Duas semanas se passaram.
 Tuana ainda se recuperava psicologicamente daquele acontecido. Ela pensou que com o tempo iria deixar de lado. Mas nesses dias que passaram, ela percebeu que nunca iria esquecer totalmente. Talvez ficasse mais fácil. Mas ainda estaria ali.

 Tuana tinha contado para suas amigas por telefone. Elas estranharam o motivo de ela ter faltado uma semana inteira de aula. Não estava pronta pra sair. Logo que as meninas souberam foram correndo visitá-la. Elas não acreditaram no que tinha acontecido quando Tuana contou. Ficaram surpresas e chocadas, Tuana tinha percebido, mesmo elas tentando disfarçar.

 Elas ficaram lá por um tempo ainda conversando, tentando ajudar à amiga. Tuana ainda pensou em contar sobre o que Felipe tinha feito depois. Sobre o pedido. Mas pensou melhor e deixou pra lá. Isso ainda era um assunto incerto.

 Durante tudo isso e esse tempo que passou, as férias finalmente tinham chegado. Dona Ana achava melhor Tuana ir para o interior, lá ela poderia descansar e relaxar um pouco. Mas Tuana não queria ficar longe de Felipe. Principalmente naquele momento. Ela conseguiu convencer sua mãe. Iria ficar no apartamento sozinha. Ela queria isso mesmo. Além de um pouco de paz, poderia ficar com Felipe lá sem ninguém pra atrapalhar.

 Sua família finalmente tinha ido. Tuana estava oficialmente sozinha. Seria um mês inteiro assim. Dona Ana tinha prometido voltar pelo menos um dia para ver se estava tudo bem e com ela. Tuana não tinha discordado, mas sabia que sua mãe não iria vir de tão longe só para ver como ela estava.

 Felipe apareceu lá naquele dia mesmo. Tuana tinha ligado pra ele avisando que sua família já tinha ido para o interior. Ele, é claro, tinha corrido pra lá.

- Oi, amor.

 Tuana abriu a porta e viu um Felipe com um lindo sorriso no rosto.

- Oi. – Ela falou e deu um sorriso que não conseguiu chegar até os olhos.

 Felipe se aproximou dela e a beijou. Depois eles entraram. Felipe sentou-se no sofá. Tuana foi até a cozinha beber um pouco de água.

- Quer água? – Ela gritou de lá pra Felipe poder ouvir na sala.

- Não! – Ele respondeu.

 Ela voltou pra sala e sentou-se no sofá de frente pra ele. Colocou os pés na mesinha de centro e ficou assim, olhando pra Felipe. Os dois ficaram lá calados olhando um para o outro. Depois de um tempo Felipe deu um leve sorriso.

- Estamos sozinhos... – Ele disse.

- É, estamos... – Tuana concordou.

 Mais silêncio. Felipe se levantou e sentou ao lado de Tuana. Ele pegou na mão dela, e começou acariciar. Tuana não virou pra olhar pra ele. Ela fechou os olhos e ficou absorvendo aquele carinho. Tinha sido assim nas últimas semanas. Sempre que Felipe e ela estavam juntos, nada tinham a dizer. Parecia que palavras não eram certas nem suficientes. Então eles preferiam ficar só nos gestos. Era melhor assim por enquanto.

 Além de tentarem esquecer aquela gravidez, que já era uma coisa difícil, ainda tinha o pedido de casamento. Tuana tinha achado que Felipe tinha dito aquilo só no calor do momento. Ela não tinha respondido nada. Ela apenas olhou pra ele surpresa e confusa, e depois deitou a cabeça no peito dele. Os dois ficaram assim sem dizer mais nada. Desde então, Felipe não tinha mais voltado a falar sobre casamento com ela. E ela não sabia se ficava aliviada ou triste por aquilo.

 Felipe parou de mexer nas mãos de Tuana e segurou o queixo dela, virando o seu rosto para ele. Tuana abriu os olhos e deparou-se com os olhos de Felipe a encarando. Ela respirou fundo, levando a respiração dele com a sua. Os dois ficaram se olhando durante um minuto, enquanto Felipe alisava o rosto de Tuana. Ela levou a mão até a boca dele e passou os dedos pelos lábios dele. Era como se cada um deles estivesse conhecendo um ao outro naquele momento.

