Uma moça de longos cabelos negros andava por entre uma multidão de pessoas, acompanhada por um rapaz de longos cabelos loiros. Ambos estavam completamente perdidos e desnorteados.

–Jerry... Tem certeza de que você não marcou o endereço da Julie errado? Porque né, você tava meio bêbado e... Cara... Olha só pra essas pessoas.

Os dois encararam o grupo de pessoas á frente. Pessoas usando roupas de marcas extremamente caras, joias e todas com aparência impecável.

–E o que tem? -Jerry interrogou enquanto empurrava um moreninho baixinho que havia esbarrado nele. – Alice você viu isso? Esse filho da puta derrubou vinho em mim, dá pra acreditar?

–Jerry... Foco. –A morena puxou o rosto do amigo que era mais alto até estar à altura do seu. –Olha pras nossas roupas e depois olha pras deles.

Ambos estavam com calças jeans com os joelhos rasgados e enquanto Jerry estava com uma regata preta, a amiga usava uma camiseta da mesma cor, só que com uma estampa de banda de rock.

–Eles se vestem mal pra cassete em comparação com a gente?

–Não. Quere dizer sim, mas esse não é o caso. A Julie tinha dito que era uma festinha informal com alguns poucos amigos e... –Alice encara novamente a multidão, confusa. –Nem ferrando que aqui tem um grupinho de amigos pra uma festinha informal.

–Liga pra Glória e pergunta, oras.

–Se tiver errado, eu te mato. –A morena saca o celular de seu bolso e digita alguns números.

–Alo? –Diz uma voz feminina do outro lado da linha.

–Glória você pode me passar o endereço da Ju? Acho que o idiota do Jerry se enganou.

Alice ouviu atentamente o endereço que a amiga falava. Estava certo.

–Não pode ser aqui.

–Por quê?

–Esse lugar tá uma zona e tá cheio de gente... Chique?

–Eu diria “frescos”. –Jerry resmungou ao lado de Alice.

–A casa dela é grande e os pais dela ricos. É aí sim.

–Me sinto um peixe fora d’água, sério.

–Vocês são mesmo os únicos vestidos assim aí?

–Bem. –Alice olhou em volta por vários segundos, todos da mesma forma, camisas, calças de marca, vestidos caros... Até que ela avistou um grupo de quatro pessoas, três rapazes e uma moça. A moça estava vestida no estilo gothic Lolita com um vestido cheio de babados e um chapeuzinho pequeno na cabeça. Dois dos rapazes estavam de calças surradas e camisetas de banda e o terceiro com uma calça jeans de joelhos rasgados igual á dela e de Jerry, uma regata preta e uma jaqueta de couro. –Tem gente normal aqui sim, mas só achei quatro.

–Algum gatinho no grupo de pessoas normais?

–Beeeeem. -Alice encarou o terceiro rapaz, ele era loiro e apesar de estar olhando para outro lado aparentava ter olhos azuis. Tinha algo na postura dele que era simplesmente adorável, ele tinha um jeitinho de menino. –Tem um loirinho que...

–Loirinho? Oh Deus, ele deve ser lindo, você nunca se interessa por loirinhos. Que o diga o Jerry que já levou um fora seu.

–Só pra você saber Glória... A ligação tá no viva voz. –Jerry disse com um sorriso maldoso. –Depois a gente conversa sobre isso viu.

–Quieto Jerry, to falando com a Alice. –A garota soltou um riso e então continuou. –Li, me diz o que esse cara tem de demais a-go-ra.

–Não sei o jeito, a postura dele e... Eles estão um pouco longe e fica passando gente na frente o tempo todo, não dá pra eu ver nada direito.

–Aproximação, vai! –A outra gritou rindo.

–É, porque você não se joga atrás de uma moita que tem pertinho deles e fica secando o cara de lá? –Jerry sorriu e deu uma piscadinha.

–Aff, porque eu ainda ando com vocês? –Alice interrogou, mas ela obedeceu e se aproximou alguns passos, sendo seguida por Jerry. –Oh, os olhos dele são azuis mesmo e. Ele... Ele tá olhando pra cá? –A garota interrogou corando e virando o rosto.

–Aham. E você tá com aquela cara de pastel que só você sabe fazer.

–Sorria. –Gloria gritou histérica pelo telefone.

–Glória, você precisava ver isso. Ela tá encarando o nada com cara de paisagem. –Jerry disse gargalhando.

–P-para seu idiota.

–Olha pro cara logo pra gente poder resolver o lance da Julie, um sorriso não vai te matar. –Jerry disse suspirando e fingindo indignação.

Alice levantou os olhos e encarou o loiro, ele ainda olhava para ela e sorriu. Seus olhos eram mesmo azuis, seus lábios eram bem desenhados e uau, dentes bem alinhados. Ela sorriu timidamente e então o loiro se virou para dar atenção á Lolita, mas não sem antes dar último sorriso.

