Tess’s P.O.V.

– E aí, o que tá achando da boate? – gritou alguém ao meu lado, devido à altura da música. Me virei e vi Cory.

– Ah – dei de ombros – É bem legal.

– Que tal conversarmos em um local mais silencioso? Não tô escutando nada – Cory perguntou. Dei de ombros novamente e segui com ele até a saída de emergência, que dava para uma espécie de rua mal iluminada.

– Você não parece o tipo de pessoa que curte boates – ele disse e sorriu.

– É – disse e abaixei minha cabeça, encarando meu copo de refrigerante – Onde está Elle?

– Foi até o bar pedir algo para beber – Cory disse e apontou para o meu copo – Você devia fazer o mesmo, ou vai ficar só no refrigerante?

– Eu não bebo – disse – Na verdade, eu sou uma pessoa muito estranha – ri fraco pelo nariz e abaixei minha cabeça novamente, voltando a encarar meu copo.

– Hey – Cory disse meigo e levantou meu queixo delicadamente, me fazendo olhá-lo – Você não é estranha porque não bebe ou não gosta de boate. Na verdade, isso só te faz mais especial. Uma garota com personalidade, que é uma coisa rara de encontrar hoje em dia.

– Obrigada – sussurrei tão baixo que talvez ele nem tenha escutado.

Depois disso o silêncio pairou entre nós. Não havia o que dizer, então ficamos apenas calados, ouvindo o som que vinha abafado de dentro da boate.

Não demorou muito e eu logo percebi o que iria acontecer ali, pois Cory se aproximava cada vez mais. Ele tocou minha cintura levemente, me fazendo colocar meus braços ao redor do seu pescoço.

Cory levou uma das mãos até minha bochecha, e pousou-a ali, fazendo um carinho leve com o dedão. Fechei meus olhos e logo pude sentir seu hálito de menta bater em minha boca, significando que ele estava bem perto, mais perto do que ele deveria.

– Cory - disse e tirei minhas mãos do seu pescoço, colocando-as em seu peito, fazendo-o parar de se aproximar – Para, por favor.

– Por que Tess? – ele perguntou, encarando meus olhos – Eu sei que a gente não se conhece há muito tempo, mas realmente gosto de você.

– Cory – disse e fechei meus olhos, mordendo o lábio inferior – Tá muito cedo, vamos com calma, ok?

– Tudo bem – ele disse e sorriu fraco – Vamos voltar? – perguntou e eu murmurei apenas um ‘uhum’ baixinho, ainda envergonhada pela situação anterior.

Entramos na boate e logo demos de cara com uma Elle bastante animada, dançando como se não houvesse amanhã.

– Elle – toquei seu ombro – Você está bêbada?

– EU? – ela gritou – MAGIIINA! – disse prolongado a palavra.

– É, ela tá bêbada – Cory disse ao meu lado.

– Qual é gente? Vamos dançar! – Elle disse um pouco... digamos que animada demais, e nos puxou para a pista de dança, onde tocava uma música bastante animada.

Elle levantou seu copo quando o som de Troublemaker invadiu a boate. Ela deu um gole na bebida e adentrou a multidão que se formou no centro da pista de dança.

Ri fraco e mexi meus quadris lentamente, tentando fazer algo parecido com uma dança. Vi Cory sorrir fraco e estender a mão em minha direção. Peguei-a e no mesmo instante ele me puxou, fazendo nossos corpos se chocarem.

– Você é linda dançando – disse e passou um braço ao redor da minha cintura, dando um beijo estalado na minha bochecha.

– E você mente muito mal – disse e dei uma risada, agradecendo por não estar um clima ruim entre nós dois, afinal, Cory é um grande amigo.

– Foi tão ruim assim? – disse ele e eu dei um tapa leve no seu braço, fazendo-o rir – Brincadeira, você é boa em tudo que faz.

– Hm, não em tudo, sou péssima em esportes – disse e fiz uma pose de metida.

– Nossa, que modesta – disse e rimos.

Passei os olhos pela boate e por um segundo meu coração congelou.

Por um minuto eu pensei em ter visto aqueles olhos cor de mel por qual eu era – e sou – apaixonada me encarando.

Mas eu percebi que tudo aquilo – infelizmente – não era imaginação, no momento em que pude vê-lo piscar os olhos.

Saí correndo sem rumo, esbarrando em algumas pessoas sem se preocupar em pedir desculpas.