 Um minuto depois eles estavam se beijando. Muito ferozmente. Tuana agarrava o cabelo de Felipe, enquanto ele estava com a mão num dos seios dela. Felipe foi deitando por cima de Tuana, que agora estava deitada de costas no sofá. Tuana soltou os cabelos de Felipe e começou a puxar a camisa dele. Ele parou de beijá-la só o tempo de tirar a sua camisa. Aproveitou e tirou a blusa dela também. Felipe começou a beijar todas as partes do corpo de Tuana. Ela erguia as costas, de olhos fechados, enquanto se arrepiava toda por onde a boca de Felipe passava. Ele desceu pela barriga dela e parou para poder tirar o short que ela usava. Tuana ajudou, levantando as pernas para a peça sair.

 Os dois agora estavam apenas com roupas íntimas. Respiravam com dificuldade, e estavam com uma necessidade mútua. No último momento, quando Felipe pensou que não aguentaria mais esperar, ele parou. Parou de beijar Tuana e ficou só olhando pra ela. Tuana franziu a testa sem entender, mas viu nos olhos dele. Não era aquilo que eles precisavam naquele momento. Ainda não. Ela entendeu e percebeu que parecia errado.

 Eles sentaram-se no sofá. Ficaram se recuperando, respirando, tentando se acalmar. Felipe olhou pra baixo, para sua cueca onde ainda aparecia o efeito do momento. Ele teve vontade de rir. Tuana pegou uma almofada e colocou no meio das pernas dele. Ele olhou pra ela, que tinha um leve sorriso no rosto. Ele riu também. Mas ficou sério logo em seguida, encarando ela.

- Eu quero você. – Ele disse.

 Tuana franziu a testa novamente. Ficou confusa. Eles tinham acabado de concordar que não deviam fazer aquilo naquele momento e agora ele estava voltando atrás? Ela ia falar, mas ele falou antes:

- Quero que você seja minha mulher.

 Tuana arregalou os olhos um pouco. Ele estava falando sobre...

- Quero casar com você. – Ele continuou.

 Ela apenas ficou o encarando sem saber o que dizer. Felipe pegou a mão esquerda dela e ficou alisando o dedo anelar dela, onde ficaria um anel se eles se casassem.

- Colocar um anel no meu dedo e quando olhar pro seu, ver um anel igual.

 Tuana estava de boca aberta observando o que ele fazia.

- Saber que você é minha oficialmente.

 Felipe voltou sua atenção para ela. Olhou bem nos olhos de Tuana, com o rosto mais próximo do dela.

- Minha mulher. – Ele disse. – Casa comigo Tuana.

 Tuana continuava muda. Ela olhava pra ele, ainda tentando entender. Ela não sabia se tinha voz pra falar alguma coisa. Tinha pensado que ele não estava falando sério da primeira vez. Mas agora lá estava ele repetindo o pedido. E falando coisas que deixou ela sem palavras. Minha mulher, ela repetiu as palavras dele em sua cabeça. Queria ser dele sim, para sempre! Mas não sabia o que dizer. Felipe continuou olhando pra ela, esperando uma resposta. Tuana fechou a boca, engoliu e respirou fundo pra ver se conseguia falar alguma coisa.

- Felipe... - Ela começou. – Eu... Você sabe o que está pedindo? – Ela conseguiu dizer.

- Tuana, eu pensei muito sobre isso. Eu não tomei essa decisão de uma hora pra outra. E foi naquele dia que eu vi que era o momento certo.

- Você não precisa casar comigo só por causa do que aconteceu.

- Eu sei. Não é por isso. Acredita em mim. – Felipe disse, enquanto segurava o rosto dela. – A única certeza que eu tenho na vida agora, é que quero estar para sempre ao seu lado.

 Tuana olhava pra ele e via nos olhos dele que aquelas palavras eram verdadeiras.

- Eu te amo tanto! – Ele disse. – Tanto que chega a doer. Quando você estava naquele hospital e eu não sabia o que você tinha e nem podia fazer nada... Foi horrível! Quando seu pai me mandou ir embora... Eu me senti tão impotente por não poder estar ao seu lado, não poder te ajudar... Não desejo aqueles sentimentos nem para o meu pior inimigo. 

 Tuana o encarava de olhos arregalados. Ela via o desespero dele no olhar. Uma lágrima caiu dos olhos dela sem querer. Felipe limpou com o dedo. Parecia que ele tinha terminado de falar. Tuana ficou calada mais um minuto, enquanto processava aquelas informações. Depois falou

- Tudo bem.

 Felipe franziu a testa.

- Você aceita? – Ele perguntou.

