Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 6
Capítulo 6 - Devolução


Notas iniciais do capítulo

Troca de capa devido a reclamações.
Sim, a moça da capa estava parecendo mais jovem do que a intenção. Sim, a moça da capa pretende ser Mildred Arnet!
Neste capítulo, alguém devolve algo a alguém... XD



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Não importava mais. Fosse por qual motivo fosse, estava cansada de atuar. Ela havia crescido e acabara de deixar isso bem claro. Precisava ver e falar com John, e iria como a mulher que era. Escolheu um vestido, meia-calça e salto alto. Simplesmente estava cansada daquele jogo, aquele afinal era o motivo que estava levando-a até John Watson naquela manhã. Terminou de se vestir e sentou-se diante da penteadeira.

Antes de começar a se maquiar olhou-se demoradamente no espelho. Era bonita! Realmente tinha se tornado uma mulher bonita! Sorriu e contemplou o seu reflexo sorrir-lhe de volta. Era um sorriso insincero! O que ela queria poder fazer era voltar no tempo, quando ainda era uma criança e as coisas que fazia não precisavam ter um propósito, quando suas esperanças e sonhos não precisava ter um motivo. O simples fato de ter amadurecido fazia-a confrontar-se com uma realidade que não lhe agradava nada.

Ergueu o pincel e ficou assim por alguns instantes. Que adiantava ser bonita? Só conseguia se sentir pior por saber que era uma mulher bonita, inteligente, capaz... De que adiantava? As vezes achava que seria muito mais útil ser um cadáver em uma gaveta do Barts. Isso chamaria mais a atenção dele. Suspirou pesadamente.

– Vá em frente... – a voz encheu o quarto e ela engoliu em seco. – Está realmente muito elegante! Use laranja, combina mais com o tom da sua pele e a cor dos seus olhos...

Ele estava com um ombro encostado aos caixilhos da porta, tinhas os braços cruzados e olhava para o carpete e não para a penteadeira. Estava completamente vestido, totalmente de preto e impassível, como se absolutamente nada tivesse acontecido. Ela limpou o pincel e procurou a sombra alaranjada no estojo de maquiagem. Continuou a maquiagem, continuou observando-o com o canto dos olhos. Ele permaneceu imóvel, respirando devagar. Ela sabia que ele a estava espiando... Mas por enquanto ela melhor que continuasse a maquiagem. Quando terminou, porém, deu-se conta que teria que levantar e passar por ele. Uma hora ia precisar fazer isso.

– Pode me dar licença?

– Vai sair, Arnet?

– Usando o meu outro sobrenome, de novo? – passando por ele. – O que eu fiz agora para irritá-lo, meu caro?

– Nada... – andando na direção do sofá.

Ela caminhou a passos rápidos até a cozinha e encheu uma caneca com café. Precisaria de pelo menos dois litros de café antes de fazer o que queria, ou se poria a gritar e chorar como uma criança pequena. Suspirou em silêncio. Ele estava sentado no sofá e parecia concentrado. Ela não ia se incomodar em retirá-lo do que fosse que o ocupava.

– Chá, por favor! – a voz dele soou mais fraca que o de costume e ela revirou os olhos.

Preferia que ele continuasse ignorando sua presença ali. Enquanto andava na direção dele com a caneca de chá, percebeu que era analisada. Ele havia abandonado a expressão concentrada e olhava diretamente para ela, como se quisesse medi-la dos pés a cabeça. Por alguns segundos sentiu-se realmente vulnerável... Depois apenas respirou fundo. Bastavam daqueles joguinhos de adivinhação.

– Se eu não soubesse onde você está indo, diria que vai a um encontro... – resmungou apanhando a caneca das mãos dela.

– Irrelevante... – ela murmurou. – Mas se sabe, esteja pronto... – apanhando o casaco e a bolsa.

– Estarei... – largando a caneca e juntando as mãos.

Teve vontade de sair correndo escadas abaixo, apanhar o telefone e exigir que John estivesse ali em cinco minutos e a livrasse daquele tormento. Mas sabia que a situação toda exigia mais delicadeza que isso. Desceu as escadas lentamente tentando colocar os pensamentos e emoções em ordem. A conversa com John não seria das mais fáceis. Assim que chegou a rua não esperou muito por um táxi.

