Piper estava deitada em uma cama, com a cabeça no colo de Frank. Ele afagava levemente seus cabelos enquanto conversava com Hazel. Afrodite havia desaparecido do jardim sem dar notícia havia pelo menos duas horas. O que teria acontecido? Será que alguma coisa havia dado errado? Onde Leo estaria? Ela apertou um travesseiro ao pensar que ele podia estar com frio e fome, trancafiado em uma gaiola. Será que Hera o estava torturando? Ou ele nem estava mais vivo? Aquele pensamento a fez estremecer. Frank percebeu isso, e apertou sua mão.

- Calma, tá tudo bem.

- Então por que ela ainda não voltou? Onde ele está?

- Não sei. Talvez...

A fala do filho de Marte foi interrompida pelo barulho de uma porta se abrindo. Afrodite apareceu. Ela estava com os olhos vermelhos e o rosto cheio de lágrimas.

- Mãe. O que aconteceu? Cadê o Leo? – Piper se levantou.

- Eu... Eu não consegui, Piper. Ele foi punido. Não consegui fazer com que Hera o perdoasse.

Naquele momento, a filha de Afrodite literalmente caiu de joelhos. O mundo dela estava perdido. Leo, o garoto da sua vida, havia sido punido por uma besteira. E agora ela nunca mais o veria. As lágrimas não começaram a cair silenciosamente dessa vez. Ela começou a soluçar fortemente, tanto que até ficava difícil de respirar. Por que tudo o que havia de bom na vida dela tinha de ser tirado?

- Eu sinto muito. – a mãe dela chorava também – Eu tentei de tudo!

Piper não ouvia. Tudo o que ela escutava eram as batidas de seu coração martelando em seus ouvidos e seus altos soluços. Frank e Hazel a abraçaram. Ambos choravam, mas menos escandalosamente que a filha da deusa do amor. Eles não disseram nada, de que adiantaria? Ela nem escutaria. Ficaram assim por algum tempo. O choro de Piper foi diminuindo aos poucos, mas ela ainda estava sem chão. Um grande buraco se abriu em seu peito. Como ela poderia voltar para o Acampamento Meio Sangue sem seu Garoto de Reparos? Como poderia olhar para a mesa do chalé dele e não ter um acesso de lágrimas? Ela abriu o colar que estava em seu pescoço e tocou no pequeno martelo que havia dentro. Piper sempre carregaria aquilo consigo, pois assim teria um pedaço de Leo sempre com ela. A única coisa que restava dele.

- Piper, eu acho melhor você e seus amigos voltarem para o Acampamento. Já não há mais o que fazer. – Afrodite fungou.

- Vem, Pipes. – Frank estendeu a mão para ela depois de levantar Hazel.

Ela não queria sair dali. Se voltasse para o Acampamento, teria a lembrança constante de que nunca mais veria aqueles cachos castanhos, nem aquele sorriso zombeteiro. Nunca mais o abraçaria ou beijaria. Não poderia mais chamá-lo de idiota e depois beijar seus lábios de surpresa. Mas que escolha ela tinha? Pegou a mão de Frank e o seguiu para fora do castelo. Durante a caminhada até o elevador, ela não levantou a cabeça uma só vez. Não queria que vissem seu rosto. Lágrimas silenciosas escorriam por ele e caiam em sua blusa, que já estava toda molhada.

- Eu te amo, Piper. – Afrodite depositou um beijo na cabeça dela.

- Mãe?

- Sim.

- O que... – um nó se formou em sua garganta, mas ela se forçou a perguntar aquilo – O que aconteceu com Leo? Qual foi sua punição?

Ela o olhou com uma profunda tristeza. Parecia que não tinha coragem de dizer o que havia acontecido de verdade.

- Ele... Ele foi condenado com a mesma punição de Prometeus. Será acorrentado a uma pedra e um pássaro comerá seu fígado todos os dias. E o órgão crescerá novamente, a punição será eterna.

Piper apenas assentiu enquanto as portas do elevador se fechavam. Ela não derramou mais nenhuma lágrima. A dor era muito grande, mas ela aguentaria até chegar a seu chalé. Não queria que ninguém a visse em um estado deplorável, que com certeza era como ela iria ficar. Tortura eterna. Acorrentado a uma pedra. Pássaro. Fígado. Um garoto tão bom como Leo não merecia aquilo. Frank e Hazel não disseram nada. O único som era a música de elevador irritante. Na verdade, era uma música de alguma rádio. Já estava no final. A música que tocou em seguida foi como se dessem uma facada no coração de Piper. Era a mesma música que havia tocado na fogueira no dia em que ela ficou com a camiseta dele. Aquilo trazia tantas lembranças.

“E você me sussurra baixinho, promete tudo o que eu amo. E em suas derrotas você me promete, que um dia novo virá amanhã.”

- Eu prometo que um dia novo virá amanhã, Leo. E todos os dias eu vou pensar em você. – ela murmurou.

Os três semideuses entraram na van que os esperava. Argos olhou para Piper com compaixão. Ele já sabia? Ela se sentou e apenas olhou pela janela. O carro entrou em movimento e logo as ruas de Manhattan ficaram para trás, no lugar entrando as colinas verdes e o cenário tão conhecido dos arredores do Acampamento Meio Sangue. Logo que Argos estacionou o carro, Frank sentou-se ao lado de Piper.

