Em Perigo escrita por bianoronha


Capítulo 7
Capítulo 7 - Doce inimigo


Notas iniciais do capítulo

Gente, confesso que cada novo capítulo que escrevo, fico com o coração na mão para saber o que vocês acharam, então, não esqueçam de comentar!
E leiam as notas finais!



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Entrei novamente em meu quarto, porém, a tonalidade bege que costumava me acalmar não surtiu efeito desta vez. Minhas mãos suavam um pouco e não conseguia entender porque estava tão agitado. Encarei, ainda cheio de ansiedade, para a enorme cama king box que agora continha uma mulher adormecida.


"Uau, ela é linda" A voz de Alice rompeu o silêncio ressoando aguda em todo o quarto. "Só assim para conhecê-la" Deu uma risada. "Parece que ela tem estômago fraco para cenas fortes"


Alice era minha única parente que ainda morava no cartel. Era minha prima, porém, minha mãe a havia criado, fazendo com que nos tornássemos praticamente irmãos. Era uma criminosa, trabalhava diretamente nas transações, era muito esperta e ágil. Sua pequena estatura e o rosto delicado enganavam a todos que imaginavam certa fragilidade, pois tinha uma enorme cota de assassinatos, o que fazia com que todos no Cartel a respeitassem ainda mais. Porém, se não fosse do Cartel, sempre afirmou que gostaria de ser médica e apesar de soar contraditório, era realmente boa nisso e possuía muito conhecimento sobre primeiros socorros.


"Então quer dizer que salvou a sua vida?" Soltou uma enorme gargalhada me fazendo revirar os olhos, talvez não tivesse sido uma opção assim tão boa chamá-la ali. "Edward Cullen sendo salvo" Sacudiu a cabeça, incrédula. "Eu já amo essa garota" Continuou rindo e olhou novamente para Isabella.


Não me importava com as piadas de Alice, o desconforto que sentia por ver a garota em minha cama era ainda maior que o desconforto de ter Alice por perto. Por curiosidade, queria perguntar como estava, mas a implicância de Alice era suficiente para dirimir qualquer pergunta.

"Ela está bem, caso queira saber" Alice, lendo meus pensamentos. "Foi só um susto, mas provavelmente acordará em alerta, acho que deve ficar aqui para que veja um rosto conhecido" Disse séria.


"Não sou um rosto conhecido" Dei de ombros. "Por Deus, não somos conhecidos Alice, ela é só minha subordinada" Disse, tentando ser imparcial e era a mais pura verdade, aquele corpo estranho não significava absolutamente nada para mim, aliás, há muito tempo pessoas não significavam nada para mim.


"Edward, meu amor" Alice segurou em meus ombros. "Se salvou a sua vida, no mínimo tem uma queda por você" Ela riu da cara estranha que fiz. "O que aliás é bem explicável, esse seu corpinho é um arraso"


Alice tinha o dom de ser irritante e esse dom parecia ser aperfeiçoado a cada dia.


"Para de falar besteiras e faça o seu trabalho direito" Empurrei Alice para perto da garota novamente tentando notar algum sinal de que estivesse ouvindo, mas o corpo permanecia completamente imóvel.


"Olha só, o maior traficante do país ficando sem graça por causa de uma garota" Ela gargalhou novamente.


"Porra Alice, vou mandar matarem você" Estava realmente cogitando a ideia.


"Eu volto para te assombrar, pode ter certeza" Revirei os olhos, quando Isabella se mexeu. Um misto de nervosismo e agonia passou por meu corpo. "Acho que está acordando" Logo Alice correu para junto dela.


A voz de Alice soou e um leve nervosismo me atingiu. Dever algo a alguém me fazia ficar desconfortável. Edward Cullen nunca devia nada a ninguém.


"Tenho algumas coisas para resolver, quando acordar mande para o seu próprio quarto" Fui em direção a porta, mas os pequenos dedos de Alice me impediram.


