Blueberry escrita por Rossetti


Capítulo 7
Campo minado


Notas iniciais do capítulo

Pqp, eu achei que nunca mais fosse conseguir acabar esse capitulo.
Eu devo ter começado e apagado umas doze vezes, sei la.
Sempre acabava saindo que eu queria, do que inicialmente pensei pra historia. Até que ontem me veio uma ideia e TCHARAM, aqui está.
Me desculpem por toda essa demora.



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Blueberry praticamente fugiu de mim nos dias seguintes. Não que eu esperasse algo diferente, mas a sua ausência me sufocava aos poucos.

Meu mundo se tornou apagado. Eu não sabia quais atitudes tomar e ou o que fazer.

Nem mesmo me lembrava de quem eu era antes de Ben.

Me peguei olhando para seu nome, na lista contatos do meu celular, enquanto pensava em como ele estava se sentindo, o que estava fazendo.

Mesmo assim, não consegui falar com Ben.

Nossos amigos não comentaram nada sobre isso, nem forçaram a barra. Mas ás vezes me olhavam torto, me culpando, provavelmente. Ficou claro que Ben falou com eles, talvez tenha pedido para que não tocassem no assunto comigo.

O dia anterior à formatura chegou e eu não poderia estar mais infeliz. Eu já tinha chegado ao ponto de chorar compulsivamente algumas vezes, durante a semana, sem a menor explicação coerente para isso.

Parecia tão errado pensar em festa, estando numa situação tão complicada com Ben.

Ainda mais uma formatura, já que na anterior estávamos tão felizes.

Comecei a me desesperar e pensar em não ir. Não tinha porque estar lá. Não ia ser bom.

Então meu celular apitou.

Meus amigos estavam mandando mensagens no grupo, combinando onde que horas se encontrar, para ir pra festa. Ben confirmou a ida, mas não disse mais nada.

Decidi, definitivamente, ir.

Quando cheguei à frente da padaria, na noite seguinte, somente Livia ainda não tinha chegado.

Troquei um olhar com Ben e aquele momento pareceu durar uma semana inteira. Mais uma vez, aqueles olhos azuis pareciam tão carregados de tristeza e dor, que desejei simplesmente deixar de existir, no mesmo instante.

O que eu estou fazendo?

O que estamos fazendo?

Ele desviou os olhos. Foi como ser tirado bruscamente de dentro daquele oceano de sentimentos, tão azul.

Porque ele tem que parecer tão arrependido?

Eu quis fazer tantas coisas naquele momento... No entanto minha voz falhou, minhas pernas e braços não se moveram, nem mesmo as lagrimas, que andaram me rondando durante tantos dias, reagiram.

Então Livia chegou e, como se um piloto automático tomasse o controle do meu corpo, fui com eles para a festa.

Foi tão estranho.

Em algum momento da noite, me encontrei sentado sozinho. Não sabia aonde os outros tinham ido. Ao meu redor, todos os jovens estavam animados e felizes. Eu me sentia isolado, como uma espécie a parte.

Estava tão distraído que me sobressaltei quando Silvana sentou do meu lado.

_Essa situação é ridícula, até quando vou ter que ignorar tudo isso? _Ela perguntou, jogando o cabelo pra tras. Não respondi. Nem mesmo a encarei diretamente.

Ficamos em silencio por algum tempo. Percebi que era esperava que eu falasse algo, que não sairia de perto de mim enquanto eu estivesse calado. Mesmo assim não abri a boca.

_Você não vai fazer nada? _Ela finalmente disse, sentando de lado pra me olhar. _Ou pelo menos me contar o que ta passando pela sua cabeça?

_Tenho certeza que ele já te contou. _Respondi, tentando não parecer acusatório. Sinceramente, não me irritava Ben ter falado o que houve para nossos amigos. Eu só não queria conversar.

_Sim, mas eu quero saber porque você fez isso, Reinaldo.

Uma onda de irritação me invadiu e olhei para ela.

_Eu fico tentando entender o que fez vocês acharem que existe a chance de que eu pense nele dessa forma. _Eu gritei, mas não fez muita diferença, graças a musica. _Ou então acharem que tenho que corresponder isso por obrigação!

