Alice’s POV

Ligamos para os outros para que eles marcassem um ensaio antes do show.

Pude notar o olhar de Layne solicito. Ora encontrando os olhos de meu irmão, ora encontrando os meus.

Certas coisas não podem ser simplesmente ditas a qualquer um. Não que ele seja qualquer um, mas ás vezes é difícil contar coisas mesmo para pessoas importantes, não por desconfiança, apenas... Vergonha, medo de ser julgada, daquele olhar carregado de dó e piedade... Odeio esse olhar.

Se bem que esse olhar de curiosidade dele desde que ele viu aquela bendita foto ontem também não tá fácil... Hoje já é o dia do show, na verdade ele tá rolando agora. As pessoas estão agitadas e consigo ver várias garotas berrando obscenidades para os meninos.

Ju e Glória estão comigo, Ju está meio distante, meio aérea... Eu espero que ela esteja bem.

–Baixinha! –Fred, dono do bar onde estamos chega me abraçando. Sua barba mal feita e seus cabelos longos roçam em meu rosto. Faz cócegas...

–Baixinha o caramba. Mas e aí, o que você tá achando do show?

–Perfeito. –Fred sorri e então olha para o lado esquerdo dele, um senhor de uns quarenta anos de bom porte físico, cabelos levemente grisalhos e olhos azuis muito lindos sorri para mim e minhas amigas.

–Alice esse é o colega de quem te falei, o nome dele é Tony. Anthony na verdade, mas ele prefere ser chamado de Tony. Tony essa é a babá da banda, e as duas belas mocinhas ao lado dela são namoradas de dois membros da mesma.

–Oh é um prazer conhecê-las. –Tony sorri e aperta nossas mãos. Ele aperta a minha de um jeito cortês e som um belo sorriso no rosto. Tony tem um cheiro agradável e sua voz é simplesmente encantadora, ele é um homem bem charmoso. E é britânico. Não que eu esteja reparando nele e... Ah, eu to apaixonada, não morta.

–O prazer é nosso. –Glória diz com olhinhos brilhantes. Pelo visto não fui a única a achar ele interessante.

–Você que tem ajudado eles com os shows, não? –Tony me interroga sorridente me encarando com aqueles olhos. Tá,odeio que me olhem nos olhos, mas pensa em um olhar cativante e... Amor... Layne... Ok, parei.

–Isso. Faço o que posso por essas crianças. A sorte é que sempre tem algum idiota que levou um fora meu disposto a ajudar. –É, é minha vingança por Fred ter me chamado de baixinha.

–Ahá. Ainda te adoro, sua esnobe. –Fred ri. –Mas então, o Tony tá querendo que a Alice in Chains (ele diz ressaltando o "Alice") assine contrato com ele.

–Mas aposto que ele quer que o nome seja alterado, né? Esse nome não é muito adequado. –É to contando com o refinamento do Tony pra me livrar desse nome idiota.

–Na verdade acho o nome perfeito. –Tony sorri. Fodeu... Isso é porque correspondi o beijo do Layne ontem, né? Fala sério, é punição demais. –Imagino que você tenha vergonha por ser seu nome, mas não tenha. Muitos jovens devem ter fantasias com você e deveria se orgulhar por isso. –Oi? Ele falou que...

–Alice-Chan. –Angel grita correndo em minha direção.

–Lá vem a esquisita. –Ju sussurra. Ju considera tudo que não é de grife esquisito. Até Layne, Jerry e eu somos esquisitos pra ela. Mas esse é o jeito dela.

–Você não devia falar assim Ju, a Angel é muito legalzinha. -Glória diz com um tom repreensivo.

–Alice-Chan o Layne e os meninos estão vindo aí. –Angel diz com um jeitinho agitado. Ela é tão fofa e delicada. Nas últimas semanas temos nos tornado amigas, até porque temos muito em comum.

–Jerry para de me agarrar. –Layne que está praticamente sendo carregado no colo por Jerry diz enquanto eles e os outros se aproximam de nós.

–YAOI!!!¹ -Angel e eu gritamos ao mesmo tempo. Como eu disse: temos muito em comum.

–Vocês me assustam. –Jerry diz com uma cara de medo. –Mas e aí, o que acharam do show?

–Foi perfeito, tão perfeito que Tony que falar com vocês.

–Tony? –Mike interroga curioso.

–Isso, ele aqui. –Fred indica Tony todo sorridente. –Tony é dono de uma gravadora e quer assinar com vocês.

–-Achei vocês realmente fantásticos, faz tempo que não vejo uma banda tão boa. –Tony diz apertando as mãos dos meninos todo sorridente. –E devo dizer que a “babá” de vocês é realmente adorável.

–A babá? –Layne ergue uma sobrancelha e abre a boca para falar algo, mas uma loirinha com camiseta mega decotada e saia que além de curta é apertada chega interrompendo-o.

