Entre O Amor, A Razão E O Coração escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 25
Capítulo 25. Espero que sejamos felizes


Notas iniciais do capítulo

Por alguns instantes em que deixei minha cabeça encostada no vidro fiquei querendo voltar no tempo, no primeiro dia que cheguei à cidade. Eu queria que as coisas tivessem sido diferentes.



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Contra o tempo eu estava correndo contra o tempo. Era sexta-feira e eu me casaria no sábado. Logan estava em uma despedida de solteiros que alguns amigos da escola organizaram e eu estava no shopping vendo se eu achava o par de sapatos pra dança que eu ainda não havia comprado. Parei na frente da vitrine da loja e fiquei olhando minha barriga.

– caramba, ta grande! – falei, a moça da loja me olhou sorrindo.

– quantos meses?

– três meses.

– que lindinho, recém está crescendo. – disse ela.

Sorri, digamos que eu passava por gordinha com aquela barriguinha mínima que tinha ali. Dei um longo suspiro e perguntei para a vendedora se ela tinha o sapato. Ela disse que ia buscar o meu número.

Enquanto eu estava sentada olhando para meus pés, do outro lado do corredor eu avistei Karen desfilando com um novo namorado. Quem era eu não fazia ideia. Fiquei triste na hora, por saber que Nick estava só, mas feliz que Karen achou alguém que a valorizasse. Durante esses dois meses que se passaram desde que eu e Logan contamos para nossos pais que estávamos grávidos, muitas coisas aconteceram ao nosso redor. Como por exemplo, minha mãe ia ter gêmeos, meu Deus, terei uma dupla de irmãozinhos que serão compartilhados com meu marido. Confuso.

Saí do meu devaneio quando a moça me trouxe o sapatinho de dança que eu tanto queria para dançar a valsa. Quando os calcei me senti como a Cinderela. Uma princesa prestes a realizar o maior sonho da sua vida, se casar com o príncipe.

Comprei os sapatos e fui em direção ao estacionamento. Estava uma chuva danada. Droga! Eu não queria que chovesse no dia do meu casamento.

Eu não tinha guarda-chuva e então fui deslizando pelo lado do shopping o máximo que pude e...

– quer ajuda moça? – disse uma voz. Na hora congelei. Virei para o lado esperando que eu estivesse errada, mas era ele mesmo Nicolas. Nick.

– er.. não, obrigada.

– mas vai molhar seu lindo sapato de Cinderela.

Olhei para ele assustada. Ele estava vestindo uma capa de chuva preta os cabelos estavam soltos e mal cortados, e ele estava com uma barba terrível de mal feita.

– eu corro o risco Nick. – falei. Ele segurou meu braço com força. – me solte.

Ele soltou. – só queria ajudar.

– não preciso de ajuda. Se eu precisasse chamaria meu noivo. – falei com o tom mais forte de voz que consegui. Comecei a correr em direção ao carro e aparentemente ele não estava vindo atrás de mim. Quando cheguei ao meu carrinho azul me senti aliviada por ele não ter tentado nada. Eu não queria que ele me forçasse a beijar aquela barba pinicante. Eca!

Os sapatos estavam intactos, meus cabelos não, mas o importante eram os sapatos. Joguei a bolsa no banco de trás e comecei a dirigir. Saí do estacionamento do shopping e fui indo pela avenida principal, logo eu estaria em casa. Foi quando um carro preto começou a me grudar. Ou melhor, um Volvo preto. Era Nick. O que esse garoto queria agora, será que ele não se dava por vencido. Resolvi desviar o carro para fora da cidade. Tentei algumas ruas desertas algo me dizia para parar, mas eu achei que andando mais um pouco ele desistiria.

