Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 5
Capítulo 5 - Um Jogo de dois...


Notas iniciais do capítulo

Toda vez é uma angústia escrever, por que sempre tenho um medo medonho de errar a mão e descaracterizar o querido Sher...
Mas vamos avante... Veremos no que vai dar isso né?



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Mildred estava debruçada no peitoril da janela observando a lua. Parecia uma circunferência perfeita, mas ela sabia que não se tratava disso. Dormir parecia um esforço inútil. Com ele ali, embaixo do mesmo teto seria um sono perturbado... Sem contar a quantidade de vezes que seria acordada pelo sonambulismo. Não tinha uma crise há anos, mas tinha certeza que não conseguiria se manter adormecida por muito tempo ali. Suspirou e afastou-se da janela. O cheiro do tabaco encheu seus pulmões e acalmou os pensamentos.

– Ah! Esse é realmente especial... – ela sorriu olhando o cigarro entre os dedos dele. – Tabaco cubano! – piscando.

Ele não respondeu. Olhou para a chama do cigarro e sorriu. Estava espichado na poltrona vestindo um roupão de algodão acinzentado. Soltou uma comprida nuvem de fumaça no ar e voltou a fitar o vazio, como se houvesse alguma coisa flutuando no meio do quarto escuro além da fumaça.

– Diga... Não dorme nunca?

– Só quando tenho sono... – sem se mover. – Raramente tenho sono, sabe disso!

– Ah! Sim, meu querido zumbi! – acendendo um cigarro e revirando os olhos.

– Também está acordada... – murmurou observando-a com o canto dos olhos.

– Sofro de sonambulismo...

– O sonambulismo não é uma condição que a impeça de dormir.

– Pode ser que eu esteja ficando muito parecida com o meu irmão! – sorrindo.

– Não sou seu irmão... – desviando o olhar.

– Por que insiste com isso Sher? – ele suspirou. – Crescemos juntos!

– Sher... – ele resmungou.

– Sabe por que gosto de chamá-lo assim? – ela disparou inclinando-se.

– Sei. Sher... Do modo como você pronuncia, também é cher, francês... – esmagando a bagana do cigarro no fundo de um cinzeiro de vidro.

– Oh! Brilhante meu querido! Querido Sherlock! – sorrindo.

– Quando vai ver John de novo? – espiando outra vez pelo canto dos olhos.

– De novo?- ela devolveu erguendo uma sobrancelha.

– Já esteve com ele... Sabe que eu sei. – estendendo os braços nos lados da poltrona.

– Logo... – ela murmurou voltando-se para a janela.

– E como ele está? – perguntou juntando as mãos.

– Oh! Sentiu saudades do seu namorado? – voltando-se para ele e sorrindo. Ele apenas virou o rosto. – Ele me pareceu bem sim... Um pouco abatido... Pobre John!

– Contou a ele? Ontem, quando esteve com ele?

– Você sabia?

– Quer mesmo que eu descreva a dúzia de indícios que me disseram onde você esteve?

– Logo teremos a reconciliação dos pombinhos... – sorrindo.

– Ansiosa em me colocar para fora?

– Ansiosa para voltar a dormir em paz... – fazendo careta. – Sabe que é você que causa minhas crises de sonambulismo? – empurrando o indicador contra o peito dele. Ele olhou seriamente para o dedo dela e depois para o seu rosto.

– Está incluindo as vezes que fingiu? – com um meio sorriso sardônico.

– Você sabia? – apertando os olhos. – Claro que sabia... – suspirando. – Gênio!

– Que você fingia estar dormindo e se esgueirava pela casa até o meu quarto?

– Se sabia por que... Como...

Ficaram em silêncio outra vez, encarando-se na semi penumbra do quarto. E Mildred era toda confusão naquele momento. O que ele tinha acabado de dizer? Se ele sempre soubera que ela fingia, por que sempre lhe abria a porta e a colocava na cama? Por que ficava sentado em silêncio ou simplesmente tagarelava sobre o ultimo caso em que estava envolvido? Ele era uma maldita caixa preta inviolável e ela... Um livro aberto onde ele podia ler o que bem entendesse.

– Por quê? – ela murmurou simplesmente.

– Sempre foi um estimulo para o meu cérebro... – voltando-se para a janela.

