(Trilha sonora - Abertura ♪ Fun ft Janelle Monáe - We Are Young)

Harry cruzou o gramado, as mãos no bolso, ainda meio sonolento.

Ele não percebeu, de cara, as pessoas, parecendo mais excitadas que normalmente deviam estar numa sexta feira de provas. Tudo bem que aquele era o último dia, mas Harry estava tão cansado que mal conseguia ficar animado. Ele só queria fazer logo a última prova e curtir a sensação de estar, finalmente, livre daquilo até o final do ano.

Mas quando ele percebeu que todos seguravam aquelas folhas laranja, ele parou e pensou que algo estava errado. Foi então que viu Louis, Niall e Every no meio de uma roda de alunos, distribuindo os folhetos laranja.

Harry se aproximou, a testa franzida, sem entender bem.

–Ei Styles –Louis sorriu quando ele se aproximou –Anda, pega um bolo de flyers e ajuda a gente a distribuir. –Louis estendeu um folheto pra ele. Ele pegou e pode ver que era o mesmo papel do dia anterior, mas alguém tinha mudado a frase.

“SEXTA FEIRA. As provas acabaram, vamos comemorar numa festa pra nunca mais esquecer que só se vive enquanto é jovem. E se você acha que essa vai ser só mais uma das festas miadas do Roundview, você está totalmente enganado.”

Harry deu um sorriso.

–Você mudou o texto? –Harry perguntou. Louis então deu um de seus sorrisos orgulhosos.

–Sim, afinal, agora sou parte do comitê social do colégio. –Ele então aproximou o rosto de Harry e disse baixinho –Faz parte do plano.

Harry só balançou a cabeça sorrindo.

Quando Louis queria, ele ia até o fim.

–Anda, pega logo um bolo de folhetos e ajuda a gente –Every apareceu, estendendo um punhado de folhas laranja pra Harry –Ao menos que você quiser ter suas bolas cortadas, nós dependemos dessa festa. TODO mundo tem que vir –Ela falou séria.

Harry deixou a mochila dele ali no gramado, e ainda sonolento, começou a distribuir os folhetos pros alunos que chegavam no colégio.

Ana e Liam correram pelo corredor, que já estava quase vazio, segurando os livros e tentando equilibrar a mochila nas costas.

–Valeu Liam, eu nunca vou poder te agradecer o suficiente! –Ana disse, enquanto eles se aproximavam da porta. Liam tinha chego mais cedo no colégio para passar a matéria da prova de matemática com Ana, e os dois ficaram até o último segundo na biblioteca. Ana estava tremendo de medo por dentro e sentia que por mais que estudasse, matemática nunca ia ser fácil pra ela. Mas Liam estava ali e sorria, a deixando mais tranquila, segurando a porta para ela entrar.

Quando os dois entraram na sala, todos já estavam lá dentro. Ana e Liam se separaram, ele ficando nas primeiras fileiras, e ela indo pro fundo. Seus olhos se encontraram com os de Louis, e depois ela viu Harry. Havia apenas uma cadeira vaga ali, bem atrás dele, então sem pensar muito ela se sentou lá depressa, já que todos os outros já estavam sentados em silêncio, esperando a professora começar a passar as provas pelas fileiras.

Ela tirou sua bolsa e guardou em baixo da carteira, pegando seu material pra prova e tentando respirar fundo, enquanto os alunos iam se virando e passando as provas para trás.

E então lá estava Harry, virando e entregando um pequeno bolo de papéis pra ela.

–Boa sorte –A voz dele de repente sussurrou, baixo.

Ela olhou pra ele e ele olhava pra ela. Olhos verdes. Ela adorava aqueles olhos verdes. Ele deu um pequeno e doce sorriso, fazendo suas covinhas aparecerem em sua bochecha.

–Se precisar, me cutuca.

Por um segundo ficou com vontade de dar as mãos pra ele e ficar ali, sentindo a sensação de ter ele perto. Eles ainda não tinham conversado, nem falado nada sobre as mensagens da noite passada e talvez fosse cedo demais para falar aquilo, mas era como se aquela parede que tinha se erguido entre eles nas ultimas semanas diminuísse um pouco de tamanho.

Mas não era hora de pensar naquilo. Era a hora de pensar nos números.

Ela olhou pra prova, e deu um suspiro desanimado. Lógico que não estava nada fácil. Ele terminou a prova primeiro que ela, mas ela confessava que estava tão concentrada que mal percebeu ele sair.

Quando finalmente saiu da classe (quase por último), encontrou Harry no corredor, parado, conversando com Every e Liam. Ela se aproximou, e eles falaram um pouco da prova, mas ela estava nervosa. Queria muito ter ido bem, a prova parecia bem difícil por isso ela não tinha muita certeza do resultado, apesar de ter conseguido resolver quase todas questões.

E os quatro foram pro refeitório.

Louis e Niall tinham retomado a distribuição de folhetos e estavam andando pelo colégio, conversando com as pessoas, e Zayn tinha ido até a secretaria, segundo ele, “resolver um problema” (Ana achou aquilo estranho, e achou mais estranho ainda a maneira como Louis tinha dado um sorrisinho quando Zayn disse aquilo).

Agora então eram Liam, Every, Harry e Ana, os quatro já em clima de férias, apesar de faltar ainda a última prova.

–Vocês acham mesmo que essa festa vai ter salvação? –Liam perguntou, dando uma garfada no prato.

Harry que lia atentamente um livro, com a matéria para a próxima prova (já que ele era melhor com números que com fatos, e a prova era de História) levantou os olhos verdes.

–Eu espero que tenha –Every suspirou, se ajeitando no banco da mesa. –Afinal, precisamos vender aquele saco enorme de pílulas.

–Todo mundo está falando da festa. Acho que pelo menos o pessoal vai vir. O que não garante nada que seja uma boa festa, mas pelo menos resolve nosso problema com as pílulas. –Ana remexeu no prato.

–Sabe o que eu acho? –Liam disse, com uma voz decidida –Acho que, se a gente vai ter mesmo que vir nessa festa, podíamos tentar nos divertir.

Every olhou pra ele e fez um “O” com a boca.

–Você falando de se divertir em festas? Você não gosta muito de festas.

–Lógico que gosto.

–Desde quando?

–Desde quando estou com vocês –Liam disse, de um jeito fofo, como se aquela fosse uma conclusão obvia. Every deu um gemidinho e abraçou Liam pelo braço.

A verdade é que toda aquela terapia tinha feito ele perceber o quanto ele precisava relaxar um pouco, curtir os amigos e deixar as coisas rolarem.

–Não sei. Na verdade, pra mim toda essa coisa de festa no colégio me lembra aqueles filmes americanos, com bailes de formatura e... –Harry começou.

–OHMEUDEUS! Bailes de formatura! Aqueles vestidos cafonas, a limusine, os garotos de terno....Ah! Agora eu quero!!! Vamos fazer isso! Agora quero usar um vestido cafona! –Every deu um pulinho feliz no banco, como se aquela ideia fosse realmente boa.

–O que? –Harry franziu a testa como se Every tivesse ficado completamente louca.

–Ué! Vamos tentar nos divertir não é? Eu ia me divertir muito num vestido de formatura.

–Eu não reclamaria de andar de limusine. –Liam deu de ombros.
–Você tem um terno? –Every perguntou empolgada.

–Eu tenho um colete e uma camisa social. –Liam respondeu.

–Serve. –Every sorriu.

Ana também sorriu e balançou a cabeça como se Every fosse mesmo maluquinha, e voltou a comer sua comida.

–Ei, vocês dois não achem que a gente vai fazer isso sozinho. Vocês também tem que ir com a gente pro baile.

–Isso não vai ser um baile... –Harry disse com a voz arrastada, como se Every estivesse o irritando. –Só vai ser um baile na sua cabeça maluca.

–Ana! Olha o Harry estragando a ideia da gente de se divertir! –Every resmungou com a voz igual a de uma criança falando pra mãe que o irmão está puxando seu cabelo.

Ana deu risada e cutucou Harry com o joelho.

–Deixa a Every se divertir.

–Eu deixo! Só estou falando que pra mim, isso não vai ser um baile.

–Acho que você vai ter que arrumar outro par. –Every olhou pra Ana e disse em um tom de voz insinuante. Ana sentiu seu rosto ficar vermelho, e ela queria responder algo rápido, mas como sempre, as palavras se embolavam.

–Eu... ahn... eu só... Eu não preciso de um par. Ninguém precisa de par.

–Quem não precisa de um par? –Zayn se sentou na mesa ao seu lado, como sempre, chegando no momento certo. Louis e Niall também chegaram naquele momento e se espremeram na mesa, deixando uma pilha de folhetos laranja ali em cima.

–Nada...onde você estava? –Ana perguntou, tentando desviar daquele assunto.

–Nada coisa nenhuma! –Every interrompeu– Eu e o Liam acabamos de transformar essa festa no nosso baile de filme americano.

Niall e Louis fizeram uma careta como se “baile de filme americano” fedesse a alguma coisa.

–Eu só disse que eu posso usar um colete. –Liam se defendeu, quando Niall e Louis olharam pra ele como se ele fosse culpado.

–Nós vamos usar roupas de baile e vamos de limusine.

–Nós não somos americanos babacas –Louis respondeu.

–Isso é coisa de americano babaca –Niall completou.

–Me parece divertido. –Zayn deu os ombros. –Nunca andei de limusine.

–Vocês querem arruinar minha festa, é isso? –Louis disse, com uma voz revoltada.

–Arruinar sua festa? Deixa eu te lembrar que eu, o Niall e o Harry fomos naquele lugar horroroso buscar drogas pra sua fantástica festa e agora temos que ir e vender o máximo de pílulas que conseguimos ou seremos mortos por um cara com um bigode esquisito. E eu acho que pelo menos tenho o direito de arrumar algo pra me divertir enquanto faço isso. Eu quero usar um vestido de baile bem cafona e quero andar de limusine, e eu vou fazer o que eu quiser.

Louis ficou alguns segundos em silêncio, olhando pra Every com aquela cara ferina, esperando que ela desistisse, mas ela continuou comendo sua comida com uma cara mimada e decidida.

–Que seja, mas eu tô fora. –ele levantou da mesa, levando seus folhetos com ele.

–Eu nem tenho um terno. –Niall resmungou, mas ele parecia só meio desanimado, como uma criança reclamando que todos tem um brinquedo menos ele.

Every suspirou, deixando os ombros cair.

–Eu tenho um –Zayn disse de repente. Ana olhou pra ele com a sobrancelha franzida. Não pensava que Zayn ia embarcar naquela ideia. Mas ele olhou pra ela e encolheu os ombros, explicando – Minha mãe comprou pra mim, disse pra eu reservar pra uma ocasião especial, seja lá o que isso for. Acho que posso usar.

–Viram? Isso que é um amigo de verdade! –Every apontou a mão pra Zayn.

Ana ficou ali, olhando pra Zayn, que agora olhava pra Every e dava seu pequeno e charmoso sorriso. Naquele momento Ana percebeu que Zayn estava apenas querendo agradar, já que Every parecia gostar da ideia. Zayn era mesmo surpreendente.

E então Ana lembrou de um detalhe.

– Acho que eu vou entrar pro clube do Niall –Ana suspirou –Eu também não tenho nenhuma roupa pra usar. –Ela olhou pra Every – Acho melhor ficarmos só com as ideias loucas do Louis. Elas já são suficientes...

–Não! Eu também tenho direito de ter ideias loucas! –Every fechou o rosto– Vocês, estejam prontos hoje com seus ternos as nove. Niall, você vista qualquer coisa que você tenha que se pareça um terno. E você Ana, nós vamos achar alguma coisa no shopping. Me espere na saída. –Every pegou seus cadernos e saiu decidida da mesa.

Todos ficaram em silêncio, observando Every se distanciar, atravessando o refeitório.

–Cara, ela me lembra o Louis as vezes –Harry resmungou.

–Então como vamos fazer? –Zayn jogou a fumaça do cigarro pra cima. Eles estavam reunidos numa rodinha no gramado. As pessoas a sua volta estavam mais felizes e barulhentas que o usual, afinal, as provas finalmente tinham acabado e agora todo mundo podia ir pra casa e aproveitar o final de semana.

E depois, faltavam poucos dias para as férias de verão!

–O Louis falou pra gente se encontrar na casa dele as nove –Harry enfiou as mãos no bolso, olhando Louis, o único que não estava com o grupo por que estava no meio do gramado falando com o pessoal do comitê social sobre os últimos detalhes da festa, como sempre parecendo um líder, mesmo que ele tivesse entrado pro grupo fazia apenas um dia.

–Beleza. Nos encontramos lá. Niall, vou mandar a limusine te buscar na sua casa, já que você está com o saco de pílulas –Every disse. –Pelo amor de Deus, não esquece isso.

–Eu não vou esquecer, não sou um retardado –Niall resmungou. –Você já me lembrou disso um milhão de vezes só hoje.

–Com você, nunca é demais.

Niall fechou a cara.

–Agora vamos –Every estendeu a mão e segurou a mão de Ana –Vamos achar um vestido bem lindo e cafona! –Ela sorriu e puxou Ana. –Encontramos vocês no Louis, as nove!

Harry, Zayn, Liam e Niall ficaram observando Ana e Every andarem pelo gramado de braços dados, conversando, Every parecendo animada e sorrindo.

–Vocês vão mesmo usar um terno? –Liam perguntou, cortando o silêncio, ainda olhando pra Every e Ana.

Zayn então olhou pra ele e deu os ombros, como se aquilo não importasse.

–Eu vou colocar um maldito terno –Harry disse, com a cara fechada, e então apontou pra Liam e Zayn ameaçadoramente –Se vocês aparecerem sem terno, juro que mando o Spencer cortar as bolas de vocês.

Liam deu um sorriso, enquanto Harry se distanciava deles pelo gramado.

–Seria engraçado deixar só ele aparecer de terno... –Zayn concluiu quando Harry já tinha se afastado o suficiente, o que fez Liam dar uma risadinha.

–É. Seria. –Liam concordou.

–Que você vai fazer agora? –Zayn suspirou.

–Hum. Acho que vou correr. Por que?

–Tá afim de ir comigo cortar o cabelo?

Liam passou a mão pelo cabelo, fazendo uma caretinha.

–Até que não seria uma má ideia.

Louis desceu as escadas correndo, enquanto ajeitava a gola da sua blusa. Tinha acabado de se trocar naquele instante.

Pra variar, sua casa estava mergulhada no silêncio de sempre. As luzes da rua eram fracas e sempre ascendiam como se quase não tivessem forças pra permanecer assim. Apenas a luz da sala era mais forte, e Louis a ascendeu quando passou ali, indo em direção a porta.

–Isso não é uma roupa para um baile. –Every fez um bico ao ver ele ao abrir a porta, usando uma calça de brim escura e a blusa de gola alta preta. Ele tinha arrumado o cabelo com gel, o que sempre o deixava absolutamente bonito, mas ainda assim, não usava um terno.

–E nós não vamos pra um baile. –Ele disse, pacientemente, como se fosse a décima vez que ele explicava isso pra ela, enquanto ela e Ana entravam na casa.