- Eu aceito. – Tuana disse. Antes que ele falasse algo, ela continuou: - Ser sua noiva.

 Felipe ficou encarando-a. Tuana ficou olhando pra ele, tentando convencer ele apenas com o olhar. Por fim Felipe concordou.

- Já é o começo. – Ele disse e deu um sorriso.

- A gente volta a falar em casamento depois que terminar a escola. – Tuana disse e sorriu.

 Felipe ficou um pouco contrariado, mas ele não tinha pensado nessa possibilidade, e achou que estava ótimo por enquanto.

 Eles vestiram suas roupas que estavam espalhadas pelo chão. Depois ficaram só ali no sofá, aconchegados um ao outro, assistindo um filme. Alguns instantes depois Felipe deu um pulo no sofá. Tuana olhou pra ela assustada.

- O que foi? – Ela perguntou.

 Felipe encarava o chão, mas com os olhos sem foco, pensando em algo. Ele virou e olhou pra Tuana.

- Eu tenho que comprar uma aliança de noivado pra você. – Ele disse ainda de testa franzida.

 Tuana o encarou por um minuto e começou a rir.

- Isso é sério! – Felipe disse. – Como eu fui esquecer? – Ele parecia mesmo indignado.

- Amor, fala sério. Eu não me preocupo com essas coisas. – Tuana disse.

- Claro que não. Isso é importante. Tem ser oficial.

 Tuana só ria no sofá.

- Eu vou providenciar isso. – Felipe disse enquanto relaxava novamente no sofá ao lado dela.

- Providenciar o que?

 Felipe e Tuana levaram um susto. Quando olharam pra trás, Camila, Brenda, Jéssica e Gabriel os encaravam da janela. Elas riram e caminharam até a porta. Tuana abriu.

- O que vocês fazem aqui? – Ela perguntou.

 Todos foram entrando.

- Primeira semana de férias é um saco. – Camila – Viemos fazer companhia.

 Sentaram-se no sofá, falaram com Felipe e ficaram lá. Tuana ficou olhando pra eles, fingindo indignação. Felipe ria com isso.

- Vocês são bem vindos. – Ele disse.

- Sim, nós sabemos que não precisamos de convite pra vim pra cá. – Brenda disse.

 Todos riam, menos Tuana que cerrava os olhos pra eles.

- Pensei que a casa fosse minha. – Ela falou enquanto ia sentar ao lado de Felipe.

 Todos ficaram ali assistindo ao filme. Tuana fez pipoca, com ajuda de Brenda e Jéssica. Fizeram brigadeiro também. Eles aproveitaram tudo. Comeram rápido também, porque além de Gabriel comer mais que todos (e como ele pode ainda assim ser magro?), estava tudo muito gostoso.
(Música de Cena: Count On Me – Bruno Mars)

 Quando o filme acabou, eles inventaram alguma brincadeira. Passaram o dia inteiro lá na casa de Tuana, fazendo bobagem. Todos se divertiram. Ninguém tocou no assunto delicado, no que tinha acontecido há duas semanas com Tuana. Naquele momento foi como se tudo estivesse normal. Combinaram o que iriam fazer durante o resto dos dias das férias. Dali, só Jéssica iria viajar na semana seguinte. Todos os outros não teriam o que fazer.

 Depois que foram embora, Tuana ainda ficou um pouco com Felipe.

- Eu poderia dormir aqui. – Ele disse.

- Eu adoraria. – Ela respondeu sorrindo

 Mas Felipe não dormiu lá naquela noite porque tinha que ir para um jantar com o pai. Eles se despediram e Tuana voltou pra dentro. Ficou olhando pra o apartamento. Estava tudo tão vazio. O que normalmente parecia tão pequeno, agora parecia grande demais pra ela. Ela foi até a cozinha, até seu quarto e voltou pra sala. Sentou no sofá. Ela tentou ver TV, mas não conseguiu. Desligou e ficou olhando pra nada em especial. Alguns minutos atrás ali estava o maior barulho e diversão, ela com Felipe e todos os amigos.

 E agora, minutos depois, ela estava sentada no sofá e lágrimas escorriam por seu rosto. O dia tinha sido perfeito, sim. Mas aquelas lágrimas não eram só de tristeza. Ela chorava pelos amigos que ela tinha. Pelo grande amor de sua vida. E chorava também pelo filho que ela tinha perdido. Ela já tinha recomeçado uma vez, poderia recomeçar outra. Tuana chorava uma última vez para tirar o que restava de triste em sua vida.