O Santo De Aquário escrita por athena no seinto


Capítulo 3
Kok-i-Noor




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 "Virgem é a mais extensa constelação do zodíaco na rota do Sol"

                Foi o que Camus leu. Já se passara uma semana desde sua chegada e no momento encontrava-se entretido em um alfarrábio estelar, com todas as informações de astronomia. Albert viajava bastante, permanecendo pouquíssimo tempo na Sibéria. Natássia sempre se ausentava por volta do meio-dia. Retornava ao crepúsculo, geralmente suada, machucada e com ombreiras âmbar. Neste espaço de tempo, o garoto abusava da curiosidade, procurando livros por todo pardieiro. O único local que não conhecia era o quarto de Albert. Não porque fora proibido, mas como sinal de respeito ao seu acolhedor.

                Em um jantar com a jovem, resolveu terminar com uma perturbação que o acompanhara toda a semana:

                - Por que você sempre volta para casa com as mãos machucadas? - a garota retirara os olhos do livro em suas mãos.

                - Ora, essas feridas são de cortar lenha - disse. A resposta não convencera Camus.

                - E de que se trata este livro? - apontou.

                - Sobre... como cortar lenhas - definitivamente escondia algo.

                - Com mais de cem páginas? - espantou-se, no momento em que Natássia encerrava a leitura.

                - Não sabia que conhecia tantos números... - desconversou.

                - Eu li em 'Numerais para iniciantes' - relatou animado.

                - Então pegue um de Geografia e encontre Atenas! É para lá que partirei, nesta madrugada.

                - Vou ficar sozinho novamente? - a frágil alegria foi extinta.

                - Não se preocupe. Voltarei cedo junto com Albert - ergueu-se e levou o prato até a pia próxima - Sua comida está na geladeira. Embora a chance de alguém vir até aqui seja baixa, não abra a porta pra ninguém a não ser nós.

                Camus anuiu, mas manteve-se cabisbaixo. Ficar sozinho, mesmo bisbilhotando os livros, não era divertido:

                - Não fique assim - consolou Natássia, alisando os cabelos azulados dele com seus dedos - Quando voltarmos, Albert vai ensiná-lo a acender e apagar fogueiras, eu prometo!

                Era fascinante aprender a lidar com fogo em pouca idade. Camus não pensava diferente. No entanto, não havia tempo para refletir sobre estas coisas. A moça loura fora tomar banho antes de sua partida, esquecendo seu grande livro sobre a banca. Indiscreto como em todas as situações passadas, ele resolveu folheá-lo às escondidas.

                Não possuía título, apenas o nome de um autor - Krest Kok-i-Noor - talvez algum ancestral de Albert. No princípio, achou que seu conteúdo, escrito a punho, remetia à astronomia. Mas havia algo além disso. Estudos detalhados dos astros, astrologia, mapas celestiais e um termo que ele desconhecia - cosmoenergia.

                Na metade do livro, dois co-autores assinaram seus nomes em uma página branca. Chamavam-se Degel e Kardia. Era simples diferenciar suas caligrafias - o segundo escrevia de forma quase inteligível as descrições de golpes e movimentos. As anotações de Degel ensinavam que com o cosmo uma pessoa seria capaz de rasgar o céu com seus socos e abrir fendas na terra com seus chutes. E se eles usassem sua energia em prol da deusa Atena, recebiam como agradecimento o título de 'cavaleiro do zodíaco'.

                Parou. Sons vindos do corredor indicavam que o banho já cessara. Voltou para a pia e sua louça suja. Ao tempo que Natássia adentrava a cozinha, a porta da sala indicava que Albert chegara de viagem:

                - Surpresa! Vim te buscar - revelou alegre - Vamos?

                - Sim, mas antes poderia me fazer um favor? - ele aprumou os ouvidos - Ensine o pequeno Camus a fazer uma fogueira?

                A visão do menino embaçava-se de tanto brilho. De forma benevolente, virou as costas e chamou:

                - Claro que ensino, venha comigo.