Foi então que Louis parou pra observar as duas. Ele não se aguentou, levou a mão na boca e segurou um riso debochado.

–Que foi? –Every disse zangada, deixando as sacolas plásticas que carregava na mesa. Ana também olhou pra Louis, um pouco envergonhada.

–Vocês... que raios de roupa é essa?

Ana olhou pra baixo, pra seu vestido curto e brilhante e todos aqueles babados e tules coloridos e se sentiu, de novo, inadequada. Quando Every achou aquele vestido em uma das lojas do shopping só para formaturas e casamentos, Ana tinha até achado engraçado, ainda mais por que Every tinha achado umvestido ainda mais ridículo para usar, tão rosa quanto o dela, com um laço gigante cobrindo metade do vestido.

Mas agora, aquela ideia já não parecia tão boa, então ela passou a mão pelo pescoço, envergonhada.

–Louis, se você não vai se divertir, não venha estragar nossa diversão. –Every abriu uma das sacolas e tirou duas garrafas de vodca de dentro. –Agora vá pegar alguns copos e gelo pra gente.

Louis passou por elas, ainda dando uma risadinha para provocar, e foi até a cozinha, enquanto Every tirava o resto das coisas da sacola do mercado: sacos de salgadinho de vários tipos, bolachas e um monte de porcarias gostosas pra eles beliscarem.

–Talvez ele tenha razão... –Ana se aproximou de Every, falando baixinho –Ainda dá tempo de ir trocar a roupa...

–O que? Não! Você está ótima, eu estou ótima. Não ligue pro Louis.

Louis se aproximou de novo, deixando alguns copos pela mesa, cada um diferente do outro, e equilibrando duas bandejinhas de gelo. Nesse instante, escutaram a campainha tocar de novo.

–Ah, alguém chegou. Talvez seja o rei e a rainha do baile! –Louis disse, com um tom debochado, o que fez Every responder com uma careta e Ana ficar ainda mais insegura. Louis foi até a porta e quando abriu, lá estavam Liam e Zayn, parados.

–Ah, não acredito que vocês entraram nessa maluquice de usar um terno. –Louis fez uma cara de reprovação. –Até o cabelo vocês fizeram?

Zayn e Liam sorriram, passando a mão pelos novos cabelos. Liam tinha o seu bem rente e Zayn tinha tirado sua mecha loira, e agora tinha os cabelos pretos bagunçados.

–OhmeuDeus! –Every falou, parando no meio da sala e vendo os dois.

O olhar de Ana cruzou com Zayn e ela sorriu, surpresa. Ele estava lindo, e parecia tão diferente do que ela estava acostumada a ver! Não parecia aquele garoto que ficava andando pela rua de skate com seu jeito badboy. Ele parecia agora alguém que você deseja desesperadamente que te convide pro seu baile de formatura e que te beije no final.

Vestia uma calça e um terno preto bonito com um corte chique e uma camisa branca social. E pra completar, tinha tirado sua mexa loira e agora tinha os cabelos negros bagunçados pra todos os lados.

Ela estendeu a mão e tocou seu cabelo, e ele sorriu, desviando.

–Você cortou?

–Sim! –Ele sorriu –Enjoei do outro. Gostou?

Ela balançou a cabeça positivamente e ele passou os braços por ela, a abraçando.

–Você está cheirosa –Ele disse baixo, enquanto ainda a abraçava. E então ela se sentiu um pouco melhor.

–Gostei da roupa de vocês –Liam disse, sempre educado e delicado, enquanto comia um punhado de salgadinhos que estavam na mesa.

–Obrigado! –Every sorriu, enchendo os copos com vodca e passando para ele, pra Zayn e Ana. Louis já estava tomando o seu. –Vocês também estão muito bonitos, conforme o combinado. –Ela resmungou, olhando pra Louis, que só virou os olhos bufando, como se aquilo o entediasse enormemente.

Harry desceu a rua em direção a casa de Louis. Tudo estava escuro e vazio.

Conforme ele andava ele podia escutar o barulho da TV em alguma casa, um cachorro latindo, pessoas entrando em um taxi parado na rua e rindo alto e seu sapato, fazendo barulho pela calçada.

Harry deu mais alguns passos e estava na frente da casa de Louis. As luzes da casa estavam acessas e a porta estava semi aberta, com a luz de dentro formando uma linha no chão. Harry podia escutar a voz dos amigos lá dentro.

Ele ajeitou meio sem jeito o paletó que estava usando.

Se entrasse ali e fosse o único com roupa social, ia matar alguém.

Como não acreditava muito que os outros fossem levar aquilo a sério, ele vestiu sua calça de brim escura, e uma camisa com um colete e um paletó. Harry sabia se vestir, por isso escolheu o meio termo: estava chique, se todos estivessem bem vestidos, e podia tirar algumas peças e ficar mais normalzinho se ninguém tivesse levado a sério a ideia de Every.

Se aproximou da porta e a empurrou, e depois fechou ela atrás de si. O som da voz de todos agora era claro e alto. De cara, lá estavam Zayn, de pé próximo a mesa, vestindo uma roupa muito mais formal que a dele, com terno e calças pretas e uma camisa branca. Ele tinha um copo de bebida nas mãos e conversava com Every e Ana, que estavam de costas para a porta. Every parecia estar enchendo um copo com algo de uma garrafa.

Ana se virou naquele instante, percebendo que alguém tinha chego, e deu de cara com Harry. O olhar dele acertou em cheio o dela.

Por um segundo Harry ficou um pouco desconcertado. Ana estava linda.

Era uma versão louca e diferente de Ana.

–Ah! Você está bonito Harry! Fico feliz de ver que VOCE também leva a sério as ideias dos amigos! –Every sorriu se aproximando dele, dizendo a última parte alto e olhando pra Louis, sem perder uma chance de cutuca-lo.

Mas Harry não prestava muita atenção. Ele quase não conseguia tirar os olhos de Ana.

–Anda, pega um copo –Every o entregou um copo cheio de um líquido transparente. Harry tinha a impressão que aquilo não era água. Cheirou e sentiu o álcool, e então bebeu um gole. Vodca. Claro.

–Gostei do colete –Zayn se aproximou de Harry, relaxadamente, com as mãos no bolso.

–Alguém falou em colete? –Liam apareceu do lado deles, vestindo um colete bonito, parecendo animado. Ele passou a mão pelo colete devagar, fazendo uma pose de modelo.

–Ah, esse sim é um colete de respeito –Zayn sorriu, batendo de leve na barriga de Liam.

Harry bebeu mais um gole de sua vodca, e não conseguia controlar. Olhou de novo para Ana, que agora estava conversando com Every perto da mesa. Liam e Zayn começaram a falar algo, e Harry viu Every se afastar em direção a cozinha com Louis ao seu lado, sempre discutindo sobre algo (provavelmente sobre a roupa).

Parecia o momento perfeito, então ele se aproximou de Ana, que estava de costas, beliscando um pouco de salgadinho da mesa.

–Gostei da sua roupa. –Ele disse, ao ficar do lado dela. Ela olhou pra ele e sorriu.

–Obrigado... eu estou me sentindo um pouco estúpida com ela, mas acho que estou me acostumando.

–Acho que essa era a intenção da Every –Harry suspirou, olhando para Every na cozinha –Ela queria que todo mundo se sentisse estúpido.

–Você não está estúpido. –Ana sorriu. –Meninos sempre ficam muito sexy com roupa social. –Ela disse despreocupadamente, mas Harry sentiu seu corpo ficar um pouco quente com aquelas palavras. Ana não costumava falar muito sobre aquelas coisas.

–O que você está comendo? –Zayn perguntou, aparecendo do lado de Ana. –Hum, Doritos e esse molhinho! –Ele puxou uma latinha e mergulhou o Doritos dentro, enfiando na boca em seguida.

–Argh. Eu acho isso nojento –Ana reclamou, e Zayn fez uma careta, fazendo ela rir.

Harry apenas ficou ali, calado, observando os dois.

Por que Ana sempre deixava ele de lado quando Zayn estava por perto? Por que aquilo acontecia cada vez com mais frequência? Quer dizer, ele e Ana estavam voltando a se falar, mesmo que aos poucos. Tinha sido algumas mensagens no celular, umas palavras no colégio, mas era um começo. Mas quando Zayn se aproximava, parecia que qualquer pequeno passo que eles tinham dado para voltar a se falar desaparecesse.

–Oh meu Deus! –Niall de repente entrou pela porta, com uma cara muito feliz, segurando o enorme saco de pílulas nas mãos. –Andar de limusine é irado!!!

–Niall! Não acredito que você trouxe isso até aqui assim, sem nem esconder! –Every correu até ele e arrancou o saco da sua mão.

–Ué. Eu ia esconder por que? Eu não vim de ônibus, eu vim de li-um-si-ne.

Liam deu um sorriso vendo a felicidade de Niall, enquanto Every ia até a mesa e abria espaço, deixando o saco de comprimidos ali em cima.

–Nossa, é maior do que eu lembrava –Louis murmurou, dando mais um gole em seu copo de vodca, olhando pro saco em cima da mesa meio hipnotizado.

Por uns instantes, todos os sete pararam e ficaram observando o saco gigante de pílulas, como se se dessem conta que, apesar de toda loucura, de todos os planos e da diversão, eles tinham uma tarefa. Uma obrigação. E aquilo não era tão divertido quanto parecia.

–Sabe, acho que está na hora desse saco começar a diminuir de tamanho. –Niall disse decidido. Ele andou até o saco e o abriu, e o saco ficou ali, parecendo um saco de batatas no mercado, com a boca aberta. –Se vamos vender algo, melhor antes checarmos se isso é bom. –Ele enfiou a mão no saco e tirou dois comprimidos, jogando eles na boca de uma vez e empurrando com um gole de vodca.

–Até que enfim alguém teve uma boa ideia aqui! –Zayn murmurou, e enfiou a mão no saco, pegando um comprimido também. Todo mundo viu ele fazendo como Niall, e engolindo o comprimido com um gole de bebida.

Every então sorriu e puxou Ana pra pegar uma pílula também. Harry sorriu e se espremeu na mesa ao lado delas, e logo Louis e Liam se juntaram a eles, e eles sorriam, enfiando as pílulas coloridas na boca e virando seus copos de vodca.

–Antes da gente sair, quero repassar o plano com vocês –Louis disse, enquanto Harry ao seu lado estava vestindo o casaco e Every procurava sua bolsa.

Todos olharam pra ele. Ana e Zayn estavam no sofá perto da janela aberta para Zayn fumar. Liam estava sentado perto deles, conversando, mas pararam para escutar Louis.

–Achei que você não ia dividir seu plano com a gente pra não estragar “a surpresa” –Niall disse com uma voz debochada.

–Não vai ser todo o plano meu amigo. Ainda vou manter um pouco da “surpresa” –Louis imitou a voz de Niall. –Bom, espero que todo mundo não esteja tão chapado que não entenda o que vou falar –Ele suspirou. Eles tinham acabado com as duas garrafas de vodca e o efeito da pílula já estava ficando forte. Era como se tudo estivesse levemente girando. –Bom. A primeira parte é simples. Vamos chegar lá e temos uma hora pra fazer isso antes de Max chegar com a bebida. Primeiro, vamos tentar parecer inocentes e normais.

–Por que você está olhando pra mim? –Niall reclamou.

Louis fez de conta que não escutou e continuou o plano.

–Vamos esperar por uns vinte minutos, e então, Liam, você vai distrair os professores.

–Eu? Por que eu?

–Por que você é o queridinho deles –Louis respondeu.

–Você também é –Every fez uma careta pra Louis.

–Eu sou, mas sou o tipo errado. Liam, você tem que distrair eles, enquanto Every e Ana vão pros banheiros ao redor da quadra e vão tirar todos os rolos de papel higiênico que acharem por lá. TODOS. Se sobrar algum, o plano não vai funcionar entendeu?

–Pra que isso? –Every franziu a testa.

–Calma! –Louis suspirou–Harry e Niall, vocês ficam com o banheiro masculino. Joguem tudo pela janela, que eu e Zayn vamos estar lá fora e recolher tudo para a outra parte do plano, que só vai vir mais tarde.

Zayn fez um sinal com a cabeça, como se Louis fosse um capitão. Louis sorriu pra ele.

–Em seguida, nós vamos batizar as bebidas dos professores com isso. –Louis pegou um pequeno frasco no bolso. Niall, expert em frascos e remédios, puxou o vidrinho e leu a bula. E então deu uma risada.

–Laxante? Um truque velho, mas que sempre funciona!

Louis sorriu e tirou mais dois frascos do bolso.

–Vamos dizer que vai ser uma quantidade poderosa.

Liam, Zayn e Harry também deram risada.

–E vai ser fácil. Os professores tem aquele canto que eles colocam a bebida deles e que ninguém mais pode tomar. –Every sorriu

–Como se a gente não soubesse que eles batizam tudo com whiskie.

–Safadinhos. –Zayn levantou uma sobrancelha sugestivamente.

–Desse jeito, eles vão passar a noite no banheiro. E quando eles mais precisarem, não vai ter um centímetro de papel higiênico. –Louis explicou.

–Assim eles aprendem a dividir a bebida no próximo ano –Niall disse.

–E estaremos livres deles por pelo menos algumas horas.

–Ah Louis. Você é definitivamente um ninja. –Harry sorriu.

Louis fez uma mesura, dobrando o corpo.

–Obrigado senhor Styles. Depois disso, vamos esperar alguns minutos. Assim que os professores sumirem, vamos levar todo mundo pra frente do colégio. Max vai aparecer, e vamos dizer que vamos ter uma bela surpresa.

Todos sorriram, excitados com a ideia.

Aquilo parecia ficar melhor a cada momento.

–Não esqueçam que temos que aproveitar pra tentar vender o máximo de pílulas que conseguirmos. –Every disse, séria. – Peguem o máximo de pílulas que vocês conseguirem e já coloquem nos bolsos –Every foi buscar o saco de comprimidos. Cada um enfiou a mão lá dentro e tirou um punhado, enfiando pelos bolsos das calças. Ana abriu sua bolsinha de festa e encheu com pílulas, assim como Every.

Liam olhou pra Every, com os bolsos da calça cheios.

–Cara, se alguém encostar algo pontiagudo em mim vou explodir comprimidos.

Ela sorriu pra ele.

–O resto vai na mochila –Ela enfiou tudo em uma mochila de couro discreta e preta que tinha pego de Max. –Quando acabar o que vocês tem, peguem mais! Temos que acabar com tudo.

Ela olhou pra Niall.

–Você fica com a mochila?

Niall deu de ombros, e ela estendeu a mochila pra ele, dando um beijo em seu rosto.

–Você sabe que eu confio em você –E sem Niall esperar, ela mordeu a orelha dele. Ele deu um pulo e um grito, esfregando a orelha e se afastando dela –Mas se você perder isso –Ela completou –Eu te mato.

Niall deu um resmungo alto e saiu batendo os pés em direção a porta, enquanto Louis e Liam davam risada.

–Ei! Eu quase ia me esquecendo! –Every disse de repente. Harry já tinha saído pela porta, então só Liam, Louis, Ana e Zayn estavam ali. –Eu trouxe um presente pra você!