–Com licença, será que vocês podem me dar um autógrafo? Vocês são demais e muito gatinhos. –A loira diz toda sorridente entregando uma caneta para meu irmão.

Logo é a vez de Layne assinar, mas quando ele vai autografar a parte de trás da camiseta da garota ela se vira de frente e abre um pouco mais o decote da camiseta. Arg

–Você assina aqui. –A perua diz sorridente.

–Vadia. –Angel, Ju e eu sussurramos ao mesmo tempo.

Layne assina meio sem jeito. Ele está completamente vermelho e tem noção das três maníacas ciu... Moças observando-o.

–Posso pedir mais uma coisinha? -Ela diz com aquela porcaria de sorriso. Queria saber se ela conseguiria dar esse sorrisinho sem os dentes...

–C-claro. –Layne sorri meio sem graça, mas dá pra ver que toda essa atenção tá alimentando o ego da criança. –Peça e eu verei o que posso fazer.

–Eu quero um beijo. –Ela diz dando pulinhos e... O QUEEEE?

–Oferecida. –O trio ciúme diz em conjunto. Parece até que combinamos.

–Me desculpe, mas não posso. –Layne diz olhando para o nosso lado. –Já gosto de alguém. –Ok, qual de nós seria esse “alguém”? –E além do mais, temos um assunto importante a tratar. –Layne diz coçando a cabeça sem graça.

–Ah sim, claro. Me desculpem. –A perua se afasta meio desanimada. BWAHAHA bem feito!

–Bem, eu vejo que vocês já têm até fãs. –Tony sorri. –Eu vou trabalhar em um contrato e entro em contato com Fred amanhã pela manhã para agendar uma reunião para discutirmos ele. –Ele se despede de todos e então para em minha frente e me olha nos olhos. Jesus que sorriso fofo.

–Foi legal te conhecer Tony.

–Foi um prazer conhecê-la senhorita. –Ele beija minha mão e volta a me olhar nos olhos. –Espero que compareça com seus amigos amanhã, será um prazer revê-la.

–Estarei lá.

–Uiui Alice tá podendo. –Glória diz piscando assim que Tony se afasta.

–Como assim “tá podendo”? –Layne interroga erguendo uma sobrancelha.

–O Tony gatinho tá pagando um pau pra ela. E sabendo que a Alice tem queda por homens mais velhos... Ju dá uma risadinha e me dá leves cotoveladas.

–Que besteira. Espero que esse cara não esteja com essa coisa de contrato só porque tá afim da Alice.

–Layne que atitude infantil. O que tá acontecendo com você. –Ju interroga séria. So-cor-ro. –A Alice não é sua filha nem irmã, tampouco esposa ou namorada, então pra que o exagero?

_Hã se eu puder-

–Ela é minha amiga e eu me preocupo com ela. Qual o problema com você Julie?

–Gente eu-

–Você não é a babá dela Layne.

–É, mas eu sou. –Sean diz meio irritado. Bem feito por não me deixarem falar. –Vamos ver quais são as intenções do cara e então assinamos ou não o bendito contrato. E eu não vejo problema em quererem proteger minha irmã, Julie.

–É quem é você para falar de exageros Ju? Relaxa. –Jerry diz sério. Nunca achei que ele pudesse falar assim com a Ju. E isso me faz me sentir mal, ela é a inocente aqui.

–E vamos parar com essa DR² gigantesca. –Mike me abraça todo sorridente. –Temos um provável contrato, bora comemorar.

Agora estamos na minha casa. Meus pais foram com minha tia e o filho dela visitar meu tio que está doente, e por isso podemos fazer uma baguncinha sem eles reclamarem.

–Layne porque você não canta Queen of The Rodeo para eles verem? –Angel interroga.

–Nem pensar. –Layne diz envergonhado.

–O que tem de demais nessa música?

–Na antiga banda do Layne tinha algumas vezes que ele se apresentava com maquiagem e ás vezes até usando vestido. Ele fazia isso principalmente para apresentar essa música.

Óbvio que todos começamos a rir enquanto o Layne corava.

–Layneee.

–Não Alice. Nem pensar.

–Por favorzinho. –Peço fazendo minha cara de Gato de Botas.

–Nope.

–Vaaaai. Eu tenho maquiagem e vestidos aqui e te empresto.

–Alice...

–Você sabe que acho Drags muito lindas. –Só para constar, Julie não está aqui, ela foi se trocar em casa e vai chegar mais tarde, ou eu não estaria tendo um diálogo assim com o Lay. Não depois daquela explosão dela...

–Essa é uma das coisas que temo em você. –Layne me olha e vê que minha cara de pidona não vai sumir tão cedo. –Ok, ok.

–Vem comigo, vou te travecar. –A gente sobe a escadas e entramos no meu quarto. Layne se senta na minha cama e fica observando enquanto pego um kit de maquiagem.

