Entre Anjos e Demônios escrita por Kmyla


Capítulo 1
Ultima Chance


Notas iniciais do capítulo

Mily ganha seu carro e teme o primeiro dia de aula



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Acordei com a claridade em meus olhos, um raio do sol que escapava pela minha cortina. Fechei-os para tentar me lembrar de meu sonho, foi em vão, me lembrei que não havia sonhado aquela noite. Para falar a verdade eu não havia dormido aquela noite, só cochilei de madrugada. O motivo da insônia eu já sabia, tinha acabado as férias e no dia seguinte eu iria ter que enfrentar a escola e todas aquelas pessoas que eu estava evitando ver. Não seria fácil, eu realmente detestava pensar em como seria mais um ano numa escola totalmente fora de meus padrões de interesse, mas eu pensava, acredite eu não queria, mas a minha mente não me obedecia e isso estava tirando o meu sono.

Eu sabia que não iria conseguir dormir de novo e resolvi me levantar, para minha felicidade meu pai já havia saído. Não é que eu não goste dele, eu o amo e muito, mas eu estava de mau humor e não queria descontar minha raiva nele. Fui direto para a cozinha preparar meu café, peguei uma caixa de cereais e o leite, demorei a comer, eu estava usando todo o tempo daquele dia e não queria algum tempo de sobra para pensar no dia seguinte, o primeiro dia de aula.

Ao acabar fui para o meu quarto para trocar de roupa, eu não gosto de pijamas então sempre durmo com uma camiseta e uma calça de algodão, eu acho que são mais confortáveis. Abri meu guarda-roupa, eu não tinha muitas opções e como eu não estava planejando sair acabei optando por uma camiseta cinza com um desenho de estrela em prata e coloquei uma das minhas inseparáveis calças jeans, peguei meu único tênis que tinha que é marrom. Minha combinação estava perfeita se minha intenção fosse me passar por uma maltrapilha. Fui arrumar meu quarto e por fim o quarto do meu pai.

No guarda-roupa do meu pai tinha uma gaveta onde ele guardava as fotos da família, eu não gostava de olhar aquelas fotos, mas eu queria usar meu tempo livre me ocupando com algo e não pensando na escola. Comecei a mexer nas fotos, todas tinham legendas atrás e isso facilitou em minha tristeza, ver aquelas datas e frases me ajudavam a pensar numa coisa que aconteceu recentemente, a separação de meus pais. Pequei uma foto minha e de minha mãe e a legenda dizia o seguinte: Lucy segurando Emily, nossa querida filha na maternidade. A letra era do meu pai reconheci aquele garrancho logo que li a frase, era a primeira foto que eu tirei e era essa que me deixava mais emocionada. A foto seguinte era nós três no parque, eu tinha dois anos na época eu acho, virei a foto para ler a legenda e comecei a chorar de verdade ao ler aquela frase que me deixou sem ação: Gregory, Emily e Lucy na praça. Os três inseparáveis. A legenda dizia que nós éramos inseparáveis, mas isso era mentira. Há oito meses minha mãe foi embora, foi morar com minha avó em Fargo na Dakota do Norte e deixou eu e meu pai em Salt Lake City no estado de Utah. Meus pais brigavam muito e o amor deles já havia acabado eu sabia que só era uma questão de tempo até isso acontecer.

Fui visitar minha mãe uma vez em Fargo e percebi que lá é muito diferente de Salt Lake City, lá tem poucas pessoas em comparação com Salt Lake. E não fui mais vezes porque a viagem é meio cansativa, precisa pegar dois aviões. Minha mãe queria que eu morasse com ela, mas fiquei com pena do meu pai, pois ele ficaria sozinho, minha mãe pelo menos tinha minha avó como companhia.

Passei a mão no rosto para secar as lágrimas que haviam escapado de meus olhos, fechei a gaveta e corri pelo corredor até chegar à sala e me encolhi no sofá maior o de três lugares, visto que no outro de dois lugares eu ficaria com dor nas costas, pois ele estava quebrado no encosto dele. Comecei a procurar em minha cabeça uma música bem animada e acabei cantarolando I don't care do Fall Out Boys, não sabia a letra toda e acabava enrolando em algumas partes. Levantei-me e lembrei que deveria arrumar a casa que por sinal estava precisando de uma faxina. Comecei pelo meu quarto, ele não é muito grande, tudo o que está nele foi sobe medida, se eu colocar algo mais nele, como uma cômoda ou um criado mudo, eu acho que eu não poderia mais entrar nele. Meu quarto tem as paredes pintadas de verde claro, tem uma cama de solteiro, um guarda-roupa, uma cômoda, uma poltrona bege, uma mesinha onde está o computador que uso raramente só para entrar na internet, a cadeira dobrável que já está meio velha, e todos os móveis são na cor mogno. Pelo menos meu quarto tinha que está combinando. Tenho um Cd Player para ouvir meus CDs de rock light e algumas sinfonias de musicas clássicas. Não tenho uma TV no meu quarto porque minha mãe acha que ver muita TV acaba com o cérebro das pessoas, por isso gosto muito de ler quando tenho tempo livre de vez ver TV, tenho uma grande coleção onde tem os maiores autores como Shakespeare, Brontë e outros. Minha janela é meio grande e isso ajuda o sol a entrar, mas a luz do sol só entra por completo quando abro minha cortina, o que é muito raro, por que por ser clara não há necessidade de abri-la.