Quando eu estava na avenida beira mar, notei o quanto o próprio mar estava agitado com aquela chuva. Estava tudo tão turvo na beira da praia, tive que ligar os faróis no máximo para poder enxergar um palmo na frente do capô. Fora ai que eu não notei a presença de Nick. O carro dele não estava mais me seguindo. Dei graças a Deus, só que agora, eu não sabia onde eu estava. Caramba, será que não dava para diminuir a chuva. Parei o carro no acostamento, ou no que eu achava que era acostamento e peguei o meu celular e disquei os números de Logan.

Chamou, chamou, mas ninguém atendeu. Liguei para minha mãe, mas ela também não me atendia. Caramba! Tentei Logan mais uma vez e então ele disse:

– meu amor? O que foi?

– ah que bom que me atendeu. Eu estou aqui presa na praia, tem muita chuva e eu estou sem conseguir ver nada. Pode por favor, me buscar? Depois eu deixo você voltar pra sua festinha de solteiro. – eu disse tentando ver algo por entre as gotas de chuva e a neblina do mar.

– claro, me diz onde você está.

– eu não sei, não estou conseguindo encher... – foi quando eu comecei a ver o farol, era pequeno no início, depois foi começando a fica grande e de repente maior, e de repente me cegava com tanto brilho, o barulho, era apito. Era o trem! Eu estava nos trilhos do trem! – aaaaaaaaaaaaaaah!

– Kath? – eu conseguia escutar o barulho de Logan no telefone, mas eu havia largado ele ali, e estava tentando ligar o carro, mas o nervosismo não me deixava nem mesmo enfiar a chave no buraco.

– socorro! – comecei a gritar. Tentei tirar o cinto de segurança, mas ele não soltava. – ah meu Deus! Socorro!

Consegui enfim colocar a chave no buraco do carro, o barulho do trem ficava cada vez mais alto. Liguei o carro, pisei no acelerador, mas era tarde de mais. O carro deu uma golfada para frente e de repente eu estava rodopiando no asfalto, girando como se eu estivesse caindo. O trem bateu na traseira do carro, me fazendo girar, foi então que ele capotou. Eu ainda estava acordada, graças ao sinto de segurança eu só havia batido a cabeça no volante, mas nada grave.

Olhei para a janela, um carro vinha a toda velocidade possível na minha direção. Comecei a gritar novamente entrando em desespero total, mas o carro parou rápido e o motorista desceu dele mais rápido ainda.

– Kath? Kath? Sinto muito, Kath!

– Nick, me tire daqui.

– claro, eu vou.

– rápido... Este cheiro. Acho que é gasolina, precisamos ir embora. Agora.

Ele me pegou em seus braços e me levou até seu carro, o mais rápido que pôde. Colocou o sinto de segurança em mim e então dirigiu de ré até ficarmos bem afastados do carro, fazendo uma manobra no meio da pista ele girou o carro e começou a ir em direção a fora da cidade. Eu queria voltar para casa, mas eu estava tão fraca que fiquei quieta. Coloquei a mão na barriga pedindo a Deus que estivesse tudo bem com o bebê.

Mas não contei que estava grávida, esse assunto com Nick estava fora de cogitação. Lembro-me de ter visto ele me olhando enquanto dirigia.

Hospital mais uma vez. Olhei para a janela, ainda estava escuro, quer dizer que ainda havia tempo para o casamento. Acordei com uma leve dor de cabeça e uma forte dor no meu útero. Comecei a apertar o botãozinho para chamar o médico desesperadamente.

– por favor! Alguém?

Uma enfermeira gordinha vestindo branco da cabeça aos pés, apareceu apavorada, mas não tanto quanto eu estava.

– um doutor! Por favor, eu preciso saber...

– calma, querida, o que você precisa saber? – perguntou tentando me acalmar.

– chame um doutor!

– ok! Já volto.

Doutor Whren Milles apareceu na porta do quarto, retirando o estetoscópio do pescoço, ele se aproximou de mim rápido, mas não dei tempo para ele falar comecei a fazer perguntas sobre o bebê desesperadamente. Ele colocou a mão na minha cabeça me tranquilizando, quando começou a abrir os lábios eu já estava com os nervos a flor da pele.

