POV Narradora

            Julie tomava um suco com bastante calma, ainda ouvindo a mesma voz no celular.

            - (Por que você disse aquilo para o Daniel?).

            - Porque é verdade. – Julie respondeu. Ouviu mais algumas coisas ditas pela voz no telefone, assentiu e desligou o celular.

            Não muito longe dali, Daniel ainda estava perdido em pensamentos. Ainda não tinha conseguido tirar a menina que acabou de conhecer da cabeça. Ele nunca havia sentido o que sentiu quando a viu. Há muito tempo não sentia. E ficou ainda pior quando ela lhe deu um simples beijo no rosto. Ela lhe atraia, com certeza. Era bonita, tinha carisma, tinha estilo. Ele nunca pensou conhecer alguém como ela. Ele sustentava um sorriso bobo no rosto enquanto olhava o mesmo ponto perdido no mar.

   Seus dois amigos conversavam entre si, mas Daniel estava totalmente alheio a qualquer conversa. Martim notou a falta de atenção do amigo e resolver chamar a atenção dele.

   - Daniel! – não obteve resposta. – Daniel! – repetiu, passando a mão na frente dos olhos dele. Nada. – Daniel! – chamou mais alto. – Terra chamando Daniel! Terra chamando Daniel!

  - Oi? – ele finalmente despertou. – O que foi?

  - Eu que pergunto. O que foi? Estou de chamando há um minuto e você nem me respondeu.

  - Nada... Só estava distraído mesmo.

  - Sei... Distraído. Acho que você estava pensando naquela garota de agora a pouco.

  - E-eu... Eu não...

  - Estava pensando em que então? – Félix disse desafiador.

  - E-eu... Tava pensando numa música que eu escrevi semana passada.

  - Não... Eu te conheço há anos. Eu sei que você estava pensando na garota. Você ficou todo bobo quando ela chegou perto da gente, ficou mais bobo ainda quando ela te abraçou e te deu um beijo. Fala sério... Você gostou dela, não gostou? – Martim perguntou, mas Daniel não respondeu. – Vou considerar seu silêncio como um sim.

 - Hum. Interessante. E aí? Qual é o seu interesse pela garota? – Félix perguntou.

  - Sei lá. Nenhum... Eu acho... Eu não sei nem o nome dela.

  - Não perguntou porque não quis. Oportunidade você tinha... Ou melhor, tem. Ela está no mesmo andar que o nosso. – Martim disse sorrindo sugestivamente. Ele e Félix começaram a rir.

  - Querem parar com isso. Não estou interessado numa garota que acabo de conhecer e que não sei o nome. – Daniel disse virando a cara.

  Por dentro ele queria conversar com a garota. Olhou para trás e a viu tomando um suco. Ela estava distraída se refrescando e nem percebeu que um grupo de garotos passou por ela a admirando. Daniel se mordeu de ciúme. Segundos depois, balançou a cabeça espantando esses pensamentos. “Eu não posso estar com ciúmes dela. Eu nem a conheço.” Ele pensava. Resolveu tomar uma atitude. Levantou-se na cadeira que estava sentado e caminhou até ela. Ouviu seus amigos lhe gritando “Aonde você vai?”.

  Julie percebeu a aproximação dele e engoliu a seco. Ela não pensou que o rapaz fosse voltar a falar com ela tão cedo. Já Daniel sentia seu coração disparado a cada passo que dava, a cada centímetro que se aproximava dela. Julie involuntariamente sorriu, mas não soube explicar o porquê de sorrir. Não sabia o que sentia ao ver aquele rapaz tão lindo, na opinião dela, ficar tão próximo. Daniel sentiu se iluminar com aquele sorriso perfeito, na opinião dele. Para os dois, a tensão da aproximação mexeu muito com eles. Principalmente para Julie, que nunca pensou sentir nada igual antes.

  - Oi de novo. – Daniel disse sorrindo. Julie se sentiu entranha com aquele sorriso tão lindo. – Você não quer sentar com a gente?

 - E-eu? – Julie perguntou. Quis se bater por ter gaguejado.

         - É. Vem. – ele disse entendendo a mão para ela.

         Ela pegou na mão dele e sentiu um choque percorrer todo o seu corpo. Era uma sensação nova para ela, porém preferiu ignorar. Daniel também sentiu algo. Sentiu como se algo formigasse em seu interior. Era a segunda vez que sentia isso. A primeira foi quando se apaixonou, pela primeira vez. Julie achou melhor soltar a mão dele. Ela o seguiu até os outros dois, ao lado dele. Daniel se virou para Julie.

            - Qual é o seu nome? – Daniel perguntou.

            - É... Julie. Juliana, na verdade. Mas prefiro ser chamada de Julie. Todos que conheço me chamam assim.

            - Prazer então... Julie. O meu é Daniel.

            - Eu sei. – ela riu, arrancando uma risada do outro. – Sou sua fã, esqueceu?

            - Não... Não esqueci.

   Eles chegaram até onde Martim e Félix que estavam sorriam maliciosos. Daniel se sentou no seu lugar e Julie sentou do lado dele.

  - Essa é Julie. – Daniel apresentou para os amigos.

  - Prazer. – disseram em uníssono.

  - Vamos dar uma volta pela praia? Aproveitar que ela ainda está vazia. – Julie disse.

  Eles assentiram. Foram andando, conversando, rindo.

          - Vem Félix. Vamos entrar na água. – Martim falou.

          - Não... Você sabe que eu não gosto de tomar banho de mar. – Félix respondeu. Mas Martim o arrastou assim mesmo para o mar. Julie e Daniel ficaram rindo.

          - Nunca pensei que vocês fossem tão engraçados. – Julie disse ainda rindo.

         - Nós somos. – ele pausou. – Desde quando é fã da banda?

           - Desde o inicio. Já fui a vários shows de vocês. Já perdi a conta de quantos.

           - Eu... Te achei bem bonita. – Daniel disse um pouco vermelho.

            - Serio? Obrigada. – Julie agradeceu corada.

            - Serio... Você vai ficar quanto tempo no hotel?

            - Não sei. Uma semana, duas... Não tenho certeza.

            - Sabia que nenhuma fã teve a ousadia de me pedir um beijo? – ela negou com a cabeça – Elas sempre roubam um. Mas eu gostei do que você fez. Gostei mesmo – ele disse.

Puxou a mão de Julie, a trouxe para si, a abraçou pela cintura e selou os lábios. Ele pediu passagem com a língua e ela cedeu sem hesitar. O beijo era violento. As línguas duelavam por espaço. Ambos soltaram um gemido entre o beijo. Mas o ar faltou e precisaram se separar. Os corações de ambos disparavam. Daniel sorriu ainda de olhos fechados. Julie também e ainda levou a mão aos lábios, sentindo o gosto do outro. Abriram os olhos e coraram.

            - Acho que vou... Ali... E já voltou – disse Julie, visivelmente nervosa.

            Ela foi andando até uma barraca, deixando um Daniel totalmente sem graça e com o coração ainda disparado. O coração dele gritava por aquela garota.