Eu havia conseguido o que eu queria: iria pegar o avião mais cedo para Londres amanhã. Nada que uma pequena chantagem emocional e a retirada do processo da justiça resolvessem.

Fiz um pequeno acordo com a minha mãe e com Lucas para que deixassem a casa de Londres para que eu e Amy morássemos. Pedido concedido e eu já arrumava as malas e falava com a Amy e a Lisa pelo Skype. Mesmo falando com as duas a mais ou menos dez minutos, não tinha notado que elas estavam sem os meninos e sem a Hanna e a Jade.

- Cadê a Jade e a Hanna? E os meninos? – eu perguntei enquanto dobrava um vestido e punha na minha grande mala de rodinhas em cima da cama.

- A Jade foi fazer compras com os meninos... – a Amy disse sorridente.

- A Hanna ninguém sabe o que está fazendo, mas ela disse que estava ocupada hoje durante a manhã toda. – a Lisa disse ajeitando os seus olhos no rosto.

- Estranho... – nós três dissemos em uníssono.

Sem conhecer direito a Hanna, realmente acho que isso era estranho.

Hanna’s POV

Cá estou eu nesse inferno de novo. Uma vez na semana eu tinha que voltar nessa pequena casa de tijolos, mas que me atazanava o juízo. O caminho parecia mais longe do que nunca e eu tenho certeza que ele não tolerariam atrasos. Olhei para as minhas mãos suadas e avermelhadas, enquanto caminhava pelas ruas de Bradford, o lugar aonde eu nasci. Minha infância com o Zayn foi inesquecível,e quem diria que eu conseguiria um apê no mesmo condomínio que ele?

10:15 am.

Atrasada de novo. Estremeci em pensar no meu castigo de hoje, apertando o passo e buscando um jeito de chegar mais rápido. A casa estava no fim da rua e eu praticamente corri para chegar lá. Toquei a campainha e uma sequencia de gritos pode ser ouvida, me apavorando.

- Você veio Hanna. Pensei que não viesse. -  Travis disse com um sorriso irônico no rosto. Bufei e entrei pela pequena passagem que ele deu.

- Não fala comigo. Eu vim apenas pela Isa e pela Bia. – eu disse com certa impaciência.

Ele veio na minha direção como um leão e eu como sua pequena pressa. Eu me assustei e orei mentalmente para que os hematomas fossem menores do que os da semana passada. Ele agarrou os meus fracos braços me fazendo soltar um pequeno gemido de dor.

- Escuta só, Hanna. Você não pode falar assim comigo, tá? Acha que só porque comprou uma casinha pode ser dona do seu nariz, mas não é assim.  Você é uma vadia, não merece respeito. Minha vontade é fazer você ir visitar sua mãe, então não me irrita.– ele cuspiu as palavras no rosto e me sacodiu um pouco. – Você entendeu?

Eu assenti. Ele me levantou um pouco do chão e me lançou nele, me fazendo fechar os olhos antes do impacto. Eu prendi o choro no chão frio e jurei que ia ser forte na frente das meninas.

- Aliás, você tá atrasada. – ele disse fazendo graça para mim e dando uma sonora risada. – Pode ir lá pra trás, vadia.

Levantei-me rapidamente, indo em direção aos fundos. Lá estavam as meninas: Bia e Isa, minhas tão vulneráveis irmãs. Eu bati na porta da pequena casinha que possuía apenas três cômodos, sendo atendida pela Bia.

- Oi. – eu disse ressentida.

- Oi. – ela disse quase feliz. – Entra.

Eu entrei e encontrei uma Isa totalmente sonolenta. Fez-me rir, mesmo naquele estado. Quando mamãe morreu, quando eu tinha 15 anos, nos deixou com Travis, nosso então inocente padrasto. Mas depois de um ano da morte da mamãe, Travis começou a se envolver com coisas erradas como drogas e rachas. Começou a violência e assim que eu fiz os meus dezoito anos completos eu saí de lá. Foi egoísta deixar as meninas lá, eu sei. Mas nós tínhamos um plano. Hoje, a meia noite, elas sairiam da casinha, escondidas é claro, e iriam ao aeroporto para ir para a casa da tia May. Estava tudo pronto.

- Tudo pronto? – Bia me perguntou.

- Está. Vocês conseguem sair sem problemas? – eu perguntei e elas assentiram. – Eu estarei na esquina.

O nosso tom era baixo para que Travis não escutasse. Ficamos conversando por mais ou menos meia hora. Até que o Travis veio e me expulsou, me empurrando ferozmente e a tapas. Eu sai correndo pela porta, avaliando os meus braços. Estavam avermelhados e ficariam roxos mais tarde, junto com a lateral da minha barriga.

Voltei correndo e peguei o trem para voltar pro condomínio, pensando em tudo. Se o nosso plano não desse certo dessa vez o Travis mataria nos três. E culpa seria mim. Teríamos quer ser perfeitas, totalmente perfeitas.

Afastei os meus pensamentos e pluguei meus fones para me entreter.

“Tell me where our time went

And if it was time well spent

Just don't let me fall sleep

Feeling empty again

'cause i fear i might break

And i fear i can't take it

Tonight i'll lie awake

Feeling empty

I can feel the pressure

It's getting closer now

We're better off without you

I can feel the pressure

It's getting closer now

We're better off without you

Now that i'm losing hope

And there's nothing else to show

For all the days that we spent

Carry away from home

Somethings i'll never know

And i had to let them go

I'm sitting all alone

Feeling empty

I can feel the pressure

It's getting closer now

We're better off without you

I can feel the pressure

It's getting closer now

We're better off without you, without you

Somethings i'll never know

And i had to let them go

Somethings i'll never know

And i had to let them go

But i'm sitting all alone

Feeling empty

I can feel the pressure

It's getting closer now

We're better off without you

Feel the pressure

It's getting closer now

You're better off without me”

As lágrimas corriam pelo meu rosto. Por que eu estava entendendo tão bem a música? Era mais que perfeita. Meus sentimentos. Minha vida.