Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 20
Capítulo 20 – Ela dormiu aqui?


Notas iniciais do capítulo

Será mesmo que o detetive mais brilhante da Inglaterra se deixou apanhar? Tudo bem que ao que parece a garota não tem nada de comum e parece lidar muito bem com o modo "Sherlock" de ser, mas daí para um relacionamento... Será?



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John espreguiçou-se e notou que já estava claro. Pensou em ficar um pouco mais na cama e relaxar, mas anos de rotina militar já tinham modificado tanto seus hábitos que aquilo era impensável. Levantou-se e fez sua higiene matinal. Teria tempo suficiente para tomar um banho, trocar de roupas, ir até a padaria e ler os jornais até que Sherlock finalmente estivesse de pé e pudessem tomar o café da manhã juntos. De qualquer forma estava agradecido! Gregor Smith ainda estava foragido, mas Sherlock parecia ter reestabelecido o seu humor de antes naquelas últimas semanas. Tinha inclusive largado o cigarro outra vez, o que o deixava particularmente satisfeito!

Sabia que aquela mudança tinha nome, sobrenome e morava no centro da cidade! Sabia que ela era a responsável por ter seu amigo de volta a velha forma! Mesmo que não a tivesse mais visto depois do episódio no pátio de armazéns.

Durante uma semana os jornais não falavam de outra coisa e durante o mesmo período Sherlock ignorou completamente qualquer coisa que pudesse levar ao assunto. Aquele beijo parecia ter acontecido apenas na mente de quem estivera lá, exceto pelo detalhe de ter sido fotografado e publicado dezenas de vezes. Fato este que o detetive fazia de conta que não existia.

Mas John sabia que ela não tinha desaparecido. Sabia disso quando apanhava o amigo trocando mensagens no celular ou sorrindo para a tela do computador. Sabia de quem eram as ligações tarde da noite que Sherlock fazia questão de atender em seu quarto, com a porta fechada! Sabia para onde o detetive ia quando simplesmente sumia por horas e voltava sem dar maiores detalhes do que estivera fazendo e geralmente com um humor muito melhor do que quando tinha saído – e muitas vezes com a solução para o enigma do dia! Era incomum e inesperado, mas sabia que alguma coisa estava acontecendo entre aqueles dois. Estava feliz e grato por isso.

Quando chegou a sala, estranhou o odor do tabaco que vinha da cozinha e o som de alguma coisa fritando. O cheiro também parecia bom! O cheiro de café fresco! Pensaria que era a Sra. Hudson, não soubesse que ela não se prestaria a acordar tão cedo apenas para preparar-lhes o café da manhã. Será que algo acontecera? Agitou-se indo na direção da cozinha

– Oh! Bom dia, John!

A visão deixou John desconcertado. A jovem descalça na cozinha, vestia uma das camisas de Sherlock que lhe ficavam ridiculamente grandes. Precisou de toda sua concentração para ignorar a camisa amassada, os pés descalços, o cabelo bagunçado, o rosto inchado de quem acordara a pouco e o fato de ser tão cedo que era impossível que ela tivesse vindo do seu próprio apartamento. Sorriu. Não seria tão difícil ignorar tudo aquilo, até por que ela era uma visão encantadora logo cedo, mas aquele era o apartamento deles? Não era?

– Bom dia, Mildred... - as palavras saíram mais difíceis do que imaginou.

–Café? - ofereceu mostrando o bule.

– Adoraria e... - ao sentar-se a mesa, percebeu que estava posta como a muito tempo não via naquele lugar. Havia até uma toalha de algodão branca! Pão fresco, suco, leite, biscoitos. Poderia realmente se acostumar com aquilo. - Dormiu aqui? - a pergunta saiu sem que ele pensasse.

– Aham! - ela confirmou mastigando um pedaço de bolo. Ah! Tinha um bolo também! - Acha que eu brotei do chão? - achando graça.

– Não é que... - olhando em volta. - E quanto a...

– Sher? - devolveu. John conteve o riso a algum custo e acenou. - Dormindo. Como um bebê! É cedo demais para ele sair da cama! Mas você já sabia disso, não?

– Sabia... - concordou sorrindo. - Mas pensei que...

– Eu sempre acordo primeiro! - servindo café em uma xícara e oferecendo a John. - E perco muitos minutos observando enquanto ele dorme. - colocando uma chaleira com água no fogo. - Por que ele fica especialmente bonito enquanto está dormindo, sabia?