Deixei Cory e Elle para trás, mas na verdade, a única coisa que me importava no momento era achar alguma porta que desse acesso à saída daquela boate, a qual eu nunca deveria ter ido.

E de repente, veio um estalo na minha cabeça.

A saída de emergência.

E foi pra lá que eu corri, abrindo-a depressa. Arranquei meus saltos dos pés, e coloquei-os nas mãos, continuando a correr o mais depressa possível, para o lugar mais longe o possível.

Avistei um único poste velho que era responsável por toda a – baixa – iluminação daquele local. Sentei no chão, encostada no poste, e trouxe meus joelhos ao encontro com meu corpo, afundando minha cabeça entre eles.

Filetes de lágrimas já brotavam dos meus olhos, e caíam sem permissão alguma em direção ao meu queixo.

Lágrimas de raiva, medo, dor, angustia e saudade.

Eu sei, eu sou mesmo uma idiota. Depois de tudo o que ele fez, eu ainda estou aqui, chorando. E o pior de tudo, chorando de saudade.

Mas na verdade, as memórias de tudo o que passamos não haviam sido esquecidas, e sim adormecidas no enorme buraco que se formou em meu coração. Memórias estas que agora passavam como flashes na minha cabeça.

Flashback on

– Dá pra parar? – perguntei enquanto tentava fazer com que Justin parasse de rir – Ok, eu vou pra casa – disse e virei às costas, seguindo o caminho da minha casa.

– Hey Tess, espera! – ele disse e tocou meu ombro levemente, me virando e me fazendo encará-lo – Desculpe ok? Mas você nunca disse que não sabia andar de bicicleta. Se quiser eu posso te ensinar.

Bufei e fui caminhando em direção a uma das bicicletas caídas na grama, onde havíamos colocado.

– Ok, me ensine – disse e ele veio em minha direção, me dando um pequeno beijo nos lábios e me ajudando a subir na bicicleta.

Justin passou a tarde inteira me ensinando a pedalar, e quando eu finalmente aprendi, ele me levou a uma árvore, onde escrevemos nossas iniciais dentro de um coração.

Definitivamente, Justin é uma pessoa muito romântica.

Flashback off

Fui interrompida por um toque em meus ombros. Levantei a cabeça rapidamente e encontrei duas orbes cor de mel. As orbes que eu mais amei em minha vida.

– Tess? – sussurrou com a voz baixa, um pouco falha, acariciando minha bochecha com as costas da mão – Tess, é você?

Oh, só Deus sabe o quanto eu senti falta do seu toque, da sua voz rouca, dos seus carinhos e do efeito que ele causa em mim.

Faz um minuto desde que te vi garoto

Preciso admitir que é bom ouvir sua voz

E parece que esqueci como você me faz sentir quando você está por perto

Vejo que você não perdeu seu senso de estilo

E ainda você me faz ficar louca com seu sorriso

Não posso negar que ainda tenho esses sentimentos dentro de mim

De repente, levei um choque de realidade, o que fez me lembrar de que o motivo pelo qual eu estava chorando era justamente ele.

Levantei apressadamente, e passei as mãos pelos olhos, tentando enxugar as lágrimas que ainda caíam.

– Não – sussurrei com a voz baixa e dei um passo para trás – Sai daqui, por favor – disse e fechei os olhos, lembrando da dor que ele me causou.

É engraçado como as coisas podem mudar

Mas ainda continuam a mesma

A vida não é engraçada?

Amor aqui vou eu de novo

Eu olho para seus olhos e

Meu coração relembra quando

E eu percebo que nunca tive ninguém como você

Toda vez que eu escuto seu nome

Parece com que o sol acabou de aparecer após uma tempestade

E percebo que está acontecendo de novo

Amor aqui vou eu de novo

– Tess, é você? – repetiu a pergunta dando um passo para frente, me fazendo recuar um para trás – Por favor, me responda.

– Não! - disse e saí correndo em direção à boate.

Ainda me lembro como você me faz ficar sem jeito

Como é difícil encontrar palavras para falar

Não consigo para de pensar

Tentei mas não consigo

Mas deixei para trás tudo que tínhamos

Mas esses sentimentos continuam a voltar

Não pensei que você fosse capaz de me fazer sentir assim

Atravessei toda aquela gente, e fui em direção à saída principal. Passei por todos os seguranças, e avistei um taxi do outro lado da rua. Atravessei a rua ao mesmo tempo em que uma luz forte me atingia.

Dor.

E depois escuridão.