–Pra mim? –Liam pareceu não esperar por aquilo. Mas Every sorriu e correu até o canto do sofá, onde ela tinha deixado uma sacola. Ela pegou a sacola, e então tirou de lá um chapéu engraçado, azul, com a aba enfeitada lembrando uma coroa, e a volta de um material fofo e branco.

–Oh! –Louis e Zayn começaram a dar risada, e Liam também sorriu, quando Every colocou a coroa em sua cabeça.

–Pronto! Agora temos um rei do baile! –Ela deu um beijo leve na sua bochecha e disse baixinho –Espero que você se divirta hoje. –Liam fechou os olhos, agradecido.

–Eu também quero uma! –Zayn reclamou, tentando puxar o chapéu da cabeça de Liam, mas Liam desviou, fazendo uma cara brava.

–Não. É meu! Não encoste na minha coroa. Sou o rei agora.

–Anda, vamos logo– Louis disse, e Liam e Every passaram por ele, ainda rindo e brincando com a coroa de rei do baile. Zayn se atrasou pegando seu terno de volta e Ana ficou ali, olhando pra ele. Quando ele passou do seu lado, ela enroscou a mão no braço dele, e os dois caminharam juntos.

–Por que eu tenho a impressão que você sabe desse plano mais do que nós? –Ela perguntou baixo. Zayn não olhou pra ela, mas em seu rosto surgiu um sorriso safado e um brilho nos olhos.

–Tudo que eu tenho pra dizer é “Só se é jovem uma vez” –Zayn disse, imitando a frase que Louis sempre repetia, e os dois se aproximaram da limusine, onde todos já estavam entrando.

Hanima e Kat estavam na frente do colégio. Hanima vestia um conjunto roxo, e tinha passado muita maquiagem nos olhos. Não estava muito bom, mas ela achava que tinha ficado bonito.

Kat estava usando um vestido preto, que pensou que ficava mais soltinho no corpo, mas como sempre, tinha ficado mais apertado do que ela queria. Ela não se sentiu bem, mas então percebeu que não tinha mais nada pra vestir, nenhuma roupa bonitinha pra uma festa. Não tinha como ela sair e comprar algo as oito da noite, então ela usou aquele vestido mesmo e sapatos emprestados da sua mãe, com um pequeno saltinho.

As duas tinham praticamente sido as primeiras a chegar.

–Acho que eles ainda não chegaram –Kat reclamou –Eles são do tipo que chegam na hora certa, não do tipo que chega cedo –Ela disse, olhando para os poucos grupos que já estavam ali, uns garotos meio nerds que jogavam RPG no gramado do colégio, uns dois ou três casais perdidos e umas meninas que pareciam empolgadas demais para serem legais.

Quando os professores apareceram, junto com algumas pessoas do comitê social e abriram a quadra, Kat e Hanima foram dar uma olhada.

Tinham decorado tudo com uma mistura cafona de papel espelhado e bexigas. Pelo menos havia uma longa mesa encostada na parede da quadra com comida (sanduiches e salgadinhos, que provavelmente acabariam em alguns minutos). Havia duas máquinas de refrigerante, grandes garrafas com sucos e duas poncheiras, provavelmente com alguma batida de frutas sem álcool.

Hanima bufou, enquanto Kat pegava um salgadinho e colocava na boca.

E como se fosse uma piada, de repente Kat e Hanima escutaram um som alto, como alguém ligando enormes canhões de luz. Foi exatamente aquilo que aconteceu. Em um instante, luzes brilhantes e coloridas se ascenderam no teto. Luzes cafonas, brilhando em vermelho, verde e azul. Se alguém achava que não podia ficar pior...

No mesmo instante, houve aquele barulho de microfonia e os poucos alunos dentro do ginásio viram um tiozinho um pouco gordinho e velho demais para ser um DJ atrás de uma mesa com um laptop e fone de ouvidos, ao mesmo tempo que uma música horrível dos anos 80 começava a tocar.

(Trilha sonora - Música da festa ♪ September - Earth wind and fire)

–Droga. Que é isso? –Hanima resmungou.

–Parece os CDs que meus pais escutam de vez em quando –Kat disse, engolindo outro salgadinho e olhando pro “DJ”. Ela começou a balançar a cabeça no ritmo da música, mesmo sem querer, e Hanima a cutucou com a bolsa, fazendo uma careta como se aquilo fosse proibido.

Tudo bem, Hanima pensou. Aquele era apenas o começo. Louis tinha ajudado a organizar aquela festa. Foi ele próprio que entregou um folheto pra ela e pra Kat no gramado do colégio naquela sexta feira. Niall estava do lado dele, mas continuou entregando folhetos pra outras pessoas, fazendo de conta que não estava vendo Kat.

Como sempre.

Mas, por mais que ele sempre fizesse isso todas ás vezes, parecia que Kat nunca se acostumava. Logo, foi difícil convencer Kat a ir naquela festa. Mas o fato que todo mundo na escola começou a falar da festa ajudou um pouco e logo Kat concordou. Agora as duas estavam ali, e Hanima não via a hora de ver Zayn entrando na festa. Como será que ele ia estar?

–Você podia falar com o Niall essa noite. –Ela disse, observando a porta, como se Zayn fosse entrar lá naquele momento –Pelo menos se aproximar. As vezes ele deixa, ainda mais agora que vocês estão transando.

–Shiii! –Kat gemeu olhando pros lados. Não havia ninguém por perto, mas mesmo assim Kat não queria que Hanima falasse aquilo. –Ninguém pode saber.

–Por que? –Hanima suspirou –Por que ele pediu? Acho que você devia fazer suas regras também. –De repente, ela soava como uma menina muito experiente e madura, e não uma garota que nunca sequer tinha trocado duas palavras com o cara que ela gostava desde o primeiro ano. – Por exemplo, só fique com ele se ele conversar com você. Pelo menos aqui na festa, que problema tem?

–Eu não quero forçar ele a nada –Kat disse, meio desanimada, como se apenas repetisse uma desculpa que ela também não entendia muito bem.

–Você não está forçando nada –Hanima respondeu, impaciente –Você só está andando com os amigos dele. Ele não precisa dizer que vocês estão juntos ou que ele é seu namorado. Ele só precisa te tratar como alguém normal.

Kat ficou em silêncio, se sentindo triste. Não gostava muito quando Hanima ficava daquele jeito, as vezes um pouco grossa e direta demais. Hanima não entendia. Kat sabia que ela faria do mesmo jeito se no lugar de Kat e Niall fosse ela e Zayn. Mesmo assim aquilo machucava, deixava Kat se sentindo pior do que ela já costumava se sentir.

Um casal de alunos parou do lado delas, pegando um sanduiche e Kat deu espaço para eles, ao mesmo tempo que pensava que queria ir pro banheiro e se trancar lá até aquela festa acabar.

–Vamos lá fora esperar por eles. Aqui dentro está muito ruim.

Hanima nem deu tempo de Kat responder. Apenas agarrou sua mão e a puxou pela quadra, saindo ao ar livre, cruzando os corredores do lado de fora do colégio e indo até o gramado.

Parecia que naquele momento havia mais alunos lá fora que lá dentro. Eles estavam sentados ou de pé, fumando e ligando pros amigos, esperando alguém, ou só dando um tempo da música ruim que ainda tocava lá dentro.

Kat e Hanima ficaram num canto próximo a um poste de luz, de pé.

Os pés de Kat machucavam um pouco com aquele sapato, e lá fora batia um ventinho um pouco chato, mas ela sabia que não adiantava reclamar, Hanima não ia querer sair dali. Um grupo de garotos passou por ela, rindo, andando em direção a quadra. O movimento de alunos chegando começava a aumentar.

Kat olhou pro relógio e ainda faltavam quinze minutos pras onze.

Ela suspirou. Uma das garotas da classe delas se aproximou, junto com uma amiga.

–Ei Kat, Hanima. E ai, chegaram agora?

–Não. Só estamos dando um tempo aqui fora –Hanima respondeu –A música lá dentro está péssima.

A garota fez uma careta, olhando pra frente.

–Ué... falaram que ia ser uma festa legal.

–Bom, o Louis ainda não chegou. Pode ser que quando ele chegue melhore. –Hanima disse, como se fosse muito próxima de Louis. As duas garotas balançaram o ombro, como se não tivesse muito jeito. Mesmo que a festa fosse ruim, elas já estavam ali.

–Bom, nós vamos entrar de qualquer jeito. A gente se vê lá dentro.

Elas se despediram, e Kat e Hanima continuaram ali.

Outro grupo de garotos passou por elas, parecendo já meio bêbados (deviam ter bebido em casa, o que era uma boa ideia já que na festa tinha só suco), usando calça jeans e camisas. Kat olhou pra eles. Eles eram do time de futebol, e até que eram bem bonitinhos, mas como sempre, todos eles passaram por elas como se elas nem existissem.

–Eu acho que vou entrar também –Kat disse desanimada. –Talvez eles nem venham. Talvez eles tenham desistido e estejam em alguma festa melhor na cidade.

Hanima suspirou.

–Tudo bem. Vamos entrar que eu preciso ir no banheiro. Mas não vamos embora antes das onze e meia. Eles vão vir. –Ela disse, insistindo. Kat suspirou fundo, e então as duas se viraram e seguiram de novo em direção a quadra.

Cinco minutos depois, a limusine negra estacionou no meio fio do gramado do colégio.

(Trilha sonora - Música tema ♪ Kiss you - One Direction)

Every foi a primeira a descer, e ficou ajustando seu vestido pink berrante. Louis desceu depois dela, com seu ar prepotente de sempre, como se estivesse chegando na sua festa.

De certo modo, era sua festa. Niall desceu, carregando a mochila de couro preta. Zayn saiu em seguida, fazendo algumas garotas suspirarem quando ele parou no gramado ajeitando seu terno perto e dando a mão pra Ana, que saiu com seu vestido brilhante e cheio de tules coloridos.

Harry saiu depois, ajeitando seu cabelo daquele jeito que sempre fazia, jogando todo ele pro lado e matando as garotas do coração. E Liam por último, tão alto e tão charmoso em seu novo corte de cabelo e em sua pose atlética. E sorrindo, colocando uma coroa na cabeça.

E eles sabiam que quase todos olhavam pra eles, descendo da limusine, mas eles tentavam fazer de conta que não ligavam, cruzando o gramado. Mas eles não podiam evitar. Eles pareciam prontos pra dominar aquela festa.

E de alguma maneira, todo mundo sabia que agora sim, a festa ia começar.

–Por que eles estão usando roupas de baile?

Não tinha como não prestar atenção neles. Todos estavam arrumadinhos pra festa do colégio, mas ninguém estava usando ternos, coletes, vestidos e uma coroa.

–Adorei seu vestido! –Uma garota que Ana nunca tinha visto falou, e Ana se sentiu feliz, mesmo que a garota mal tenha olhado pro vestido de Ana e sim não tirou os olhos de Zayn.

Um grupo de garotas do time de vôlei se aproximou, cumprimentando Harry e Louis. Um pequeno grupo delas chegou em Liam, que pareceu gostar e começou a conversar com elas.

–Pelo visto os meninos vão aproveitar mais festa que a gente – Ana disse, quando Every se aproximou dela e lhe deu o braço. Every sorriu.

–Isso é o que você acha – Ela disse, olhando pros meninos do time de futebol, que sorriam pra ela. –De qualquer jeito – Ela se virou, olhando pra Ana e em seguida, olhando pra Liam, Zayn e Harry, os três absolutamente deliciosos em suas roupas chiques –Não tem nada mais sexy que um garoto de terno, vamos concordar.

Ana deu um sorriso.

–Mas desses não podemos provar. Vamos procurar algo que nos dê menos dor de cabeça. – E as duas saíram andando pela quadra, rindo.

Hanima saiu do banheiro e cruzou o pequeno gramado até a quadra. Quando entrou lá dentro, seu coração parou por um segundo.

Lá estavam eles. Eles tinham chego!

Harry estava de costas pra ela, um pouco longe, mas ela sabia que era ele pelo cabelo e pelas longas pernas. Liam estava do seu lado e Hanima podia apenas ver seu perfil e seu cabelo novo. Ele tinha ficado legal.

Mas por que raios eles estavam usando ternos?

E então seus olhos pararam em Zayn e ela sentiu como se pudesse explodir naquele momento. Ele estava absolutamente incrível.

Ah droga. Não era pra ele estar tão bonito, por que aquilo fazia o coração dela doer sabendo que ele nunca seria dela, que ela nunca poderia provar um pedacinho dele.

Ele tomava um copo de alguma coisa, e ela observou ele olhando pra alguma coisa adiante. Seguiu o olhar dele e então encontrou Every e Ana, próximas da mesa de comida.

Hanima não sabia como não tinha visto elas antes, já que elas estavam com as roupas mais berrantes do mundo, contrastando com qualquer outra garota dali. Elas usavam salto, estavam altas, maquiadas e penteadas e usando aqueles vestidos de baile de filme americano. Aquilo era uma espécie de piada?

Hanima olhou pra Kat, parada ao seu lado, e Kat parecia tão chocada quanto ela.

–Por que eles estão usando roupa de festa?

–Eu não tenho a mínima ideia.

Naquele momento, Louis e Niall surgiram perto da roda de Zayn e foi a vez do coração de Kat parar. Niall não vestia um terno. Nem ele, nem Louis, mas mesmo assim, eles pareciam mais arrumados que qualquer um ali. Niall usava uma blusa de botões cinza e calças pretas, e tinha o cabelo loiro arrumado em um topete alto, e Louis com aquela blusa de gola alta parecia alguém no controle. E muito, muito sexy.

Liam de repente colocou algo em sua cabeça, como uma daquelas coroas de “rei do baile”, e os garotos ficaram brincando. Niall pegou um pouco e colocou em sua cabeça.

Kat sorriu vendo aquilo. Ele parecia tão bobo, tão feliz e tão lindo.

Mas no mesmo instante, a tristeza apareceu. Ele podia estar feliz e lindo, mas ela não fazia parte daquilo. Ele nem olhava na direção dela. Olhou pra Every e Ana, usando vestidos lindos. Elas sim faziam parte daquilo. Niall então abraçou cada uma de um lado, enquanto falava algo para elas parecendo tão animado.

Kat não podia mais ficar olhando pra ele, apenas virou as costas e cruzou a quadra em direção a porta. Precisava tomar um ar e engolir o choro antes de borrar toda sua maquiagem.

–Isso por que eu tinha dito para a gente parecer normal –Louis disse, com um tom desaprovador, vendo Liam e Niall brincando com a coroa de rei do baile como se ela fosse uma bola de vôlei, a jogando no ar e depois a pegando.

–Nós estamos parecendo normais tia Tomlinson. –Harry disse, sorrindo, abraçando Louis pelos ombros. Dava pra perceber que todo mundo estava ainda meio alto.

–Eu preciso de mais uma daquelas – Niall disse, enfiando a mão nos bolsos e pegando uma pílula, enfiando depressa na boca como uma criança comendo bala escondido.

–Para de gastar nossa mercadoria! –Every disse brava –Ou não vamos ter nada pra vender!

