Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 21
Capítulo 21 – O quinto corpo.


Notas iniciais do capítulo

E agora nosso detetive e a sua garota enfrentarão uma estranha onda de crimes...
Quem estará por trás disso?



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“Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem e possuam a terra... Is. 14:21”

Era o que dizia na placa de bronze que havia sido entregue na New Scotland Yard em uma caixa de papelão comum, sem destinatário. A placa estava limpa como se tivesse saído de um esterilizador! Não havia nada na caixa que pudesse indicar de onde ela vinha, era uma caixa comum comprada em qualquer papelaria. Sherlock permaneceu com o objeto nas mãos por alguns instantes.

– Pensaríamos que não passa de alguma brincadeira sem graça, se não fosse por isso! - Lestrade espalhou na mesa fotos de quatro corpos.

– O que é isso? - questionou John se debruçando sobre as fotos.

– Quatro assassinatos. Não tinham nada em comum... - iniciou Lestrade e percebeu Sherlock erguer uma sobrancelha. - Bem, nada que tivéssemos percebido até a chegada da placa.

Lestrade separou as fotos e enquanto John lia os relatórios, Sherlock olhava minuciosamente para cada um daqueles corpos. Eram de mulheres jovens e cada uma tinha sido apanhada e assassinada de uma maneira diferente. Nada fora levado e os corpos foram encontrados em lugares públicos, fáceis de serem percebidos.

– São um recado... - disparou Mildred que até então estivera sentada em uma cadeira, com os pés sobre o assento e abraçada aos joelhos em silêncio. Os três homens se voltaram para ela ao mesmo tempo.

– Imaginei isso... - murmurou Sherlock arrependido de não ter dito antes.

– O que querem dizer? - questionou Lestrade e Mildred fez um gesto indicando que o detetive deveria explicar.

– Quem as matou não se preocupou que fossem encontradas, ou identificadas, isso indica que era exatamente o que queria que acontecesse. Que encontrasse logo seus corpos e soubessem quem eram... - iniciou o detetive.

– Mas o modus operandi diverso e a falta de conexão entre as vítimas não indica um motivo plausível! - acrescentou Mildred. - Loira, morena, alta, baixa, estudante, prostituta... - balançando a cabeça. - Ele não as escolheu por quem eram, como pareciam ou o que faziam... - franzindo a testa e mostrando uma expressão terrivelmente parecida com a que Sherlock exibia naquele mesmo instante.

– Mas não foi aleatório! Portanto... - retomou o detetive. - Deve haver outra ligação! Uma que não percebemos... - voltando-se agora para a garota.

– E isso não tem nada a ver com os pais delas... Tem alguma teoria? - ela perguntou juntando as mãos espalmadas embaixo do queixo.

– Talvez uma ou duas... - reconhecendo no rosto de Mildred a expressão de quem entendera alguma coisa. - Pensou em algo? Diga!

– São os nomes delas! Soam familiar! - Mildred levantou e parou ao lado do detetive. Enfileirou as fotos identificadas com os nomes.

– Michelle Harper, Georgia Linton, Marianne Hamilton, Judith Wellignton... - murmurou Sherlock. - Um anagrama?

– Não... É mais simples que isso... - devolveu Mildred concentrada.

– Você é boa nisso! Concentre-se! - concentrando-se no rosto dela.

– Michelle... Michelle H.... - os olhos de Mildred de arregalaram de repente. - São as iniciais! - disparou ainda com a expressão de que levara um choque.

– O quê? - Sherlock voltou a olhar as fotos na mesa. - Oh! Mas se estiver certa... - iniciou o detetive apertando os olhos.

– Isso acabou de chegar! - Sally Donovan entrou de repente na sala e entregou um envelope a Lestrade.

– Faltava isso... - disse Lestrade tirando mais fotos de dentro do envelope. - Todos foram encontrados nas cenas. Nenhum deles fez sentido... até agora!

Todos voltaram seus olhares para mesa. As novas fotografias eram de palavras escritas no chão, no muro, no carro da vítima e de um bilhete... Parecia sem sentido, até Mildred estender o braço e ordená-las.

“Os filhos pagarão pelos pecados...”

– … dos pais... - completou Sherlock.

– Falta um pedaço! - confirmou Mildred.

– O que querem dizer? - questionou o inspetor.

– Haverá mais um corpo! - disse Sherlock sério. - E logo!

Lestrade agitou-se e saiu da sala procurando por alguém. Donovan permaneceu parada a porta com um olhar curioso dirigido para o lado de dentro.

– Mas se isso é uma mensagem, para quem é? - perguntou John ainda olhando para as fotos.