Silvana me encarou e, por um momento, achei que ela estava prestes a tirar sarro de mim. Mas ela pensou melhor e franziu a testa.

_Você ta doente, Rei. _Ela falou, com uma delicadeza inesperada.

_Tem certeza que sou eu que estou doente? _Levantei bruscamente.

_Rei. _Silvana segurou meu pulso e tambem levantou. _Reinaldo, me escuta. Tem algo errado, sabia? Você tem que entender que... Vocês sempre foram um casal. Vocês sempre se gostaram e agiram como namorados. Eu não sei a que ponto vocês são íntimos, mas se você nunca se deu conta disso ou se está ignorando de proposito essa relação, então você está com um problema.

Como eu poderia responder isso?

Ela ficou louca. Está delirando.

Essa é a coisa mais estupida que já ouvi.

Mas se era estupidez, porque saí quase correndo dali?

Porque cheguei em casa chorando, fora de mim?

Minha mãe me viu chorar. Tentou me consolar, mas me senti ainda pior. Ela me abraçou e me fez sentar. Eu queria morrer.

Eu era um homem, praticamente um adulto, que tinha acabado de fugir da própria festa de formatura. Naquele estado. Eu estava com tanta vergonha, me sentindo tão patético e acabado. Eu queria muito que o mundo simplesmente acabasse naquele momento.

Perdi a noção do tempo que levei para me acalmar um pouco. Ela ainda passava a mão em meu cabelo.

_Vocês e Benicio brigaram? _Minha mãe perguntou.

Porque a primeira coisa que passou pela cabeça dela foi isso?

_Não. Não tem a ver com ele. _Respondi, tentando manter pelo menos minha voz com o mínimo de dignidade.

Minha mãe pareceu exausta, de repente.

_Sabe, Rei... É só uma ideia, mas... Você tem estado mal, não é de hoje. _Olhei para ela, imaginando aonde aquela conversa nos levaria. _Já que você nunca consegue dizer o porque... As vezes penso se você não gostaria de... Ver um psicólogo ou coisa assim.

_Mãe. _sequei meu rosto, depressa. _Não tem nada de errado. É só... Uma fase ruim.

Minha mãe olhou diretamente em meus olhos.

_Você tem que parar de mentir pra si mesmo, filho. Eu não sei porque você faz isso. Se é uma forma que você usa pra se proteger do mundo, saiba que está dando muito errado; isso só te machuca ainda mais. _Ela colocou as duas mãos em meu rosto. _Eu já te disse e vou repetir, sua família sempre vai te apoiar e ajudar. E tenho certeza que seus amigos também pensam o mesmo.

_Mãe... Mãe, do que você ta falando?

Ela suavemente colocou os polegares sobre as pálpebras de meus olhos e puxou um pouco pra cima.

_Abra seus olhos para o que está na sua frente, Rei.

Durante mais alguns dias eu praticamente vegetei no meu quarto. Eu evitei pensar. A ideia de chegar a uma conclusão, seja qual fosse, me assustava. Evitei falar com minha mãe, também, e quase não saía da minha cama. Se a cortina estivesse aberta, deixando luz entrar, eu provavelmente teria começado a fazer fotossíntese.

Foi durante uma noite que pensei que a situação estava tão ruim, que eu já estava delirando com Ben.

Levei vários minutos pra perceber que ele estava, de fato, no meu quarto.

_O que...? _Eu sentei e passei a mão no rosto.

_Por deus, seu quarto tá um lixo e você parece parte dele. _Blueberry sussurrou, chutando uma calça suja pro lado.

_O que você tá fazendo aqui? _Perguntei, em completo choque.

_Eu deixei de ser seu amigo a ponto de não poder mais te visitar?_Blueberry perguntou, levantando as sobrancelhas.

_O que... Não, não seja idiota.

Ele parecia tão calmo. Triste, porem calmo.

_Me falaram que você estava mal. _Ben sentou na minha cadeira. _Daí eu vim.

_Ah.

Silencio incomodo. Silencio pesado. Silencio desconfortável.

_Eu queria falar com você, além disso._ Benicio olhou para o teto e juntou as mãos no colo.

Eu não queria ouvir. Não tinha como ser algo bom, afinal. Mas também não podia manda-lo embora. Era tão bom Ben estar ali, falando comigo mais uma vez.