Louis só balançou a cabeça, como se aquilo fosse demais pra ele e olhou no relógio. Já eram quase onze e meia.

–Zayn, anda, ou vamos nos atrasar pro plano. Liam, pare de brincar com esse negócio e vá lá conversar com os professores.

–Droga –Liam resmungou, passando a coroa para Every, e puxando o colete para baixo, como se quisesse parecer mais apresentável –Eles vão perceber que eu estou meio doido.

Every deu risada daquilo. Liam doido. A única pessoa que conseguia ficar doida sem uma gota de álcool.

–Anda, vai lá –Every o empurrou e bateu na sua bunda. Liam deu um pulinho, mas em seguida recuperou totalmente o controle e andou até os professores, decididamente.

–Vocês duas, andem logo pro banheiro. Niall, Harry, vocês também –Louis disse, espantando os quatro. –E você Zayn, vem comigo.

Ana e Every entraram no banheiro feminino. Estava um pouco cheio, com as garotas se espremendo na frente do espelho, conversando em grupinhos, algumas garotas fumando escondido. Uma delas tinha uma pequena garrafinha de vodca na bolsa e virava na boca, passando pras amigas.

–Licença –Every disse, atravessando o grupinho de garotas. Havia apenas quatro cabines e só uma estava aberta. Ana entrou lá e abriu o compartimento do papel higiênico. Era um daqueles rolos redondos e grandes de papel cinzento e barato. Ela passou pra Every, que andou até a janela e jogou de lá, escutando o barulho do rolo caindo na grama do lado de fora. Percebeu que as outras garotas olhavam pra elas, achando aquilo esquisito, mas não ligou.

–Ei –Ela se aproximou da garota com a garrafinha de vodca.

–Oi.–A garota disse, com uma carinha metida. Ótimo, de tantas pessoas naquele colégio ela tinha logo que falar com uma das fresquinhas?

–Nós temos algumas coisas mais divertidas aqui que vodca. –Every abriu a pequena bolsinha que carregava, e ela estava lotada de comprimidos. –São só sete libras.

–Legal! –As garotas disseram. Every teve a impressão que elas estavam comprando aquilo apenas para parecerem descoladas, mas não falou nada. Recolheu o dinheiro e escondeu no decote, virando pra Ana, que estava encostada na porta de um dos reservados com uma cara de tédio, esperando as garotas que estavam usando o banheiro saírem dali.

–Temos que aproveitar todas as oportunidades –Every disse, se encostando na parede também. Uma garota abriu uma das portas e as duas entraram ali, pegando mais um rolo de papel.

–Você devia estar me ajudando! –Harry resmungou, com a cara fechada, enquanto Niall estava de costas, fazendo xixi em um dos mictórios. Diferente do banheiro feminino, o banheiro masculino estava razoavelmente vazio.

Havia alguns garotos no mictório, e uma das portas do reservado estava fechada, mas tirando isso, Harry já tinha arrancado os rolos dos papéis das duas outras cabines e deixado num canto.

–Peraí. Eu preciso mijar! –Niall disse, se balançando e em seguida subindo o zíper da calça e arrumando a blusa, indo em direção a Harry. Harry suspirou e parou na frente do reservado que estava fechado. Sem paciência, socou a porta com força.

–Ei seu maricas, sai dai! –Ele gritou, o barulho da porta balançando ecoando pelo banheiro. Niall deu risada. Alguém lá dentro reclamou, mas Harry socou a porta de novo em resposta – Anda!

A porta se abriu e um garoto japonês magrinho de óculos saiu.

–Qual é cara?

–Anda, sai! –Harry o empurrou pro lado e entrou no reservado. O garoto saiu xingando, mas Harry não ligou. Apenas puxou o último rolo de papel e foi com Niall até a janela. A janela era um pouco alta, então Niall fez uma escadinha com as mãos e Harry subiu, jogando o primeiro rolo pela frestinha da janela. Escutou ele cair na grama com um barulho seco, e então desceu para pegar mais um, até que eles tinham jogado todos os rolos pela janela.

–Pronto –Ele disse, arrumando o paletó, enquanto Niall batia as mãos uma nas outras pra limpar.

–Acho que isso faz com que a gente mereça mais uma dessas –Niall tirou mais um comprimido do bolso e colocou na mão de Harry. Os dois foram até a pia, e colocaram o comprimido na boca ao mesmo tempo, como se tivessem sincronizados, e em seguida abriram a torneira e tomaram um pouco de agua.

–O que você acha que o Louis vai fazer com isso? –Niall disse, quando os dois caminhavam para a porta.

–Não sei, mas mal posso esperar pra ver –Harry deu um sorriso safado, passando o braço direito pelos ombros de Niall, e saindo do banheiro.

Louis observou Liam, conversando animadamente com o professor de História e com o professor de Matemática. O treinador do time de futebol parecia muito interessado em falar com a professora de Literatura e a professora de Química e Ciências Sociais, que eram mais velhas, estavam entretidas demais comendo um belo prato de salgadinhos que tinham conseguido juntar para ver qualquer coisa.

Louis olhou em volta, só checando se a barra estava limpa.

Seu olhar encontrou com o de Zayn do outro lado da quadra, que fez um aceno pra ele com a cabeça como se falasse que tudo estava ok e ele podia seguir em diante.

Louis então se aproximou do cantinho dos professores e viu a poncheira com um líquido alaranjado. Só de chegar perto podia sentir o cheiro de álcool. Só os professores para achar que ninguém notava, aquilo não enganava ninguém.

Dando antes mais uma olhada em volta, Louis pegou o vidrinho do bolso e despejou inteiro dentro da poncheira. Em seguida, pegou outro e fez a mesma coisa. Nem se preocupou em misturar, só olhou de novo em volta e saiu dali, sem que ninguém nem percebesse.

Olhou pra Zayn ao longe e fez um sinal positivo.

Zayn sorriu. Eles pareciam a porcaria de um grupo secreto ou coisa assim. Aquilo era muito legal. Zayn então foi fazer sua parte no plano. Se aproximou da cabine do DJ, que devia ser um conhecido de algum dos professores, já que tinha a mesma idade deles e tocava músicas que ele devia escutar quando tinha a idade de Zayn, ou seja, no século passado.

Mas Zayn sabia que, se ele era DJ, o cara devia se sentir jovem e não ia negar um pequeno presente e uma chance de parecer “maneiro”.

–Ei –Zayn disse, se aproximando e tocando no ombro do DJ –Tudo bem? Meu nome é Zayn.

–Oi Zayn. Mark –Ele disse, daquele jeito, como se fosse tão descolado quanto Zayn. Zayn sentiu vontade de dar um belo de um soco naquela cara gorducha pra mostrar quem era descolado ali, mas se lembrou que em alguns minutos aquele cara estaria num banheiro, com a maior dor de barriga do mundo nenhum papel higiênico por perto e então sorriu por dentro.

–E ai Mark. Bem maneira a festa né? –Zayn olhou para a quadra, onde apenas alguns grupos de alunos dançavam ao som de uma música dos anos 80. O resto estava apenas em rodinhas, conversando e parecendo entediados. Mal sabiam eles que em meia hora, aquela festa ia mudar totalmente.

–Super. –O DJ respondeu, balançando os ombros ao som da música.

–Escuta Mark, você é um cara legal, então se eu te der algo você promete que não vai contar pros meus professores?

Lógico que ele diria que não. Ele nunca negaria uma chance de mostrar que ele era jovem e descolado, ainda mais perto de Zayn, que era o exemplo clássico de alguém jovem e muito, muito descolado. Zayn então abriu o terno e mostrou uma daquelas garrafinhas de aço de bebida e fez um sinal com o dedo sobre os lábios, pra Mark não falar nada.

–Opa –Mark fez uma cara de malandrão.

–Você merece –Zayn deu um sorriso e bateu em suas costas, depois que Mark pegou a garrafinha em suas mãos. –Continua ai tocando! Tá muito bom!

–Valeu cara! Se quiser pedir alguma coisa, eu te dou uma colher de chá! –Mark disse, com um sorriso bobo, acenando pra Zayn, que agora já atravessava a quadra em direção a Louis.

Louis deu um sorriso quando viu Mark se abaixar e tomar um pouquinho da garrafinha ao longe, achando que ninguém estava vendo. E era ainda melhor saber que, o que ele achava que era só vodca na verdade tinha um ingrediente a mais.

–Então ele caiu? –Louis perguntou, com um sorriso orgulhoso no rosto, assim que Zayn se aproximou.

Zayn se virou pra trás e olhou pra Mark, que agora olhava para o computador e se balançava ao som da música como se fosse o melhor DJ do mundo.

E nada irritava mais Zayn que um DJ ruim.

–Como um patinho.

–Ótimo. Agora vamos para a outra parte do plano.

E ainda olhando pros lados, Zayn e Louis atravessaram a quadra em direção ao lado de fora.

–Ei –Every pegou a mão de Liam. Liam pareceu assustado. Estava tão entretido falando com os professores que nem lembrou que aquilo era apenas parte de um plano. Na verdade, aquelas pílulas estavam fazendo qualquer coisa parecer maravilhosa e empolgante, até ficar conversando com o professor de História parecia imperdível. –Posso falar com você um instante?

–Claro –Ele sorriu. –Bom, depois nos falamos Sr. Versh. –Liam, como sempre, educado, apertou a mão do professor e se distanciou, com Every grudada em seu braço.

–Que foi? –Ele disse, quando eles se afastaram.

–Quando você fica alto você fica muito falante –Ela disse, sorrindo.

–Eu só estava fazendo minha parte do plano... –Ele sorriu também, deixando Every o levar em direção ao resto dos amigos. Niall, Harry e Ana estavam ali, de pé, com uma cara meio desanimada.

De repente, a música mudou para outro sucesso dos anos 70, e Liam encolheu os ombros, como se aquele som machucasse.

(Trilha sonora - Música da festa ♪ Boogie Wonderland– Earth wind and fire)

–Cara, essa música fica pior a cada momento.

–É o efeito da bebida passando. –Harry resmungou, tomando um copo de suco.

–Será que vai demorar pra bebida chegar de vez nessa festa? –Niall disse, puxando o celular do bolso e vendo a hora.

–Eu espero que não. –Harry disse, entediado.

–Ei! –Três garotos se aproximaram da rodinha, interrompendo a conversa. –E ai caras? –Eles olharam primeiro para os garotos, seguindo o código de conduta masculina de não entrar no território de outro garoto assim, do nada. Dois deles eram da classe de Every, e Niall os conhecia. O outro garoto era um ano mais novo, e eles só conheciam de vista. Ana lembrava de ver eles de vez em quando no parque, andando de skate e de bicicleta.

Eles eram bonitinhos, de um jeito meio surfista que não era muito o estilo dela.

Um deles usava um boné de aba reta que fazia ele parecer um idiota na opinião de Harry.

–Ficamos sabendo que vocês tem umas coisas pra vender. –Um deles disse, com um brilho nos olhos, olhando para Ana e para Every.

–Sim! –Every respondeu sorrindo e abrindo a bolsa. Os garotos fizeram um som de empolgação, e rodearam as duas, deixando os garotos um pouco de lado. Harry apenas fechou a cara, e Liam trocou um olhar com Niall como quem diz “Eu sei bem o que esses caras querem....”

–São sete libras –Every disse, a voz meio macia. Liam sorriu, percebendo que ela estava flertando com um deles, o maiorzinho. Não achava que caras bombados e bronzeados faziam muito o tipo dela, mas de qualquer jeito, era bom ver Every se animando com alguém novamente.

–Vamos pegar três cada um –O mais novinho deles disse, enquanto o outro tirava a carteira do bolso e passava pra Every uma nota de cinquenta.

–Eu não tenho troco –Every disse, com uma caretinha.

–Ahhh! Como assim! –O maior deles disse, com uma falsa voz de indignação. –Podemos fazer o seguinte então –Ele diminuiu o tom de voz, olhando pra ela de perto, com uma pose malandra. Ele tinha lindas sardinhas no rosto queimado de sol. –Você dança uma música comigo e está tudo certo. –Ele enfiou os três comprimidos na boca de uma vez, e deu uma piscada pra ela.

Ela tinha gostado dele.

Adorava meninos de atitude.

Liam olhou pra Harry com os olhos arregalados e um sorriso de deboche tipo “Olha esses caras chegando aqui e pegando nossas garotas.”, mas Harry continuava com o rosto fechado, e agora ele olhava pra Ana, ao seu lado. Harry sabia o que viria em seguida, e conseguia sentir seu coração balançando dentro do peito.

Os outros dois garotos olharam pra Ana, e o de boné abriu a boca para começar a falar algo. Ana deu um sorriso nervoso, por que sabia que ele ia convidar ela pra dançar também, já que agora o outro garoto puxava Every para a pista pela mão.

Ela não ia negar, afinal, pelo menos ia se divertir por alguns minutos. Eles pareciam legais. Mas antes do garoto dizer qualquer coisa, Ana sentiu algo em sua cintura. Alguém tinha colocado a mão ali.

Ela olhou pra sua cintura e em seguida olhou pra Harry, agora próximo a ela. Mas Harry não olhava pra ela. E nem para o garoto a sua frente. Ele olhava pro chão, e depois olhou pro lado, com uma cara fechada, como se estivesse incomodado e puto da vida.

Como se ... estivesse com ciúmes?

O garoto olhou para a mão de Harry na cintura de Ana e fez uma caretinha, tipo “Puxa, fica pra próxima então”, coçando a nuca e depois ajustando o boné, meio sem jeito.

–Bom, a gente se vê –Ele disse, e depois fez um sinal com a cabeça para os meninos, que apenas Liam e Niall responderam (com apenas outro aceno de cabeça, já que eles também não tinham gostado muito daqueles garotos chegando com tanta folga no território deles) e Ana se sentiu mal por ele.

Por que Harry estava fazendo aquilo? Mas não disse nada, só viu o garoto se distanciar junto com o amigo, sumindo na quadra, passando por Every e o outro menino que dançavam de um jeito debochado e riam juntos.

Ana olhou pra Harry, cruzando os braços, mas ele não olhava pra ela. Agora ele não parecia mais bravo, ele só fazia uma cara de paisagem como se nada estivesse acontecendo, e tomava tranquilamente seu copo de suco. Sua mão portanto, ainda estava bem ali, na cintura de Ana.

Liam e Niall trocaram um olhar, mas não falaram nada.

–Harry...– Ela disse baixo, se aproximando dele. Mas antes que ela pudesse terminar a frase, Louis apareceu do lado deles. Parecia ter corrido até ali e estava meio sem fôlego.

–Anda! Anda! A bebida está chegando! Precisamos levar todo mundo pra rua. Anda! Me ajudem! –E ele nem parou ali, correu pro grupo seguinte de pessoas, tentando por todo mundo pra fora.

Harry tirou a mão da cintura de Ana no mesmo instante, mas Ana continuou olhando pra ele, esperando que ele dissesse algo, com os braços cruzados, um pouco nervosa com aquilo, mas agora ele já estava se distanciando. Como sempre.

