Jay estava completamente focado no jardim. Não que as plantas estivessem gostando disso. Ele poderia ser um dos garotos mais gentis que ela já vira, mas... Não era nada habilidoso quando se tratava de jardinagem.

Entretanto, ela podia ver que ele realmente tentava.

Por isso, durante a noite ela corrigia quase todos os erros que ele cometera durante o dia.

Muitas vezes, ela tinha medo de vencê-lo. Como ele reagiria? E se isso o magoasse?

...

Era uma tarde insuportavelmente quente e até mesmo Jay havia dado um tempo no jardim para beber Vanilla Coke bem gelada e colocar os pés na água fria do mar.

Calipso usava uma regata branca estampada e um short azul pálido. Seus pés estavam enfiados na areia e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo bem alto.

Jay usava apenas uma bermuda clara xadrez deixando o torso definido e pálido nu.

Calipso suspirou alto; estava começando a pegar as manias dele: tornando-se cada vez mais dramática e exagerada.

 — Sabe, Jay? Eu tive umas ideias. Acho que você as aprovaria. — ela o atiçou.

— Ah, é? — ele disse curioso— Tinta? Água? Morcegos? Formigas? Morcegos e formigas em um balde cheio de água e tinta?

Na verdade, ela não fazia ideia do que faria para vencê-lo, por isso anotou mentalmente a sugestão dele.

— Por favor, Jay! — ela disse — Você pode fazer melhor que isso.

— Ãnh. Mosquitos cristalizados?! Regadores com tinta preta?! Travesseiros com supercola?! Lençóis com pó de mico?! — ele estava começando a ficar agitado.

— Não, não, não e não.

— Mas, pelo menos, me diga quando...

— Pode ser amanhã... Pode ser semana que vem... Pode estar acontecendo agora.

— Laxante no refrigerante?! — ele perguntou, arregalando os olhos.

Ela deu de ombros.

— Nunca se sabe. — Ele cuspiu toda a Vanilla coke que tinha na boca. — Pensando bem... Você acha mesmo que eu seria tão óbvia?!

— Você é uma menina má.

Ela riu. Era o tipo de coisa que nunca achou que ouviria.

E soava tão bem quando saia daqueles lábios!

...

No dia seguinte, Jay estava completamente neurótico, esperando que ela o pegasse a qualquer momento.

Olhava para os lados o tampo todo enquanto cuidava do jardim e havia abandonado seus fones de ouvido.

...

Já era quase madrugada quando Calipso começou a retirar o excesso de adubo, portanto o calor já havia diminuído consideravelmente.

— Ér, Cali, o intuito de uma competição é não ajudar o outro a ganhar. — ele disse, assustando-a; apesar de não estar olhando, ela podia sentir o sorriso torto dele.

Ela se virou e espanou a terra das mãos.

— Bom, Jay, não quero que você vença... Mas não quero um jardim morto. Quando você for embora, como todos sempre vão, terei apenas minhas plantas... Se elas estiverem mortas será o mesmo que nada.

Jay sorriu maroto.

— Cali, Cali, Cali, há um mundo enorme lá fora. E, honestamente, eu já passei por grande parte dele. Não todo, é claro... E eu adoraria conhecer cada pedacinho dele.

O cordão prateado pareceu sufocá-la. Ele estava dizendo... Que estava indo embora?

— Mas. — ele completou, erguendo o queixo dela carinhosamente — Acho que só consigo me ver aqui, ou pelo menos com você, daqui para frente.

— É mesmo? — ela perguntou, sem jeito.

À luz da lua, os olhos de Jay pareciam faiscar.

— Eu serei o herói que vai ficar. — ele disse, um pouco cheio de si.

Ela riu delicadamente.

— Alguém já te disse que sua risada tem o som de sinos de vento?— ele perguntou.

Ela o puxou pela mão, levando-o em direção a caverna. Seus passos eram praticamente premeditados.

Foi quando Jay caiu.

Era um buraco fundo na areia, cheio de tinta azul, cola e penas de ganso.

Ele pulou do buraco agilmente e correu em direção a Calipso que ria descontroladamente.

Metade dele parecia um Smurf com asas.

Ou algo parecido.

Mas... Havia outro buraco. Este cheio de pétalas molhadas que dificultavam a saída.

Ela deitou-se com a cabeça para dentro do buraco.

— Jay, sinto-lhe informar, mas... Eu venci.

— Ã... — ele estava perplexo. — Não sinta... Acho.

Ele chegou mais perto e, parecendo meio hipnotizado pelos olhos dela, beijou-a rapidamente e a puxou para dentro do buraco.

— JAY.

— CALI.

Ela riu.

— Seu idiota.

— Você me ama.

— Talvez. Acho que não.

— Ah, é?

— É sim.

— Hunft. E agora, você me ama? —ele perguntou, lançando-a pela cintura.

— Não, não, acho que não. — ela disse franzindo a testa.

— E agora?— ele disse puxando-a para mais perto.

Ela sentia a respiração quente dele em seu cabelo.

— Ainda não sei bem.

— Ah, Cali, você é uma menina muito difícil... — ele disse pouco antes de beijá-la longamente.

Um beijo caloroso, doce, meigo... Um beijo tão Jay que ela poderia explodir de felicidade.