"Edward, é melhor você ficar, ela precisa ver alguém conhecido" Alice tentou insistir, mas eu logo bati a porta, evitando suas reclamações, cheguei a ouvir alguns xingamentos, mas logo estava longe do quarto.


Andei em direção às escadarias, essa semana certamente estava sendo mais cheia que o costume. Cheguei finalmente ao lugar desejado: a enorme sacada que me permitia ver todo o vasto castelo.


Pude ver a floresta a vários metros e lembrei da noite do treinamento, quando encontrei o corpo da maldita garota jogado na grama. Uma luta interna travou-se dentro de mim, nunca havia me importado com iniciantes, e para falar a verdade, nem com os outros. Nunca havia ajudado alguém, não gostava da glória patética que isso trazia, quando era pequeno, nunca admirava os super-heróis, era uma perda de tempo tentar salvar as pessoas. Se importar com os outros só atrasaria meus planos, o líder de um Cartel não poderia gastar tempo com isso, não podia ser conhecido como o homem que tem um bom coração. O líder do maior cartel do país tinha que ser cruel, tinha que mostrar que passaria por cima de quem quer que fosse para ser respeitado, tinha que mostrar que sabia exatamente o que estava fazendo. E esse era exatamente o modo como eu lidava com as coisas.


Mas ao vê-la ali não consegui ir embora, convenci a mim mesmo que seria útil no futuro, que precisava dela com vida para realizar meus planos, mas sabia que isso não era totalmente verdade, que ao olhar para ela, eu reviveria os malditos momentos de seis anos atrás. Vê-la ali, como se estivesse morta parecia tão semelhante... porque me lembrava tanto meus piores dias?


Enquanto a carregava em meus braços, a odiava ainda mais por isso. Carregando seu corpo desejei fulminá-la ali mesmo, com apenas um desejo, mas deixaria esses pensamentos para depois, teríamos o momento para exterminá-la quando chegasse sua hora, eu mesmo faria isso.


Não tinha tempo para me distrair com outras coisas, tinha um plano e precisava segui-lo, era para isso que eu vivia, para encontrá-lo.


Levei minhas mãos aos cabelos, bagunçando-os, aquela garota tinha que servir para algo, era por isso que havia ajudado, porque seria útil no futuro.

 

Sorri ao lembrar da cabana, tentar beijá-la havia sido uma ótima jogada, esperava que fosse esperta o suficiente para não se confundir com minhas ações, esperar algo além de indiferença de mim era uma doce ilusão. Apesar da sua postura rígida e de sua suposta rebeldia, era possível perceber que não era assim, que se importava. Era exatamente isso que a tornava uma fraca, era exatamente por isso que eu sempre estaria um passo a frente.


Transações ocorriam a todo momento e sabia que uma hora ou outra viriam atrás de mim por todos as cargas roubadas. Era exatamente por isso que adorava roubar as cargas de Pablo, sabia que sempre viria atrás de mim e desafios eram comigo mesmo.

 

 

Eu sabia que tinha alguém no quarto, sabia que era um dos homens de Pablo e sabia que tinha uma arma em minha jaqueta que poderia usar, mas simplesmente deixei as coisas acontecerem. Adorava sentir a adrenalina percorrer meu corpo, o perigo, a sensação de quase morte. Tudo isso tinha gosto de Cartel. Saber que a qualquer momento ele poderia apertar o gatilho, me trazia a sensação de incerteza em que eu baseava toda a minha vida.



Não me importaria se apertasse o gatilho, não havia absolutamente nada que me prendia naquele Cartel ou no maldito mundo em que estávamos. Não acreditava em céu, mas de qualquer forma, se realmente existisse, com certeza eu não iria para lá, mas isso não me trazia desespero. Talvez fosse o simples pensamento de que nada poderia ser tão ruim quanto minha própria vida, eu já vivia um inferno, por isso não tinha medo de encará-lo, mas ao mesmo tempo, ainda tinha um plano a cumprir, sim, ainda tinha alguém para matar.

 

Não morreria assim tão facilmente, sabia que não. A pequena arma em minha jaqueta cintilava para mim e eu a usaria no momento certo.