Acabando de arrumar meu quarto fui para o quarto de Gregory, às vezes chamo meu pai assim, porque ele se acha muito novo para ser pai de uma menina de 16 anos, e olha que ele só tem 39 anos, realmente ele é muito novo para ser meu pai. O quarto de Gregory tem uma cama de casal, um hack onde fica o rádio e a TV, um guarda-roupa de casal onde só tem roupas dele numa metade, também há dois criados mudos cada um de um lado da cama e do lado direito da cama tem uma poltrona azul. O quarto de Gregory estava um pouco empoeirado fazendo como que eu espirrasse várias vezes.

Logo fui para o banheiro, o único da casa. Ele é de azulejos claros, com certo tom de branco meio cinza, tem um espelho grande e um armário logo abaixo para colocar sapatos. Não foi difícil limpa-lo como achei que seria, varri o corredor e passei para a sala onde há uma pequena lareira cheia de fotos de família, finalizei na cozinha de dois ambientes, de um lado os armários, fogão, microondas e a pia de lavar a louça e de outro lado com uma bancada dividindo tinha a mesa redonda com seis cadeiras.

Olhei o relógio que ficava no alto em uma parede da cozinha, a que passava para a sala e percebi que já eram três horas da tarde, meu estomago roncou, passou da hora de comer. Esquentei uma lasanha congelada no microondas, sentei-me a mesa e comi devagar lendo meu exemplar de Otelo que já está bastante usado. Lavei a louça, e fiquei triste ao perceber que tinha arrumado a casa toda, minha casa era apenas um andar e eu odiava isso porque sempre acabava rápido demais e sempre sobrava tempo para pensar, uma coisa que eu não queria. Escovei meus dentes e escovei meu cabelo que estava impossível, amarrei num rabo de cavalo e fui para o quintal com o meu livro. Meu quintal não é muito grande, a garagem tomava todo o espaço, pois o carro de Gregory é muito espaçoso, uma S10 azul que é o xodó dele depois de mim é claro. No quintal sentei na escada que dava para a porta da sala e fiquei olhando o movimento que na verdade não tinha nenhum. A árvore que fica do lado da escada estava fazendo sombra em mim e isso me ajudou com o calor. Fiquei um bom tempo lendo, li até a cena dois do quarto ato. Levantei e andei um pouco pelo quintal olhando as plantas que minha mãe plantara num passado não muito distante. Fiquei com saudades dela e entrei para dentro de casa, para não chorar mais, minha cota de lágrimas diárias estava aumentando e eu não estava gostando disso.

Olhei o relógio mais uma vez, era seis da tarde, Gregory chegaria as sete, estava atrasada para fazer o jantar. Lavei minhas mãos e comecei a preparar o frango, estava decidida a fazer frango a milanesa. Tomei muito cuidado ao cortar o frango, todos sabem o quanto eu sou desastrada e como me machuco fácil. Coloquei o frango para cozinhar e comecei a cortar os legumes. Acabando de cozinhar o frango, o juntei com o molho de tomate, com o pimentão e com o queijo por cima. Os coloquei em uma forma quadrada e coloquei para assar no forno. Eu tinha apenas 30 minutos, arrumei a cozinha bem rápido e esperei sentada no sofá continuando a ler meu livro.

Parei de ler o livro quando estava no quinto ato e ouvi o barulho do carro de Gregory chegando, ele estava adiantado.

Droga. Logo hoje que eu estava atrasada, ele sabia que eu não gostava de cozinhar com alguém por perto e ele sempre aproveitava para me perturbar nessas horas, e aposto que ele chegou cedo só para me infernizar.

Corri para a cozinha e tirei o frango do forno e quando coloquei na mesa Gregory abriu a porta.

- Oi Mily, percebi que hoje você caprichou na janta só pelo cheiro.

- Pai isso é um insulto, você sabe que eu sempre capricho.

Ele riu.

