Hera o havia enviado novamente para algum lugar que ele não conhecia. “Ótimo. Para completar a situação, aqui é escuro.”, Leo pensou. Ele começou a procurar em volta. As grades ainda estavam lá. Tateou o chão para se certificar que não havia nada ali e sentou-se. Ele enterrou a cabeça nas mãos. Por que tudo estava dando errado? As coisas estavam tão bem havia tão pouco tempo. Ele e Piper haviam assumido o namoro, ela havia gostado do presente, eles estavam no Olimpo pela primeira vez... E de repente tudo aquilo foi destruído. Eles foram separados. O pior de tudo: Leo sabia que estava errado. Ele havia xingado a deusa, agora estava sendo punido. Mas ele havia reconhecido seu erro antes mesmo de ser trancafiado naquela coisa que parecia uma gaiola de pássaros gigante. Será que, se tentasse dialogar com Hera, não conseguiria o perdão e seria liberado?

– Piper... – ele murmurou.

Sua pequena e doce Piper. Como ela estaria agora? Muito preocupada? Chorando? Ou estaria de cabeça erguida? Será que estava tentando achar algum jeito de tirá-lo daquela prisão?

O garoto foi tirado de seus devaneios subitamente. De repente, ele estava em outro lugar. Parecia uma sala do tribunal. Diversos bancos de madeira estavam atrás de duas mesas. Os deuses estavam sentados lá. Em uma das mesas estava sentada Afrodite. Ela vestia uma túnica branca de seda. Seus cabelos estavam presos em um coque. Ela deu um sorriso para Leo. Ele retribuiu o gesto.

Na outra mesa, a coisa era completamente diferente. Hera estava sentada lá. Seu rosto tinha uma carranca e ela o fuzilava com os olhos. O filho de Hefesto engoliu em seco. Por que ela ainda não o havia destruído?

Ao seu lado, um pouco mais encima, Zeus segurava um pequeno martelo. Foi então que Leo se tocou. Eles estavam em um julgamento. E ele era o réu.

– Dou início para o julgamento de Leonardo Valdez, acusado de desonrar o nome de Hera, deusa do casamento e minha esposa. – Zeus bateu o martelo duas vezes. – Acusação, pode começar seu argumento.

Hera deu um sorrisinho e se levantou.

– Senhoras e senhores, desde o início dos tempos, os mortais nos desonram e humilham de todas as formas possíveis. Difamações, calúnias e ofensas. – ela dirigiu um olhar furioso para o garoto – Sinto dizer que nunca os punimos da maneira correta. Na verdade, quase nunca os punimos. Então, por que não começar a honrar nossos nomes agora? Este garoto que está sentado bem ali me chamou de vários nomes e fez ameaças as quais não vou citar aqui, mas devo dizer que...

– Espera um segundo! O que está acontecendo?! – Leo interrompeu-a no meio de seu discurso.

– Sr. Valdez, não me interrompa. – Hera disse. – Como eu ia dizendo...

– Se eu estou sendo julgado, por que ainda estou dentro dessa gaiola? Quem vai me defender? Quem está julgando aqui?

Afrodite levantou-se.

– Se acalme Leo. – ela se virou para Zeus – Peço que tire essa gaiola do meu cliente, ele não poderá argumentar assim.

– Cliente?!

– Sim, Leo. Você é meu cliente agora. Estamos aqui para determinar seu castigo por ter supostamente xingado Hera.

– ELE ME XINGOU SIM!

– Ordem! – Zeus falou bem alto – Vamos tirar essa gaiola, você parece um pássaro aí dentro, garoto.

Com um estalar de dedos, Leo estava livre. Ele se sentiu aliviado, mas ao mesmo tempo apavorado.

– Quem está julgando? – ele perguntou para sua “advogada”.

– Eu estou. – uma pessoa se levantou.

Ela era com certeza uma deusa. Usava uma túnica grega branca. Seus cabelos castanhos estavam presos em um típico coque alto. Ao seu lado havia uma balança, uma espada e uma venda. Balança, espada, venda. Ela só podia ser...

– Têmis, deusa da justiça e das leis dos homens. – ela disse.

– Têmis vai ouvir os argumentos dos dois lados e vai determinar seu veredicto. – Afrodite disse.

– Agora que ele já está por dentro de todos os fatos, voltemos ao que interessa. – Zeus falou.

– Tudo bem. Como eu estava dizendo antes de ser rudemente interrompida, acho que deveríamos começar a fazer justiça a nós mesmos e fazer pagar aqueles que nos humilharam.

– Qual sua sugestão de punição?

– Sugiro o mesmo castigo dado a Prometeus.

Todos no julgamento prenderam o fôlego. Leo sabia exatamente o que aquilo significava. Ele seria acorrentado a uma rocha e todos os dias um pássaro viria e comeria seu fígado. E o órgão cresceria novamente. A tortura nunca teria fim.

– Obrigado. Agora é a vez da defesa.

Hera se sentou e começou a tamborilar os dedos na mesa. Afrodite se levantou. O futuro de Valdez dependia do discurso da deusa.