–Ei, tá tudo bem? –Zayn de repente apareceu na frente dela e colocou a mão no exato lugar onde antes Harry estava tocando. Mas era diferente. Ana olhou pra Harry, que estava conversando com Liam a alguns passos deles, enquanto terminava de tomar o suco e jogava o copo em uma das lixeiras de reciclável espalhadas pela quadra, e em seguida sumia entre as pessoas, ajudando Louis a espalhar a notícia.

–Tudo, eu só... –Ela ainda não entendia o que tinha acabado de acontecer. Aquilo era tão típico de Harry. Aquelas coisas sem sentido que ele fazia e depois agia como se nada nunca tivesse acontecido. Zayn ficou olhando pra ela, mas ela não sabia como terminar aquela frase. –Esquece. Os professores já sumiram?

–Sim. Olha lá –Ele apontou com a cabeça pro cantinho onde estavam os professores. Ela viu uma das professoras, a de Química, com a mão na barriga e uma careta, se aproximar do DJ e falar qualquer coisa e depois sair, em direção aos banheiros do fundo.

O DJ também não parecia muito bem. Grossas gotas de suor escorriam por seu rosto, e de repente, ele saiu correndo, deixando a música tocando.

Zayn gargalhou ao lado de Ana, e aquilo fez Ana esquecer por um momento de Harry.

–Anda, senão vamos perder a melhor parte da festa. –Zayn agarrou a mão dela, e os dois correram se misturando na multidão de alunos que agora andava em direção a porta de saída.

Todos os alunos andavam pelo gramado, sorrindo, parecendo empolgados, com expectativa e os olhos brilhando, conversando animados, sem saber direito o que ia acontecer, sabendo apenas que agora que a festa ia começar.

Zayn ia puxando Ana pela mão, caminhando entre as pessoas.

Logo Niall apareceu do lado deles, correndo pelo gramado.

–UhU! Agora simmm! –Ele gritou, continuou correndo e sumiu entre as pessoas.

–Sou o rei do mundo! –De repente, Liam também apareceu ali, usando sua coroa e correndo. Zayn deu risada dele e soltou a mão de Ana, correndo atrás de Liam. Every apareceu ao lado de Ana e passou seu braço pelo dela.

–Isso vai ser a melhor coisa que vocês terão visto em anos –Louis surgiu, com Harry ao seu lado, os dois caminhando depressa pelo gramado com os outros alunos em volta, pela escuridão da noite.

Ana olhou pra Harry, que tinha as mãos no bolso e caminhava olhando pra baixo.

–Every – Ela puxou a mão da amiga e falou baixo. Tinha que contar aquilo pra alguém. Talvez alguém entendesse. –O Harry....

Mas antes que Ana pudesse terminar, o som de uma buzina de caminhão cortou o silêncio da noite, fazendo todos alunos soltarem um grito de empolgação. Every desviou a atenção de Ana pra olhar para três caminhões iluminados descendo a pequena ruazinha de frente ao colégio. Um deles era enorme e comprido, e outros dois eram pequenos, como caminhões de sorvete.

–Mas o que é isso? –Every disse, franzindo o olhar. Harry e Louis deram um enorme sorriso, um cutucando o outro como se não tivessem acreditando naquilo, e então começaram a correr pelo gramado.

–Anda, vamos! –Liam gritou, já mais a frente, olhando pras duas.

Os dois pequenos caminhões subiram no gramado, enquanto o caminhão maior ficou ali, estacionado a meio fio.

O motorista desceu junto com dois homens de macacão, e eles ajudaram a abrir a lateral esquerda do caminhão maior, que subiu como a porta de uma loja, revelando o que parecia o palco de um show montado dentro do caminhão, com instrumentos reluzindo.

E ali estava Max, de pé no meio do palco, sorrindo, com um terno todo branco e uma pequena gravata borboleta preta.

–E ai pessoal da Roundview!? –Ele gritou, segurando um megafone.

Every arregalou os olhos e olhou pra Ana.

–O que ele está fazendo? –Ana perguntou com uma cara assustada, praticamente gritando por que todos outros alunos gritavam empolgados a sua volta.

–Eu não tenho a mínima ideia...–Every sussurrou, e virou seu rosto, vendo Louis, a poucos metros dela, olhando pra Max e rindo, batendo palmas, junto com Harry, que estava tão animado como uma criança em uma loja de brinquedos.

–Alguém me disse que vocês queriam se divertir... –Max disse, sua voz aveludada e sua pose irresistível em cima do caminhão. –Então eu vim ajudar.

De repente, os pequenos caminhõezinhos de sorvete no gramado se ascenderam, iluminados por uma luz azul. A janelinha lateral se abriu e ali estavam os amigos do colégio de Max, atrás de um balcão, em algo que parecia um bar improvisado com dezenas de garrafas de vodca azuladas. Era exatamente como um caminhão de sorvetes, mas definitivamente, não tão inocente como um.

–Quem quer vodca de graça?? –Max gritou, enquanto todos alunos se amontoavam próximos aos caminhõezinhos, estendendo as mãos e pegando os copos azuis que iam sendo passados de mão em mão.

Max viu Every de cima do caminhão e acenou.

–Anda, vamos mais perto do palco, eu quero ver isso. –Ana disse, pegando a mão dela e abrindo espaço entre as pessoas. Liam, Zayn e Niall já estavam ali, quase na frente do palco improvisado. Aquilo parecia mesmo um show prestes a começar, por que vários alunos se amontoavam ali na frente. Não estava apertado, mas estava bem cheio.

–Que loucura é essa? –Zayn perguntou, com a cara mais feliz do mundo, olhando pra Ana enquanto algumas pessoas de preto andavam pelo palco improvisado testando os instrumentos que estavam ali. Uma bateria brilhava no centro, em cima de um tapete de veludo vinho e duas guitarras estavam do seu lado.

–Eu não sei! Achei que você soubesse.

–Ninguém sabia –Louis de repente apareceu entre Ana e Zayn, passando cada braço pelo ombro deles. –Só eu. E o Max. –Ele olhou pro palco, e Max estava olhando pra ele. Ele deu um sorriso discreto, mas Louis virou o rosto, meio incomodado.

–Vai me dizer que uma banda vai se apresentar ai? –Niall perguntou, se espremendo ao lado de Zayn.

–Você não está vendo os instrumentos?

–Quem é? Quem é? –Harry perguntou, atrás de Louis.

–Vocês vão ver... só posso dizer que vai ser matador.

(Trilha sonora - Música Show ♪ A matter of Time - The Killers)

Eles observaram uma movimentação dentro do palco. Alguns caras usando roupas tão chique quanto as deles apareceram, se movimentando pelo palco, assumindo a posição dos instrumentos enquanto os roadies faziam os últimos ajustes.

E de repente, as luzes do caminhão se ascenderam em violeta, iluminando todo o gramado. O primeiro acorde de uma guitarra rasgou o silêncio da noite e fez todos no gramado gritarem e o som se misturar, ecoando em todo espaço.

–Boa noite, somos o The Killers e essa é nossa música. Esperamos que vocês se divirtam.

As primeiras notas de “A Metter of Time” começaram a soar com potencia nos auto falantes do caminhão.

(Trilha sonora - Música Show ♪ Smile Like you Mean It - The Killers)

A segunda música foi Smile Like You Mean it e ao final dela Every sentia suas costas suando, as pessoas ao seu lado cada vez mais apertadas.

–Ei, sobe aqui! –Max disse, de cima do carro, estendendo a mão pra ela. Every estendeu a mão pro irmão, que a puxou pra cima. Every olhou pra multidão lá de cima e localizou Ana, ainda apertada entre Zayn e Niall.

Ela então estendeu a mão pra Ana, e Max a ajudou a subir.

–Ei, eu também quero! –Niall disse. Ana olhou pra baixo, e seu olhar foi direto em Harry, que também estava apertadinho no meio das pessoas, um pouco atrás de Zayn e Niall. Quando olhou pro lado, Every já estava ajudando Liam e Niall era o próximo.

–Anda, aqui é pra meninos bonitos também – Max disse sorrindo, se ajoelhando perto do palco pra ajudar também. Quando ele disse isso, ele olhou pra Louis, ali no meio, e estendeu a mão pra ele. Louis olhou pra mão de Max por um segundo e então, sem nenhuma expressão, virou pra Harry.

–Acho que ele está falando com você. Vou tomar uma vodca.

Harry estranhou, e olhou pra Max. Sorria como se você quisesse sorrir. Foi isso que Max fez, engoliu o orgulho e continuou ali, fazendo de conta que não tinha escutado nada, a mão estendida no ar, mas agora Louis já dava as costas e sumia entre as pessoas.

Ninguém queria sair de lá, mas Every se lembrou das pílulas. Eles precisavam aproveitar que todo mundo estava curtindo e procurando algo que fizesse tudo parecer ainda melhor. Só a vodca não era suficiente.

–Anda, temos que ir vender aqueles comprimidos –Every disse no ouvido de Ana. Ana pegou Zayn pela mão. Zayn chamou Niall, e eles se distanciaram, saindo pela porta de trás do caminhão e atravessando a multidão em direção a área mais calma e afastada do gramado. Um casal estava ali deitado, se amassando, outro grupo de amigos estava jogado na grama, parecendo ter tomado muitos copos de vodca.

Niall se abaixou no chão, abrindo a mochila.

–Droga, ainda tem bastante –Ele reclamou, vendo o saco lá dentro.

–Tudo bem, vamos vender tudo em um segundo, você vai ver.

–Bom, mas antes da gente começar, a gente podia dar uma recarregada né?? –Zayn disse, já tirando o terno e arregaçando as mangas da camisa até o cotovelo, com suor escorrendo em seu rosto.

–Nossa, bem que eu queria uma bebida agora. –Every reclamou, sentindo calor, passando as mãos pelo pescoço molhado.

–Já volto! –Zayn se virou e correu em direção ao pequeno caminhão de vodca, no mesmo instante que a banda começava a tocar “Somebody Told Me”.

–Nossa, essa festa está mesmo ótima – Ana sorriu, se apoiando em Every.

–Nem me fale. Agora nenhum colégio vai chamar a gente de babaca.

–E devemos tudo ao seu irmão – Ana sorriu, se abanando com as mãos. Every deu um sorriso amarelo, concordando por fora e descordando por dentro.

Zayn voltou, equilibrando quatro copos de plástico na mão. Cada um pegou um dos copos agradecendo. Every abriu sua bolsa e pegou um comprimido e se apoiou no ombro de Zayn, estendendo a pílula pra ele. Ele olhou pro comprimido entre os dedos de Every meio sem entender, e depois colocou a língua pra fora. Every sorriu e colocou o comprimido na boca de Zayn, que em seguida levou o copo aos lábios, fazendo a pílula e a vodca descerem pela sua garganta. Assim que engoliu a pílula, enfiou a mão no bolso da sua calça e pegou uma também, retribuindo o favor e colocando o comprimido na boca de Every.

–Ei, eu também quero! –Niall disse, sorrindo, e colocando a língua pra fora. Every foi até ele, parecendo que ia colocar a pílula na sua boca mas no último minuto jogou a pílula na sua própria boca e deu uma risada malvada pra Niall. Niall pulou em cima dela, que ficou gritando e rindo ao mesmo tempo, enquanto eles corriam pelo gramado.

–E você?

Ana estava tão entretida observando Every e Niall que se desligou um pouco. E agora sentia o corpo quente de Zayn bem perto do dela, de frente para ela. Ele estava tão próximo que ela podia sentir sua respiração. Ela olhou pra mão dele, e viu um comprimido ali.

–Abre a boca. –Ele disse, de um jeito mandão e sexy. Ela não disse nada, apenas olhou pra ele e abriu a boca obediente. E então Zayn colocou a pílula bem ali, no meio de sua língua e sorriu. Ana fechou a boca e engoliu a seco.

–Ei! Vocês dois! –A voz de Louis gritou ali perto.

Ana e Zayn viraram o rosto, vendo Louis aparecer entre as pessoas. Sem perceber, os dois deram um passo pra trás, se distanciando. Liam e Harry vinham o seguindo, um pouco mais pra trás, totalmente suados e acabados, e mesmo assim, mais bonitos que qualquer menino dali.

–Onde vocês estão indo?

–Vamos vender os comprimidos –Zayn disse, apontando pra Every e Niall que ainda estavam pulando um em cima do outro ali perto.

–Não. Não agora. Vocês esqueceram que temos uma parte do plano ainda pra cumprir?

Every parou e olhou pra Louis, parecendo séria e totalmente sóbria de repente.

–Louis, vender esses comprimidos é importante.

–Eu sei –Ele fez aquela voz de quem na verdade, não ligava pra isso –Mas a festa ainda tá só começando –Ele sorriu. –Nós vamos, cumprimos nosso plano e ainda voltamos pra pegar o final da banda e vender esses comprimidos pra todo mundo. Prometo.

Every olhou pra Niall ao seu lado, que deu os ombros, colocando a mochila nas costas.

–Então vamos! –Louis disse empolgado, passando por eles como se fosse o capitão, e andando de volta em direção a quadra coberta onde a festa devia ter acontecido.

Os outros apenas o seguiram, sem dizer muita coisa.

Niall ficou um pouco pra trás por que se sentiu meio tonto de repente.

Tinha pego uma das fortes, e agora parecia que pisava em marshmellow. Não devia ter ficado pulando e correndo com Every, mas deu uma risada, sentindo sua boca e sua língua formigar. Aquilo era meio engraçado.

Quando percebeu, os amigos já estavam longe, meio fora de foco.

–Me esperem! –Ele começou a correr, mas esbarrou em alguém ali no gramado. Quando olhou, deu de cara com a Kat. –Ei... –Ele disse, sorrindo.

Kat olhou pra Hanima que estava do seu lado, estranhando. Niall parecia meio altinho. Ela ficou imaginando o que ele já tinha tomado pra estar assim.

–Oi Niall –Kat respondeu, com sua voz doce. –Você está bem?

–Sim. Sim! Festa legal né? –Ele sorriu, forçando um pouco os olhos que ainda estavam fora de foco. De repente, eram duas Kats e depois voltava a ser uma Kat só.

–É. Mas a gente está indo embora. –Kat disse, olhando pra Hanima.

–Ahnn... –Niall fez uma cara triste. –A gente acabou de se encontrar!

Kat olhou pra Hanima sem entender. Por que Niall estava falando com ela, ali, no meio do gramado? Bom, o jeito que ele não conseguia manter o corpo muito reto e a maneira como seus olhos estavam pequenos já denunciava parte do motivo.

De repente, Niall se aproximou dela e passou a mão em seu cabelo, aproximando os lábios de sua orelha.

–Vamos ficar um pouco antes de você ir embora? Eu conheço um lugar.

O problema era que Kat nunca, nunca conseguia resistir a Niall. Mesmo sabendo que ele estava bêbado, que aquilo não significava muito pra ele, ela deixou ele segurar sua mão e a arrastar pelo gramado para uma parte distante. Onde ninguém os veria.

Ele não dizia nada, só a puxava pela mão, atravessando a lateral do colégio, passando pela quadra coberta que agora estava vazia, mas com as luzes ainda piscando e a música brega ainda tocando, até chegarem na quadra de trás, onde haviam as partidas de futebol ao ar livre.

