei imaginar seu rosto, devia ser como de um anjo, sim, somente um anjo podia ter olhos naquele tom. Senti a mesma sensação que havia sentido na sala, ao lembrar deles.

- Su? - chamou Thifany vendo que eu parecia estar com pensamentos longe.

- Ah..sim?

- Vamos? - percebi que ela estava de pé me esperando, não escutei quando o sinal ecoou, estava tão concentrada imaginando aquele anjo, que me desliguei de tudo.

- Ah! Claro! - levantei-me rapidamente, pegando na mochila o papel do horário, checando a próxima aula. - História...- li em voz alta. História era uma das minhas matérias favoritas, fazia um mês que não prestava atenção nela, senti saudades da senhora Russel, dando aulas, ela sempre levava filmes de época para gente analisar.

Thify me acompanhou até a sala, falando animada sobre o filme que segundo ela, já iríamos ver juntas. Devo admitir que o filme me interessou, contava a história de um garoto que tinha o poder de viajar no tempo, eu queria poder ter esse poder, viajar de volta quando a impressora engoliu o papel, e eu disse que minha mãe podia ir, com certeza dessa vez eu a impediria, em vez de recusar quando me perguntou se eu queria que ela me esperasse, eu diria que sim, e que iríamos à pé para escola, não importava a desculpa que ela desse, podia chover até canivete, eu a impediria de andar de carro pelo menos por um ano, exagero, talvez, mas não iria permitir que aquilo acontecesse, meus olhos marejaram em plena aula, uma lágrima teimosa escorregou de meus olhos, limpei-a rapidamente, olhando para os lados alarmada para ver se ninguém estaria prestando atenção, me aliviei percebendo que ninguém notara, me arrepiei só de pensar o turbilhão de perguntas que as pessoas iriam se fazer pelos corredores: a aluna nova estava chorando? ela foi expulsa pra cá? o pobre bebê tá com saudade de casa? Balancei a cabeça tentando não pensar nisso, respirei fundo e olhei para fora, havia parado de chover. Suspirei pesadamente quando percebi que já estava no final da aula de história e eu não havia prestado atenção como queria.

Tentei me concentrar na ultima aula, que foi quando minha cabeça me deu brecha para pensar em algo mais do que o acidente, e da máquina do tempo. Não digo que aquele jogo de vôlei foi um sucesso, porque estaria mentindo descaradamente, sou péssima em esportes, mas até que gosto. Quando o professor nos dispensou, corri para o vestiário. Queria sair rápido pois a chuva já havia dado trégua desde a aula de história, por quanto tempo mais ela ainda não cairia, era muito difícil prever, Forks está quase sempre nublada. Joguei minha mochila nas costas e saí rumo a secretaria. Ao me ver entrar na pequena sala, senhora Gomez abriu um largo sorriso.

- Minha querida, como foi o primeiro dia? - perguntou pegando a folha que eu esticava para ela com as assinaturas dos professores, com quem tive aula.

- Foi bom...conheci seus netos...

- Oh! Thifany e Maxwell foram bons com você? - eu não sabia que Max era apelido de Maxwell, na verdade de todos os meninos que andaram comigo hoje, eu não sabia o nome, fora do Alfonse, sorri ao perceber que minha mente já havia dado um primeiro passo, fazendo com que eu me lembrasse os nomes dos meus novos colegas.

- Sim! - respondi prontamente.

- Que bom....- ela sorriu enquanto carimbava a folha e colocava em uma pasta que devia ter meu nome.

- Até mais senhora Gomez...- acenei para ela saindo.

Caminhei rapidamente para o estacionamento, percebi que muitos alunos ainda não tinham ido embora, muitos estavam conversando ao lado de seus carros, olhei a volta procurando meu fiat, não demorei muito para achá-lo, realmente no lugar qual o estacionei tinha fácil visualização, andei com precisão até ele, pegando a chave que havia posto na mochila, desacionei o alarme. Dei a partida ao entrar, ligando rapidamente o aquecedor.

- Quentinho... - suspirei me aconchegando no banco, fechei os olhos, senti o cansaço do meu corpo bater pelas noites mal dormidas.

Dei ré no carro, e dirigi de volta para casa, dessa vez dei uma volta a mais, para reconhecer melhor o local. Eu só não havia me perdido pela manhã, pois passamos pela escola antes de chegar em casa no dia anterior. Estacionei o carro em frente à casa, uma garoa caía, desci correndo do carro, acionei o alarme, entrei rapidamente para dentro.