- Mas hoje parece que você caprichou mais.

Fiz uma cara de séria, afirmando que não ia acompanhar aquela risada dele.

- É ai que você se engana. Eu me atrasei e não deu para fazer uma coisa melhor e mais um pouco o senhor teria que esperar para jantar. – ele puxou a cadeira e se sentou, colocando os braços em cima da mesa olhando para mim ainda rindo. - E alias posso saber por que o senhor chegou cedo?

Gregory já estava começando a comer o seu jantar. Deu uma breve olhada para mim e abaixou a cabeça com um ar indiferente.

-Bom eu cheguei cedo para buscar você, temos de ir a um lugar. Se eu fosse você jantava logo para não nos atrasarmos, prometi a David que chegaríamos a casa dele antes das oito.

David era um conhecido de meu pai, ele é mais velho que meu pai deve ter uns 43 ou 45 anos no máximo, ele vendia carros e outras bugigangas velhas, realmente foi uma surpresa ele falar que iríamos lá, ele nunca me levou para a casa de seus amigos ou conhecidos. Ele estava aprontando alguma.

-David Medville? O que vamos fazer na casa de David?

-Surpresa.

Ele fez uma cara de debochado.

-Gregory você sabe muito bem que eu detesto surpresas. – Fiz uma cara feia e grunhi para ele, mas eu precisava admitir estava curiosa.

-Sei, mas esta você vai adorar.

-Espero que sim.

Coloquei minha comida no prato e comecei a comer meu jantar, Gregory estava terminando o dele. Ao terminar meu jantar lavei as louças e correndo fui escovar meus dentes enquanto Gregory me esperava na sala sentado no sofá de dois lugares vendo um programa de esportes.

-Ande Mily, vamos chegar atrasados.

Corri para a sala.

- Vamos logo Gregory, estou curiosa.

- Mily você esta levando sua carteira de motorista?

- Estou por quê?

-Nada só quero que leve ela.

Saímos na S10 do meu pai e em menos de 10 minutos chegamos à casa de David e parada em frente sua casa tinha uma Dodger Dakota cabine dupla na cor preta. Achei estranho porque o carro de David era um Citroen C4 e eu acho que ele não iria trocar aquele carro magnífico por uma picape.

- David trocou de carro? – Perguntei.

-É nesse ponto que eu quero chegar.

-O que eu, você, aquele carro, David e a surpresa temos em comum? - Eu já estava impaciente.

- Bom, David vende carros e eu já estava pensando em comprar uma bastante tempo, então comprei aquela Dodger Dakota dele.

-Que bom pai, você sempre quis uma Dodger. – Mas pensei em algo que me fez ficar meio triste. O que aconteceria com a S10? Gregory a comprou antes de eu nascer e eu já tinha me apegado a ela. - Mas e a S10?

-Essa é a outra parte da surpresa. Ela é sua. Eu sei que você gosta muito dela e resolvi que você deveria ficar com ela. Eu perguntei sobre sua carteira porque você vai dirigir a S10 até em casa enquanto eu levo o outro carro. Então gostou da surpresa?

Eu estava sem palavras, eu havia tirado a carteira no ano passado e pensei que Greg nunca iria comprar um carro para mim, bom ele trabalhava muito na empresa dele de manutenção de rede elétrica e recebia um bom dinheiro no final do mês, mas nunca pensei que ele juntaria dinheiro para comprar outro carro para deixar a S10 para mim. Era uma surpresa e tanto.

-Eu não gosto de surpresas, mas tenho que admitir que amei essa.

-Então vamos logo, estou doido para dirigir meu novo carro e acho que você também.

Descemos da S10 e fomos para a entrada da casa de David, ele estava lá nos esperando.

-Oi Greg. Oi Mily. Olha o carrão ai Greg.

-É David esse é o carro dos meus sonhos.

-Seu pai estava falando que você vai ficar com a S10, Mily. Você quer mesmo ficar com ela?

Ele só estava perguntando isso porque ele queria ficar com a S10 para ele, para poder revender na loja. Que audácia.

-É claro David, eu amo esse carro e agora que ele é meu vou cuidar com todo o carinho.

-Ah bom. -Ele disse isso com uma cara de desapontamento. – Como nós já acertamos tudo Greg você já pode levar a picape.

-Eu estava esperando você dizer isso. – Disse Greg rindo. – Quero sentir a emoção de dirigir essa belezinha. Então vamos Mily?

-Vamos, também estou louca para dirigir o meu carro.

- Aqui está à chave Greg. – David estendeu a mão para o meu pai e deu a ele um chaveiro com duas chaves. – Qualquer problema é só ligar. Mas acho que não terá problemas com esse carro.