– Não. - achando graça. - Realmente não! - o mais curioso era a naturalidade como ela falava.

– Claro que não! - rindo. - Como gosta dos ovos?

– Mexidos está ótimo! - respondeu.

– E não faça essa cara de espanto. Sabia que eu dormia aqui algumas noites, não sabia?

– Não, Mildred! Juro por Deus que eu não sabia! - oferecendo o prato para que ela colocasse os ovos mexidos.

– Jura? - franzindo a testa. - Pensei que você pudesse... - fazendo uma careta. - Ouvir... Sabe?

– Não. Não. Graças a Deus eu não ouvi nada! - disparou envergonhado.

– Tolo. - achando graça. - Não me referia a isso... Mas, sei lá, o estalar do chicote e essas coisas...

– Oh! O Chicote! - passando a mão pelo rosto. - Eu não entendo como você...

– Ah! Não! Não é nada violento desse jeito! Não se preocupe! - sentando-se.

John apenas sorriu. Ela era uma graça! E comparada ao sempre frio, distante e impessoal, Sherlock Holmes era uma brisa de vida! Era gratificante que ela estivesse ali para lhe fazer companhia. As vezes sentia falta daquele calor humano, da conversa fiada. Abriu o jornal sentiu-se estranhamente confortável. Mais tarde ouviram a porta do quarto do outro abrir. Foi a deixa para ela saltar da cadeira, servir chá em uma xícara e voltar a preparar ovos.

– Bom dia, John! - disse entrando na cozinha e fazendo uma careta descontente.

– O que foi? - perguntou ao amigo que permaneceu mudo.

– Seu chá está servido e seus ovos... - voltando-se e despejando o conteúdo da frigideira em um prato. - Estão prontos. - olhando para o detetive e sorrindo. - O que eu fiz errado agora? - largando a frigideira e colocando as mãos na cintura.

– Preparou o café da manhã... - olhando em redor. - Para o John também!

– É claro! Ele vive aqui também! - cruzando os braços.

– E está vestindo... - olhando-a de cima a baixo. - Por que está com minha camisa?

– Por que seria desagradável preparar o café da manhã nua? - devolveu.

– Por que não vestiu suas próprias roupas?

– Hum... - ela limpou a garganta e se aproximou dele. - Porque eu não encontrei! - baixando o tom de voz.

– Estão no mesmo lugar onde você deixou... - puxando-a pelo braço e empurrando-a para fora da cozinha.

– Eu não lembro onde eu deixei! - esclareceu, passando por baixo do braço dele e voltando.

– No chão. - suspirando impaciente. - Em frente ao criado-mudo. - fazendo a volta e empurrando-a outra vez.

– Não, não está lá! - insistiu.

– Do outro lado... da cama! - fazendo uma careta. O final da frase saiu praticamente em um sussuro.

– Ah! Por isso eu não achei! - sorrindo. - Seja como for, tem torradas francesas, e seus ovos estão quentes ainda. - saindo na direção do quarto. - Sem sal, sem gordura e sem gemas! Eu faria ovos Benedict, mas sei que você detesta!– gritou do meio do caminho.

– Deus! - resmungou o detetive sentando-se para tomar seu chá.

John deteve-se por um minuto observando-o. Não fosse aquela pequena discussão matinal, podia jurar que Sherlock não teria percebido que havia uma mulher seminua em sua cozinha. Ele estava lá, tomando seu café tranquilamente sem sequer se preocupar com o fato de que John percebera que ela dormira ali, assim como qualquer um que entrasse pela porta. Viu Sherlock largar a xícara e fitá-lo de volta.

– O que é? O que quer saber?

– Eu? Nada. Não. Nada mesmo... - tomando um longo gole de café.

– Está pensando e isso é irritante. - resmungou. - Diga logo o que quer saber!

– Ela dormiu aqui! - disse John com um indisfarçável sorriso.

– Isso é uma afirmação e não uma pergunta. Se sabe disso, por que perguntaria? - fazendo uma careta.

– Dormiu aqui e no seu quarto... - com um sorriso malicioso.

– Ah! É isso... - ajeitando o roupão. - Sim. E o que tem isso?

– Nada... - sorrindo.