- Temos de falar para o Quíron o que aconteceu.

- Eu sei. Será que vocês dois podem fazer isso? Eu não me sinto muito confortável, digamos assim.

Ele assentiu.

- Claro. Você precisa descansar e respirar um pouco. Vá para seu chalé.

Ela saiu do carro e seguiu para o chalé cor de rosa. Quando Piper passava, os outros paravam e a olhavam. Ela fingiu ignorá-los. Alguns comentavam e a olhavam com tristeza. Quando chegou à porta do chalé, viu que seus irmãos estavam lá. Drew estava lá. A filha de Afrodite só queria ficar um pouco sozinha para refletir sobre o que fazer. Foi para a floresta.

Enquanto andava, notou algumas flores por aí e teve uma ideia. Começou a colhê-las. Somente as mais bonitas e perfumadas. Após pegar uma quantidade considerável, ela seguiu seu caminho até o Punho de Zeus. Ficou em frente à pilha de pedras e se abaixou. Colocou as flores exatamente no lugar onde ele a havia encontrado. Foi ali o começo de tudo.

- Eu sei que você ainda está vivo, mas preferia que não estivesse. Você não merece punição eterna, merece ir para o Elísio. Você é um herói. O meu herói. Leo, eu sei que não pode me escutar. Queria que estivesse aqui. Preciso de você. O que vou fazer agora que não tenho mais meu Garoto de Reparos? – ela não se segurou mais.

Colocou para fora toda a tristeza acumulada durante a viagem. Os soluços altos começaram novamente. Seu coração batia tão forte e alto que ela não ouvia mais nada. Sua blusa estava toda encharcada pelas lágrimas amargas. Ela chorou por ele, por ela, por tudo nesse mundo. Queria que Hera ficasse acorrentada no lugar dele. Ela só queria poder vê-lo mais uma vez.

- Obrigada por tudo. Você sempre será meu. E eu sempre serei sua. – Piper conseguiu dizer entre os soluços desesperados.

De repente, ela ouviu alguém atrás dela. Virou-se bruscamente. Não dava para acreditar no que estava vendo. Não podia ser verdade.

- Alguém me disse que a minha Rainha da Beleza estava chorando. Posso saber quem fez isso, para eu matar o idiota? – Leo perguntou.

Piper não pensou depois daí. Correu para os braços do garoto e chorou mais ainda. Ele a abraçou forte. Era real. Ele estava ali. Ela inalou seu perfume, tocou seus cabelos. Piper pegou em seu rosto com as duas mãos.

- Você está aqui! Não acredito! Você está aqui mesmo!

- Estou! Vamos poder ficar juntos de uma vez por todas!

Ela não pensou duas vezes. Beijou-o como nunca havia feito antes. Era um beijo urgente, cheio de lágrimas, sentimentos e alegria. Eles precisavam um do outro. Aqueles acontecimentos haviam provado isso. Ele era dela. E ela era dele.

Após bastante tempo eles se separaram. Leo tirou os cabelos dos olhos dela.

- Agora você tem que me explicar bastante coisa, Valdez.

- Eu sei. Vem cá.

Leo e Piper se sentaram em uma rocha não muito longe dali.

- Como você está aqui? Afrodite disse...

- Eu pedi que ela mentisse. Queria te surpreender quando eu chegasse aqui.

- VOCÊ ME MATOU DE SUSTO, ISSO SIM! Agora me explica o que aconteceu.

- Tá bom! Foi assim...

Flashback On

- Minha decisão final é que o réu, Leonardo Valdez, é inocente de todas as acusações.

- O QUE? – Hera urrou no tribunal.

- Essa foi a decisão de Têmis. Não podemos contrariar.

- E tem mais. – Têmis disse – Você nunca mais poderá fazer nada contra esse semideus ou qualquer outro relacionado a ele, direta ou indiretamente.

Hera gritou furiosamente saiu batendo os pés fortemente.

Leo gritou de felicidade. Agora ele poderia voltar para casa. Ele iria reencontrar Piper.

- ISSO! EU SABIA QUE IA DAR CERTO! – Afrodite o abraçou de tão feliz que estava. – Precisamos contar isso para Piper!

- Não!

Ela olhou-o confusa e incrédula.

- Como assim?

- Quero que ela tenha uma surpresa quando me vir no Acampamento. Finja que eu não fui libertado, que Hera conseguiu sair vitoriosa. E faça uma boa atuação, viu?

Afrodite logo entrou no plano. Assentiu com a cabeça em concordância.

Flashback Off

- Não acredito nisso! Você e a minha mãe me deixaram desesperada por nada?! Eu tive um ataque quando ela chegou dizendo que você havia sido punido!

- Sinto muito. Queria que fosse uma surpresa.

Ela segurou sua mão.

- Não tem importância. Você está aqui à salvo, é só com isso que eu me importo agora.

Leo sorriu.

- Não está com raiva de mim?

- Não. Só não fala isso de novo, ok?

Ele beijou seus lábios de leve. Piper sorriu durante o beijo. Tudo o que estava relacionado a ele trazia emoções intensas a ela. No momento ela estava tão feliz que uma aura colorida envolvia os dois.

- Nunca mais.