Mistaken escrita por Livia Herondale Lightwood


Capítulo 2
Sokar - O4.O2.17


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! E como eu não sou criativa pra nome de caps, coloquei esse mesmo, k. E pra quem não sabe o nome da pulseira "Sokar" é baseado em um deus egípcio.



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Não era uma sensação boa, realmente. Era claustrofóbico, angustiante e por mais que eu queira negar, aterrorizante. Mas eu deveria estar acostumada, não? Eu deveria crer que isso era para meu bem e dos outros? Isso mesmo, eu deveria, mas não sei se quero.

Os guardas estavam nos observando, vendo cada fila enorme que se formava para entrar em um grande edifício aonde seria implantada a pulseira sokar em cada um de nós, crianças acima dos seis anos até os idosos.

— Pequena?

Olhei para o lado. Só havia apenas uma pessoa no mundo que me chamava assim.

Matthew estava do meu lado, na fila do lado, composta apenas por homens. Isso me fez dar um pulo ao lembrar que meu irmão mais novo estava em outro fila, em uma totalmente composta por homens e meninos.

— Calma. – Ele disse percebendo minha inquietação. – Seu irmão tá lá atrás. O Joshua está com ele. Eles estão conversando.

“Eles estão conversando”. Estranho. Peter não era de conversar, mas saber que ele estava com Joshua me acalmou, pois ele é muito legal. Mas mesmo assim, ainda era estranho, porque nem eu conseguia falar direito com ele. Era frustrante vê-lo me ignorar e preferir ficar com seu amigo imaginário... Como era mesmo nome? Ah, Charlie.

Peter tem onze anos, não fala quase nunca e tem um amigo imaginário chamado Charlie. Algumas pessoas consideram isso estranho demais, outras acham normal, porque afinal ele é apenas uma criança. Mas, pra mim, é preocupante, principalmente quando se ouve seu irmão mais novo falar sozinho com uma parede.

E estar falando sobre morte.

— Você acha que esses guardas podem ser um deles? – sussurrei para Matt, apontando com a cabeça para os homens armados. – Os Caçadores.

O nome poderia parecer tosco, mas eles tinham muito mais que moral aqui em Fallen, talvez no país inteiro ou no mundo, se eles estivessem ao redor do mundo, eu não sei, mas principalmente causam medo nas pessoas.

Matthew me olhou com o cenho franzido, confuso.

— Talvez. – respondeu com o olhar fixo em direção à frente, nas pessoas da fila e a porta do edifício se aproximando lentamente dos dois. – Mas eu creio que não.

Olhei novamente para os guardas. Pensando melhor, se fossem realmente eles, estariam totalmente de preto e com capuzes da mesma cor tampando o rosto. E usariam armas muito maiores que essas, porque as que os guardas estão usando agora, nem se compara as que eu vi os Caçadores usando.

Ignorando o pensando dos Caçadores, comecei a analisar minha própria fila e a de Matt, calculando mentalmente quanto tempo nos restava até chegar à porta e ganharmos nossas pulseiras que nunca mais iremos retirar. Por puro palpite, julgo que temos mais, pelo menos, vinte ou trinta minutos até chegarmos ao topo da fila e depois, uns quinze minutos até a pulseira ser colocada em nossos pulsos e termos que ouvir todas as recomendações e regras que deveremos seguir a partir de hoje.

De qualquer maneira, já estamos muito tempo plantados nessa fila fazendo o sol de hoje que está fraco parecer mortal.

Mas o tempo anda estranhamente rápido, o que é costume para eu achar isso, principalmente em momentos e situações difíceis ou insuportáveis. Suspirei alto, tentando coletar algo que represente alguma boa em relação a tudo isso que está acontecendo.

Meus pensamentos travaram ao ouvir um tiro.

Inconscientemente, me joguei no chão e percebi que praticamente todos haviam feito isso, menos os guardas que agora pareciam mais alerta do que nunca. Então, não foi nenhum dos guardas que atiraram.

Comecei a procurar, ainda abaixada, entre as pessoas no chão meu irmão e Joshua, mas não conseguia vê-los em lugar nenhum. O que me deixou desesperada.