_Certo. _Foi a única coisa que consegui dizer. Era tão difícil o encarar.

_Eu queria me desculpar por tudo isso.

O que?!

_Se desculpar? _Repeti.

_Foi errado jogar tudo em cima de você e esperar que... _Benicio olhou para as próprias mãos, apertadas em seu colo. _Você não fez nada de errado, então não tem porque...

Ben suspirou e parou de falar, como se tivesse atingido um limite do que podia suportar.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Não era uma situação incomum, no geral, mas era errado. Eu não tinha uma explicação pra isso, mas Ben pedir desculpas era um absurdo.

Eu era o motivo de sua tristeza, tê-lo rejeitado nos levou até ali. Então sou eu quem devia me desculpar, por não poder corresponder aquele sentimento, deixa-lo feliz o bastante.

Foi um pequeno choque quando percebi que nos dias anteriores estive tão afundado na minha crise pessoal, que me esqueci do mais importante para mim. Blueberry era meu melhor amigo, minha prioridade. Não importava se eu estava definhando em uma poça de problemas, ei tinha que estar do seu lado todos esses dias.

Eu nem mesmo sei por onde ele andou durante a festa de formatura.

_Ben, não faça isso. _Pedi. Minha voz fraquejou. _Você não fez nada de errado.

_Você ficou com raiva. _Ele retrucou, num sussurro.

_Você também ficou. Estamos na mesma.

_Mas eu... _Ele parou de falar e fechou os olhos. Reparei as olheiras e a palidez em seu rosto.

Repentinamente se tornou tão difícil continuar sentado, olhando para Blueberry, como se algo dentro de mim implorasse para que eu fosse até meu amigo e o abraçasse com toda minha força.


O que me segura?






A cadeira que Ben estava sentada caiu para trás, quando o puxei e abracei.

O mundo ganhou mais cor, mais suavidade, mas alegria. Talvez o tempo tenha chegado a parar.

Aquele cheiro... Quando eu tinha sentido pela ultima vez? Parecia ter sido uma vida atrás.

Seu corpo estava tão quente.


_Rei... _Ele me chamou, com a voz abafada. Talvez eu estivesse o sufocando um pouco, mas não me afastei. _Porque você...?

_Você é meu amigo. _Um de nós estremeceu. _Você é...

Meu Blueberry?

Parece tão inadequado dizer isso.

Não terminei a frase.

Ele soluçou em meu ombro.

_Tudo bem. Então me prometa. _Ben pediu, se agarrando a minha camiseta.

_O que?

_Nunca mais vamos nos afastar de novo. Vamos continuar bem, independente do que aconteça.

Era uma frase que uma criança diria, como em um filme clichê. Mas foi perfeito.

_Me perdoa? _Sussurrei. Ben balançou a cabeça, confirmando. Nesse ponto, ele chorava tanto que não parecia capaz de responder com palavras.

Dessa vez o silencio não foi tão ruim.

_Só tenho uma coisa pra acrescentar. _Falei, assim que a crise de choro de Benicio melhorou.

_O que? _Ele virou o rosto e me olhou. O azul estava cercado de vermelho e lagrimas.

_Acho que prefiro me afastar vez ou outra, sabe, não acho que vai ser legal usar o banheiro ou tomar banho assim.

Blueberry riu.

Foi como observar um raio de sol surgindo após uma tempestade.

_Você é tão cretino, Reinaldo. _Ele falou, enquanto secava o rosto, dando uma risadinha, meio mista com choro.

_Me desculpa, não dava pra perder a piada. _Passei a mão em seu cabelo.


Benicio olhou para mim. Então se afastou, deitou na minha cama e pegou meu notebook.

_O que tem para jogar?

_Mas que folga é essa?!

_Cala a boca e me ajuda.


Deitei do seu lado, rindo.

Tudo ia ficar bem. Tinha que ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Mdss, taí o capitulo. Ta tão no fim agora, caramba.
Acho que agora vai ter menos crise de loucura do Rei e mais fofura.
Acho.

Um beijo pra vocês. Eu juro que amo todo mundo que acompanha esse coiso aqui.
Ps: Pldds, comentem, eu me alimento de comentarios



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