– Pare de sorrir como um idiota! - ralhou Sherlock. E John achou ainda mais graça.

– Bom dia rapazes! - a senhora Hudson entrou na cozinha trazendo os jornais. - Oh! Que belo café da manhã.

– Sente-se, tome café conosco! - disse John oferecendo seu lugar, afinal não era sempre que tinha um café da manhã daqueles sem que a própria Sra. Hudson preparasse.

– Ah! Obrigada querido!

Sherlock pareceu não se incomodar com a presença dela, John puxou outra cadeira e voltou a se preocupar com sua refeição. Mas percebeu que aquela paz momentânea seria perturbada quando ouviu o som do chuveiro. Ergueu os olhos; percebeu a dúvida no rosto da senhoria e a impassibilidade no rosto de seu amigo. Esperou pela pergunta que sabia que viria.

– Sherlock! Há mais alguém aqui?

– Sim! - devolveu o detetive sem sequer levantar os olhos.

John tentou, arduamente, se afastar do fato de a garota estar no chuveiro naquele momento. Tentou esquecer o fato inusitado de que ela havia amanhecido ali e fizera o café da manhã. Mas não conseguia afastar de si a curiosidade. Não era algo casual! Ela dissera que dormia ali algumas noites... E havia muitas noites em que o detetive não voltava para o apartamento. Antes acharia apenas comum, mas antes não conhecia Mildred Arnet! Só de pensar na possibilidade de o amigo tendo um relacionamento um sorriso brotava em seus lábios.

– Continua sorrindo... - murmurou Sherlock. - E ainda não entendo o motivo...

– Como não? - devolveu John.

– E então? - ela ressurgiu como uma rajada de vento. Vestindo uma camiseta e calça jeans. Ainda estava descalça e os cabelos estavam úmidos. - Como está o café?

– Satisfatório... - disse Sherlock simplesmente.

– Maravilhoso, querida! - disparou a Sra. Hudson, para no minuto seguinte estampar no rosto uma expressão de espanto.

– Vê o que está fazendo? - resmungou o detetive concentrado agora no jornal.

– Eu? Mas eu acabei de entrar! - defendeu-se a garota. - Bom dia, Sra Hudson!

– Ela dormiu aqui? - questionou a senhoria em voz baixa a John.

– Tudo indica que sim. - ele respondeu no mesmo tom de voz.

– Agora eles estão cochichando... - resmungou Sherlock.

– Eu sei! - disse Mildred apanhando uma maça. - E é engraçado! - rindo. Todos olharam para ela. - O que foi?

A risada de John e o rolar de olhos de Sherlock foram a única resposta, enquanto a Sra Hudson ainda buscava uma compreensão melhor do que estava acontecendo ali. O som de um carro parando em frente ao endereço e o som da porta se abrindo chamou imediatamente a atenção de Mildred e Sherlock que, depois de se olharem seriamente, olharam ao mesmo tempo para a porta esperando pelo recém-chegado.

– Parece que temos visitas! - disseram os dois a uma só voz, apenas para Sherlock olhá-la com o canto dos olhos e demonstrar desagrado.

Lestrade irrompeu no apartamento parecendo um louco. Demorou alguns segundos para voltar sua atenção para a cozinha e ia começar a falar quando registrou as presenças naquele lugar e percebeu que uma pessoa lhe era desconhecida. Não conseguiu desviar o olhar de Mildred, mais precisamente dos cabelos úmidos dela, que permanecia em pé ao lado da cadeira em que Sherlock estava sentado.

– E então? - outra vez os dois falaram ao mesmo tempo. Desta vez, John olhou-os espantado.

– Parem de fazer isso! Estão começando a dar medo! - resmungou. - O que houve Lestrade?

– Estamos metidos com um caso... estranho... - ainda sem conseguir tirar os olhos dela.

– Estranho é bom! - murmurou Mildred sendo fulminada pelo olhar de Sherlock.

– É ela? - disparou Lestrade.

– Mildred Arnet! - ela respondeu acenando com a cabeça.

– Ela é... - iniciou a Sra. Hudson sem ter certeza de como continuaria.

– Minha! - completou Sherlock, levantando-se. Todos esperaram que ele continuasse a frase, mas aparentemente era tudo o que ele tinha para dizer. - Vou trocar de roupas, se puder esperar, falaremos sobre o seu caso estranho!