– Baker Street, 221B, por favor!

Quando a Senhora Hudson abriu-lhe a porta, sentiu que o sorriso que ela lhe deu tinha qualquer coisa de cúmplice. Precisava lembrar-se de mandar um presente para aquela mulher... Parecia realmente adorável e ela tinha certeza que aqueles olhos meigos escondiam muita sabedoria.

– John já acordou? – perguntou procurando manter a calma.

– Creio que sim... – murmurou a senhora. – Ouvi alguns barulhos... – Mildred sorriu e subiu as escadas apressada.

Não precisou bater a porta, estava aberta e ela encontrou um John, ainda em pijamas, sentado em sua poltrona lendo o jornal daquele dia. Ele pareceu surpreso, não só com a chegada dela, como também com sua figura. Ela era realmente muito bonita!

– Mildred! – disparou. – Disse que voltaria logo, mas eu não imaginei que fosse quase imediatamente! – sorrindo.

– Olá John! – entrando no apartamento sem esperar convite. – Preciso que venha comigo! – determinou, sem rodeios.

– Ir? – surpreso.

– Sim! Preciso que venha comigo até o meu apartamento!

– Por quê? – embora ela não esboçasse nenhuma emoção que pudesse distinguir era obvio que escondia alguma coisa.

– Preciso... – hesitou, apertando os lábios um instante e franzindo a testa. – Preciso devolver algo que está comigo, mas pertence a você...

– Como assim? – agora estava definitivamente confuso.

– Pode apenas me acompanhar, por favor? – ela pediu, dessa vez sentindo sua coragem começar a escapar.

– Mas... - por que ia contestá-la. Alguma coisa em seu intimo dizia que sabia exatamente o que ia acontecer, por mais absurdo que pudesse parecer. – Dê-me cinco minutos... – apressando-se para o quarto.

Ela andou uns passos para dentro e encontrou aquele bendito violino. Olhou na direção para onde o médico tinha ido. Adorava o som daquele instrumento. Mas nunca mais tinha tocado... Não desde que saíra da Inglaterra. Encheu os pulmões de ar e apanhou o violino. Só tinha uma música que ainda se lembrava como tocar... Fechou os olhos e começou a deslizar a vara pelas cordas. Surpreendeu-se ao perceber que estavam muito bem afinadas.

John ouviu a musica quando terminava de abotoar a camisa e um arrepio involuntário sacudiu-o. Nunca mais ouvira o som daquele violino! Respirou fundo e a custo impediu que os olhos enchessem de lágrimas. Caminhou devagar. Não queria interrompê-la. Já a tinha ouvido outras vezes... Mas ela o percebeu assim que ele entrou na sala e voltou-se, parando subitamente de tocar.

– Desculpe... – ela murmurou, colocando o violino onde encontrara.

– Não se desculpe... Você toca muito bem!

– Tive um bom professor... – murmurou sem tirar os olhos do instrumento. – Bach. Sonata nº 1. – identificou antecipando a pergunta que viria a seguir. – Podemos? – indicando a porta com um movimento de cabeça.

– Mildred... – murmurou vestindo o casaco.

– Acredita em milagres John? – ela respondeu antes que ele tivesse a chance de perguntar qualquer coisa e saiu. Ele seguiu-a em silêncio.

Dentro do táxi, John teve a nítida sensação que ela estava chorando, embora seu rosto permanecesse na sombra e não houvesse nenhuma lágrima. Londres nunca lhe pareceu tão sombria. A melodia que ela estava tocando ainda estava em sua mente e era como se não houvesse mais nenhum som além daquele. O que ele estava fazendo ali? Dentro de um táxi com uma desconhecida, a caminho de um lugar que não sabia qual... Por que estava ali? Ela voltou-se e olhou-o nos olhos.

– Sei que acredita! – ela disse numa voz baixa, como se fosse capaz de ler seus pensamentos. Uma sensação antiga de estupidez invadiu-o. O táxi parou antes que ele fosse capaz de elaborar qualquer réplica.