–Ele sorriu pra mim Glóriaaaa. –A morena gritou histérica. –Se não fosse a música terrivelmente alta do lugar todos na região teriam ouvido o grito.

–Ahhhhhhhhh. –Foi tudo que Glória respondeu do outro lado da linha.

–Meu Deus, parece que sou amigo de duas garotas de nove anos. –Jerry disse balançando a cabeça com pesar. Faz o seguinte, anã de jardim. Eu procuro a Julie e quando achar te ligo. E enquanto isso você fica surtando com a Glória e babando pelo garotão. –Jerry deu um beijinho no rosto da amiga e começou a andar, quando já estava a alguns passos se virou.

–Que foi Jer?

–Juízo e to de olho, olha que conto pro seu irmão caso você apronte algo hein. –Ele então piscou e se afastou.

–Glória... O babaca do Jerry me largou aqui, e agora?

–Se enturma. Bebe algo e fica de boa. Se o loirinho olhar pra você olhe pra ele também, dê sinais de que tá afim e pelo amor de todos os deuses do universo, NÃO TROPECE, NÃO TRAVE E NÃO MATE NINGUÉM.

Gloria desligou e a morena ficou encarando a multidão por alguns segundos, então foi até uma mesinha e pegou um copo e o encheu com coca, depois colocando uma dose de Rum e foi até um canto, encostou-se no mesmo muro que o loiro e seus amigos estavam encostados, só que um pouco distante deles. Ela colocou o mp3 pra tocar algumas músicas, pois não suportava a barulheira daquele lugar.

Depois de alguns minutos ela escutou uma voz masculina dizendo algo que ela não entendeu, então abriu os olhos e tirou um dos fones.

–Oi gatinha. –Disse um moreno com o cabelo ensebado de tanto gel.

–Eu devia ter ficado com o fone. –Ela sussurrou e então deu um sorriso sem graça. –Pois não?

–É que te vi ao longe, e você toda linda e sozinha desse jeito não pode. Aí vim corrigir isso.

–Você já usou essa com quantas garotas hoje? –ela interrogou com um sorriso de lado.

–Você é a primeira, gatinha.

–Não vai rolar. Tchau. –Ela pegou o fone e o levou para a orelha, mas uma mão a impediu. –Cara... To tentando fazer algo de útil do meu tempo aqui.

–Ah qual é. Olha pra você, quando é que vai ter a oportunidade de sair com um cara que nem eu? –O rapaz interrogou já meio estressado.

–Como é? –Ela disse enquanto puxava seu braço da mão dele com violência.

–É... Quero dizer, você é toda esquisitona e... Olha, é só hoje, depois te deixo em paz. Se quiser até te dou uma grana pra comprar um vestido legal. O que me diz?

–Oh minha nossa, eu me rendo a seu charme divino, ó encantador rapaz tão gentil e adorável.

–Sério.

–Cai fora. –Alice olhou discretamente para o lado do grupo do loiro e notou que ele e a garota gótica olhavam para seu lado. –Porra, você tá a um ponto de estragar uma noite que pode ficar legal. Será que não entende a definição da palavra não?

–Ah vai. – O moreno se aproximou até quase colar seu corpo no da morena e começou a alisar seu rosto.

–Conselho básico: nunca toque em mim. –Alice então virou seu copo, derrubando o resto de seu conteúdo no rapaz e acertando um pouquinho nela. –Ops, como sou desastrada.

–Sua vaca! –O moreno agarrou o braço de Alice e o apertou com força, levando um tapa bem forte que a morena deu com a outra mão como resposta á sua atitude.

–Uhh, a gatinha tem garras. –Ele então a empurrou com tudo contra o muro e segurou seu pescoço. –Hora de punir a garotinha travessa.

Alice que até então estava com cara feia e erguendo a pena para chuta-lo em um canto onde com certeza doeria simplesmente congelou, sua expressão ficou vazia e seu corpo mole.

–Boa menina, agora sim. –O moreno olhou em volta, todos estavam distraídos com algo, perfeito. Ele então deu um selinho na morena e começou a dar leves beijinhos em seu pescoço. –Sério que você vai ficar aí, parecendo uma múmia? -Ao ver que a garota não fazia nada ele soltou um “que se dane” e começou a enfiar a mão por baixo de sua camiseta, traçando uma rota até os seios de Alice. Mas logo seu braço parou, ou melhor, foi parado.

–Cara... Eu não sei quanto á você, mas quando uma garota me dá um tapa no rosto, eu entendo isso como um “você é um grande idiota e sua presença me enoja, cai fora”. E não como um passe livre.

–E você seria? –O moreno perguntou encarando o loiro á sua frente com indignação enquanto soltava o pescoço da morena.

–Alguém que com certeza sabe conquistar uma garota melhor do que você. –O loiro encarou Alice, que agora tossia e respirava com certa dificuldade. – Eu jurava que você ia dar um jeito nesse babaca sozinha. –Ele disse sorrindo