Foi quando a vi.


O susto passeou rapidamente por meu rosto e desviei o olhar para que ele não a percebesse. O que estava fazendo ali? Aquela maldita garota iria estragar tudo, se ele a visse, provavelmente a mataria em questão de segundos.


Tentei sinalizar para que fosse embora, mas se havia uma coisa que Isabela Swan fazia bem era desobedecer ordens e fazer coisas estúpidas.


Apertei o corrimão da sacada com raiva ao lembrar de como a garota fora imprudente, vê-la tão decidida com a arma em suas mãos em outro momento me faria rir. Tinha simplesmente uma péssima mira e ainda assim estava ali, com a convicção e certeza de um atirador bem treinado. Só poderia ser ironia do destino, era possível me matar ao invés do criminoso. Absoluta certeza que ela não atiraria me resguardou, não era possível que tivesse essa ousadia e tudo isso se confirmou quando a vi pousar a arma novamente sobre a mesa distante de mim. Foi quando, em uma fração de segundos, o homem já estava caído no chão.


Aos poucos o sangue tingiu o azulejo límpido de minha varanda e tive certeza de que aquela garota poderia ter todos os malditos defeitos do mundo, mas era extremamente corajosa. Completamente imprudente e estúpida em suas escolhas, mas tinha que admitir, era absurdamente corajosa.


Várias cores passaram por seu rosto e quase a vi tendo um ataque cardíaco ali mesmo. O choque ainda estava em meu rosto quando vi seu corpo indo ao chão. Um morto e uma quase-morta habitavam meu quarto e pela primeira vez em muito tempo fiquei em dúvida sobre o que deveria fazer primeiro. Segurei o corpo da garota em meus braços e a levei até a cama, enquanto ligava para Alice, como estava em Cotswolds, pedi para que viesse o mais rápido possível.


Convoquei Emmet e alguns de meus seguranças para levar o corpo e limpar o local, mas parecia que quem teria o ataque cardíaco agora era Emmet, que ficou pálido ao ver Bardini jogada em minha cama. Evitei explicações e mandei que todos saíssem do quarto alegando que precisava descansar, mas na verdade quem precisava descansar era eu.


Notar a garota adormecida em minha cama e pensar em quantos problemas já tinha me causado em tão pouco tempo, era um imã absurdo de confusões e problemas e agora estava ali, em minha cama. Revirei os olhos e levantei avaliando mais de perto, seu rosto sereno contrastava com a lembrança do desespero que demonstrou ao comprovar finalmente sua primeira morte. Era interessante ver a evolução (ou neste caso, a involução) do ser humano quanto aos seus crimes e delitos. Num primeiro momento causava um terror sem fim, mas em pouco tempo se tornava algo completamente banal. 


Era sempre assim: na primeira vez você se sentia culpado, depois, com o hábito, tornava-se algo extremamente natural, diria até que poderia se tornar uma sensação boa com o tempo. Matar era um hábito impregnado em minha vida de um jeito surpreendente, me tornara um caçador. Entretanto, ela não era assim, pelo menos não ainda, era a primeira pessoa que matava e confesso que senti um pouco de inveja do terror que passou por seu corpo pois há muito tempo não sentia essa emoção. Era simplesmente mais um morto para mim, mas não para ela.


Notei o corpo escultural que possuía: os traços firmes, a postura rebelde. Prendi um pouco mais minha visão em seu corpo, certamente seria útil. Batidas na porta e logo o rosto de Alice surgiu me livrando quarto insuportavelmente apertado demais naquele momento.


Deslizei para fora dos pensamentos que me atormentavam e respirei aliviado observando a enorme Londres noturna de longe. A madrugada era assim, sempre iluminada. 


A noite estava fria como de costume, mas havia algo diferente, algo que não pude capitar.


Algumas horas se passaram sem que notasse quando finalmente sai da sacada e fui em direção ao meu quarto. Não estava costumado a ficar com sono, mas naquela noite meu quarto pareceu mais atraente do que nunca.






