Subi a superfície quase sem ar, meu elástico escorregou-se dos meus cabelos molhados, fazendo-os caírem em ondas negras sobre meus ombros. Tirei algumas mechas de meus olhos, e pude ver Lysandre lendo embaixo de um salgueiro roxo enorme, e Castiel sentado abraçado com os joelhos observando sua face no lago.

– Lys? Não vai entrar? A água tá ótima. – Falei alto, passando a mão molhada pelo meu rosto.

– Vou terminar esse capítulo e já entro Marizinha. – Disse Lys rindo debochado da expressão furiosa de Castiel. – Eu sorri e voltei minha atenção para á água, mergulhei mais fundo novamente, conseguia quase encontrar os pequenos peixinhos que faziam cócegas nos meus pés. Senti um estrondo na água tirando minha paz por completo. Olhei para os lados e vi Castiel ele estava completamente molhado, o pior é que ainda estava de roupas.

– Lysandre! – Castiel disse cerrando os dentes. – Você disse que não iria entrar. – Lys riu divertido enquanto eu corava, Castiel usava uma camiseta branca, que por estar molhada marcava bem seus músculos, me senti corar violentamente por ter pensamentos assim. Lysandre também estava na água, aproveitei pra provocar ciúmes em Castiel novamente.

– Lys fofo. – Eu disse sorrindo meiga e me aproximando. – Senti alguma coisa nas minhas costas, será que você poderia ver o que é... – Mal terminei a frase e senti um jato d’água em meu rosto, olhei para o lado e vi Castiel rindo irônico.

– Foi sem querer. – Ele sorriu satisfeito. – Ah, mas você vai me pagar. – Eu falei empurrando a água com as mãos o acertando em cheio. Ele revidou, e continuamos assim por um bom tempo até que entrou muita água no meu ouvido, e eu não revidei mais.

– O que foi? – Perguntou o ruivo me olhando com cara de dúvida.

– Nada, é só água. – Falei batendo minhas mãos no ouvido para ver se conseguia tirar. – Vem cá, deixa eu te ajudar com isso. – Ele disse convencido.

– Tira a mão de mim garoto, eu sei o que to fazendo. – Eu disse com raiva.

– Você vai ficar com água nos ouvidos eternamente se continuar assim, só queria ajudar sua palhaça. – Ele disse me olhando furioso.

– Não me importo, quem é que vai tirar você? Idiota. – Eu disse o fuzilando com o olhar, ainda batendo nos meus ouvidos.

– Você é mesmo teimosa em garota. – Ele falou nadando até mim. – Olha, é assim – Ele disse abaixando minha cabeça lentamente, enquanto a água escorria do meu ouvido. – Tá vendo, quem é o errado agora?

– Tá, tá bem, OBRIGADA. – Falei entre dentes. – Mas se não fosse você e essa sua guerra de água infantil não teria acontecido isso. – Apontei a língua, olhando para Lysandre, que observava tudo de longe rindo com cara de “Esses dois foram feitos um pro outro”.

– Gente. – Lysandre disse se aproximando. – Detesto interromper, mas precisamos ir, já está escurecendo.

– Anão Lys, só mais um pouco tá tão bom aqui. – Falei mexendo os pés embaixo d’água. – Castiel olhou sério para Lys, que revirou os olhos e assentiu com a cabeça. – Só um pouco tá bem. – Lys disse sério.

– Combinado. – Falei abrindo um sorriso de orelha á orelha. Lysandre saiu da água, colocou seu tênis e continuou lendo embaixo do salgueiro. Castiel pelo contrário continuou me irritando cada vez mais na água.

– Mari. – Ele me olhou. – Mariana pra você. – Respondi me afastando.

– Você nada tão bem. – Ele me lançou um olhar desconfiado, e não pude entender se foi um elogio ou não.

– Porque essa cara? – Olhei pra ele curiosa.

– Como pode ter se afogado naquela piscina da chácara e nadar tão bem aqui? Você sabe nadar muito bem, se afogou de propósito então? – Ele me olhava cada vez mais desconfiado.

– Talvez. – Eu ri sínica enquanto mergulhava me afastando do ruivo.

– Ei espera. – Ele disse mergulhando atrás de mim me puxando pelo pé. – CASTIEL! – Eu falei subindo a superfície irritada. – Dá pra me deixar em paz?