– Se Mildred estiver certa... para mim! - disse Sherlock saindo da sala.

– Como é? - disparou John atônito.

– São as inicias de todos que ele tem por mais próximos... - explicou Mildred em um suspiro. - M.H., duas vezes: Molly Hooper e Martha Hudson. G.L., Gregory Lestrade. J.W.

– John Watson... - completou o médico e Mildred assentiu com um aceno.

– São ameaças! - ela completou.

– Como pode ter certeza? - atravessou Sally entrando na sala e olhando as fotos.

– Não tenho! - ajeitando a gola do casaco. - Exceto se o próximo corpo for de alguém com as iniciais M. A.

– Essa é você! - concluiu John.

– Isso! Mildred Arnet! - saindo da sala em seguida.

John fitou as fotos por mais alguns segundos e imaginou quem poderia estar por trás daquilo. Assassinar quatro pessoas apenas para “mandar um recado” fazia lembrar Moriarty! Um arrepio gelado percorreu a espinha de John! Aquilo parecia um pesadelo se tornando realidade! Esfregou os braços.

Mal saiu da sala percebeu a agitação no local. Homens pegava seus casacos e saiam apressados. Havia um burburinho de vozes e uma tensão quase tangível. Procurou pelo amigo e encontrou-o em pé em um canto admirando o caos em que aquele lugar se convertera. Apressou-se em ir até ele.

– Parece que estávamos certos... - murmurou o detetive.

– Outro corpo? Outro assassinato? - agitou-se John.

– Precisamente! - confirmou o outro.

– E o que estamos esperando?

– Ela! - Sherlock indicou a porta.

– O táxi está esperando! - anunciou Mildred e voltou depressa através da porta.

Os três seguiram, no táxi, o comboio de carros oficiais que se dirigia ao local. Sherlock fazia anotações compulsivamente enquanto Mildred parecia estar em uma outra dimensão. Os dois era a imagem perfeita da paz e da tranquilidade, mesmo a caminho de uma cena de crime. John tentou não se impressionar tanto, afinal conhecia bem Sherlock, mas era impossível não se espantar com a frieza que transmitiam os olhos claros de Mildred.

Quando chegaram ao local a faixa de isolamento já estava sendo colocada. Sally Donovan estava em pé falando com um homem barbudo e suado. John ficou atrás dos dois que o acompanhavam observando a movimentação em redor. Já comentavam entre si a suposta teoria formulada na sala sobre os nomes e, como era inevitável, a presença de Mildred Arnet e seu casaco longo.

– Quem é essa? - disparou Donovan chegando pelas costas de John, acompanhada de Lestrade.

– Ela está com Sherlock... - o médico saiu em seguida para acompanhar os dois que acabavam de cruzar o isolamento.

– Então ele arrumou outro bichinho de estimação? - resmungou torcendo os lábios.

– Cuidado! - advertiu Lestrade. - Ela não é controlada como ele...

– Mas afinal, quem é ela? - retomou Sally.

– Mildred Arnet! - esclareceu o inspetor.

– Sim?! E quem é? - a sargento estava perdendo a paciência.

– A namorada... ao que parece... - murmurou Lestrade para não ser ouvido e foi para onde todos estavam, sendo seguido de perto pela sargento que ainda parecia chocada.

Para o espanto do inspetor quem estava debruçada sobre o corpo, de lupa em punho, era a garota. O detetive andava em redor e consultava algumas anotações. John Watson apenas observava. Era realmente intrigante vê-los. O modo como ela parava e questionava algo ao detetive apenas com o olhar ou com o modo que torcia os lábios, e como ele parecia responder do mesmo modo, sem usar uma única palavra.

– São sempre assim: silenciosos? - questionou Lestrade a John.

– Não. Normalmente usam um chicote! - fazendo uma careta.

– O que tem você com a sargento? - resmungou Mildred ficando em pé ao lado de Sherlock. Longe o suficiente dos outros para que não fosse ouvida.

– Sally? Apenas uma velha amiga.

– E qual o interesse dela na minha pessoa? - erguendo uma sobrancelha.

– Curiosidade. - disse Sherlock ao constatar que Sally Donovan não tirava os olhos de sua parceira. - Você costuma despertar esse tipo de sentimento.

– Não apenas isso... - emendou.

– Cale-se e analise o corpo! - atravessou o detetive.

– Já fiz isso! - andando na direção dos outros.

– E então? - interrogou Lestrade.