– Sua? - retrucou o inspetor. - Dele? - voltando-se para John.

– Parece que sim... - cruzando os braços e sorrindo.

– Faça o favor de trazer... - Mildred viu os olhares se voltarem para ela. - Você sabe o que!

– E ela dormiu aqui? - perguntou Lestrade em voz baixa aproximando-se de John.

– Sim... - confirmou o médico, ainda sorrindo.

– Então é verdade? Tudo o que os jornais disseram? Há mesmo uma garota!

– Hei! Eu ainda estou aqui!! - disparou Mildred

– O que pediu que ele trouxesse? - perguntou John tentando desviar o foco.

– Meus sapatos. - ela respondeu com um meio sorriso. - E meu casaco!

Sherlock voltou com um par de sapatos femininos nas mãos e um casaco longo pendurado ao braço, mas ficou na sala e sentou-se em sua poltrona. Mildred foi a primeira a ir até lá e apanhar suas coisas. John seguiu-a e sentou-se em sua poltrona, como de costume, apenas depois Lestrade e Sra. Hudson saíram da cozinha. Ambos ainda pareciam estar um pouco estupefatos com a presença de Mildred.

– Vai nos contar o caso estranho, ou pretende vasculhar minha vida pessoal primeiro? - atravessou Sherlock.

– Santo Deus! - devolveu Lestrade. - E desde quando você tem uma?

– Apenas esclareça isso para que possamos dar continuidade a nossas vidas... - murmurou John.

Sherlock ameaçou falar, mas o seu telefone e o de Mildred deram sinal ao mesmo tempo. Os dois se olharam, olharam os telefones e fizeram a mesma expressão de desgosto. John franziu a testa, embora soubesse de uma coisa que incomodava os dois da mesma maneira.

– O que houve? - perguntou Lestrade.

– Meu irmão! - disseram os dois ao mesmo tempo mais uma vez.

– Sabe o quanto isso soa estranho? - resmungou Sherlock voltando-se para Mildred.

– O que?

– Chamar Mycroft de irmão!

– Mas por quê? O que tem isso?

– Ele é meu irmão! - enfatizou Sherlock.

– Sim... e?

– E você é... Bem... - olhando em redor e procurando as palavras adequadas. -Você... não é!

– Oh! Veja! Que fofo ele é, John! - disparou Mildred sorrindo. - Sou sua … amante! Na falta de designação melhor... Não dói falar isso, dói?

– Pensei que fossem namorados... - arriscou John com um sorriso malicioso e Lestrade concordou com um aceno.

– Acho que não. - discordou Mildred. - Acho que essa devia ser a outra... - resmungou fazendo uma careta.

– Podem fazer o favor de não discutir a minha intimidade como se eu não estivesse aqui? - retrucou o detetive ficando em pé. - E você é ela...

– Eu sou ela? Isso é confuso Sher... Desenvolva!

– Acho que ele quis dizer que você é a namorada! - explicou Lestrade.

– Ah! Isso! Eu sei! - disse Mildred rindo. - Mas adoro vê-lo em apuros! - beijando-o na bochecha e saindo. - Espero vocês lá embaixo...

– Esse tipo de conversa me desgasta imensamente e não leva a nenhum lugar. Portanto... - apontando para Lestrade.

– Recebemos algo estranho essa manhã... - disse o inspetor. - Gostaria que viesse e visse por si mesmo!

– Humm. - resmungou o detetive. - Se importa se... - apontando para as escadas.

– Ela? Oh! Não! Realmente não me importo! - disse Lestrade gesticulando. Sherlock assentiu e desceu as escadas rapidamente. - Ela não o distrai?

– Ao contrário! - disse John apanhando o casaco. - Não me pergunte como, mas ela o deixa ainda mais afiado!

Mildred estava na calçada parada ao lado de um táxi e mantinha a porta aberta e um sorriso. Sherlock sequer disse qualquer coisa, apenas entrou no veículo.

– O que Mycroft queria? - ele perguntou ajeitando a gola do casaco.

– Saber se eu estava com você. - ela disse acenando para John. - E com você?

– Basicamente, me chamar de bastardo traidor! - sorrindo. John entrou no táxi e seguiram para a Scotland Yard.


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Notas finais do capítulo

E agora temos uma namorada e um caso estranho...



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