–Nada de vestidos. –Ele diz sério.

–Ahhhhh porque não?

–Nope.

–Tá bom vai. –Começo a passar uma leve camada de lápis de olho nele. Me julgue, mas acho interessante ver homens usando maquiagem, e se a gente pode ter direitos iguais porque eles também não podem? –Layne você acha que essa coisa de contrato vai dar certo?

–Espero que sim. –Ele dá um sorriso meio triste e sussurra um “quem sabe assim posso encontrar ele”.

–Ele quem?

–Eu falei isso alto?

–Falou.

–Ninguém, eu só... Ninguém. Alice quem é o bebe daquela foto?

–Ninguém, eu só... Ninguém. –Digo imitando o tom de voz dele.

–É filha do Sean com a Glória? Ou você e o Mike... Hã...

Tenho que segurar o riso depois dessa.

–Layne... Não.

–Por quê?

–Não tenho motivos para confiar em alguém que não confia em mim. –Digo enquanto passo batom vermelho em seus lábios. Não conto sobre minhas coisas pessoais nem pra minhas amigas, que dirá para o cara que gosto.

Layne me encara e isso é um tanto incômodo... Se o momento não fosse meio sério eu estaria gargalhando pela cara dele com maquiagem.

–Se eu confiar em você, você confia em mim?

Layne’s POV

–Bem eu... –Alice coça a cabeça. –Depende de quão sujos são seus segredos. Tem algo a ver com o visu Drag? –Ela interroga rindo.

A puxo para que se sente a meu lado e a olho nos olhos.

–Meu pai.

–Seu pai... Seu pai é um drag?

–Aliceee.

–Tá, parei. Agora sério, me conta.

–Eu espero que quando a banda for famosa eu consiga encontrar meu pai. Ele... Ele sumiu quando eu era pequeno, minha mãe disse que ele morreu. Mas eu sei que não.

–E você tem lembranças dele?

–Mais lembranças ruins do que boas. –Digo sorrindo sem graça.

–E mesmo assim quer revê-lo?

–É meu pai, eu... Seu pai, você já reclamou dele várias vezes, mas mesmo assim ele é seu pai e você apesar de tudo o ama, não?

–Sim. O que você espera que aconteça quando votar a ver seu pai? –Acho legal ela estar fazendo perguntas, quer dizer que ela está realmente interessada.

–Não sei... Quero que ele me explique porque nos deixou. Que diga que está arrependido e que... Tudo fique bem.

–Eu espero que isso dê certo, mas se prepare para o caso de alguma decepção, ok? Não quero te ver mal.

–Pode deixar. –Alice me observa silenciosa. Sei que ela está ponderando se conta ou não seus segredos, e não quero obriga-la a contar. Você não precisa contar nada, ok?

–Sean não gosta do meu primo por que... Bem, porque ele meio que se aproveitou de mim.

–Como assim?

–Sabe... Nem sempre meu irmão e eu nos entendemos bem... Não que nós nos odiássemos ou algo assim, é que pro Sean eu era uma garota chata de 13 anos e ele não tinha tempo a perder comigo, pois na época ele andava com umas companhias ruins e ter a irmã caçula por perto não era muito bom... Pois bem, um dia nossos pais viajaram em lua de mel e o Sean decidiu dar uma festa. Nosso primo era nosso vizinho e estava aqui... Ele sempre me enchia o saco, mas eu ignorava e ele me deixava em paz. Bem, na festa eu tentei ficar por perto de Sean, mas ele me deu um baita de um fora e... Ele não tava errado sabe, os amigos dele não eram gente que preste.

–Sean sendo rude com você? Isso me parece tão surreal...

–Rude é apelido. –Ela ri, mas logo fica séria.

–Se você não quiser continuar...

–Não, tudo bem... Hã, bem. Eu querendo bancar a caçula rebelde bebi um pouco... Um pouco mais do que devia. E meu primo aproveitando que eu estava vulnerável me estuprou. –Ela fala rápido, é quase impossível entender suas palavras, mas eu entendo.

–Alice eu... –Eu não sei o que falar, mas puxo Alice para perto de mim e a abraço. Ela chora em silencio por alguns minutos enquanto aliso seu cabelo. –Uma ideia me ocorre, mas não sei se devo perguntar. Mesmo assim eu realmente quero que ela confie em mim. –Então aquele bebê...

–É minha filha. –Ela sussurra ainda abraçada em mim.

–E onde ela está? Ela morreu durante o parto?

–Não. –Alice me encara. Seu rosto meio vermelho pelo choro e algumas lágrimas ainda caem. Levanto minha mão e as seco.

–Se não conseguir falar tudo bem.

–Vem comigo. –Ela se levanta e seguimos pelo corredor até chegar á uma porta rosa com detalhes pretos...