– Sufocamento. Não foi morta aqui, provavelmente foi arrastada pra cá... - a garota apontou algumas marcas no chão. - O assassino deve tê-la apanhado chegando ou saindo. Ela provavelmente não tem uma condução própria. Ele deve ser atraente e inspirar confiança. Deve ser um homem, um homem bonito. Está com a carteira, cartões, documentos, joias... Encaixa! - dando de ombros.

– Falta apenas uma coisa... - acrescentou Sherlock.

– Ah! A inscrição? - disparou Mildred. - Ali... - apontou para canteiro próximo, onde havia uma pequena placa branca. Estava escrito “dos pais” em letras vermelhas.

– O que é ela? - disparou Donovan.

– Agora você a assustou... - murmurou Sherlock para Mildred que não pareceu achar graça.

– E quanto as iniciais? - perguntou John. Sherlock também ficou sério de repente.

– Melanie Arlington... - murmurou o detetive enquanto percebia Mildred se afastando.

John e Sherlock se encararam por alguns segundos e John pode perceber um brilho estranho nos olhos do amigo. Era muito parecido com o que ele vira quando Moriarty armou a armadilha na piscina. Um misto de preocupação e medo que explodiam no fundo dos olhos esverdeados do detetive. Sherlock ia atrás dela, mas Donovan apareceu em seu caminho.

– Então arrumou uma namorada? - sorrindo maliciosamente. - Como isso aconteceu? Ela é o que? Masoquista?

– Não. - disse com um sorriso maldoso. - Ela é a sádica! - piscando um olho e saindo.

Agora ele estava honestamente preocupado. Não só com todos que conhecia, mas especialmente com o autor daquelas mensagens e o objetivo de tudo aquilo. Que eram ameaças, era óbvio. Mas haviam tantos inimigos dispostos a provocar-lhe dor que ficava complicado destacar apenas um! Sentiu-se desconfortável com o fato de aquela última vítima indicar as iniciais de Mildred. Alcançou-a no exato momento em que ela acendia um cigarro.

– Devia parar de fumar!

– Vá se foder, Sher... - ela murmurou.

– Seria excelente, mas estamos trabalhando! - aproximando-se mais dela. - Não está com medo, não é mesmo?

– Um pouco. - sentiu as mãos dele em seus ombros. - Não tente ser legal... - resmungou. - Isso só me deixa pior.

– Importar-se não é uma vantagem, não é ? - ele murmurou.

– Não, Sher! Não é! - voltando-se e encarando. - Temos que avisar a todos e... - ela não terminou a frase. Sentiu o braço do detetive puxando-a para o chão.

Uma rajada de tiros varreu o lugar. Foram apenas segundos, mas o som de vidros quebrando, os gritos e o disparar de armas pareceu durar horas. Mildred ainda estava com o rosto colado no solo e a mão de Sherlock segurando sua nuca quando percebeu que tudo tinha terminado.As pessoas chamavam umas pelas outras aos gritos. Ela ficou em pé ao mesmo tempo em que o detetive e os dois se olharam assombrados.

O assombro dela foi mais por não perceber o perigo que se aproximava e engoliu em seco por entender que aquelas não eram ameaças vazias. Quem quer que as tivesse planejado estava pronto para ferir seus alvos a qualquer momento, até mesmo ali, em frente aos olhos de todos. Um calafrio desceu por sua espinha e teve um pressentimento muito ruim em relação as horas que se seguiriam.

Sherlock esfregou a nuca. Sentiu uma pontada. Ergueu as sobrancelhas e aproximou-as. Estava com medo. E aquele sentimento não era bem-vindo! Estendeu o braço tocando o cotovelo de Mildred com a ponta dos dedos. Seu desejo era abraça-la, escondê-la... protege-la!

– Tudo bem aqui? - perguntou John surgindo do meio da confusão.

– Seu braço! - alertou Mildred percebendo o sangue.

– Tudo bem! - garantiu o médico. - Foi apenas um arranhão! - segurando o local ferido. - Lestrade foi ferido no ombro... - seu olhar mudou depressa de Mildred para Sherlock três vezes. - Fiquei preocupado com ela...

– Ela estava comigo. - murmurou Sherlock. - E vai continuar até isso terminar!

– Sher... Isso é...

– Não perguntei se concordava! - ele atravessou olhando-a seriamente.

– Mas eu... - ela insistiu.

– Vamos! Temos que ver Molly! - saindo. - John, quero que volte ao apartamento e certifique-se que a Sra. Hudson vai ficar bem! E você, venha comigo! - apanhando o braço de Mildred.

– Está parecendo o Mycroft! - ela queixou-se.

– Deixaria você com ele se ele não fosse um péssimo irmão mais velho. - argumentou antes de dobrarem uma esquina e apanharem um táxi.


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