Tudo ali estava escuro, mas Niall sabia pra onde estava indo. Os dois cruzaram a quadra vazia e depois subiram as arquibancadas de cimento, cruzando a pista de atletismo até o vestiário, construído em cima do pequeno morrinho que circulava a quadra. Ninguém os acharia ali, nem em um milhão de anos. Era praticamente um banheiro desativado.

–Pronto. –Niall disse, mal esperando pra colocar as mãos em Kat. Ele deixou a mochila no canto e a empurrou pra um dos reservados, fechando a porta com a boca grudada na dela, a mão já deslizando pela sua cintura e apertando sua bunda.

Kat mal conseguia respirar quando ele a apertou contra a parede fria do vestiário.

Ela só conseguiu gemer, enquanto ele beijava seu pescoço e apertava o corpo dele contra o dela com força.

–Onde estamos indo? –Every reclamou, enquanto eles passavam pela quadra ao ar livre. Mas Louis não dizia nada. Ela olhou pra Liam, e ele só deu de ombros, continuando a andar com os outros e se afastando cada vez mais do prédio principal até chegarem no depósito nos fundos do colégio.

–Zayn, você está com a chave? –Louis disse baixo, como se alguém fosse escutar eles ali naquele lugar deserto e afastado. Zayn tirou uma chave do bolso, lhe entregando.

Louis olhou em volta e enfiou a chave na porta de madeira enorme do galpão. A chave girou com um barulho seco, e Louis puxou a porta com força, que abriu com um rangido. Lá dentro estava todo depósito da escola em material de limpeza e coisa do tipo. Desinfetantes, panos, vassouras e, encostado na parede, pilhas e pilhas de enormes embalagens de papel higiênico.

Louis tirou uma lanterna do bolso e iluminou o local.

–Você é o MacGyver ou coisa do tipo? –Liam reclamou, vendo Louis entrar no galpão escuro – Se eu te pedir uma furadeira você teria ai?

Louis olhou pra trás com uma careta.

–Pra que você ia querer uma furadeira?

Liam só deu os ombros.

–Esse lugar deve estar cheio de bichos Louis –Every reclamou, olhando pro chão escuro a sua volta. Zayn passou os dedos na perna dela devagar fazendo ela dar um pulo, e começou a rir. –Isso não tem graça! –Every reclamou, dando alguns passos pra trás e ficando perto da porta, onde era mais iluminado e seguro.

–Anda, me ajudem! –Louis resmungou, perto da enorme prateleira. Liam e Zayn se aproximaram e Zayn ficou segurando a lanterna, enquanto Liam dava suporte para Louis ir subindo pela prateleira, se apoiando nas vigas.

–Se você cair eu vou dar risada –Harry disse, mas Louis fez que nem ligou e continuou subindo, até a última prateleira. Então ele começou a empurrar as embalagens de papel, que caíram com um estrondo no chão.

–Ei! –Zayn se encolheu, desviando. –Isso pode machucar!

–Então sai de baixo sua besta! –Louis reclamou, fazendo força e empurrando outra embalagem.

–Olha, não é por nada não, mas pra que a gente vai precisar de tanto papel higiênico? –Harry resmungou, observando os pacotes gigantes caindo no chão.

Louis parou um pouco, ofegante, e então olhou pra Harry lá embaixo, que agora se sentava numa pilha de colchonetes de ginástica.

–Bom. Eu pensei que já que teríamos que tirar todo papel higiênico dos banheiros para manter os professores presos lá por um tempo, podíamos fazer algo a mais. Ai fiquei pensando que, quando eles saírem dos banheiros vai ser legal se eles puderem ver onde estava todo o papel higiênico que eles precisavam.

Todos lá embaixo fizeram aquele silêncio de sempre, como se estivessem esperando Louis concluir.

–Basicamente, acho que temos que cobrir toda a quadra com papel higiênico. Tudo. Cada pedacinho, até ser impossível andar por lá sem ficar todo enrolado.

Zayn e Liam sorriram um pro outro, gostando da ideia.

–Imagina a cara dos professores quando eles saírem e verem isso. –Zayn falou, ainda rindo.

–Assim quem sabe eles entendam de uma vez por todas que a festa deles é uma m...droga. –Louis completou, voltando a se virar e derrubar mais um pacote de papel no chão.

–Mas como vamos levar tudo isso pra lá? –Liam perguntou, olhando pra pilha de embalagens que estava se formando no chão.

–Está vendo aquilo? –Louis apontou pra uma espécie de carrinho, que na verdade era um tampão de metal com quatro rodas e uma alça gigante pra se puxar, onde geralmente eles transportavam as caixas de produto de limpeza e outras coisas pro galpão.

–Como você sabe de tudo isso Louis? –Every perguntou, enquanto Ana a ajudava a começar a tirar as caixas e outras coisas que estavam em cima do carrinho.

–Vamos dizer que já vim aqui antes. –Louis disse, com sua voz cheia de segundas intenções –Ah, e se eu fosse você Harry, não ficava sentado nesses colchonetes de ginástica.

Harry não entendeu na hora, mas então Every fez uma careta e um som de nojo olhando pra ele e ele se tocou, dando um pulo, se levantando e batendo as mãos na calça como se aquilo fosse ajudar em algo.

Ana deu uma risadinha dele.

Liam subiu nas estantes pra ajudar Louis, e Zayn, Ana e Every iam empilhando as embalagens em cima do carrinho, enquanto Harry ficou meio que na porta checando se tudo estava bem.

Quando Louis desceu, ele ajudou os outros três a terminar de empilhar todas embalagens de papel higiênico, Liam segurou a alça do carrinho e começou a puxar, enquanto Louis fechava o depósito como se ninguém nunca tivesse passado por ali.

(Trilha sonora - Música tema ♪ Kiss you - One Direction)

Então Liam puxou o carrinho, e todos entraram na quadra coberta, onde, supostamente, a festa devia estar acontecendo mas que estava completamente deserta. Todos alunos estavam lá fora, no gramado do colégio, curtindo o show.

A quadra estava toda iluminada com uma luz rosada, e os canhões de luz vermelho, verde e azul ainda rodavam, mesmo na pista vazia. A música porém, já tinha parado, e tudo que eles escutavam era o som do show lá fora, ecoando por todas paredes.

Era diferente estar ali de noite, no silêncio, escutando ainda o The Killers tocando ao longe. Era uma sensação estranha, como estar no controle. A deliciosa sensação de estar fazendo algo errado que ninguém sabe que você está fazendo.

Por um momento todos eles ficaram ali parados, olhando pra quadra como se fosse um campo a ser conquistado. E então, um olhou pro outro e sorriu. Louis pegou um dos rolos de papel no carrinho, segurando ele como uma bola de beisebol e o jogou pelo ar. O rolo cruzou o ar, deixando um rastro de papel para trás, como uma serpentina, até cair lá na frente.

–Yeah! –Harry sorriu e bateu a mão de Louis no ar.

–O que vocês estão esperando? Essa quadra não vai se encher de papel sozinha! –Louis foi até o carrinho e pegou mais dois rolos e os jogou pelo ar. Harry fez igual, e logo todos eles estavam pegando os rolos no carrinho e jogando pelo ar enquanto davam risada.

E cada vez mais rápido eles pegavam os rolos no carrinho, jogando eles pro alto e cobrindo toda a quadra de papel higiênico.

Louis cutucou Zayn e com um aceno de cabeça apontou para o lugar onde o DJ estava. Zayn entendeu o recado e os dois correram até lá, e começaram a jogar o máximo de papel em cima da pequena bancada do DJ. Zayn dava tanta risada que ele tinha que parar para respirar um pouco.

Enquanto isso, Harry estava enrolando Liam em um bolo de papel e Liam fazia sons imitando algo entre um zumbi e uma múmia. Ana e Every faziam dos rolos de papel bolas de boliche e deixavam elas deslizarem pela quadra, vendo qual delas ia mais longe.

Logo, aquilo parecia um mar de papel cinzento.

Liam dava risada, enquanto andava e seus pés se enroscavam em bolos e bolos de papel. Harry também não conseguia parar de rir, observando Liam cambalear e quase cair ao andar.

Every ficou só observando Liam e não conseguiu se controlar também. Quando ele caiu de vez no chão, a risada de Every e Harry ecoaram pela quadra vazia. Every foi até ele rindo para ajuda-lo, mas ele ficou lá, deitado no chão, resmungando que aquilo não tinha graça. Every mal conseguia estender a mão para ajudar ele.

Ana ficou a distância, observando Every e Harry, que agora se aproximava, brincando com Liam estendido no chão. Olhou pro lado e viu Louis e Zayn a alguns metros, jogando papel para frente com força como se fosse uma competição para ver quem conseguia jogar mais longe. Ana então mirou em Zayn, que estava de costas pra ela, e jogou um rolo de papel em sua direção.

O rolo voou e caiu bem na cabeça de Zayn.

Louis deu risada, e Zayn se virou pra ver Ana rindo.

–Ahhhhh...agora você vai ver uma coisa! –Zayn nem piscou, e começou a correr de Ana. Ana no mesmo instante se virou, e começou a correr pela quadra.

Ela sentia ele correndo atrás dela, e ela corria depressa, rindo. Droga, ela não devia ter matado tantas aulas de educação física, por que suas pernas começavam a doer e seu coração batia depressa, deixando sua boca seca.

Ela olhava pra trás e Zayn estava próximo, tão próximo que ele estendeu a mão e quase a pegou, mas ela desviou no último segundo, indo pra outro lado. Ela parou, encarando ele, sorrindo, e ele ali, parado, pronto para pegar ela, só esperando ela correr para algum dos lados. Ela só sentia o coração batendo depressa por causa do esforço físico e tinha que respirar fundo, tentando parar de sorrir.

Pensou que aquelas pílulas eram mesmo muito boas, por que todos eles não conseguiam parar de rir. Era como se não houvesse dia melhor. E Zayn estava ali, olhando pra ela e sorrindo, como ele raramente fazia, os olhos brilhando, os braços abertos e a cara de desafio.

Ana correu para a esquerda, mas Zayn a pegou com facilidade.

Ela deu um gritinho e ele a ergueu do chão e a soltou em seguida. Droga, o coração dela estava mesmo acelerado. O que tinham naquelas pílulas? Seu rosto queimava, e ela respirava pela boca, tentando recuperar o ar. Talvez nem um segundo se passou. Ela apenas deu um passo para frente, e Zayn a segurou pelo braço e a puxou com força de volta, com um sorriso no rosto.
O corpo dela foi em direção ao dele, agora de frente. Ela ainda sorria, seu coração ainda batia por todo seu corpo. E de repente, não era só o coração dela que batia. O de Zayn estava tão acelerado quanto o dela, ela podia sentir por que sua mão estava bem ali entre o corpo deles, pousada no peito de Zayn, e ela se deu conta que agora seu corpo todo tocava o corpo dele, e ela também sentia a mão dele, bem ali, na curva de sua cintura, como se ele não fosse soltar ela tão cedo.

Ele tinha o corpo quente como o dela, o rosto vermelho de correr e aquele sorriso gigante no rosto, como se tivesse tendo o melhor momento da sua vida. O sorriso dele era tão bonito. E o cabelo dele, negro e bagunçado. E os olhos dele. Ele tinha os olhos mais profundos que Ana já tinha visto.

Um brilho passou bem ali, naquele instante.

E mesmo sem ter noção de nada, por um segundo ela ficou sóbria. Ele estava perto. Perto demais.

Ela podia sentir a respiração dele, pesada, e ele ainda sorria. Mas Ana não podia mais sorrir, por que agora ela só conseguia sentir o corpo dele e sem pensar, Ana desviou o olhar do dele por um segundo, e seus olhos foram parar na boca dele. Assustada, Ana levantou os olhos de novo, mas agora o sorriso de Zayn também desaparecia lentamente, e seus olhos também se desgrudaram do dela por um instante, passeando por sua boca. Ele tinha a mesma expressão de Ana.

Os olhar dos dois se encontrou por alguns segundos.

E sem dizer nada, Zayn fechou seus olhos.

E sem pensar, Ana também fechou os seus em um impulso. As mãos de Zayn a apertaram mais pra perto.

–Opa! –A voz de Every soou, alta demais e de repente Ana estava sendo separada de Zayn e Every estava ali, entre os dois –Essa festa está boa demais para uma besteira não é mesmo?

Ana sentiu uma tonteira. O estômago reclamou da bebida, das pílulas e do esforço físico e... peraí, ela tinha quase beijado Zayn?

–Every, o que você está fazendo? –Zayn fez uma voz reclamona e tentou se desvencilhar de Every, indo em direção a Ana e a pegando pela mão. – Deixa eu conversar com a Ana.

–Na na na. Vocês não vão conversar coisa nenhuma! –Every puxou Ana de volta pro lado dela e colocou uma mão no peito de Zayn, o mantendo distante. –Senhor Zayn, escute aqui, olhe bem pra mim. – Zayn parou com um ar impaciente. – Se amanhã de manhã, quando todo mundo estiver bem sóbrio e consciente de seus atos vocês ainda quiserem fazer isso que vocês iam fazer, eu vou dar o maior apoio. Mas hoje, hoje não. Hoje você fica bem ai dona Ana, e você vem comigo – Every puxou Zayn.

–Eu não ia fazer nada! –Ana escutou Zayn reclamando, enquanto Every continuava o empurrando pelas costas. Ele olhou pra trás, na direção de Ana com uma cara que dizia “Não liga pra ela, eu já volto” e ela ficou vendo Every arrastar Zayn pela quadra, que agora parecia uma pequena piscina de papel higiênico.

Só então olhou em volta e percebeu que não havia mais ninguém ali.

Harry jogava o rolo de papel para Liam, que corria e o agarrava pelo ar como se fosse uma bola de futebol americano, e saia correndo, jogando de volta para Harry, que tentava a pegar sem deixar cair. Every já tinha se afastado e agora ria e fazia uma espécie de peruca em Louis, que fazia uma careta e rasgava o papel, levando uma bronca de Every.

Harry viu Ana e Zayn correndo pela quadra, brincando de um pegar o outro ou qualquer coisa do tipo. Ela não conseguia parar de sorrir e Harry não conseguia tirar os olhos dela. Algo não estava certo. Ela sempre estava distante, e todas as vezes que ela parecia estar se divertindo, nunca era do lado de Harry.

–Harry, pega mais um pouco de papel pra gente. –Liam fez com que ele desviasse o olhar de Ana e Zayn. Harry então andou até o carrinho, que agora estava praticamente vazio. Every e Louis estavam ali perto, e pareciam entretidos em uma discussão sobre um dos rolos que parecia estar com a ponta grudada no papel.

Harry se abaixou e pegou quatro rolos de uma só vez entre os dedos. Quando se virou, indo em direção a Liam e levantou os olhos vendo Zayn e Ana novamente na quadra, seu coração parou.

Zayn abraçava Ana pela cintura, a mantendo bem perto, e ela sorria pra ele.

Do mesmo jeito que parou, de repente era como se as batidas de seu coração ecoassem por toda a quadra. E ele sentiu como se tivesse entrado num elevador e de repente ele despencasse.

