Capítulo 17

A água saia fervendo do chuveiro, tanto que o vapor embaçava o vidro do box. Seria a melhor alternativa para relaxar, porém, relaxar estava fora de cogitação no momento. Por que eu tive a brilhante idéia de fazer um termo de ciência falso com a cópia da assinatura de Ambre? Consegui, com Nathaniel, um cartão que a mesma fizera, e assinara. Peguei-o e falsificaria, para mandar a conta do salão e dos vestidos para ela. No meio desse rolo todo, eu desisti. Só que o cara que eu tinha contatado não aceitou este fato. 

Passei a noite em claro, e já eram 9:32 da manhã. Me preparei para sair: luvas, bota de cano alto, jaqueta e boina. Mesmo não sendo de madrugada, o tempo se fazia frio.Logo, encontrei-me cara a cara com o sujeito. Pela primeira vez, vi seus olhos. Escuros, um pouco puxados.

- Vim pegar o documento que tratamos. Trouxe parte do pagamento.

- Vejo que leva jeito para negociar - o rapaz sorriu, deixando à mostra seus dentes brancos e bem cuidados - Aqui está, como você pediu. - estendi a mão, recebendo o documento falso, que apresentaria ao salão, dizendo que Ambre estava ciente de que a conta seria mandada para a casa dela. Entreguei US$ 300,00, como sendo a parcela inicial. Percebi que, ao me entregar, o rapaz usava luvas, evitando deixar impresso suas digitais.  Acenei, despedindo-me.

De volta à pensão, preparamos um rápido almoço no refeitório, e corremos para alugar vestidos.

- Não quero algo muito decotado, porque fica indecente! Uma cor clara, de um jeito bem meigo. Ah, e não tomara-que-caia, porque incomoda, vou ter que ficar puxando pra cima conforme me mexo! - Melli gesticulava. - Hm.. não,não, talvez, não, PERFEITO! - escolheu um vestido girlie, de um rosa claro. Continha um cinto, com uma florzinha do lado. A saia era plissada, e a parte de cima justa, com alças finas. Já o meu, um vestido azul petróleo, puxando para um tom esverdeado. Na cintura, uma faixa de renda preta, muito bem trabalhada. Tomara-que-caia, curto. Antoinette escolheu um vermelho, justo em cima e solto em baixo, com um saiote, para dar volume. Ao sair, mostrei o documento falso, enviando a conta para a casa de Ambre. Não vou negar, estava nervosa.

Aceitaram-o, e tranquilizei-me. Agora, salão! Esperamos sentadas - e não, isso não é piada - . E a espera valeu muuito a pena. Iríamos tostar todo o dinheiro de Ambre, sem que ela soubesse. 

- Oie! Tudo bem? - perguntava uma moça simpática, de longos cabelos brancos e roupa preta e roxa - Meu nome é Rosalya e  terei o prazer de atendê-las. Então, o que será hoje? - ela sorriu. 

- Um verdadeiro tratamento de spa, completo. Para nós três. Cabelo, unhas, depilação, massagem, maquiagem... - respondi.

- Eba! Adoro! Posso lhes dar umas diquinhas, e já colocamos as fofocas em dia. Salão é para isso! - Rosalya entusiasmou-se.

- Com certeza! Hoje à noite temos um jantar com uns bofes ma-ra-vi-lho-sos! - Antoinette falou, e Melli e eu concordamos.

- Venham, vamos entrando. Meninas, estas são ...

- Eu sou Caitlin, esta é Melli e esta é Antoinette - assenti, esboçando um sorriso.

Nosso dia foi muito divertido. Fizemos caras e bocas em frente ao espelho, cantamos, lemos revistas e fofocamos. Teve a parte dolorosa, como tirar cutícula, alguns puxões no escovar o cabelo e na depilação. Mas valeu a pena! Estaríamos divando, haha! Só que, infelizmente, nosso dia de spa estava chegando ao fim para.. chegar ao momento "tchan!" depois de toda esta preparação. Entreguei, novamente, o documento, e aceitaram. Foi tudo "de boa". 

- Voltem sempre que quiserem e puderem! - Rosalya despediu-se.

A campainha tocou. Senti um arrepio ao longo da espinha. Mirei pelo olho mágico, e abri a porta devagar. Dois rapazes muito bem alinhados, de terno escuro. Um loiro, de cabelos lisos e brilhantes, com um largo sorriso. Ele corou, desviando o olhar. O outro, ruivo, de cabelo um pouco mais comprido e desfiado. A franja caía-lhe sobre os olhos verde acinzentados, fazendo com que ele soprasse a mesma. Num charme misterioso e indecifrável, exibiu um sorriso malandro, misturado com tímido. Exalava um perfume suave, e eu estufava o peito apenas para senti-lo. Antoinette e Melli apareceram atrás de mim, e aparentavam pensar o mesmo que eu.

- Buonanotte, signore. Preparadas para uma noite italiana? - Castiel, o ruivo, perguntara. 

- Gostaríamos de acompanhá-las. Venham conosco, por favor. - Nathaniel nos conduziu até o carro, e abriu a porta para nós.