Suspirei fechando a porta atrás de mim, joguei minha mochila no sofá, um hábito que não conseguia perder desde pequena. Fui até a cozinha, deixei esquentando o leite, para tomá-lo quentinho com café, voltei para sala, começando a espalhar meus livros sobre a mesa de centro, separando as lições de casa, corri para a cozinha novamente, sentindo o cheiro de leite invadir a sala, me servi de café com leite em uma xícara grande, e me sentei no tapete fofo da sala.

- Certo, hora da lição... - comentei em voz alta para mim mesma.

Não havia muito à ser feito, tomei o café com leite lentamente a medida que ia fazendo as lições. Fui mais rápida do que esperava ser, tomei o ultimo gole de café com leite que já estava morno. Comecei a organizar tudo, até não haver mais vestígios que eu fizera a lição ali, eu gostava das coisas organizadas, mesmo que as vezes seja um organizado desorganizado, como eu gostava de chamar. Minha mãe sempre pedia para que eu arrumasse meu quarto como eu arrumava toda a casa, não que meu quarto não fosse arrumado, mas, constantemente haviam folhas espalhadas no chão. Quase toda a noite antes de dormir, eu mexia em meus cadernos de histórias antigas, gostava de lê-las, para me inspirar a escrever, e a escrever bem melhor do que eu escrevia, sempre estava querendo me superar quando o quesito era história. Mas agora, esse quesito não fazia mais parte de mim, meus cadernos antigos estavam em uma caixa lacrada embaixo da minha cama aqui de Forks, não ousei mexer neles, não havia o porque, eu não estava escrevendo mais, e talvez nunca mais escrevesse. Já estava triste o suficiente pra me martirizar em ler minhas histórias, e me sentir mais impotente ainda. Levei minha mochila para meu quarto. Liguei o lap top, havia muito tempo para começar a fazer a janta. Lembrei que minha avó tinha criado um e-mail para entrar em contato comigo. Quem sabe ela já não teria escrito algo, estava certa, lá estava o e-mail da vovó.

" Querida Su, chegou bem em Forks? Já foi acampar? Forks é um bom lugar para acampar sabia?" Como sempre, vovó pensando na aventura. "Eu e seu avô já estamos sentindo muito sua falta, sabe que estaremos sempre de braços abertos para você, minha querida. Mas acredite em sua velha avó, você ficará bem com seu pai. Eu e seu avô vamos sair de viajem nesse fim de semana, seu avô decidiu que era melhor começar a aproveitar a aposentadoria. Mandarei fotos sempre que puder, para que tenha idéias para novas histórias, sei que conseguirá escrever! Vovô está louco para ler suas histórias. Conte-me como é sua escola. Já fez amigos? Um grande beijo, seu avô mandou outro. Aguardo sua resposta meu amor."

A saudade bateu mais forte do que imaginei, respirei fundo para evitar que meus olhos marejassem com a saudade. Comecei a responder. " Vovó, cheguei bem sim a Forks, e ela está fria e chuvosa como sempre. Estou aqui à um dia, não fui acampar ainda, Jonathan me avisou sobre um urso ou um lobo a solta, então acho que acampar por enquanto não dá. Mas assim que eu for, contarei tudo! Sinto muito a falta de vocês...Que bom que retomaram os planos de viajar pelo mundo, coloque na lista de lugares à visitar, Forks, não se esqueça! Ficarei esperando passarem por aqui! Tenho certeza que mandarão lindas fotos." Suspirei.

- Espero que consiga voltar a escrever logo...- Meus avós sempre me apoiaram, assim como minha mãe, mas meu avô, ele era fã das minhas histórias, ele me incentivava, e até brigava comigo se eu desse algum desfecho trágico para algum personagem que ele gostava, ele realmente se envolvia, e isso me deixava muito feliz. Não comentei sobre as histórias no e-mail, eu não sabia quando iria destravar e conseguir escrever algo, então preferia não comentar nada, continuei. "Conheci um pessoal na escola nova, tem uma garota o nome dela é Thifany, super prestativa, acho q nos daremos super bem, me convidaram para ir no cinema com eles em Port Angeles, vou pedir à Jonathan. Te conto sobre o filme depois. Um Beijo, Su.". Enviei o e-mail, fechando o lap top.

Fui direto ao banho, ficando por um bom tempo embaixo do chuveiro deixando a água quente cair sobre meu corpo, a sensação era tão boa, parecia que limpava minha alma. Lembrei daqueles olhos de topázio me olhando fixamente, meu corpo se arrepiou todo, fechei os olhos tentando imaginá-lo, como fiz na hora do almoço, ainda não conseguia fazer uma definição de perfeito na minha cabeça, imaginei vários artistas que considerava bonitos, mas parecia que nenhum deles encaixava-se com aqueles olhos. Por um momento meus pensamentos desviaram de curso, aqueles olhos viraram os olhos do meu sonho, dei um pulo, minha mente me pegou desprevenida. Saí do banheiro balançando a cabeça após colocar meu pijama.

