O Santo De Aquário escrita por athena no seinto
"Virgem é a mais extensa constelação do zodíaco na rota do Sol"
Foi o que Camus leu. Já se passara uma semana desde sua chegada e no momento encontrava-se entretido em um alfarrábio estelar, com todas as informações de astronomia. Albert viajava bastante, permanecendo pouquíssimo tempo na Sibéria. Natássia sempre se ausentava por volta do meio-dia. Retornava ao crepúsculo, geralmente suada, machucada e com ombreiras âmbar. Neste espaço de tempo, o garoto abusava da curiosidade, procurando livros por todo pardieiro. O único local que não conhecia era o quarto de Albert. Não porque fora proibido, mas como sinal de respeito ao seu acolhedor.
Em um jantar com a jovem, resolveu terminar com uma perturbação que o acompanhara toda a semana:
- Por que você sempre volta para casa com as mãos machucadas? - a garota retirara os olhos do livro em suas mãos.
- Ora, essas feridas são de cortar lenha - disse. A resposta não convencera Camus.
- E de que se trata este livro? - apontou.
- Sobre... como cortar lenhas - definitivamente escondia algo.
- Com mais de cem páginas? - espantou-se, no momento em que Natássia encerrava a leitura.
- Não sabia que conhecia tantos números... - desconversou.
- Eu li em 'Numerais para iniciantes' - relatou animado.
- Então pegue um de Geografia e encontre Atenas! É para lá que partirei, nesta madrugada.
- Vou ficar sozinho novamente? - a frágil alegria foi extinta.
- Não se preocupe. Voltarei cedo junto com Albert - ergueu-se e levou o prato até a pia próxima - Sua comida está na geladeira. Embora a chance de alguém vir até aqui seja baixa, não abra a porta pra ninguém a não ser nós.
Camus anuiu, mas manteve-se cabisbaixo. Ficar sozinho, mesmo bisbilhotando os livros, não era divertido:
- Não fique assim - consolou Natássia, alisando os cabelos azulados dele com seus dedos - Quando voltarmos, Albert vai ensiná-lo a acender e apagar fogueiras, eu prometo!
Era fascinante aprender a lidar com fogo em pouca idade. Camus não pensava diferente. No entanto, não havia tempo para refletir sobre estas coisas. A moça loura fora tomar banho antes de sua partida, esquecendo seu grande livro sobre a banca. Indiscreto como em todas as situações passadas, ele resolveu folheá-lo às escondidas.
Não possuía título, apenas o nome de um autor - Krest Kok-i-Noor - talvez algum ancestral de Albert. No princípio, achou que seu conteúdo, escrito a punho, remetia à astronomia. Mas havia algo além disso. Estudos detalhados dos astros, astrologia, mapas celestiais e um termo que ele desconhecia - cosmoenergia.
Na metade do livro, dois co-autores assinaram seus nomes em uma página branca. Chamavam-se Degel e Kardia. Era simples diferenciar suas caligrafias - o segundo escrevia de forma quase inteligível as descrições de golpes e movimentos. As anotações de Degel ensinavam que com o cosmo uma pessoa seria capaz de rasgar o céu com seus socos e abrir fendas na terra com seus chutes. E se eles usassem sua energia em prol da deusa Atena, recebiam como agradecimento o título de 'cavaleiro do zodíaco'.
Parou. Sons vindos do corredor indicavam que o banho já cessara. Voltou para a pia e sua louça suja. Ao tempo que Natássia adentrava a cozinha, a porta da sala indicava que Albert chegara de viagem:
- Surpresa! Vim te buscar - revelou alegre - Vamos?
- Sim, mas antes poderia me fazer um favor? - ele aprumou os ouvidos - Ensine o pequeno Camus a fazer uma fogueira?
A visão do menino embaçava-se de tanto brilho. De forma benevolente, virou as costas e chamou:
- Claro que ensino, venha comigo.
Ele o seguiu. Chegaram ao seu quarto, onde a lareira chamuscada parecia querer invocar chamas. No entanto, Albert sentou-se longe dali, mais próximo da janela, fechada por um fino vidro transparente, que revelava o terreno vasto e níveo, mesmo com a treva resplandecente:
- O senhor não vai precisar de lenha? - perguntou, recebendo como resposta um aceno negativo.
- Tem uma maneira mais fácil de não sentir frio, mas exige prática e talvez esta noite você não consiga fazê-lo.
- Como assim? - ficara confuso. “Que tipo de fogo não necessitava de algo para queimar?”
- Simples - explicou - Basta você ser o calor.
- Não entendi.
Sabia que era jovem demais e poderia não entender certas coisas, mas tinha conhecimento suficiente para deduzir que só há fogo quando há algo para se queimar. E que as chamas as consomem até sumir como fumaça. “Se eu for o calor, vou acabar me queimando”. Esta foi a reflexão do garoto de seis anos. E esta ideia se foi quando fitou algo que o fez duvidar da realidade.
O homem estava queimando em uma labareda branca e refulgente. Não, na verdade, parecia não sentir dor. Na verdade, a aura parecia acolhedora demais para ser fogo. Na verdade, Albert ‘era’ o calor:
- Viu como é quente? - sua vista abriu e Camus sentiu um aperto no peito - Não tenha medo. Isto se chama cosmoenergia. Todos nós a possuímos dentro de nosso ser.
Finalmente descobrira o significado do termo escrito por Krest. Não iria contar que havia consultado o livro de Natássia, por isso fingiu um falso espanto com a pronúncia:
- E como eu posso usá-la? Vai demorar muito? - Albert esboçou um gesto para Camus sentar-se.
- Pode demorar, mas tudo depende da sua força interior e em prol de quê está sendo usada - o menino o fitava atentamente - Deve ser usada apenas para causas nobres... e de vez em quando, pra esquentar-se no frio - riu de leve.
- Me ensine, por favor - insistiu.
- Muito bem, sente-se como eu. A posição de lótus é boa para carregar o cosmo - o menino o imitou. Pernas cruzadas e costas eretas - Feche os olhos e se concentre nas lembranças fortes, sejam boas ou ruins. Projete-as como chamas. Leve-as ao seu coração e as deixe queimar incessantemente.
Não terminou. Acima de Camus, uma brilhante aura dourada iluminava o recinto. “Este garoto, alcançou um cosmo tão grande na primeira vez que o ensinei”, espantou-se ele. O cosmo flavo foi abaixado e o menino abriu os olhos:
- Eu consegui? Eu pensei na minha mãe, pensei forte, deu pra ver alguma coisa? - ficara aflito, desfazendo-se da posição antecedente.
- Sim, você projetou uma longa chama áurea, mas não consegue sustentá-la por muito tempo, certo?
- Acho que sim - respondeu - Eu me senti tão forte quanto o senhor.
- Não me chame de senhor, me chame de mestre se quiser - corrigiu Albert, dando um tapinha leve na nuca do menino - No futuro, vou ajudá-lo a mantê-lo e intensificá-lo. Você irá alcançar algo que todos manejam - o sétimo sentido!
- Uau! O que isso significa senh... digo, mestre Albert?
- Significa que você vai se tornar alguém muito especial, capaz de fazer milagres!
Como de costume, os sorrisos largos e claros surgiram. Um futuro promissor estaria por vir. Sabia que poderia correr velozmente, saltar elevadamente e ficar incrivelmente forte. Bastava treinar duro e se tornar inteligente. O que seu mestre não sabia, era que um novo desejo surgira no coração do garoto, o de se tornar um cavaleiro do zodíaco.
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Um review apenas já vai deixar meu cosmo estável ^^