-Tudo bem David. – Greg pegou as chaves e já foi para o lado do motorista da Dodger e eu fui atrás dele. – Tome Mily as chaves da S10, dirija com cuidado e acho melhor você ir na frente.

- Está bem senhor Gregory, vou dirigir com muito cuidado. – Fiz uma cara de deboche. – Você vai comer poeira atrás de mim.

Ele fez uma cara furiosa e grunhiu.

-Você sabe muito bem mocinha que eu não deixo você passar dos 30 km/h quando você está com a S10. - Ele agora fez uma cara mais suave, ele deu um sorriso meio torto. - Mas como estou feliz hoje vou deixar você ir a 40 km/h.

-Greg você quer que ela chegue em casa hoje não é? - David começou a rir. – Desse jeito ela chega só ano que vem.

-È mesmo pai, eu posso dirigir como eu quiser agora, o carro agora é meu.

Gregory percebeu a inflexão da minha voz.

- Se você acha que só porque o carro agora é seu, que eu não irei te monitorar quanto à velocidade está muito enganada mocinha. Estarei de olho.

- Está bem pai, agora me dê às chaves para eu ir para casa.

Greg me deu as chaves, eu entrei na S10 e suspirei fundo, meu primeiro carro era o carro que andei desde que nasci. Era um sonho. Greg buzinou, coloquei a chave e liguei o carro, estava emocionada, dei tchau para David que estava conversando com Greg , assim que parti com o carro e ele começou a andar olhei pelo retrovisor e vi a cara de Greg, um sorriso de orelha a orelha. Finalmente alguma coisa de bom estava acontecendo conosco desde que minha mãe fora embora. Mantive meus 40 km/h para Greg não se zangar quando eu chegasse em casa.

Estacionamos os carros em frente à casa. Greg correu para sala porque não queria perder um filme de faroeste que passaria a noite. Fui para meu quarto pegar minha roupa de dormir e meus cremes para tomar um bom banho e eu queria que ele fosse bem demorado. Lavei meus cabelos com meu shampoo de erva doce e o cheiro se espalhou pelo banheiro. Sequei-me e logo vesti minha camiseta e minha calça para dormir porque senti muito frio. Ao sair do banheiro Greg me chamou na sala. Coloquei minhas coisas no meu guarda-roupa e fui ver o que ele queria, eu já imaginava, faria alguma piada sobre o dia seguinte. O primeiro dia de aula.

-Já vai dormir Mily?

-Já. Por quê? Quer alguma coisa?

-Não só queria lhe lembrar para não perder a hora amanhã. Você sabe amanhã é o primeiro dia de aula, você tem que chegar na hora para poder se exibir com o seu novo carro.

-Exibir. – Repeti com ironia. – Até parece que eles vão ficar surpresos com um carro que meu pai usa há 17 anos.

- Mas agora ele é seu e vão pedir carona.

-Greg o carro só tem lugar para três e eu acho que ninguém vai me pedir carona, porque pelo o que eu me lembre eu era a única da minha turma a não ter carro.

-Ah. – Ele só conseguiu dizer isso.

-Agora vou dormir, preciso acordar cedo para ir à luta amanhã.

-Boa noite Mily, e não se esqueça é seu último ano faça esse ser o melhor.

-Tudo bem, boa noite pai.

Fui andando pelo corredor me lembrando das últimas palavras de Gregory, “É seu último ano faça esse ser o melhor”. Esse é meu último ano e minha última chance de fazer o ano ser especial. Última chance. Entrei em meu quarto, coloquei meu relógio para despertar às 7 da manhã e apaguei a luz. Afundei-me na escuridão da minha cama. Última chance. Essas duas palavras estavam ecoando na minha cabeça. Amanhã será o pior dia da minha vida, o dia em que vou reencontrar todas as pessoas que fugi delas durante as férias e confirmar minha impopularidade na escola, só me associava com um grupo da escola e esse grupo não era popular, eu era uma garota regular com uma vida regular e uma popularidade regular. Não será difícil passar despercebida pela escola toda. Eu queria estar feliz, mas o primeiro dia de aula estava sendo como o Armagedon, o dia que Deus destruirá a Terra. Eu estava ansiosa, nervosa e furiosa, tudo ao mesmo tempo. Coloquei o travesseiro em cima da cabeça e comecei a planejar uma viagem que eu faria com meu carro novo, estava decidindo aonde ir, se seria em Logan ou Provo. Adormeci ao pensar nisso, não acordei a noite, nem tive sonhos, foi o sono mais esperado, perfeito. Mas o outro dia seria o dia mais temido e rejeitado. Como eu queria pular esse ano de minha vida.


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