Jerry's POV

Alice tropeça e Layne tenta segurar ela, logo os dois vão parar no chão e ficam se encarando com cara de bocós enquanto nos aproximamos.

-Vocês estão bem? –Interrogo meio preocupado encarando os dois. Já faz alguns dias que Layne entrou para a Diamond Lie, e obviamente é impossível evitar que ele tenha algum contato com Alice, afinal ela sempre viveu grudada na banda. E eu nem quero separar eles, se o cara faz bem á minha pequena porque separa-lo dela? Isso sem falar que eu gosto do cretininho.

Logo a dupla dinâmica tenta se levantar, mas Layne escorrega na grama e puxa a camiseta de Alice. Os dois caem novamente e começo a gargalhar, logo vejo Julie encarando-os de um jeito curioso. Melhor evitar problemas.

Me abaixo um pouco e ofereço minhas mãos para os dois, ajudando-os a se levantarem ao mesmo tempo. Alice ficou vermelha como um pimentão todo esse tempo e é questão de muito esforço para evitar o riso, pois ela fica muito engraçada quando fica assim.

O fato é que sempre sou eu quem lembra o casal de pombinhos de que eles na verdade não são um casal e estão cercados de perigos. Se Ju descobrir que eles já ficaram ela mata os dois. Sinto-me como um pai que tem que ficar cuidando dos filhinhos. Se bem que no caso seriam filhinhos safadinhos e incestuosos...

Sean também banca o papai, só que ele é bem mais tranquilão e se diverte com a situação toda. Ok, eu também me divirto, mas bem menos que ele. Vivo lembrando-o dos riscos caso Ju descubra o que aconteceu. Que ela provavelmente não vai mais querer ser amiga da Li e esta ficará devastada, mas ele diz que sua irmã superaria com o tempo e que provavelmente estaria melhor longe da Julie...

Logo Julie começa a dar tapinhas em Layne, comentando sobre sua roupa suja enquanto ele sorri e discretamente tira um matinho de um dos cachos de Alice. Tem como esses dois darem mais na cara?

Mike também não parece nada feliz com isso. Ele parou de encarar Layne como se fosse matar o cara, mas isso não quer dizer que tenha se tornado amável. Dá pra perceber que ele sofre toda vez que os vê rindo juntos, ou dividindo lanches e bebidas, contando piadas idiotas das quais só os dois riem. E deus, eles têm uma mania de se comunicarem através de sons bizarros que também só eles entendem e... Enfim, Mike sofre com isso, mas ele merece.

Logo Julie arrasta Layne para longe de Alice enquanto diz com uma cara bem safada que vai limpar ele direitinho. Pode parecer viagem minha, mas ela tem mania de dizer esse tipo de coisa e ás vezes me parece que faz de propósito para irritar a nanica. Mas é viagem minha afinal Julie nem ao menos desconfia do ocorrido... Acho.

-Se você quiser posso tirar ele da banda e tentar arrumar outro vocalista. –Digo me aproximando de Alice. –Assim pelo menos você não se apegaria a ele cada vez mais enquanto sofre ao ver esses momentos dele com a Ju.

-Não, tá tudo bem. –Ela diz, e então rouba meu refrigerante. –Eu... Eu gosto de ficar perto dele.

-O cara é legal, ele conseguiu até conquistar o Sean. É questão de tempo até o Michael cair na rede dele.

-Chama o Mike de Mike, não gosto quando você o chama pelo nome, soa tão frio.

-Todo pai chama o filho pelo nome completo quando quer ralhar com ele. –Suspiro. –Além do mais, quase nos separamos por culpado mocinho.

-Mas agora está tudo bem. –Alice dá um sorrisinho enigmático e se afasta.

Alguns minutos depois Layne aparece correndo pelo quintal sem camisa e se agarrando em Alice, berrando que a maníaca do chuveirinho quer ataca-lo. Garoto esperto... Quis mostrar para Alice que está levando o lance entre os dois a sério e está evitando ficar com a Ju.

Logo ele levanta a morena no colo enquanto berra algo sobre sacrifica-la á deusa louca do chuveirinho, Alice ri sem parar e seu riso é contagiante, até mesmo Michael... Mike ri. E então Layne escorrega e a dupla quase vai ao chão novamente.  Deus, esses dois são mesmo duas crianças.

Depois de um tempo as coisas terminam relaxando. Glória chegou e Julie terminou arrastando ela, Alice e até mesmo a mocinha amiga do Layne, (Angel, se não me engano) para dentro de sua casa para fazerem “coisas femininas”, o que pode ser traduzido como um “fiquem quietos aí fora, pois estaremos falando mal de vocês”. Sean e Mike foram embora, pois estamos em uma das casas da Julie e nenhum dos dois gosta da ideia de passar tempo mais do que o necessário perto dela. Já Layne... Bem, ele está aqui ainda, só que totalmente apagado na enorme rede que fica no quintal da Ju.

Aproximo-me em silencio para não acorda-lo e então giro a rede, fazendo-o cair no chão.

-Cara isso foi crueldade. –Ele diz frustrado enquanto se levanta meio desajeitado.

-Você vai sobreviver. Hey, não tem medo de sua namorada ficar a sós com a Alice não?

-Não, deveria?

-Filhinho... Deixe de ser tão tapadinho. Vai saber o que Julie vai contar á Alice sobre a intimidade de vocês dois. A nanica vai terminar desencanando de você desse jeito.

-Você acha? –Layne me encara com os olhões azuis dele esbugalhados.