– calma, senhorita, está tudo bem com você, com o bebê...

– obrigada! Mesmo!

– você só desmaiou por algumas horas, você foi deixada na porta do hospital por um garoto que foi embora assim que você deu baixa aqui. – disse ele – chamamos a polícia, parece que seu carro foi encontrado perto dos trilhos do trem, aconteceu alguma coisa?

Nick me levou até lá, por que ele me salvaria?

– eu me perdi, estava com muita neblina e chuva. O garoto que me salvou se identificou?

– não, ele saiu correndo, parecia assustado, não sabemos quem é, mas seja lá quem for te salvou, pois o carro explodiu. Tentamos contato com sua família, mas não achamos seu número, vou pedir para a enfermeira pegar com você. – disse. – mas fique tranquila, você está novinha em folha.

– o pessoal de casa deve estar preocupado comigo. – pensei alto.

Ele assentiu. – vou avisar os policiais que você acordou para que possa depor.

Concordei com a cabeça e descansei o corpo na cama. Esperei mais ou menos por uma hora até que minha mãe entrasse correndo pelo quarto, seguida de toda a minha família. Logan chegou rápido até meu lado e me deu um beijo urgente na testa como se estivesse grato por eu estar viva. Me senti culpada por estar ali outra vez.

Expliquei o que eu me lembrava e omiti a parte em que o Nick fora o culpado. O médico fez o favor de tranquilizar todo mundo, dizendo que graças ao sinto de segurança eu estava ótima e nada de muito grave tinha acontecido comigo a não ser um pequeno corte na testa que não seria nada bonito nas fotos do casamento, mas pelo menos eu estaria me casando.

– ela vai ter que passar a noite aqui, doutor? Eles se casam amanhã, ela não pode ter uma boa noite de sono em casa? – perguntou minha mãe.

– é claro! Só peço que ela esteja aqui amanhã de manhã.

– eu vou.


– mãe eu estou bem, foi só um descuido meu! Eu não estava enxergando nada e bati o carro. Ou mais ou menos isso.

– não minha filha, dessa vez você se superou, como você coseguiu ficar nos trilhos do trem e ainda ser atingida?

– eu não tive visibilidade, só isso. – respondi.

– é? Que bom que você teve uma boa coordenação motora por que o maquinista também não tinha te visto, Katherina.

Havíamos acabado de sair da delegacia depois de irmos ao hospital, minha mãe estava eufórica de raiva por tudo aquilo ter acontecido. Ela começou a chorar de nervoso enquanto eu relatava o que me lembrava do acidente ao policial, teve que tomar calmantes, que exagerada! O ruim fora a mentira. Quando o policial perguntou o que eu estava fazendo lá, eu disse que queria comprar uma comida que só tinha na cidade vizinha. Ele acreditou quando contei que estava grávida. Será que era certo eu cobrir o erro de Nick? Se bem que ele não fez nada, a não ser me atrair até as linhas do trem para que eu fosse morta. Apenas não sei se era a intenção dele mesmo fazer isso. Fiquei pensando nessas coisas enquanto eu estava no carro com minha mãe, pronta para ir ao salão onde eu passaria a tarde toda me maquiando, me penteando e fazendo as unhas.

Eu devia estar feliz, afinal era meu casamento. Mas aquela história toda me deixou tensa. Tudo o que eu queria era ficar um dia inteirinho na praia, tomando banho de sol e ouvindo John Mayer. Por alguns instantes em que deixei minha cabeça encostada no vidro fiquei querendo voltar no tempo, no primeiro dia que cheguei à cidade. Eu queria que as coisas tivessem sido diferentes. A primeira coisa que eu mudaria com certeza era April. Como eu a queria no meu casamento, afinal não vou ter dama de honra, na verdade será tudo na maior simplicidade, apenas os amigos mais chegados, como aqueles que eram meus amigos em comum com o Logan. E claro, família.

