Voltamos ao meu apartamento, desolados. Dois deles - e eu nem sabia quantos eram - estavam no mesmo prédio que eu, tão perto, e eu os perdera.

Chegamos à sala. Era a hora de saber as instruções.

Tirei o pequeno cordão que amarrava o envelope à pedra e tirei o papel que estava dentro. As letras eram de recortes de revistas e jornais. Bastante dramático, eu diria. Mas naquele momento eu estava somente pensando nela, em como salvá-la.

"SUA GAROTA IMBECIL ESTÁ COM A GENTE. FAÇA O QUE DISSERMOS E ELA SAIRÁ BEM. VÁ ATÉ A PORTA DO MARINE AQUARIUM HOJE, À MEIA-NOITE. VÁ SOZINHO. NÃO CHAME A POLÍCIA, OU A GAROTA SOFRERÁ AS CONSEQÜÊNCIAS. E SEJA PONTUAL. TUDO ISTO ESTÁ ACONTECENDO POR SUA CAUSA, ENTÃO, SEJA BONZINHO, PATTZZ."

Li e reli o bilhete milhares de vezes. Eu tentava decifrar alguma coisa que estava bem diante dos meus olhos, mas não conseguia. Marine Aquarium. O lugar onde a levei, no dia em que a trouxe pela primeira vez ao meu apartamento. Um dia mágico, que eu nunca esqueceria.

Não chamar a polícia estava fora de cogitação. Obviamente, eu chamaria a polícia. Isso era um caso de seqüestro. Mas não diria tudo, primeiramente. Eu iria ao encontro e, depois, mesmo que eu não voltasse, Adriano chamaria a polícia. Eu queria ela a salvo, era tudo o que eu queria. E, já que tudo era por minha causa, era a mim que eles queriam, então, não havia necessidade de a segurarem lá. Eu os convenceria a soltá-la.

Eu tinha que fazer isso.

"Adriano", chamei. Ele olhou para mim solícito. Esperava por notícias também.

"Eu tenho algo para você fazer. Mas você tem que seguir exatamente minhas instruções."

"Claro. Tudo o que for ajudar."

Eu sentia que podia confiar nele. E estava agradecido aos céus por minha amada ter amigos tão bons, e também por eu ter tido a idéia de chamá-los a Los Angeles.

"Tire uma cópia deste bilhete para mim, e fique com o original. Esta noite, farei o que está escrito aí. Só depois da meia-noite você chame a polícia e mostre a eles o bilhete."

"Okay, depois da meia-noite."

"Sim, Adriano. Por favor."

Ele assentiu e guardou o bilhete no bolso.

Então, era só esperar que as horas passassem.

Esperar.