*




Abri os olhos me adaptando aos poucos com claridade que invadia o local e ao olhar para o teto, vi novamente a enorme águia o que confirmava que ainda estava no quarto do Cullen.


Relances rápidos passaram por minha mente e revivi todos os momentos daquela noite: O Cullen, a arma, o corpo no chão e todo aquele sangue quase tocando meus pés.


Sentei na cama em um pulo, com o coração acelerado e as mãos trêmulas quando vi um rosto desconhecido.


"Oi, sou Alice" A moça simpática lançou um sorriso incerto em minha direção com o rosto carregado de preocupação.


A garota possuía curtos cabelos pretos que combinavam com seus traços finos. Seu rosto era tão delicado que beirava a porcelana, era pequena e usava um vestido preto delicado, com a conhecida jaqueta por cima. Estranhei por nunca tê-la visto no castelo, mas algo em seu jeito de falar me passava segurança.


"Sou irmã do Edward, é um prazer conhecê-la, Bella" Chegou um pouco mais perto ainda sorrindo, tocou uma de minhas mãos e sentou-se na beira da cama. "Como você se sente?"


Não sentia, uma chuva de emoções misturavam-se dentro de mim fazendo com que a confusão dominasse. Não lembrava de ter ouvido sobre Alice nas conversas que tive com Cida, me falava apenas sobre Catherine, a irmã de Edward que havia falecido em um acidente, mas era apenas isso, nunca havia falado sobre a garota à minha frente.


"Você ficou desacordada por alguns minutos" Disse percebendo que não iria falar. "Mas já está tudo bem, trouxe um calmante para você dormir melhor" Me empurrou um enorme copo de água e um pequeno comprimido, que tomei sem questionar.


Não chegou a sair nenhuma palavra de minha boca quando ouvimos a porta abrir, não virei para ver quem era, mas simplesmente deduzi que fosse o dono do enorme quarto. Alice logo foi em sua direção e pude ouvir as vozes do outro lado da porta, que estava entreaberta.


"Eu disse para você tirá-la do meu quarto, Alice" Cullen e sua voz irritada, como de costume.


"Ela acabou de acordar" Apesar de delicada, sua voz estava firme. "E também, acho que ela deve passar a noite aqui, Edward" uma risada hostil saiu dele.


"Você só pode estar de brincadeira" Juro que escutei um breve rosnado sair de sua garganta. "Essa é a porra do meu quarto Alice, você não manda em nada nesse castelo"


"Não me venha com suas grosserias, já está dito, ela irá dormir aqui" A voz dela possuía tanta autoridade que eu até me espantei por alguém conseguir falar assim com o Cullen. "Ed, li em um livro de psicologia que a pessoa deve encarar o lugar do trauma de frente, essa noite será essencial para ela superar o que aconteceu" A voz continuava séria, porém falava com suavidade. "E aliás, ela precisa de um pouco de conforto, você já viu o tamanho daquele quarto?" Um tom de indignação surgiu. "É minúsculo Edward, me admiro que alguém consiga dormir ali"


Estava tão concentrada em ouví-los, que não pensei no quanto seria estranho dormir no quarto do Cullen.


"Que livro você anda lendo?" A voz voava irritada. "Jogue essas porcarias no lixo" Continuei me distraindo com as vozes. "Ela é só uma iniciante, você quer o que, que todos recebam enormes suítes para relaxarem?" Praticamente gritava. "Ah, pensando melhor, deveríamos contratar vários profissionais para massagens de graça também" Sua voz continuou carregada de ironia.


"É claro que você não se importa com isso, mas nem todos são como você, que matam qualquer um que veem pela frente, ela pode ficar traumatizada" Rosnou para ele. "Não estou falando de suíte nenhuma, é só uma noite Ed, ela precisa ficar aqui"


"Ótimo, vou dormir em outro lugar" Virou-se, mas algo pareceu segurá-lo.