- Concentra Su...esquece o sonho e pensa no anjo... - falava sozinha enquanto descia as escadas, rumo à cozinha para fazer a janta. Era difícil esquecer dos olhos do meu sonho, agora que lembrei deles. Tentei me distrair fazendo o jantar, o que deu certo, fiz uma lasanha que havia aprendido com minha avó. Já estava pela casa o cheiro quando Jonathan chegou, ele veio rapidamente para a cozinha reconhecendo o aroma familiar. - Oi pai! - acenei para ele, enquanto colocava os pratos na mesa redonda.

- Nossa Su, que cheiro bom, parece a lasanha que sua avó fazia... - comentou ele, tirando seu casaco pesado.

- É a lazanha que a vovó fazia pai, ela me ensinou a receita, é uma das minhas especialidades... - sorri ao ver a cara de surpreso que ele fez, por mais que soubesse que eu sabia cozinhar, ele não esperava que meus dotes culinários chegavam a tanto, como fazer a lasanha da vovó por exemplo, o que na verdade era muito fácil, demorei um pouco pra aprender, mas quando aprendi, ninguém agüentava mais comer lasanha, eu gostava de fazê-la toda noite. - Está na mesa...- anunciei colocando a lasanha na mesa, sentando na cadeira.

- Hmmmmm...parece estar gostoso... - dizia ele, analisando o grande pedaço que havia posto no prato.

- Espero que goste...-dei uma pequena mordida no pequeno pedaço que peguei. Olhei-o enquanto ele dava sua primeira mordida.

- Não sabia que era tão boa cozinheira Su...meus parabéns...- ele elogiou.

- Obrigada pai! Fazia tempo que eu não cozinhava, que bom que ficou boa. - comentei.

- Como foi seu primeiro dia? - perguntou curioso.

- Normal, sabe né, nova cidade, nova escola....Mas até que gostei...- admiti.

- Que bom! - ele pareceu animar-se com a notícia. - Conheceu alguém?

- Sim...conheci umas pessoas...uma menina chamada Thifany me ajudou, e acabou me enturmando com os amigos dela. - Ah! Pai...- havia lembrado do convite para o cinema. Parte de mim queria ir, estava louca para ter amigos de novo e ver voltar tudo a ser normal, mas a outra parte, talvez até um pouquinho maior que essa, queria ficar em casa, ainda não estava preparada pra tudo isso, e nem para enfrentar chuva se chovesse. - Por falar nisso, eles me convidaram para ir no cinema amanhã, em Port Angeles...

Ele pausou o garfo no ar, não conseguia entender sua reação, será que ele estava achando que eu não era capaz de arranjar amigos tão rápido assim? Ou ele estava pensando que eu iria fugir e voltar para Nova York. Ele abriu um largo sorriso, se levantou e me abraçou fortemente, fiquei confusa, realmente não conseguia entender sua reação.

- Pai?

- Oh! Querida, estou feliz, estou feliz que tenha feito amigos, é claro que pode ir no cinema! Divirta-se! - ele beijou minha testa.

Não queria nem pensar na imagem que meu pai tinha de mim, meus avós devem ter contado tudo para meu pai sobre meu ultimo mês, sem amigos, sem vida social, se duvidar até sem vida, não era de se espantar esse tipo de reação vindo de um pai que vê a filha progredindo. Sem falar que Jonathan sempre foi sentimental, mesmo querendo passar a imagem de durão, parece que ela estava caindo com o passar dos anos.

- Obrigada pai!

Ele voltou ao seu lugar e continuou a comer animadamente, agora tagarelando sobre seu dia no supermercado. Subi as escadas assim que lavei a louça, queria ver se conseguia dormir um pouco mais esta noite.

- Já vai deitar? - perguntava Jonathan, ao pé da escada, enquanto eu subia os últimos degraus.

- Estou cansada...boa noite pai...

- Boa noite querida... - desejou ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Aja Aja Fighting, é uma expressão usada na Coréia, vi isso em muitos doramas ^^", geralmente é usada para incentivo, não sei a tradução de Aja Aja, mas sei que é desta forma que é utilizada mesmo, como incentivo, encorajamento.
N/A: Luck, significa sorte ^^"
N/A: Espero que tenham gostado deste primeiro capítulo, muito obrigada, logo postarei o segundo ^^/ Agradeço se deixarem opiniões ^^v
N/A: mais uma coisinha que esqueci, por favor me digam se tiver partes da histórias que estão cortadas, não sei o que está acontecendo quando eu copio a história do word...>—_



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eternal Dream" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.