Chegando ao salão, não via a hora de acabar com aquela tortura de ter várias pessoas mexendo no meu rosto, no meu cabelo, nas minhas pernas, em minhas mãos, nos meus pés, eu saí da sala de depilação parecendo uma lagartixa de tão sem pelos, e toda dolorida por causa da cera quente. Mulher sofre.

Coloquei o robe cor-de-rosa, escrito “Noiva em produção” do salão e me sentei em uma cadeira alta e ok, confortável, onde fiquei a tarde toda recebendo meu tratamento de beleza.

O maquiador ficou chocado com os pontos que levei na testa e mais chocado ainda quando contei a história. Eu dei risada depois de umas duas taças de champanhe que me serviram, até que eu estava curtindo esse meu dia de princesa. Minha mãe também estava recebendo seu dia de rainha e ria comigo, ela estava mais nervosa que eu, nem parecia que ela havia se casado há alguns meses. Ela parecia que nunca tinha visto um vestido de noiva e quando o meu chegou ela simplesmente desabou em lágrimas. Bom, também chorei, e aproveitei bem por que meus olhos ainda não estavam maquiados. Quando toquei naquele vestido me senti tão emocionada. Tão fragilizada. Ele era o vestido mais lindo, romântico e a minha cara que eu já tinha visto, eu ainda não tinha o visto pronto, quando fui fazer a ultima visita a costureira ela ainda não tinha o bordado. Mas estava simplesmente magnífico.

O maquiador pediu que eu me recuperasse e então começou o seu trabalho em mim. Camadas e camadas de corretivo e pó compacto e então ele começou o real trabalho. Como brincadeirinha ele não me deixou olhar no espelho até eu estar completamente vestida e penteada. Eu estava cheia de rolos de enrolar cabelos, chegava a doer. As mulheres do penteado pediram que eu pusesse o vestido para que elas pudessem fazer a parte delas.

Entrei na salinha reservada e comecei a pôr aquela obra minuciosamente feita para mim.

Ele era feito a partir de um espartilho branco, que trançava minhas costas com fitas de seda prata, assim como os detalhes em pedras que desenhavam flores do busto até a calda, como se fossem cascatas de rosas brancas. Precisei de ajuda com o espartilho eu não queria apertar muito por causa do bebê, mas eu queria parecer ao máximo comigo mesma, apenas eu, a garota que havia chegado na cidade para morar com a mãe e que viveu tantas coisas inimagináveis na vida dela.

Tudo havia mudado. Tudo estava para mudar.

Quando coloquei meus pés na igreja e aquela linda música começou a tocar, senti todos os pelos do meu corpo se eriçarem, pelo menos os que sobraram da depilação. Os convidados estavam de pé, sorriam felizes por mim. Eu na hora não consegui sorrir, meu pai estava me segurando e Dan andava em nossa frente segurado as alianças.

Naqueles cinco minutos desde a chegada à porta da igreja até a minha ida ao altar, minha cabeça começou a girar e um filme a passar por ela. Emily, Fred, escola, namoro, Nick, Logan, amor, April, Karen, decepção, gravidez e... Casamento. Tudo em sua ordem, tudo veio a tona.

Então fora ai que eu olhei para ele, vestido como meu príncipe, não havia cavalo branco, não havia coroa, havia nós. O salão se esvaziou, o mundo se esvaziou, apenas eu e ele, sorrindo como bobos um pelo outro, destinados a viver uma vida juntos. Uma vida que com toda certeza seria a mais perfeita de todas, por que com toda a força do meu ser, eu o amava, e como amava. Naquele pequeno milésimo de segundo eu senti o quão feliz eu seria ao lado daquele homem.

Eu te amo, diziam seus lábios.

E aquilo para mim bastava.



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Notas finais do capítulo

Acabou, to muito triste por isso, chorei escrevendo o último capítulo, não por ser emocionante, mas por que eu vou ter que me desapegar dos personagens, ah! Brigada por ter lido, mesmo! EM BREVE terá uma próxima...



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