"É óbvio que não" Alice continuou séria. "A pessoa deve ficar com quem viveu o trauma com ela, só assim poderá se livrar dele" Aquela garota estava cutucando o Cullen-pedra com vara curta, e eu daria tudo para ver o rosto dele naquele momento.


"Alice, juro que vou te matar se não soltar meu braço" A voz dele estava uma oitava acima.


"Ed, é sério, isso pode traumatizá-la, faça isso por mim" Afinou a voz. "Não quero mais uma louca nesse castelo, gostei tanto dela" Acho que ninguém conseguiria resistir à linda voz de Alice. "Por favor?"


Ele não respondeu, e apenas ouvi os passos duros e pesados dele indo embora, vendo Alice voltar-se para mim novamente.


"Ele vai dormir aqui" Abriu um enorme sorriso, aproximando-se de mim. "É um cabeça dura mesmo" Soltou uma risadinha e apenas continuei calada.


Não sorri com a notícia, para falar a verdade, nem considerava uma coisa boa, mas provavelmente seria divertido vê-lo com raiva a noite inteira.


De repente, uma enorme vontade de estar em casa me atingiu, estava sem falar com minha mãe a semanas, longe de tudo que conhecia, e agora tudo parecia fazer mais falta ainda. Lembrei do rosto de minha mãe, que sempre me transmitia tranquilidade, pensando no quanto queria que estivesse ali, logo em seguida lembrei de meu pai, fora maravilhoso vê-lo na floresta, mesmo sabendo que não era real, mesmo sabendo que era impossível.


"Eu tenho algumas coisas para fazer" Alice fez um rosto de sofrimento. "Mas não quero te deixar sozinha"


"Estou bem" Dei de ombros, percebendo minha voz calma, o que provavelmente era resultado do remédio. "Pode ficar tranquila, obrigada por cuidar de mim"


"Foi um prazer Bella" Ela tocou minhas mãos novamente e logo se foi.


Desliguei a luz do pequeno abajur que Alice havia trazido para o quarto e me enfiei em baixo das grossas cobertas, o remédio havia acalmado meu corpo, mas não minha mente. Estava mais acordada do que nunca.


Uma enorme sensação de vazio me invadiu juntamente com a escuridão do quarto e eu finalmente percebi que estava só, não somente naquele quarto, mas na vida. Apesar de ter Emmet, Jasper e Jenny, me sentia só, incompleta. Não sabia se era devido a noite turbulenta, mas uma enorme nostalgia me cobria como um manto, percebi naquele momento que não tinha absolutamente nada, não tinha minha casa, minha mãe, minha profissão, agora  só tinha aquele maldito e frio Cartel.


A porta abriu e a presença do Cullen foi perceptível devido seus passos duros, que fazia com o chão de madeira rangesse levemente. Continuei imóvel enquanto se arrumava no pequeno colchão de solteiro que um dos seguranças havia trazido algumas horas antes, sob ordens de Alice.


Mais alguns barulhos surgiram e logo tudo ficou calmo, em silêncio.


Um nervosismo passou por meu corpo ao finalmente perceber que estava no mesmo local que o Cullen, dormindo sob o mesmo teto. Tudo naquele lugar era dele, eu era uma intrusa ali.


Dentro de mim um turbilhão de pensamentos chocavam-se entre si, quando a enorme sacada me chamou atenção. O homem morto e todo o sangue voltaram a minha mente, como um soco no estômago e logo meus olhos estavam marejados. Nesse tempo todo eu estava tão preocupada em me adaptar ao cartel que não havia percebido o quanto eu mudara dentro daquelas poucas semanas. Em um mês, já havia matado um homem, usava as malditas jaquetas de couro e agora dormia no quarto do pior criminoso do país. Quem eu estava me tornando?


"Cullen?" Ele estava imóvel, e aquela maldita sacada estava me dando medo.


"Hmm" Um murmúrio surgiu.


"Não consigo dormir" Minha voz tinha um tom de desespero, e não me importava se estava com o arrogante que tanto odiava, naquele momento, só queria ouvir uma voz, não importava de quem fosse.


