Acordo sem ânimo de novo.Essa é a primeira noite que não tenho pesadelos nem interferências empáticas de Grover desde que fui para o acampamento, mas agora não consigo parar de pensar em Annabeth, o que não me faz sentir muito melhor. Depois do nosso "episódio" no Monte Etna (no qual, para os esquecidos, ela me beijou), eu tenho absoluta certeza e consciência de meus sentimentos por ela, mas eu simplesmente não consigo botar pra fora.Não perto dela pelo menos. Mas que droga! Eu tenho coragem para enfrentar meu pai, Hades, Zeus e até mesmo Cronos, mas não para enfrentar uma filha de Atena! Isso faz algum sentido?! Não do meu ponto de vista. E aposto que menos ainda pelo de Annabeth. O que há de errado comigo afinal de contas?! Eu mergulhei no Estige pensando nela, Enfrentei Atlas para poder levá-la de volta ao acampamento com vida,recusei a imortalidade, Calipso, Ogígia, e até mesmo um trono no Olimpo por ela, e cheguei até aqui para...Desistir?Seguir em frente com esse plano? Esquecer tudo isso e encarar o fato de que tudo o que Annabeth quer comigo é amizade?

–Não....- penso comigo e descarto essa última opção. Se fosse assim, porque raios ela teria me beijado?

– Perseu Jackson! Quer se atrasar para nossas férias no acampamento? Vamos, se levante e vá se arrumar! - Sou bruscamente interrompido entre meus pensamentos pela voz da pessoa que mais temia ouvir nesse momento.

–Annabeth! - Grito involuntaariamente ao pronunciar seu nome e ela ri. O que foi? O amor pode acabar com os meus (poucos) neurônios também, OK!

– Você pode se levantar e trocar de roupa antes de ir para o acampamento? Odiaria ver você passar vergonha caminhando pela cidade e por lá com um pijama do Pikachu...- Ela disse, tentando não rir.

–MAS QUE DROGA! - Que droga mesmo! Gritei involuntariamente de novo, me apressando em puxar o lençol aos meus pés e cobrir o ridículo pijama que ganhara de Paul Blofis de aniversário na noite anterior. Eu não gostei do presente, mas fingi o contrário para não deixá-lo chateado, o que não deu muito certo, já que ele dormiria aqui e eu fui obrigado a caminhar pela casa com uma calça e uma blusa ambas brancas com estampas de Pikachus sorridentes, soltando raios, e fazendo cara de mau, e milhões de Pokebolas.

–E então? Não vai me cumprimentar direito? - Ela perguntou esticando os braços para um abraço. Eu quase havia me esquecido da presença dela no quarto, então corei imediatamente. Ela havia perguntado como se fosse óbvio que eu estava mais preocupado em esconder o ridículo pijama do que com os meus modos, o que não era em todo mentira. Na verdade eu estava tentando não dar com a língua nos dentes ao cumprimentá-la. Mesmo temendo isso, me levantei ainda segurando o lençol enrolado no corpo, com o cabelo desgrenhado, e provavelmente com resto de bolo azul no rosto.

– Oi Annab...- No meio da frase, pisei em uma parte do leçol que esqueci de pegar e quase desabei de cara no chão, mas ela me segurou pelos ombros. Enquanto me ajudava a me sentar, seus olhos cinzentos e perfeitos encontraram imediatamente os meus, e pela primeira vez no dia, notei o quanto ela estava bonita. Ela usava uma blusa branca sem mangas, um short preto de um tecido que não conheço, e sem o habitual rabo de cavalo: seus cabelos caiam em ondas sobre seus ombros e lhe deixavam com uma aparência corada, apesar de ter a pele clara.

Ao perceber que eu estava secando-a com o olhar, ela desviou imediatamente seus olhos dos meus e puxouo uma mecha de cabelo que teimava em sair do lugar, de volta atrás da orelha (quase surtei ao ver essa cena. Poxa, arrumar aquela mecha teimosa atrás de sua orelha era o MEU trabalho...), mas não antes de eu perceber que ela só tentava esconder seu rosto, agora realmente corado.

– Porquê você está me olhando assim? - Perguntou sorrindo, mas ainda evitando meus olhos.

Eu não consegui dizer o que queria.

Eu juro que tentei dizer "É so que você está muito bonita Annabeth...". Porém, uma coragem repentina, que veio sei lá de onde, me fez entrelaçar seus dedos nos meus e puxar seu rosto de volta para onde estava antes, obrigando-a a olhar para mim, e dizer:

– Acho que você desconfia...

Nesse momento, um Paul Blofis aparentemente sonolento, entrou no meu quarto.Me apressei em me afastar de Annabeth, antes de perceber que ele estava só de cuecas perguntando e respondendo coisas para si mesmo.

– Você aceita?Siiiiiiiim.... E você? Eu tambéééééém....

Antes de mais nada, devo dizer que Paul é sonâmbulo.

Eu já estou acostumado com sues ataques de sonambulismo, mas estava realmente preocupado com Annie ( e sim, eu chamei ela de Annie por pensamento. Se tivesse chamado ela assim de verdade, ela teria me afogado no Estige, com certeza (mesmo sendo impossível)), então me levantei e o empurrei até a porta do meu quarto, trancando-a atrás de mim, e antes mesmo de perceber, Annabeth estava em pé na minha frente, e eu com uma conta de colar em minha mão.

– Feliz aniversário, Cabeça de Alga. A propósito, fui eu que fiz...-Mesmo tentando parecer humilde, ainda identifiquei um tom de orgulho em sua voz.

A conta era realmente linda: na parte de trás, a imagem alaranjada do Monte Etna em erupção me trazia lembranças do beijo, de telquines e de Ogígia, mas principalmente sobre Annabeth. Na parte da frente, letras coloridas de branco pairavam sobre um fundo lindo de azul. Como sou disléxico, demorei um pouco para distinguí-las.

– O que exatamente significa "S.T.A.P.J.C.D.A."?

Ela riu e abraçou meu pescoço de um modo que achei quase impossível não me inclinar e beijá-la, mas me segurei.

–Se você conseguir não se meter em encrenca e for muito legal comigo nesse verão, eu te conto o significado.- Desafiou ela.

Era uma coisa quase impossível eu não me meter em encrenca, mas mesmo assim...

– Fechado!- Não hesitei em aceitar seu desafio sorrindo, e me soltei de seu abraço indo para o banheiro as pressas me arrumar. Que droga! Tenho 15 minutos para me arrumar e chegar ao acampamento!