– Ah! Eu era sua nicotina? – surpresa.

– Mais forte que isso... – com um meio sorriso. – Ainda é...

Mildred preferiu o silêncio. Com outra pessoa poderia entrar naquele jogo, mas com ele terminaria gritando entre lágrimas enquanto ele sorria vitorioso. Era melhor deixar as coisas como estavam. Ao menos ele não estava mais se queixando do tédio... Acenderia a luz com prazer e se poria a ler se isso não revelasse algo que não queria ver. Duas coisas na verdade: a expressão de desprazer no rosto dele e as marcas que certamente estavam ali. Abraçou a si mesma e voltou para a janela.

– Estou incomodando? – ele perguntou olhando diretamente para ela.

– Não... – suspirou. – Vou... – voltando-se sem saber direito o que dizer. – Comer alguma coisa...

– Apenas chá para mim, obrigado!

– Pois não meu senhor! – ela respondeu com ironia, revirando os olhos e saindo do quarto. Ele olhou para a porta e sorriu francamente.

Acordou com os olhos ardendo e o sol chegando na metade da sala. Tinha duas xícaras sobre a mesinha de centro... Mas ela não fazia a menor idéia do que tinha acontecido depois que saíra do quarto para comer alguma coisa. Sonambulismo! Costumava ter como conseqüência uma amnésia permanente de uns minutos antes de dormir... Tinha dormido? Ali na sala? Podia imaginar o que tinha feito andando dormindo pelo apartamento. Suspirou, irritada consigo mesma. E ainda tinha dormido sentada naquele sofá. Sentiu-se ridícula. Apoiou as duas mãos no estofado e ia apressar-se em ficar em pé quando alguma coisa fez seus olhos se arregalarem e uma de suas sobrancelhas se erguer.

Aquilo não estava certo! Coçou os olhos e piscou, tinha que ter certeza que não estava tendo alguma alucinação causada pelo jejum prolongado ou qualquer coisa do gênero. Mas a imagem continuou nítida diante de seus olhos. Aquela criatura inatingível estava bem ali, sentado no chão e debruçado nas almofadas do estofado, com os braços cruzados e a cabeça repousada de lado. E ele estava dormindo! Tão tranquilamente que ela poderia confundi-lo com um ser humano... Conteve seus impulsos. Levantou-se devagar! Foi para o quarto e trancou a porta.

Sua primeira reação foi andar de um lado para outro, gesticulando, como se discutisse com alguma entidade invisível sem usar palavras. Por que diabos ele estava dormindo, sentado no carpete ao seu lado? Por que diabos ele estava dormindo, para começar a conversa! Nos dois dias em que tinha estado ali ele havia fechado os olhos para dormir de verdade por não mais de quinze ou vinte minutos, ali mesmo, sentado naquele sofá... Exceto na manhã do dia anterior, mas sabia que provavelmente ele tinha apenas sido vencido pelo tédio.

Amaldiçoou-se mentalmente. Se soubesse que ainda era tão vulnerável a qualquer gesto dele teria ficado bem resguardada em Atlanta. Ah! Mas a quem ela estava tentando esganar? Disparou um soco contra o colchão. Ele sabia! Tinha que saber. E que historia era aquela de ele saber que ela fingia estar dormindo, sonâmbula, para entrar em seu quarto? O que mais ele sabia? Era tarde para arrependimentos... Encostou as costas na porta do quarto. Por que ele não podia ser apenas um ser humano normal como qualquer outro? Uma batida na porta a fez pular.

– O quê é? – ela gritou com as duas mãos no peito.

– Por que se trancou?

– Como? – essa era muito boa! – Preciso me trocar... – respondeu. – Privacidade, sabe o que é?

– Sei... Mas não me lembro de se aplicar a mim ou a você.

– Invasivo! É isso que você é Sherlock Holmes! – decretou mostrando a língua para a porta fechada.

– Não faça caretas, fica parecendo uma criança... – apoiou as costas na porta e cruzou os braços. – Agora me diga: por que me deixou sozinho no chão frio?

– Você nunca dorme... – resmungou procurando uma roupa no armário. – Achei que precisasse de descanso.

– Para isso eu precisaria estar cansado primeiro...