Outro tiro foi ouvido.

— Corre, Eileen! – ouvi Matt gritar, me puxando pela cintura para cima. – Corre agora! São os Renegados!

Olhei para os lados e para ele, incrédula.

— Meu irmão! Eu quero meu irmão!

Matthew me empurrou, forçando-me a ir para outro lado, conseguindo me carregar a força para ir à direção oposta ao tiroteio. Comecei a espernear e a me debater.

— Eileen! – ele gritou. – Joshua já saiu correndo com seu irmão! Lá só tem os Renegados e os guardas!

Parei de me debater e olhei na direção onde Matthew queria me levar, e realmente, lá estava Joshua e Peter. Deixando-me tomar conta de um novo desespero de ser atingida por uma bala ou simplesmente cair e ser pisoteada pela multidão de pessoas desesperadas, comecei a correr junto com Matt e se jogando a todo momento ao ouvir um som estranho próximo de nós, apressando os pés mais rápido que poderia fazer naquele momento.

Depois de muito correr, podia ouvir os sons das balas e da briga entre os guardas e os Renegados se dissipando, mas ainda bem forte porque pude sentir meu corpo tremer.

Quando chegamos a um lugar que sabíamos que não seriamos atingidos, perto da floresta da cidade, encostados em um dos prédios. Observei a situação brevemente, vendo crianças até adultos correndo, desesperados, alguns com muito sangue. Não dava pra saber se o sangue era mesmo destas pessoas ou era de outros.

Joshua e Peter chegaram logo depois em nossa direção e sem pensar nem nada, corri até Peter e o abracei bem forte. Como esperado, ele não reagiu. Continuava inexpressivo como sempre, mas agora seu corpo estava rígido que o normal.

Estava assustado.

— Eileen, fica aqui. – Joshua disse subitamente, atraindo minha atenção para ele. – Eu e Matthew vamos ajudar algumas pessoas do outro canto. Só vamos tirá-las da zona de guerra, impedir que morram.

Senti um calafrio tomar conta do meu corpo e olhei para Matthew. Ele usava uma máscara de confiança, mas sabia que no fundo estava com medo. Mas ele não iria vacilar e nem me deixaria impedi-lo.

Suspirando fundo e ainda abraçado ao meu irmão, sussurrei para os dois:

— Tomem cuidado. – fechei os olhos por um momento. – E voltem rápido.

Matthew me deu uma espécie de sorriso e antes de ir, se aproximou de mim e sussurrou de volta em meu ouvido:

— Obrigada por confiar em mim.

Não tentei sorrir de volta, porque provavelmente sairia uma careta horrível, então me limitei apenas em assentir para ele e ver os dois indo embora até onde estavam os guardas e os Renegados e consequentemente, as vítimas.

Finalmente, soltei Peter de mim e o guiei até mais perto da floresta que quase ninguém entra, não sei o motivo de ninguém entrar, mas isso não importa. Alguns dizem que não é absolutamente seguro. Mas não creio que seja tão perigoso como aqui está, onde a qualquer momento você pode levar uma bala perdida ou ser espancado.

Não cheguei a entrar no núcleo da floresta, não me arriscaria tanto e muito menos ao meu irmão. E encontrando uma grande árvore, me sentei nas raízes levando Peter comigo, fazendo-o se sentar bem junto de mim.

Retirei uma adaga da bota preta que calçava. Não era algo aceito andar por aí com uma adaga no seu sapato, mas nos dias de hoje, era o correto a fazer. E meu pai era que me obrigava a usar isto, caso algo acontecesse.

— É ela? – ouvi uma voz feminina sussurrar.

— Sim, é ela. – uma masculina respondeu.

Meu corpo ficou tenso e senti olhos me observando em cima das árvores, o que fez meus olhos girarem a procura de qualquer ser humano presente na floresta além de eu mesma ou meu irmão. Mas eu não encontrava nada.

De qualquer jeito, acho que chegou a hora de finalmente utilizar a adaga para alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! E me digam o que acharam por reviews, vou tentar melhorar qualquer coisa, só me falarem. :3
Reviews fazem esta fanfic viver. u_ú