Os rostos de Ana e de Zayn se aproximaram e Harry chegou a ver os dois fecharem os olhos, até que Every se enfiou no meio deles no último segundo.

Era como um acidente, acontecendo bem na sua frente.

Seu corpo não respondia, e ele não podia acreditar. Foi como se tudo a sua volta parasse, deixasse de existir. Ele sentia suas mãos suadas, molhando os papéis que ele segurava em suas mãos.

Ele então pode ver Liam virando e olhando pra ele. Liam também parecia meio assustado, sem saber bem o que fazer. Tudo acontecia tão rápido, mas ao mesmo tempo tudo parecia estar em câmera lenta, fora de foco, sem som. Ele pode ver Liam dar um passo em sua direção. Não. Ele não queria ninguém falando com ele. Ele queria sair dali.

Tudo de repente ficou pequeno e abafado demais.

Sem perceber, ele deixou os rolos caírem pelo chão. No mesmo instante, antes que Liam o consolasse ou falasse qualquer coisa, ele se virou e começou a correr.

–Não...Harry! –Ele escutou a voz de Liam e sentiu ele tentar segurar seu braço, mas era tarde. Agora Harry corria. Ele atravessou a entrada da quadra, e correu pelo gramado, sem saber direito para onde estava indo.

Ele sentia que ia vomitar.

Seu estômago dava voltas e voltas, e então ele começou a correr em direção ao banheiro do fundo da quadra. Mas não ia dar tempo. Ele então correu pela lateral, encostou a mão na parede, dobrando o corpo, e vomitou na grama.

–Ih, olha o cara, tá mal.

Harry continuou ali, por alguns minutos, tentando respirar fundo, sentindo sua vista escura, sentindo sua barriga doer, sentindo sua cabeça explodir.

Então levantou a cabeça e viu três garotos do colégio, daqueles que viviam se vestindo de preto e tinham os cabelos compridos e ensebados, ali sentados sobre uma muretinha de concreto, dividindo algo que não era um cigarro normal, olhando pra ele com uma careta.

Deixa comigo – Louis passou por Liam correndo assim que Harry cruzou a entrada da quadra. Ele se virou, sem parar de correr. –Ajuda a Every e depois a gente se encontra –E seguiu pelo mesmo caminho que Harry tinha ido.

Liam parou de correr, sem saber o que fazer. Se virou e viu Every conversando com Zayn e Ana. O que tinha sido aquilo? Liam passou a mão na cabeça, se sentindo um pouco tonto também. Talvez ele precisasse de um pouco de ar.

Correu até a entrada da quadra e respirou fundo o ar gelado da noite lá fora.

De repente, escutou a voz de Zayn se aproximando.

–Every, me deixa em paz. Eu vou conversar com a Ana, só isso.

–Nada disso. Você vai é pra sua casa. Amanhã vocês conversam.

Every se virou e viu Liam ali parado na porta.

–Vou por ele num taxi. Fica ai e cuida da Ana –Ela disse, já se afastando.

Liam apenas concordou com a cabeça.

Louis viu Harry correr e sumir perto do banheiro do final da quadra.

Ele devia ter se enfiado lá dentro.

Louis correu até lá e entrou no banheiro vazio e escuro.

–Harry? – Sua voz ecoou lá dentro –Harry, você tá ai? Eu espero que você não esteja chorando, por que se você estiver chorando eu vou te encher de porrada. –Louis resmungou, indo em direção a única porta do reservado que estava fechada.

Ele empurrou a porta com força, e ela se abriu num estrondo, batendo em algo lá dentro. Ou melhor, batendo em alguém.

Alguém gritou um “ai” e Louis deu um passo pra trás, bem no momento que via Niall de costas, com as calças no joelho. Niall virou a cabeça para olhar o que tinha lhe acertado, passando a mão na cabeça, bem no lugar onde a porta devia ter batido. Ele demorou alguns segundos pra perceber que alguém estava ali, e quando percebeu, começou a levantar as calças depressa.

–Louis? –Sua voz saiu desafinando como fazia quando ele ficava nervoso.

Louis apenas franziu as sobrancelhas, sem entender por que Niall estava ali... até que viu alguém se mover no banheiro, se levantando, e então viu aquela garota da classe de Niall. Aquela garota gordinha e ruiva que vivia perseguindo eles.

Ela estava ajoelhada lá dentro?

Ele nem sabia o nome dela, mas naquele instante, sabia exatamente o que ela estava fazendo. O que os dois aparentemente estavam fazendo.

Louis olhou de novo pra Niall, entendendo tudo.

–Louis, eu... eu posso explicar.

O sorriso malvado característico de Louis rasgou seu rosto, enquanto ele dava dois passos pra trás. Niall não precisava explicar nada.

–Louis! –Niall tentou o chamar, mas agora Louis já corria pra fora do banheiro, deixando Niall pra trás. Niall tentou o seguir, mas Louis era mais rápido, e suas calças ainda estavam desabotoadas, e ele não ia conseguir alcançar Louis. Ele não estava preparado.

–DROGA! –Niall gritou, com raiva. Sua voz ecoou pelos fundos do colégio, se perdendo na noite.

Merda. Louis tinha pego ele e Kat e agora provavelmente contaria pra todos os outros. Em poucos dias a escola inteira estaria sabendo. Não. Ele tinha que alcançar Louis antes disso. Se ele fosse rápido ele podia alcançar Louis e implorar para que ele não falasse nada. Ele precisava alcançar Louis. Precisava.

Por isso, arrumou sua calça e saiu correndo pelo gramado para achar Louis.

Kat saiu do banheiro no momento que Niall sumia pelo corredor lateral do colégio.

Ela sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas arrumou seu vestido e passou a mão pelos cabelos, tentando recuperar sua postura.

Ela sabia que aquilo ia acontecer. Ele ia deixar ela sozinha. Ela era uma idiota e merecia aquilo.

–Idiota, idiota –Ela reclamou consigo mesma, com vontade de se dar um tapa. Aquela vozinha dentro dela disse “Isso é pra você aprender a nunca mais sair com esse menino.” Mas ela sabia que essa era uma lição difícil.

Talvez aquela fosse a última vez.

Aquela precisava ser a última vez. Ela não ia mais aguentar aquilo por muito tempo.

Respirou fundo e começou a andar, saindo dali.

–Amanhã você vai me agradecer por isso – Every disse, batendo a porta do taxi preto. Ana colocou a cabeça pra fora da janela, sorrindo. Nossa, aquela pílula tinha batido forte mesmo!

–Eu te amo Every. –Ela disse.

–Você ama qualquer um nesse momento. – Every virou os olhos, e então aproximou os lábios e beijou sua testa. –Quero só ver amanhã, quando você estiver sóbria e se lembrar do que quase aconteceu.

Every se distanciou, deixando o taxi dar seta e se movimentar pela rua, sumindo na esquina do colégio e se virou, vendo a banda tocando uma das últimas músicas da noite.

Every tinha parado um taxi e enfiado Zayn lá dentro, rezando para que o taxista não fosse nenhum dos amigos do pai dele (ou pior, rezando pra que não fosse o próprio Sr. Malik, que provavelmente deserdaria Zayn por estar meio bêbado saindo de uma festa naquela hora, usando seu terno “para ocasiões especiais” em uma ocasião totalmente errada). Em seguida tinha ido buscar Ana e agora tinha despachado ela também, em segurança.

Respirou fundo, pensando que aquela tinha sido por pouco. Mas havia aquela coisa dentro de si incomodando, dizendo que o pavio da bomba tinha sido acesso, que eles não estavam a salvo. E como uma piada, a banda cantava “It started out with a kiss, How did it end up like this?, It was only a kiss, It was only a kiss*”

(Trilha sonora - Confusão do beijo ♪ Mr. Brigthside - The Killers)

–Ei, tem certeza que você está bem? –O garoto disse, enquanto Harry saia pelo gramado, parecendo meio cambaleante, sem dizer uma palavra.

–Deixa ele, ele nem aguenta um pouco de vodca. –O outro amigo resmungou.

–Por falar nisso – O terceiro garoto, mais alto e com os cabelos crespos, compridos e pretos se levantou, as correntes de sua calça fazendo barulho –Vou tirar a vodca do corpo.

Os outros dois viram ele se distanciar em direção ao banheiro e começaram a dar risada.

–Qual é Mario? Precisa ir no banheirinho pra mijar? –Um deles perguntou debochado.

–Não quer que a gente veja seu pipi? –O outro deu risada.

O garoto apenas virou pros amigos e ergueu o dedo do meio no ar, e continuou andando, dando a volta no banheiro e entrando pela porta. Ele foi até o reservado do meio, já que ali não tinha mictório (ninguém nem usava aqueles banheiros do fundo), abriu o zíper e encostou a mão na parede, fazendo xixi.

Foi então que notou a mochila preta, ali no canto, perto do cesto de lixo.

O que uma mochila estava fazendo ali no canto, naquele banheiro que ninguém nunca usava? Ele terminou de mijar, fechou a calça e se abaixou, pegando a mochila. Quando ele ergueu, ela fez um barulho engraçado, então ele foi com ela até a pia, a apoiou ali e abriu. E lá dentro, havia um enorme saco de pílulas.

Ele deu um sorriso bobo, olhando pro lado, como se procurasse alguém ali para mostrar aquilo. Mas ele estava sozinho. E ele mal podia esperar pra contar pros amigos no que uma mijada mariquinhas no banheiro tinha resultado.

–Cadê ela? –Harry parou na frente de Every, no meio do gramado, parecendo meio ofegante. Every não esperava que Harry aparecesse ali.

Ela suspirou, como se estivesse cansada.

–Eu acabei de colocar ela num taxi pra casa. Harry, não aconteceu... –Mas ela nem pode terminar. Harry saiu correndo em direção a rua. –Harry!!! –Ela tentou gritar, mas um taxi estava passando e ele fez sinal pra ele parar. –Harry, onde você vai? – Ele já tinha entrado e batido a porta, e agora o taxi começava a se distanciar. –Droga... –Ela murmurou, tentando respirar fundo. O que Harry ia fazer? Drogadrogadroga. Aquilo podia resultar no drama do século! Ela tinha que ir atrás dele. Every correu pra rua, mas não havia nenhum taxi passando ali quando ela precisava de um.

–Every!

Ela se virou, vendo Niall correndo em direção dela com uma cara desesperada.

–Você viu o Louis? –Ele perguntou, quase sem fôlego, chegando perto dela. Ele parecia branco e preocupado.

–Não... Agora eu não posso Nial, eu tenho que ir atrás do Harry.

Niall apoiou as mãos nos joelhos, dobrando o corpo e tentando respirar fundo.

Era uma hora ruim para as pílulas começarem seus efeitos contrários. Agora ele se sentia tonto, sem ar, e parecia que seu cérebro ia explodir na sua cabeça. Ele espremeu os olhos, tentando fazer o mundo parar de rodar tão depressa.

Como tudo aquilo estava acontecendo com ele?

Por que Louis tinha aparecido naquele maldito banheiro? Ninguém nunca ia lá!

–Droga, o show está acabando... –Every suspirou, escutando a banda anunciar a última música da noite e agradecer. Agora que ela nunca conseguiria um taxi. Todo mundo ia começar a ir embora e aquilo ficaria cheio de gente. Foi então que Every se lembrou de algo. –Niall! As pílulas!

Niall olhou pra ela, ainda respirando com dificuldade, o rosto vermelho, as mãos na cintura e uma careta de quem não sabia do que ela estava falando.

–Niall, cadê as pílulas? A gente não vendeu nenhuma!!! MERDA! –Every xingou alto, olhando de novo pra rua e pensando em Harry, e Ana e Zayn. Por que tudo estava acontecendo ao mesmo tempo? E por que de alguma maneira, ela sempre sentia que era ela que tinha que salvar todo mundo o tempo todo?

Mas ela parou de pensar naquilo quando a expressão no rosto de Niall tirou sua atenção. Niall agora olhava pra ela, os olhos arregalados e tinha voltado a ficar mais branco que cera.

–Oh merda... –Ele disse, lembrando que tinha deixado a mochila no banheiro. Na pressa de correr atrás de Louis nem tinha se lembrado daquilo. Sem perder mais um minuto, ele se virou e começou a correr pelo gramado de volta ao banheiro.

Every sabia que algo estava errado, então se colocou a correr atrás dele.

–Niall! –Ela chamava, mas Niall não escutava, ele só corria, o mais depressa que podia. No caminho, eles passaram por Louis. Niall nem o viu, por que estava desesperado. Não podia acreditar que tinha deixado a mochila no banheiro. Kat ainda devia estar lá, então a mochila devia estar segura, mas ele precisava ter certeza disso.

Ana olhou pra Bristol, inteira lá embaixo, iluminada e viva. Sabia que todos estavam dormindo, mas era assim que gostava de ver a cidade. Era como se só ela estivesse ali, pelas ruas silenciosas e desertas.

Tinha baixado o vidro durante a corrida de taxi, sentindo o vento gelado batendo em seu rosto e a deixando mais desperta aos poucos. Então pediu pro motorista a deixar no parque, o que ele fez sem se preocupar (afinal, motoristas de taxi odeiam gente bêbada com potencial para vomitar em seus carros). Porém, ela não se sentia mais bêbada. Não se sentia mais tonta, nem eufórica, nem fora de si. Pelo contrário, no momento que ela desceu do carro, pagou o motorista e ficou vendo o taxi preto sumir pela rua, ela se sentiu mais desperta que nunca.

E mais sozinha que nunca.

Olhou para os lados, para o silêncio da cidade, o silêncio e a escuridão do parque, tudo contrastando com tudo aquilo que ela tinha dentro de si que parecia fazer tanto barulho, e respirou fundo. Atravessou o parque até aquele ponto que adorava, onde haviam aqueles bancos e você podia se sentar e observar toda cidade lá embaixo.

Ali que Ana ficou sentada por um tempo, deixando o vento lamber seu rosto como se falasse que tudo ia ficar bem, apesar de seu coração dizer que as coisas estavam muito erradas.

Niall entrou correndo no banheiro.

Tudo estava silencioso e vazio como sempre. Por um instante ele ficou apenas parado ali, como se rezasse pra ver a mochila, como se estivesse com medo de ir verificar, apenas antecipando aquele momento. Escutou um barulho e se virou, vendo Every entrar correndo no banheiro e quase o derrubar.

–Cadê a mochila? –Ela perguntou, ofegante. Niall deu um passo, empurrando a porta do reservado em que ele estava com Kat a menos de uma hora atrás. E então ele sentiu sua pressão baixar, e tudo em sua volta ficar escuro por um segundo.

Tudo que havia ali era um cesto de lixo e o piso de ladrilhos gelados e vazio.

Every olhou por cima de seu ombro.

–Niall, ela não está aqui.

–Eu sei que ela não está aqui! –Ele disse, nervoso.

–Niall, se você perdeu isso eu vou...

Niall nem deixou ela terminar, deixou ela ali e foi pro outro reservado. Ele só podia estar olhando pro lugar errado. Ele devia estar no reservado errado. Ele TINHA que estar olhando no reservado errado. Mas não havia nada nos outros dois.