"E eu com isso?" Um poço de delicadeza.


Bufei irritada, e me mexi na enorme cama tentando me distrair, mas a intrigante sacada continuava chamando minha atenção, como se o homem ainda estivesse ali, como se o sangue ainda pudesse tocar os meus pés.


Soltei um gemido, quase em desespero. Havia matado uma pessoa, não podia acredita que uma pessoa havia parado de respirar por minha causa e o pior era que tinha feito para ajudar o Cullen, o estúpido que não era absolutamente nada para mim, para salvar o homem que me odiava. Concluí que a estúpida era eu, afinal, por ainda me importar com as pessoas.


Fechei os olhos com força, desejando esquecer do corpo ensanguentado jogado no chão, mas as imagens voltaram ainda mais fortes.


"Posso ficar mais perto de você?" Soltei, sem pensar. Vários minutos passaram e o Cullen continuava em silêncio, conclui que já estava dormindo, fazendo com que meu desespero aumentasse ainda mais por realmente estar só. Precisava ficar perto de alguém.


Foi quando a voz imponente me surpreendeu.


"Pode" Sua voz decidida fez com que todo meu corpo arrepiasse.


Não parei para pensar no que estava fazendo, naquele momento não era Isabela Swan, a garota que fora obrigada a passar o resto da vida em um Cartel de drogas, e ele não era Edward Cullen, o maior traficante da atualidade. Éramos apenas uma garota assustada e um cara que talvez pudesse me proteger de meus próprios pensamentos.


Levantei e caminhei lentamente, deitando no pequeno espaço ao seu lado, fazendo com que nossos corpos se encostassem levemente, o que gerou alguns pequeno choques em meu corpo. O nervosismo voltou com força total, que situação estranha era aquela?


Não pensei em nada, apenas fechei os olhos, desejando dormir rapidamente, e de repente, todos os pensamentos sumiram e somente o perfume do Cullen adentrou minha mente. Era como se o maldito tivesse preenchido todo o quarto, como se nenhum perigo pudesse me alcançar enquanto estivesse ali, com ele.



O silêncio reinou no ambiente, apenas o som de alguns grilos do jardim eram ouvidos.


Retornei exatamente ao momento em que entrei no quarto, reconheci o mesmo quarto límpido, a mesma águia devoradora no teto.


Andei alguns passos e novamente vi a cena, o homem de costa para mim, e o Cullen de frente para ele, porém, algo estava diferente, o Cullen não estava com a feição firme com a qual eu estava acostumada, no seu rosto havia desespero, um desespero que eu nunca tinha visto ali.


O desespero de meu inimigo gerou um sentimento negativo em mim, eu não queria que ele estivesse assim, seja lá o que fosse que o estivesse perturbando, tinha que parar, porque estava me perturbando também.


"Você precisa me ajudar" Ele clamou para mim. "Só você pode fazer isso, por favor, não deixe que isso acabe"


No segundo seguinte eu lembrei de como aquela cena terminava, e voltei-me para conhecida mesa onde o revólver do Cullen costumava repousar, porém, ele não estava ali. Empurrei os papéis com urgência, tentando achá-la, mas ela simplesmente não estava ali. Aquilo estava errado, não podia terminar daquele jeito, eu precisava encontrar a arma.


Os gritos do Cullen continuaram fazendo com que meu coração acelerasse de pavor, revirei toda mesa mas a arma não estava lá.


Foi quando ouvi um tiro.


Os gritos cessaram, e um corpo caiu ao chão.


Era o corpo do Cullen. O homem virou-se para mim com um sorriso de quem tinha completado a missão, e logo sumiu enquanto eu contemplava o corpo sem vida de meu inimigo. Um pavor descontrolado tomou conta de mim, muito maior do que a culpa de ter matado o homem, era a culpa de tê-lo deixado morrer. Vê-lo ao chão e perceber que eu não tinha conseguido salvá-lo era a pior sensação do mundo.