Ele o seguiu. Chegaram ao seu quarto, onde a lareira chamuscada parecia querer invocar chamas. No entanto, Albert sentou-se longe dali, mais próximo da janela, fechada por um fino vidro transparente, que revelava o terreno vasto e níveo, mesmo com a treva resplandecente:

                - O senhor não vai precisar de lenha? - perguntou, recebendo como resposta um aceno negativo.

                - Tem uma maneira mais fácil de não sentir frio, mas exige prática e talvez esta noite você não consiga fazê-lo.

                - Como assim? - ficara confuso. “Que tipo de fogo não necessitava de algo para queimar?”

                - Simples - explicou - Basta você ser o calor.

                - Não entendi.

                Sabia que era jovem demais e poderia não entender certas coisas, mas tinha conhecimento suficiente para deduzir que só há fogo quando há algo para se queimar. E que as chamas as consomem até sumir como fumaça. “Se eu for o calor, vou acabar me queimando”. Esta foi a reflexão do garoto de seis anos. E esta ideia se foi quando fitou algo que o fez duvidar da realidade.

                O homem estava queimando em uma labareda branca e refulgente. Não, na verdade, parecia não sentir dor. Na verdade, a aura parecia acolhedora demais para ser fogo. Na verdade, Albert ‘era’ o calor:

                - Viu como é quente? - sua vista abriu e Camus sentiu um aperto no peito - Não tenha medo. Isto se chama cosmoenergia. Todos nós a possuímos dentro de nosso ser.

                Finalmente descobrira o significado do termo escrito por Krest. Não iria contar que havia consultado o livro de Natássia, por isso fingiu um falso espanto com a pronúncia:

                - E como eu posso usá-la? Vai demorar muito? - Albert esboçou um gesto para Camus sentar-se.

                - Pode demorar, mas tudo depende da sua força interior e em prol de quê está sendo usada - o menino o fitava atentamente - Deve ser usada apenas para causas nobres... e de vez em quando, pra esquentar-se no frio - riu de leve.

                - Me ensine, por favor - insistiu.

                - Muito bem, sente-se como eu. A posição de lótus é boa para carregar o cosmo - o menino o imitou. Pernas cruzadas e costas eretas - Feche os olhos e se concentre nas lembranças fortes, sejam boas ou ruins. Projete-as como chamas. Leve-as ao seu coração e as deixe queimar incessantemente.

                Não terminou. Acima de Camus, uma brilhante aura dourada iluminava o recinto. “Este garoto, alcançou um cosmo tão grande na primeira vez que o ensinei”, espantou-se ele. O cosmo flavo foi abaixado e o menino abriu os olhos:

                - Eu consegui? Eu pensei na minha mãe, pensei forte, deu pra ver alguma coisa? - ficara aflito, desfazendo-se da posição antecedente.

                - Sim, você projetou uma longa chama áurea, mas não consegue sustentá-la por muito tempo, certo?

                - Acho que sim - respondeu - Eu me senti tão forte quanto o senhor.

                - Não me chame de senhor, me chame de mestre se quiser - corrigiu Albert, dando um tapinha leve na nuca do menino - No futuro, vou ajudá-lo a mantê-lo e intensificá-lo. Você irá alcançar algo que todos manejam - o sétimo sentido!

                - Uau! O que isso significa senh... digo, mestre Albert?

                - Significa que você vai se tornar alguém muito especial, capaz de fazer milagres!

                Como de costume, os sorrisos largos e claros surgiram. Um futuro promissor estaria por vir. Sabia que poderia correr velozmente, saltar elevadamente e ficar incrivelmente forte. Bastava treinar duro e se tornar inteligente. O que seu mestre não sabia, era que um novo desejo surgira no coração do garoto, o de se tornar um cavaleiro do zodíaco.


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Notas finais do capítulo

Um review apenas já vai deixar meu cosmo estável ^^



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