— Por que o pastel daqui é tão bom? —comentei, sentindo o cheiro da comida quentinha que eu acabara de receber da atendente mal humorada da lanchonete, Mariane.

— Nunca provei. —disse Tessa, abocanhando seu sanduíche vegetariano.

— Gosto daquele croissant de chocolate. -comentou Paula, os olhos brilhando, presos na vitrine de salgados da lanchonete. Muito provavelmente ela não comeria nenhum dos quitutes, era uma coisa meio comum entre as meninas magrelas, que tentavam desesperadamente emagrecer mais ainda - e a semelhança delas com um esqueleto é impressionante, diga-se de passagem -. Elas preferiam não lanchar nada no intervalo.

— Nunca provei o pastel também. —Jonas olhou brevemente para mim.

— Querem provar? —estendi o meu salgado intacto para os dois. Tessa rejeitou, mas Jonas disse:

— Acho que vou comprar. —depois tirou a carteira do bolso e se levantou, após agarrar uma nota de dez reais de um compartimento vermelho.

—Não! -berrei, agarrando o seu pulso no automático, se ele fosse um chocolate gigante - mas ele é muito melhor que uma barra de chocolate inútil -, eu também faria algo assim. Infelizmente me toquei do mico tarde demais e enrubescida, cortei um pedaço do meu e o estendi. —Vai que você compra e se arrepende?

— Eu posso...?

— Pega. —respondi gentilmente.

O menino aceitou e segurou meu pulso. Por um momento, achei que ele fosse tirar aquele pedaço e comer na própria mão, mas ele fez questão de erguer meus dedos e pegar o pastel com a sua boca.

Juro: A sensação de taquicardia não é legal.

— Realmente. Esse é delicioso. — disse Jonas — Vou comprar um para mim. Obrigada, Emy.

Meninos são babacas o suficiente para não entenderem reações adversas a algumas de suas ações. Eu chamaria isso de "deficiência masculina hereditária", mas outros chamam simplesmente de "ingenuidade". E é exatamente em homenagem a esse "defeito" que eu, neste momento, quase não ganhei o Oscar de Melhor Atriz em Cena de "mãmãememateantesdosvinteecinco".

— É... —foi o máximo que saiu pelo resto do intervalo, tirando os suspiros e arquejos com a ameaça de qualquer aproximação do Jonas.

Eu era uma idiota, uma completa idiota que nunca mais passaria o recreio com Jonas Viccine outra vez. Ou só até que meus dedos parassem de sentir calor sempre que viam sua linda... Boca.