Ela inclinou a cabeça na direção da porta. Cansado? Do que ele estava falando? Vasculhou a mente, quase desesperada em busca de respostas. Droga! Era isso o que dava concordar com as propostas absurdas de Mycroft. "Fique com ele por um tempo, fará bem para os dois!" Bem? Quem bem aquilo podia trazer? Tirou o roupão e olhou-se no espelho. Ali estava! Revirou os olhos. Que explicação daria se alguém perguntasse? Inclinou o pescoço e tateou a marca arroxeada.

– São dentes! Maldito! – gritou.

– Abra a porta, Mildred! – ele cantarolou do lado de fora.

– Eu tenho uma vida, você sabia? – caminhando duramente até a porta. – E as pessoas falam! – abrindo a porta. – Como eu explico isso? – erguendo os pulsos na frente dele.

– Não faço a menor idéia... E também não me interesso. – dando de ombros. – Eu posso?

– Eu tenho que me trocar, já disse! – revirando os olhos.

– Mildred! Detesto atrapalhar, mas você já está... nua! – com um meio sorriso. – Teoricamente, não era isso que eu não devia ver?

– Teoricamente... – ele fazia de propósito. Só podia ser! Deu as costas e voltou a procurar uma roupa.

– Teoricamente eu já não havia visto? – questionou indo sentar-se na poltrona dela, de frente para a porta do armário onde ela ainda bufava tentando encontrar uma roupa.

– Teoricamente... – ela repetiu.

– Ah! Achei que ainda tinha amnésia pós-sonambulismo... – comentou apanhando o celular no bolso.

– Ainda tenho... – voltando-se devagar com um lingerie nas mãos. – Ok. O que houve entre a xícara de chá e você dormir aos meus pés?

– Não sei do que você está falando... – declarou sem tirar os olhos do telefone.

– Não vai falar? Ok! – caminhando até ele, apoiando as mãos nos braços da poltrona e encarando-o a milímetros de distância.

– Vai deduzir isso? – sorrindo e largando o telefone no colo. – Fascinante.

– Você está cheirando a... – as deduções e a conclusão chegaram como uma torrente na mente de Mildred. Suas pupilas dilataram e os olhos arregalaram. Quis se afastar, mas sentiu os pulsos sendo seguros.

– Desde quando isso mete medo em você? – perguntou franzindo a testa.

– Consentimento! Nunca sem o meu consentimento! – murmurou com uma voz fraca.

– Você estava... dormindo... – erguendo uma sobrancelha.

– Eu não sei o que aconteceu... – ela murmurou sentindo a cabeça rodar.

– Sabe sim... Só não está gostando da idéia de não se lembrar...

– E por que você não coopera e refresca a minha memória?

– Sabe, é a primeira vez que vejo você tão sensível por causa disso... – olhando-a dentro dos olhos. – Nunca nos últimos... o que? Quantos anos você tem?

– Sou sete anos mais jovem que você... Pelo menos disso se lembra?

– Verdade! – com um meio sorriso. – Então tem muito tempo... 13 anos?

Ela sentiu-se desconfortável. O que é que ele estava tentando fazer afinal? Concordava que nunca tinha se sentido tão perturbada, mas havia um hiato de 5 anos desde a última vez que haviam se encontrado. Ela tinha amadurecido! E junto com ela aquela série de sentimentos confusos.

– Por que agora? – ele questionou.

– Ah! Pelo amor de Deus! Estou velha demais pra isso... – ele continuava segurando-a.

– Preciso lembrar que foi você quem começou esse jogo? – sorrindo de um modo mordaz que a fez sentir uma fisgada.

– Preciso lembrar que você foi voluntário? – apertando os olhos. – Solte-me ou vou começar a gritar...

– Ninguém se surpreenderia!

– É a droga da minha vida! – ela gritou. – O que os meus vizinho vão pensar de mim?

– Realmente se importa com isso?

– Ouça Sher... - suspirando. - Eu não tenho mais 18 anos... Eu cresci! Mudei para outro país... – evitando os olhos dele. – Isso não lhe diz nada?

– Diz... O suficiente... – soltando os pulsos dela. – Você tem razão... – levantando-se assim que ela se afastou. – Você cresceu... – saindo do quarto e batendo a porta.



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Notas finais do capítulo

Muitos significados... Muita coisa no ar...
Em breve retornaremos...



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