–Niall...você não pode ter perdido isso... –Every disse baixinho, enquanto Niall mal sabia o que fazer. Não sabia se chorava, se gritava ou... Colocou as mãos na cabeça, como se ela fosse explodir. Aquilo era demais pra uma noite só.

–DROGA!!!! –Ele gritou, e se sentou no chão, com as costas apoiadas na parede do banheiro, afundando a cabeça entre as pernas dobradas como se pudesse se esconder de tudo aquilo e sumir.

Tudo ficou silencioso, mas ele sabia que Every tinha se sentado ali, do lado dele. O problema é que ela não tinha o que dizer. Nenhum deles tinha. Então os dois ficaram ali, em silêncio, assustados demais para fazer qualquer outra coisa.

Ana desceu do ônibus noturno no ponto do final da rua e foi caminhando sem pressa pra casa. O céu já estava ficando vermelho alaranjado, a madrugada acabando e dando lugar pra manhã de sábado. Deviam ser quase seis da manhã... provavelmente iria dormir durante o sábado inteiro. Queria dormir pelo ano inteiro se fosse possível e fugir de tudo aquilo. A vida não podia ser mais complicada.

Ela andou desanimada pelas calçadas que conhecia tão bem, as casinhas, uma do lado da outra, iguais, só mudando a cor. Ela ergueu a mão e deixou os dedos escorregarem pelas paredes, enquanto aproveitava para respirar fundo.

Viu sua casa a apenas alguns passos e já enfiou a mão na bolsinha, pegando sua chave. Puxou o portão, distraída, e deu um passo pra dentro quando Harry se levantou.

Ela viu algo se mover e só então levantou a cabeça e percebeu que era ele, os olhos verdes olhando direto pra ela, os lábios contraídos, apertados, os cabelos encaracolados meio murchos, mas que no mesmo momento ele jogou pros lados e eles se ajeitaram. Ela sentia seu coração explodindo dentro do peito. O que ele estava fazendo ali?

Os dois ficaram parados, olhando um pro outro em silêncio por alguns segundos.

Ana percebeu que por algum motivo, ele segurava a coroa que Every tinha dado a Liam e viu que seu paletó estava jogado ali no chão perto da porta da sua casa. Ele estava com a roupa amassada, a camisa pra fora da calça, os primeiros botões do peito abertos e o colete aberto, pendendo em sua cintura. E parecia tão lindo como sempre.

Ela imaginou como estaria, aquele vestido babaca, a maquiagem borrando, o cabelo já desarrumado e amassado.

–Onde você estava?

A voz dele saiu tremida, o tom se alterando, como se ele estivesse se controlando para não gritar. Ana demorou um pouco pra entender aquela situação.

Não esperava por aquela pergunta, então parou, franzindo a testa. Por que ele estava falando com ela naquele tom? Ela ficou olhando pra ele como se não entendesse, e ele manteve o rosto fechado, como se tivesse se segurando muito forte para não fazer uma besteira. Ele se aproximou e olhou pros lados, mordendo de novo os lábios e depois olhando de novo pra ela.

–Você estava com ele?

Ana ainda não entendia.

–Do que você...

–Você estava com o Zayn? –A voz dele saiu um tom mais alto, sem deixar ela nem terminar, e ele disse isso e em seguida fechou os olhos. Realmente, ele estava tentando se controlar, e aquilo fez Ana se enfurecer também.

Quem ele pensava que era para ir lá e cobrar coisas dela? Ela nunca tinha ido esperar na porta dele para perguntar com quem ele estava. Se ela tivesse feito isso, ela teria passado muitas noites na porta da casa dele.

–Eu estava no parque, se é isso que você quer saber – Ela disse, nervosa, passando por ele e seguindo em direção a porta. A chave entrou na fechadura, mas ela não teve tempo. Harry a puxou, sem força, apenas fazendo ela se virar e encarar ele ali.

–Você quer ficar com ele Ana?

Ele estava muito próximo. Ana podia ver os riscos coloridos em seus olhos verdes, podia ver todas pequenas imperfeições perfeitas de sua pele, podia ver a cor dos seus fios de cabelo encaracolados, e seus lábios rosados. Podia sentir o cheiro dele, aquele cheiro de perfume cítrico e podia sentir sua respiração. E ele respirava forte.

–Não sei por que você está se importando com isso. –Ela respondeu, mas sua voz não estava alterada. Pelo contrário, estava confusa e frágil. –Eu não sei o que você quer aqui Harry.

–Eu...eu só quero uma resposta. –Ele respondeu com a voz vacilante.

–Sobre eu e o Zayn? É isso que você quer saber? Ele é só meu amigo Harry, e nós não fizemos nada. –Ao escutar a menção daquele fato, Harry deu um passo pra trás, como se aquilo o incomodasse de alguma maneira.

Mas sua voz saiu dura, e um pouco nervosa. Aquilo estava indo rápido demais.

Ana respirou fundo, balançando a cabeça de leve, tentando recuperar algum controle. Não era uma boa hora para ter aquele tipo de conversa. Não era uma boa hora para ter conversa nenhuma. Ela tinha bebido, tomado muitas daquelas pílulas, estava cansada e confusa.

Ela esfregou a testa um pouco, tentando pensar melhor.

–Escuta Harry, eu...

Ela deu um passo em direção dele. Ia segurar sua mão e dizer que eles conversavam outra hora. E ao mesmo tempo, ele deu um passo em direção dela, seu rosto ainda fechado..

–Você ainda não respondeu o que eu perguntei. Você quer ficar com ele?

Ana abriu a boca pra responder, mas percebeu que aquela pergunta era totalmente descabida. Por isso, tudo que conseguiu foi olhar pros lados, procurando algo pra dizer, e no fim, dar uma risada misturada com um engasgo, misturada com um quase-choro.

Harry olhou pra ela, e balançou a cabeça, se virando em seguida e caminhando em direção ao portão.

–Harry – Ela o seguiu, mas ele continuou andando. Ela correu até ele e o segurou pelo braço – Harry! –Ele parou e se virou pra ela. –O Zayn é meu amigo. Só isso. Você sabe o que é isso!

Harry engoliu aquelas palavras.

–Você sabe o que é ser só amigo de uma pessoa não? –Ana insistiu. Ela não estava mais falando de Zayn.

Harry ficou mudo e Ana soltou seu braço. Aquela era a conversa mais desconfortável que tinha tido em anos. Parecia que ela estava dentro de um carro numa estrada esburacada, balançando, sem saber pra onde ir.

–Você é meu amigo, não é? –Ela provocou, quando viu que o silêncio era pesado, e que Harry continuava parado a sua frente mas olhava pro chão ao invés de olhar pra ela.

–Você sabe que eu sou –Ele levantou o rosto –Nós somos todos amigos. Eu, você, a Every, o Louis...

Ela cruzou o braço e deu um sorriso cínico.

–É sempre assim... –Ela então se aproximou um pouco mais dele, e agora sua voz estava feroz novamente. –Eu estou falando de você e de mim. De nós dois. Somos amigos não somos?

–O que mais poderíamos ser?! –Harry respondeu zangado. Uma pergunta com outra pergunta.

–Por que você está aqui? Por que você está aqui me perguntando coisas como se eu tivesse feito algo de errado? Por que você está me julgando Harry? A Every, o Louis, o Liam, nenhum deles está aqui.

–Eu só...eu... –Harry não conseguia responder, as palavras embolavam em sua boca e sua mente era um vazio. Droga, ele sentia como se ela estivesse o colocando na parede. –Eu não sei. –Harry murmurou, baixo, desistindo de lutar contra si mesmo. Ele realmente não sabia, não entendia, estava confuso. Era melhor apenas assumir.

–É sempre assim não é? –Ana continuou, sem esperar ele tentar achar uma resposta, sua voz afiada como uma faca.

–Do que você está falando?

–Do que eu estou falando? Eu estou falando que você sabe que nossa amizade não é como as outras. Você sabe disso, mas você insiste em ignorar isso, em agir como se não soubesse! –Ela disse, a voz chorosa. –Se nós somos só amigos, por que você não age como um?

–E eu não estou fazendo isso? –Harry respondeu, a voz pesada e nervosa.

–Não! Você está me confundindo! Como sempre faz.

–Eu não sei mais do que você está falando. Não sei do que estamos falando! –Ele disse, emburrado, como se precisasse se defender.

–Eu estou perguntando por que você está aqui Harry. Por que?

–Eu já disse, eu só queria uma resposta... –Ele disse, rosnando entre os dentes.

–E por que?

–EU NÃO SEI! EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI! –Ele berrou, sua voz ecoando no silêncio da rua.

Os dois ficaram em silêncio, respirando pesado, como se tivessem corrido milhas até ali, o coração batendo na ponta dos dedos. Harry não sabia como eles tinham chego ali, mas de repente parecia um lugar difícil de sair.

Ele bufou. Não era pra aquilo estar indo para aquele caminho. Não era pra estar sendo daquele jeito. Era ela que devia dar respostas, não ele. Harry afundou a mão nos cabelos, tentando pensar, tentando recuperar o controle.

–Harry –A voz de Ana era chorosa, e agora baixa– você está me ignorando a praticamente dois meses. Você mal fala comigo, e de repente aparece aqui, na porta da minha casa, me cobrando coisas como se...

Harry se virou pra ela, o rosto sério. Ele sabia como aquela frase terminava.

“Como se sentisse algo por mim”.

–Ana, eu....

Ele queria que ela a ajudasse, mas ela só estava em silêncio, olhando pra ele com aquela expressão derrotada, como se tivesse completamente machucada.

–Eu não sei o que estou sentindo. –Harry passou a mão pelos cabelos, sentindo elas tremerem levemente, assim como sua voz, assim como todo seu corpo. –Eu não sei. –Ele então olhou pra ela, que ainda estava ali, parada na calçada.

–Mas eu sei o que eu sinto – Ela disse, a voz irregular, engasgada. – Eu sei o que sinto e estou cansada disso Harry –Os olhos dela brilhavam, e ele sabia que ela queria chorar. Harry queria ir até ela e pedir pra ela esquecer daquela discussão. Para eles tentarem começar aquela conversa de novo, mas ele sabia que não havia volta. – Então, quando você souber também, você me procura. –Ana se virou, e correu até a porta. Harry escutou a porta bater com força e encolheu os ombros.

Ainda respirava com dificuldade, ainda sentia seu rosto contraído, suas mãos suando, seu corpo tenso, contraído. Ficou ali, parado onde estava, olhando pra porta de Ana, se recusando a acreditar em tudo.

–Ah, merda! –Ele chutou com força o muro da casa de Ana. Por um segundo pensou em abrir aquela porta e ir atrás de Ana e dizer que aquela conversa não tinha terminado.

Suas mãos ainda tremiam, suas pernas estavam moles, e ele sentia que havia pouco ar ali. Então fechou os olhos e respirou fundo.

Depois, foi até as escadas e recolheu seu paletó e a coroa de Liam, que tinha deixado cair ali no meio da discussão, e então saiu, andando pela calçada, derrotado, cansado e dolorido. Nem prestava atenção no caminho, a discussão ainda ocupava cada pedaço da sua cabeça e ele não conseguia mais pensar em nada.

Porém, tudo que sentia era aquela ansiedade e frustração corroendo ele por dentro, que cada vez ficava maior. Na verdade, pensando bem, parecia que havia algo dentro dele, algo que ele não sabia o que era, além da ansiedade e da frustração, algo que a cada dia ficava maior, e pior, e mais difícil de ignorar e menos fácil de esconder.

Aquilo o estava sufocando.

–Harry! –A voz dela ecoou pela rua deserta.

(Trilha sonora - Harry e Ana ♪ Kiss Me - Ed Sheeran)

Seu coração parou por um segundo, até ele conseguir se virar e ver Ana ali, no final da esquina. Ela ainda usava o vestido da festa, mas tinha prendido o cabelo de qualquer jeito, estava descalça e usava um moletom.

“Por favor, me abrace” algo dentro dele disse, e ele sentiu um bolo em sua garganta. Ela começou a correr em sua direção, o moletom se movendo com o vento, ela se aproximando cada vez mais, e ele ali parado, sem saber o que fazer.

O que ele ia falar? O que mais restava a ser dito?

Seu coração se apertava. Ele não queria mais discutir com ela. Não podia mais discutir.

Ela veio correndo até ele, até parar ali, a poucos metros e dar alguns passos. Agora eles estavam bem próximos, e ela olhava pra ele, parecendo assustada e nervosa. Harry não sabia por que, mas ele também estava assustado e nervoso, e todo seu corpo voltou a tremer e se aquecer. Era como se pudesse desmaiar a qualquer momento.

–Eu esqueci uma coisa. –Ela disse, agarrando os punhos do moletom com as mãos. Ele não disse nada, por que não sabia o que dizer, apenas ficou ali de pé, olhando pra ela e pensando se ela conseguia notar seu corpo e todos sinais de nervosismo que ele dava.

Ela se aproximou um pouco mais, e agora seu corpo estava tão próximo que ele sentia seu calor. Ele notou que sua boca estava seca, e passou a língua nos lábios, olhando pra ela.

–Eu disse que eu sabia como eu me sentia, mas esqueci de dizer como era. –Ela disse, a voz baixa e insegura. –Acho que precisamos deixar isso claro, de uma vez por todas.

Harry sentiu os dedos dela tocarem de leve nos seus, e quase fechou os olhos. Nunca, nunca em sua vida tinha sentido aquilo. Era como se seu corpo pudesse explodir em estrelas se ela o tocasse mais que aquilo. Mal se lembrava de como era respirar, por que estava tão assustado que nem isso fazia.

Ele engoliu a seco por que sabia. Sabia o que estava por vir.

Ela olhava pra ele, dentro de seus olhos, como nunca tinha feito, ou como sempre tinha feito, seus dedos ainda tocando os dele de leve, como se tivesse medo de segurar sua mão. Harry viu ela fechar os olhos, e instintivamente fechou os dele também.

E então, finalmente, sentiu o gosto dos lábios dela nos seus.

Era tão leve, como se ela tivesse dúvidas.

De repente Harry sentia aquela coisa dentro dele, aquela certeza que ele não tinha antes. Ele não queria só aquilo. Ele queria tudo. Abriu seus lábios devagar, e os lábios dela o acompanharam, delicadamente os lábios dela deslizaram sobre os dele e sua língua encontrou a dela. Harry levantou sua mão, e tocou o rosto dela enquanto seus lábios se descobriam.

E então tudo parou, como se antes ele estivesse girando e agora era deixado, tonto, sem direção.

Ela se afastou, olhando pra ele. Harry não pode evitar um sorriso no rosto, mas o sorriso sumiu assim que notou que ela não sorria. Ela tinha lágrimas nos olhos.

Então uma gota grossa rolou por seu rosto.

–Ana... –Ele murmurou, estendendo a mão. Ia a puxar e a abraçar, mas ela continuava andando pra trás, se distanciando dele. –Ana... –Ele tentou mais uma vez, dando um passo na direção dela.

–Agora não Harry. –E então ela virou as costas e do mesmo jeito que tinha surgido desapareceu, correndo pela rua até sumir na esquina, deixando Harry ali, explodindo estrelas e se sentindo mais perdido que nunca.