– Não até você me contar a verdade sobre seu “afogamento”. – Ele disse a ultima palavra fazendo sinal de aspas com as mãos.

– Para de desconfiar de mim, eu realmente me afoguei, Dake me jogou sem jeito e eu acabei engolindo muita água. E alias não devo satisfações á você. – Falei nadando até uma rocha que havia no meio do lago. Castiel me seguiu e sentou na rocha, me fazendo ficar muito irritada.

– Ei! Eu que ia sentar ai. – Falei franzindo o cenho.

– Você está sem blusa esqueceu. – Ele riu sínico. – Tem certeza que vai se sentar assim no meio do lago? Aposto que está se achando uma sereia. – Ele riu debochado por um bom tempo.

– E porque não? Posso muito bem sentar ai pentear meus longos cabelos e só faltaria uma cauda pra me confundirem com uma sereia. – Eu disse convencida.

– Ah claro, até porque você é linda demais não é. – Ele revirou os olhos sarcásticos.

– Ei, tá dizendo que sou feia? – Olhei para baixo decepcionada. – Castiel corou.

– Eu não disse isso. – Ele falou emburrado. Percebi que ele estava tirando sua blusa branca colada no seu corpo á jogando para mim. – Veste isso, e sobe aqui, tem uma coisa que você precisa ver.

– Vesti sua blusa enorme que pelo menos ficava larga e não grudada no meu corpo. Subi a rocha, e pude ver um pequeno peixinho dourado lutando pela vida. – Como será que ele foi parar ai? – Perguntei assustada.

– Deve ser mais um desses peixes filhotes rebeldes que desobedecem aos pais e acabam assim. – Castiel riu.

– Alguém andou vendo muito “Nemo”. – Eu ri e Castiel franziu a testa. – Vem cá peixinho. – Mergulhei-o no lago, ele era dourado e possuía nadadeiras longas, era uma gracinha. – Olha Castiel, ele tá me olhando.

– Parece que ele está agradecendo. – Castiel riu. –

– Não posso deixar ele aqui perdido dos pais. – O peixinho ainda continuava embaixo da rocha nos fitando.

– Olha. – Castiel pegou um pequeno saquinho transparente no bolso de sua calça. – Coloca um pouco d’água aqui e o leva para casa.

– Onde arrumou esse saco? Não confio em você. – Comprei balas no caminho garota, vai levar o peixe ou não? – Ele perguntou furioso.

Peguei o saquinho o mergulhei no lago e coloquei o pequeno peixinho. – Dobby. – O quê? – Castiel perguntou.

– Dobby, esse vai ser o nome dele. – Eu sorri gentil olhando para o peixe.

– Que mau gosto, boa sorte pra você “Dobby” – Ele disse rindo, fazendo o peixe pular dentro do saquinho.

– Ele gostou tá vendo. – Eu falei apontando língua.

– Que seja. – Castiel disse olhando preocupado para o céu. – O que foi? – Perguntei confusa.

– Tá ficando tarde. A gente se distanciou muito, anda Mari vem. – Ele disse sério.

– Qual é Castiel, tá achando que manda em mim? – Eu falei rindo irônica. – Vou voltar com o Dobby e você volta sozinho. – Eu disse enquanto tentava descer da rocha, porém estava escorregadia e acabei me prendendo rasgando um pedaço da blusa de Castiel e machucando minhas costas.

– Pelo visto vai ter que voltar comigo. – Ele riu logo diminuindo o tom da sua risada ao ver que minhas costas sangravam. – Ih, parece que você arranhou feio isso. – Vem cá. – Ele disse me colocando de cavalinho em suas costas, eu não estava em posição de discutir então apenas assenti. – Cadê o Dobby? – Perguntei.

– Tá aqui comigo. Pronto Sr. Mariana, podemos embarcar no cavalinho Castiel? – Ele disse risonho.

– Preferia que fosse um tubarão me devorando. – Eu ri com dor. – Você não tem muita escolha. – Castiel disse irônico mergulhando na água comigo em suas costas. Já estava muito escuro, conseguia enxergar algumas estrelas no céu enquanto me agarrava no pescoço de Castiel para não cair. Ele estava calado e parecia se esforçar muito.

– Cast... Tudo bem se eu for nadando, minhas costas nem doem mais. – Eu falei compreensiva.

– Cast é? – Ele riu. – Achei que era Lys fofo. – Ele falou abafando as últimas palavras.