Ela andava ligeira e ele acompanhou-a sem conseguir se aproximar o suficiente para falar. Começou a sentir-se nervoso. Ela morava no quarto andar. Ele pode ver quando ela parou em frente à porta. Era o primeiro apartamento do corredor. Ela segurou a maçaneta e sorriu. Era um sorriso cúmplice e gentil. Ele sorriu de volta. Nervoso e ansioso.

– Está preparado para o que vai encontrar? – ela sussurrou. Não! Óbvio que não estava! Mas acenou que sim com a cabeça assim mesmo, com aquele sorriso tenso.

Sherlock estava sentado no sofá, os braços cruzados e o olhar fixado na porta de entrada. Só até perceber que ela tinha acabado de parar bem ali em frente. Ficou em pé e esperou. Deviam estar falando alguma coisa... Andou até a cozinha e olhou pela janela. O céu estava claro, mas não havia muito sol. Esperou... Estava com uma sensação estranha, como se seu estômago estivesse frio e vazio... Como se todo ele por dentro estivesse subitamente vazio.

A porta se abriu devagar e por uma fração de segundo ele sentiu que todos os seus músculos tinham congelado. Mas assim como veio, passou. Embora ainda houvesse um desconforto estranho, ele ergueu a cabeça e encarou a porta com decisão. Se examinasse a fundo seus pensamentos, lembraria que não queria sair dali, não tão cedo, não depois de tanto tempo distante. Era melhor não pensar a respeito. Estavam entrando...

– Aí está! – ela disse depois de dois passos compridos. – Inteiramente seu! – parando no meio da sala.

– Eu... – John diria qualquer coisa que não conseguiu terminar. Assim que a alcançou, viu a figura escura se deslocando na direção dele.

Cobriu a boca, primeiro com uma e em seguida com as duas mãos. Disse um palavrão qualquer que fez Mildred sorrir. Sherlock olhou primeiro para ela e ao constatar que realmente havia satisfação em seus olhos, voltou-se para o amigo. Não era assim que tinha planejado, mas a garota tinha o mau hábito de bagunçar seus planos desde os três anos de idade. O detetive deu um meio sorriso entre constrangido e divertido.

– Olá John!

– Seu filho da... – a frase terminou com um belo soco que acertou em cheio a bochecha esquerda de Sherlock.

– John! – disparou Mildred. – Merecido! – cruzando os braços.

– Eu fui ao seu funeral! – disparou o médico exacerbado. – Eu... Eu... Deus! Eu chorei por você!

– Feliz? – resmungou Sherlock para Mildred enquanto massageava o rosto.

– Eu podia ter feito melhor... – analisando o rosto do outro. – Mas sim! Foi um soco merecido, admita Sher! – parecendo divertida.

– Pretende me bater outra vez? – questionou Sherlock mantendo alguma distância.

– Como? Por quê? – a visão do médico de repente se tornou turva. Apoiou-se nos joelhos.

– Acho que ele vai desmaiar Sherlock! – alertou Mildred uns segundos antes de John cambalear e ser amparado pelo outro.

– Oh! Eu devia ter previsto! – resmungou.

– Coloque-o no sofá... – ela disse tirando o casaco. – Vou preparar mais chá!

– Espere... – apressou-se o outro, largando John entre sentado e deitado no estofado.

– O que quer? – voltando-se e encarando-o.

– Testar uma teoria... – puxando-a pelo braço.

Mildred sentiu que todo espírito convulsionava naquele momento, embora ela fosse a imagem da paz e da tranqüilidade. Não moveu um único músculo, mesmo quando sentiu a mão dele em sua cintura. Não era uma cobaia de laboratório! E era tão boa atriz quanto ele era um bom ator! Ele aproximou seu rosto do dela até seus narizes se tocarem. E sem aviso, afroxou o abraço tenso que tinha iniciado.

– O que foi?

– Nada... – ele murmurou. – Quando foi que aconteceu?

– Quando aconteceu o que? – erguendo uma sobrancelha.