-Eu deveria receber alguma recompensa por cuidar de vocês. –Suspiro e então me sento na rede e continuo a falar. –Pra sua sorte a anã de jardim está completamente afim de você.

-É, mas ela não dá o braço a torcer. –Layne diz meio indignado enquanto rouba o pacote de batatas fritas que eu tinha em mãos. Ótimo, além de tudo meus filhos são trombadinhas que vivem roubando minhas coisas.

-É o jeito dela. Conquiste-a, ó Romeu.

-Estou tentando. –Layne diz enquanto dá um sorrisinho meio sem jeito.

-Foi legal de sua parte brigar com o tal esquisito lá na fasta na outra casa da Ju só para defender a Alice.

- Era uma questão de honra. –Ele me encara com aquela cara esquisita de menino que costuma fazer. -Minha mãe sempre me ensinou que as mulheres devem ser respeitadas e tratadas com carinho. Não podia ficar sem fazer nada e deixar aquele babaca tentar atacar ela, odeio homens covardes e jamais serei como eles. –Layne então desvia o rosto e sussurra algo bem baixinho, provavelmente para que eu não ouça, mas inevitavelmente termino ouvindo, ele disse “como ele”.

-E você já superou o fim de sua outra banda?

-Bem... –Layne me encara e posso ver que ele está ressentido. Também pudera, seus amigos não ofereceram o mínimo apoio a ele.

-Andrew se irritou porque bati no irmãozinho dele. –Ele sorri maliciosamente. –duas vezes.  E o Anthony... Bem, ele não fez nada de ruim, ele apenas... Aceitou quando eu disse que estava fora.

-Se fosse eu te amarrava e nem ferrando te deixava debandar. Amigos não são assim. A gente passa por um monte de confusão e brigamos pra caramba, mas no final terminamos nos resolvendo. Veja Mike e eu por exemplo.

-Bem, na verdade tenho me perguntado como você e especialmente Sean podem ter perdoado ele depois do que fez a Alice, Sean até o defende com tanto afinco que chega a ser assustador.

-Porque ele é nosso amigo. Sean levou menos tempo para perdoa-lo, ele o fez no mesmo dia em que descobrimos sobre a traição. Alice perdoou Michael depois de alguns dias, logo após uma conversa com o Sean. E eu... Bem, eu sai no tapa com ele algumas vezes.

-Sério?

-Uhum. Teve uma época em que nem podia vê-lo sem querer matar ele lenta e tortuosamente por ter causado sofrimento a Alice. Ela não merecia aquilo, não depois de tudo que passou na vida.

-Tudo que passou na vida? –Layne interroga com uma sobrancelha erguida. Havia esquecido que ele ainda não sabe sobre a parte mais dolorosa da vida de Alice.

-Isso é assunto pra outro dia, e não sou eu que lhe contarei. –Pisco para o meu mais novo amigo e ele compreende.

-E como você conseguiu perdoa-lo?

-Sean. Quero dizer... Não ele, Alice. Ela me puxou para um canto depois de uma briga bem feia entre Mike e eu e então me disse provavelmente o mesmo que Sean disse a ela.

-E o que era?

-Depois de um tempo convivendo diariamente e por horas com uma pessoa você termina se apegando a ela, provavelmente haverá várias e várias brigas entre vocês, mas é normal, afinal isso é o que acontece nas melhores famílias: briguinhas bobas por coisas que com o tempo serão curadas.

-Família?

-É, somos uma família. Eu sou o papai resmungão, Sean é o titio brincalhão e idiota enquanto Alice, Glória e Julie são as filhas teimosas e folgadas e Mike é o filho chatinho metido a sabichão. –Olho para Layne e ele me encara rindo.

-Você é pai solteiro, é?

-A sua amiguinha gótica não faz meu tipo, mas ela pode ser minha esposa divorciada, já que parece ser mais madura que a pirralhada.

-Família... –Layne encara o nada em silencio. Não conheço muito sobre ele, mas já percebi que não fala muito sobre sua infância ou seu pai, que provavelmente é o tal “ele” que Lay citou á pouco. –Você tem uma bela família, senhor Jerry. –Ele diz com ar de chacota.

-Papai Jerry.

-Como é?

-Estou te adotando oficialmente. Você é parte da família, caso não tenha notado ainda. Por algum motivo estranho nós gostamos de você e nos preocupamos.

-Papai Jerry? Minha nossa, você faz ideia do quanto isso soa estranho? E você vai fazer o que? Vai se preocupar comigo, me mimar, dar bronca e tudo o mais? –Ele pergunta calmamente, mas sinto uma leve mágoa e um pouco de desdém em sua voz.

-É exatamente isso. E te dou uma surra se você ficar se metendo com Alice, ela é a filhinha pura.

-Você não diria isso se visse a gente fican... Digo... Entendido. Mas você não pode ser meu pai Jer, você é muito novo pra isso.

-Foda-se. Garoto não tente fugir, não tem escapatória. Você é um de nós agora. –Roubo meu saco de batatas fritas de volta e pisco para Layne enquanto começo a me afastar. –Bem vindo á família Layne, dane-se se ele não cuidou de você, nós cuidaremos.

-Família. –Layne diz pela terceira vez desde que nossa conversa começou, mas sei que dessa vez ele está sorrindo. Ele dá uma risadinha e então o ouço dizer um “ok, papai”. Tenho certeza de que meus “filhinhos” ainda me darão muita dor de cabeça, mas pelo menos será divertido. Isso eu aposto.