– Eu corei e logo ri. – Está com ciúmes Castiel? – Eu falei convencida.

– Não tenho ciúmes de você. – Ele disse furioso. – Mas, você e o Lysandre... Você gosta dele? – Ele perguntou sem demonstrar emoção.

– E se eu estiver gostando Castiel, você não confia em mim mesmo para assumir algum relacionamento comigo. – Eu falei decepcionada.

– Mari, você sabe que não é assim. – Ele disse arfando, empurrando os braços cada vez mais fortes na água.

– Porque não admite logo que me ama? – Eu falei rindo irônica.

– O QUE? – Ele se virou rápido me fazendo cair de suas costas, direto na água.

– CASTIEL! – Resmunguei subindo a superfície. – Quieta garota, tem alguém aqui. – Shh. – Ele olhou para mim fazendo um gesto de silencio com os dedos.

– Q-Quem? – Sussurrei.

– Eu não sei, são 3 homens e estão vestido de preto, estão vindo para cá. Mergulha Mari, não sobe até eles irem. – Ele disse me puxando para baixo. Seus fios ruivos como fogo dançavam na água, eu podia ver porque estava de olhos abertos, estavam ardendo, mas eu não me importava, o medo me tomava e o sufoco também, meu oxigênio estava acabando e eu tinha que subir a superfície. Cutuquei Castiel com o pé, que tampou minha boca, achei que estivesse tentando me matar, mas percebi passos ao redor do lago. – Droga. – Vou morrer sem ar. – Pensei desejando que aqueles homens fossem embora. Não aguentando mais, me desprendi dos braços de Castiel e nadei rápido até a outra parte do lago, subi á terra peguei meu tênis e sai correndo disparada, chamando atenção dos homens que pareciam guardas. Estava escuro e não podiam ver meu rosto, os distrai me escondendo atrás de uma árvore enorme, dando tempo de Castiel sair da água também.

– Te encontrei. – Castiel pegou meu braço me fazendo suspirar aliviada. – A gente tem que sair daqui agora. – Ele disse me puxando pelo braço.

– Mas e Lysandre? – Perguntei aflita.

– Já deve ter ido embora, anda Mari vem. – Ele pegou meu pulso, quando observou que o portão da frente estava sendo vigiado. – Deve ter outra saída. – Completei agora puxando seu pulso para os finais do parque.

Avistamos uma grade bastante velha, coberta de ferrugem que dava passagem á um terreno vazio.

– Vamos ter que pular. – Ele falou preocupado.

– ESPERA! – Eu falei assustada. – Dobby ainda está com você não é? – Perguntei aflita.

– Claro que está garota, anda vamos. – Ele disse escalando a grade caindo de cara num mato semi aparado. – Anda sua lesma. – Ele me olhou.

– É alto. – Eu disse receosa. – Prefere que eles te peguem? – Castiel disse apontando para os guardas que vinham em minha direção.

– Ei vocês dois! – Eles disseram me fazendo escalar rapidamente a grade, cai em cima de Castiel que murmurou algumas palavras que não entendi. Nós dois saímos correndo disparado, nossos corações ofegavam e a adrenalina estava lá em cima. Finalmente paramos numa rua deserta, parei por um momento e descansei minhas pernas ofegando.

– Você é doida! – Ele disse rindo também ofegando.

– Você que é, devia me falar que eles estavam atrás de mim. – Eu falei estressada.

– Mas admita, foi divertido, você gostou! – Ele me olhou malicioso.

– Talvez. – Eu ri de canto. Estava de noite, e aquelas ruas desertas me davam medo, será que estava perdida novamente com Castiel?

– Sei o que está pensando, não se preocupa daqui a pouco a gente chega em casa. – Ele disse se aproximando.

– Não chega perto de mim. – Eu disse dando dois passos para trás.

– Qual é Mah, até quando vai ficar assim? – Ele disse passando a mão pelas minhas costas. – Eu tentei recuar, porém ele parecia estar sentindo o arranhão que sofri na rocha do lago.

– Isso tá feio hem. – Ele disse puxando meu corpo para perto do seu.

– Me solta. – Eu falei empurrando de leve seu peito com as mãos. – Ele passou a mão pelos meus cabelos devagar, me soltando. – Desculpe. – Ele disse se afastando.

– Vamos embora daqui logo. – Eu disse e ele assentiu com á cabeça.

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