– Quando foi que parou de... – um gemido baixo chamou a atenção dos dois. Mildred sentiu que havia sido salva.

– Sherlock?! – resmungou o médico ficando em pé.

A cena estava meio embaçada, mas ele estava mesmo vendo direito? Seu amigo, que até uns minutos atrás julgava morto e enterrado, estava em pé naquela sala e segurava aquela garota estranha pela cintura... O que ele tinha perdido? Sacudiu a cabeça e no instante seguinte viu Mildred andar em sua direção, espanando o vestido, como se quisesse se livrar de algo e Sherlock retomar uma postura impassível, enquanto ajeitava as mangas do blazer.

– Sente-se bem John? – perguntou a garota encarando-o.

– Sim... Deus! Não! É claro que não! – sentando-se novamente. Desviou o olhar para poder ver o amigo.

– Sim! Sou eu John! – o outro respondeu num tom enfastiado.

– O que faz aqui? – olhando brevemente para Mildred. – Quando... De onde... – ainda estava tentando entender a cena anterior.

– Mycroft achou que era uma boa idéia... Eu cheguei há dois dias. Da Dinamarca. – resumiu.

– Como foi que... Eu vi... – confuso.

– John! Você viu o que queria ver... – atravessou Sherlock. – Com a sugestão correta, não foi muito difícil... Sinto muito por isso, for necessário.

– Pergunte a Molly... – atalhou Mildred. – Ela sabe! – olhando de lado para o outro.

– Molly? – o médico se espantava mais a cada detalhe insólito.

– Ele mesmo não vai dizer coisa alguma... – continuou a garota.

– Mildred! – disparou Sherlock. – Por favor! – revirando os olhos.

– Oh! Perdão meu senhor! – fazendo uma reverencia e indo para a cozinha.

– São sempre assim, vocês dois? – resmungou John passando a mão pela cabeça.

– Pior... – resumiu Sherlock com um meio sorriso, sentando-se ao lado do outro.

– Por que não deu qualquer noticia?

– Oh! John! Você não é bom em guardar segredos...

– Quem mais sabia? – apertando os olhos.

– Apenas Molly e Microft... infelizmente, ele foi essencial para que tudo se desenvolvesse satisfatoriamente.

– Então... – olhando na direção de Mildred.

– Oh! – resmungou o outro. – Eu não tinha noticias dessa criança desde muito tempo...

– Ela pareceu preocupada quando... – iniciou John calando-se imediatamente. Teve a sensação que estava metendo-se em um vespeiro, temeu sair ferido.

– Mesmo? – desviando seu olhar por um instante. – Não creio. Essa pequena tem um gosto peculiar por... quebra-cabeças... – sorrindo. – Não é assim, Arnet?

– Chame-me desse jeito mais uma vez e servirei o chá de uma forma totalmente inusitada. Adianto que vai ter dificuldade para caminhar se eu fizer isso... – ela disse da cozinha, com a naturalidade de uma criança.

– Entusiasmada, não acha? – comentou Sherlock como se estivesse se divertindo.

– Acho-a incrivelmente semelhante a você! – disparou. Mas outra coisa o incomodava. Já tinha visto aquela troca de olhares antes em outro lugar.

– Oh! Não! John! – ela disparou vindo na direção deles e trazendo uma bandeja. – Eu sou uma menina crescida! – sorrindo. – Vou deixar os pombinhos a sós. – olhando para o outro com o canto dos olhos. – Quando saírem deixem a chave na caixa de correio. – beijou o rosto de John, limpando a mancha de batom em seguida. – Até logo John e obrigada!

– Sem despedidas? – questionou Sherlock ao vê-la passar por ele.

– Nós já nos despedimos meu querido... Não se lembra? – apanhando novamente o casaco. – Até logo Sher! – saindo.

– Sher... – resmungou o doutor.

– Não faça caso... – murmurou o outro antecipando as perguntas que poderiam surgir. – Falemos disse depois. Agora... – apanhando a xícara da bandeja. – Há algo de interessante acontecendo nesta cidade?


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Notas finais do capítulo

Alguém? *cri cri cri* Ç__Ç



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