– Deuses e deusas. Concordo com o que Hera disse. Todos os dias somos humilhados e difamados pelos mortais. Isso acontece desde o início dos tempos. Mas, por que puni-los? Se fossemos cuidar de cada mortal que nos difama, todos seriam mandados para o Tártaro. E todos descobririam que o Olimpo ainda existe. Tem certeza de que é isso que querem? Já ignoramos muitas coisas, por que começar a nos importar agora? Não concordo que meu cliente deva ser punido. Muitos já fizeram coisas bem piores. Obrigada. – ela se sentou.

As mãos de Leo começaram a suar. Era isso? Será que Têmis já ia decidir o que aconteceria com ele, só baseada naqueles dois argumentos? Quando ele pensava que a situação não poderia piorar, Hefesto se levantou e caminhou até ficar cara a cara com Zeus.

– Eu não concordo com o que Afrodite disse! Acho que ele deveria ser punido!

O queixo de Leo caiu. Como seu pai podia fazer aquilo com ele? ELE ERA O PAI DO VALDEZ! DEVERIA DEFENDÊ-LO! Leo queria gritar, mas havia um nó em sua garganta.

– Hefesto, pare! – a deusa do amor gritou – Eu sei que você está chateado com o que eu fiz com você, com relação ao autômato. Olhe, eu sinto muito. Mas culpe a mim, não a ele. O LEO É SEU FILHO!

O deus das forjas ficou sem palavras. O silencio se instalou no tribunal. Mesmo com as pernas bambas, o réu se levantou. Tinha de fazer alguma coisa, porque se fosse contar com aqueles argumentos, estaria perdido. Ele ficou bem em frente à Hera.

– Agora, todos vão escutar o que tenho a dizer. Sim, eu xinguei você, Hera. Mas eu me arrependo muito por isso. Estava zangado por você ter me separado da garota que eu amo, mas eu entendo suas razões. Se não fosse por você, todos nós teríamos sido mortos pelo exército de Gaia. Você separou o Percy e a Annabeth, o Jason e a Reyna também. Eu fui egoísta e não pensei. Mas todos cometem erros, e eu me arrependo dos meus. Não estou dizendo isso apenas agora, mas eu já havia me arrependido pouco tempo depois de dizer todas aquelas coisas. Eu sinto muito mesmo. – ele caminhou até Têmis – Por favor, me dê uma chance. Eu prometo que vou ser uma pessoa boa de agora em diante. Eu tenho uma vida toda pela frente, não quero ficar acorrentado a uma pedra. Eu tenho amigos, o Acampamento, uma namorada! Eu amo a Piper, por favor, não me separe dela. Me dê uma chance. – sua voz falhou.

Os deuses o olharam com compaixão. A expressão de Têmis era indecifrável.

– Preciso de algum tempo para pensar. – depois disso, ela se retirou do salão.

Leo baixou a cabeça. Tudo o que restava era esperar. Ele se sentou em um degrau que levava para a sua cadeira de réu. Afrodite se sentou ao lado dele e o envolveu com os braços.

– Ah, Leo. Espero que dê tudo certo. Você não tem noção de como Piper está!

O garoto levantou a cabeça instintivamente ao ouvir o nome dela.

– Como ela está? Ela está bem? O que aconteceu?

A deusa riu levemente.

– Eu realmente fiz um bom trabalho com vocês dois. Ela está bem, só está muito preocupada e abalada. Recusou-se a deixar o Olimpo até que você voltasse. Frank e Hazel estão com ela em meu templo.

– Estou com saudades. Quero que tudo dê certo e que logo eu possa voltar para o Acampamento com Pipes.

– Vai dar tudo certo. – ela o abraçou novamente.

Hefesto caminhou lentamente até os dois.

– Será que eu posso falar com meu filho a sós? – seu tom não era nada agradável.

– Claro. Eu volto logo, ok?

Afrodite se levantou e saiu, olhando para trás uma vez. O deus das forjas se sentou ao lado do filho de baixou a cabeça.

– Eu sinto muito pelo que fiz no julgamento. Foi injusto com você. Acho que minha raiva pela mãe de Piper me subiu a cabeça. Eu sinto muito.

Leo não pode olhá-lo durante algum tempo.

– Sabe que pode ter me ferrado ali, não sabe? Talvez eu tenha que ficar acorrentado em uma pedra pelo resto de minha vida por causa das coisas que você disse ali.

– Eu sei. Me arrependo muito. Fiz besteira.

– Bom, dizer que você fez besteira não vai mudar nada, não é? – o tom do garoto era de raiva.

– Leo...

– Se eu nunca mais ver minha namorada e meus amigos de novo, a culpa vai ser toda sua! Como pode fazer isso com seu próprio filho?! Eu passei minha vida inteira sem um pai, você só apareceu duas vezes. A primeira foi só uma mensagem, e na segunda é para me acusar! Que tipo de pessoa é você? – ele se levantou e saiu andando com passos rápidos.

– LEO! LEO, VOLTE AQUI!

O garoto ia sair do salão quando Têmis abre as portas de uma vez. Ela o encara ainda sem expressão alguma.

– Volte para seu lugar. Já tomei uma decisão.

Quase que em transe, ele volta para seu lugar de réu. A presença da deusa causava medo. Quando ela passava, todos a sua volta instintivamente se sentavam. Zeus voltou para seu lugar de juiz. Têmis ficou em pé no meio do salão.

– Minha decisão final é...