DOIS DIAS DEPOIS

                Passados dois dias... Eu noto uma indiferença no olhar da Joan. É, acho que me enganei. Andy não se sente retraído perto dela. Jinxx parece normal. Tudo normal. Everybody normal. Voltamos para casa numa monotonia só. Conseguimos escrever mais algumas músicas, e nos despedimos de Atlantic City em grande estilo tocando num casamento numa praia! Inesquecível. Já são vinte shows nessa nossa nova “fase” da banda e eu não posso me sentir melhor, mais feliz e mais realizada. Se eu estou com essa desconfiança? Claro, não nego. Sou ciumenta mesmo.

                Quando chego em casa está tudo normal. Meu cachorro, Miau, mal encostou na sua sopinha e está roncando feito um porco. Cinco ligações não atendidas no telefone. Argh. Minha mãe.

                - Quem ligou? – Andy deixa as malas no quarto e se esparrama no sofá com um pacote de Ruffles.

                - Minha mãe. Geralmente ela não me liga tanto. Acho melhor retornar. – Tuuu, tuuu, tuuu... Atende mãeeee!

                - Annabeth! Aleluia!

                - O que foi mãe? Preocupada comigo sobre a viajem? Já fui, já voltei e estou b...

                - Eu tenho cara de quem se preocupa com a sua saúde? – Sei que ela me ama tudo bem? – Então... ABRE O SEU EMAIL AGORA!

                - Calma mãe, não dá chilique por favor. ANDREW CADE O MEU TABLET CARALHO ME DÁ ESSA PORRA PARA DE ENGORDURAR ELE COM SALGADINHO! - Acho que puxei a minha mãe no quesito “grite com as pessoas que você ama”... Por que né. – Oi mãe de novo, calma to abrindo o email.

                - Para de falar palavrão, lava essa boca suja e abre o terceiro email com o título “Contrato Rolling Stone”. – Okay né... Mamãe mandou. Mas... Contrato? Será que é o que eu estou pensando?

                - Mas eu... Como você soube disso... Puta que pariu!

                - ANNA! Comemore de forma sadia... Por que você vai ser a próxima capa da Rolling Stone como roqueira revelação.

                -ANDREEEEEW!

                (...)

                - Toma essa água antes que eu jogue ela na sua cara! Respira Quatrocchio!

- Me dá essa porra, Andrew e não me chama de Quatrocchio. Porra, eu vou ser a próxima capa da Rolling Stone!

- O que você acha que as meninas vão pensar disso? Elas não foram chamadas.

- É pra dar mais popularidade à banda, elas vão entender. Além do mais, eu vou estampar a capa com a Hayley Williams e a Avril Lavigne. Não há mal algum nisso.

- Se é você quem diz...

- Acredita em mim... Elas vão aceitar numa boa.

(...)

- Então é isso, não é, Anna? Vai mostrar a sua genitália nas revistas só pra conseguir mais fama. Era de se esperar! Que pouca vergonha...

- Joan, entende! Isso é profissional, e eu nem vou tirar a roupa, que mané genitália!

- Genitália sim... Você sabe disso. Primeiro revistinha de música, depois revistinha de moda... Dias depois vai estar em um outdoor da Playboy mostrando tudo o que não deveria! Você deveria ter vergonha disso. Não deveria aceitar. Agora, você vai ser uma grande estrela e nós vamos ser apenas o fundozinho da banda! Só a merda da melodia, caralho! Eu vou embora. Cherie, Sandy, Cady... Fiquem com essa nojenta, eu não vou suportar por muito tempo isso.

- JOAN ME ESCUTA! – Eu grito.

- Escutar o quê? Escutar o quê? O seu perdão? Está perdoada. Vai lá, tirar essas porcarias de fotos. Agora me deixa ir embora.

- Vai sair da Wine Red?

- Não. As Wines sempre foi o meu sonho e você sempre soube disso. Mas você precisa maneirar na fama de vez em quando não é, eu só estou chateada. Chateada! Larga o meu braço, me deixa ir embora!

- Essa conversa ainda não terminou. Você precisa rever as suas prioridades!

- Você também. O que é mais importante? A imagem da banda ou a sua imagem? Pense nisso, Annabeth. E então liga pra mim e me fala a sua conclusão.

Joan bate a porta na minha cara e eu começo a chorar. Fazer o que né.

- A Joan ta com uns problemas também, Anna, senta aqui e vamos conversar. O pai dela, você sabe, é fumante. Ta com câncer no pulmão. E toda essa carga de novidades, e mais shows da banda... Isso estressa demais e você sabe disso... Há cinco anos atrás, lembra de como nós chegávamos a gritar de tanto stress? Relaxa, isso é passageiro. – Cherie me abraça e todos os celulares começam a tocar. Repito: Todos. E é uma mensagem do Jinxx.

- Festa na minha casa e ninguém fala nada? – Andy faz uma cara esquisita. – Deve ser coisa do CC, só pode. E o Jinxx ainda dá bandeira... Mas vai ser legal.

- Ótimo pra espairecer... Viu, Anna! – Cady diz.

- É... Eu acho que preciso descansar um pouco.

- Nada como festar um pouco. E eu vou lá em casa ver se tenho um pano pra vestir. – Um pano pra vestir, Sandy? Muito engraçado...

- Já vai? Bom, então tudo bem...Até amanhã à noite então Sandy. E desculpa por tudo isso. Se eu pudesse, deixaria tudo isso mas é uma ótima oportunidade para n...

- Shhh, eu não me importo nem um pouco, até estou feliz com isso. E muito.

- Tudo bem então. Obrigada.

- SANDY EU QUERO CARONAAAAA!

- Ai que susto, Cherie! - Nós começamos a rir e eu me despeço delas.

- E eu vou ver o meu marido. Tchau e obrigada por não me oferecer nem um copo de água, sua egoísta, te amo eternamente. To com fome. Tchau de novo. – Cady chata.

(...)

- Estranho isso, Anna. Eu não quis falar isso antes, mas... O Jinxx odeia festas! – Cá estamos nós assistindo Barbie Fairytopia.

- Não estressa, é só uma festinha não vai ter nem música, duvida? Aposto que a única coisa que vai ter é tequila, limão e sal.

- Me deu vontade de beber agora, vaca. Tem alguma coisa aqui?

- Não. Que porcaria né? Sou uma pobra da vida.

- É mesmo. A propósito... Quanto lucramos em Atlantic City?

- Judi disse que foi mais de dez mil. Mais de dez mil! Trabalhando lá no Sheridan eu conseguiria isso em sete meses, não em sete dias!

- Impressionante. Aproveita enquanto dura por que do jeito que a Joan ta chata...

- Não imagino mais isso... Não consigo. Mas se um dia acabar, eu vou me orgulhar de ter comandado uma das maiores bandas de punk rock feminino do mundo.

- Que astuta!

- Você precisa se orgulhar das coisas que faz.