"Swan" O Cullen segurava meus braços e me sacudia levemente. "Swan, você está sonhando, acorda"


Abri os olhos ainda sentindo a enorme sensação de impotência, quando encarei o rosto do Cullen, exatamente como lembrava, com vida. Uma imensa tranquilidade tomou conta de meu corpo e logo relaxei.


Meu coração ainda estava acelerado, e a proximidade do Cullen fazia com que ele continuasse assim. Só então percebi que o maldito estava sem camisa, fazendo com que seus músculos roçassem levemente em meu corpo.


Ele me olhava questionador, porém, ao perceber que não falaria nada, voltou ao seu lugar de origem. Tinha sido apenas um pesadelo, conclui em paz. Eu havia sim, conseguido salvar o Cullen. Não entendi porque, mas agradeci aos céus por ter conseguido.


Olhei de canto de olho para o Cullen e ele encarava o teto.


"Você lembra da primeira pessoa que matou?" Eu mantinha meus olhos fechados, esperando o sono voltar, pensei que fosse demorar, mas a resposta logo veio.


"Lembro" Sua voz rouca soou. "Carlos Magalhães, era do cartel adversário, minha primeira missão foi matá-lo" Deu de ombros, como não se importasse.


"E como se sentiu depois?" Minha respiração era tranquila e estava em sincronia com a dele.


Eu precisava saber como as pessoas esqueciam, como se acostumavam com aquilo. Mal acreditava que realmente havia terminado com a vida de alguém.


"Péssimo" Confessou. "Depois do décimo, a gente se acostuma" Deu de ombros mais uma vez e um calafrio passou pelo meu corpo.


Dez pessoas. Mortas. Pelas minhas mãos. Só de pensar na idéia, já me sentia culpada.


"Qual foi a morte mais difícil?" Sabia que estava extrapolando algumas barreiras, nunca havia conversado com o Cullen, nem tinha interesse, na verdade, mas algo me impulsionava a falar, parecia que naquela noite perguntas eram permitidas.


Demorou demais para responder, estava quase em um cochilo quando ouvi sua voz.


"Tive que matar uma criança de uma família que tinha uma dívida com o Cartel" Voltei para ele, encarando, seus olhos estavam vazios. "Foi a pior morte" Surpreendi-me por parecer tão verdadeiro, tentei imaginar como seria matar uma criança e entendi porque seus olhos pareciam sem vida, era simplesmente cruel. "Mas como disse, com o tempo você se acostuma" Seus olhos voltaram a vivacidade de sempre e sua postura arrogante voltou ao lugar.


"Duvido muito" Lembrei da sensação de acertar o tiro, apesar de ser boa, ver o corpo ao chão me fez entrar em desespero, e não acreditava que isso mudaria com o tempo. "Cullen?"


"Hmm" outro murmúrio.


"Você acha que vou me acostumar com tudo isso?" Ele logo respondeu.


"Isso não é uma opção" Me olhou e por um momento me perdi no intenso azul de seus olhos. "Se não se adaptar eu mesmo irei exterminá-la"


O silêncio voltou e a escuridão reinava absoluta, apenas uma brecha de luz tocava a janela do quarto, dando um pequeno lugar iluminado. Admirei a enorme cama e só naquele momento percebi que estávamos em uma cama de solteiro, sendo que havia uma muito maior, mas aquilo simplesmente não me incomodou


Observei a águia desenhada no teto, perguntando a mim mesmo o que aquilo deveria significar, mas, ao mesmo tempo, aquele desenho era a melhor definição do Cullen, que estava sempre alerta, procurando sua presa, talvez, realmente significasse aquilo.


Um peso pendeu sobre meu corpo e um nervosismo passou por mim ao perceber que era uma das mãos do Cullen que estava sob minha cintura. Virei e encarei seu rosto, percebendo que havia finalmente dormido, as enormes olheiras demonstravam o quanto precisava de uma noite de sono, ser o líder daquele lugar não deveria ser fácil, afinal.


Cheguei meu rosto um pouco mais próximo do dele e senti sua fragrância, uma mistura de nicotina e perfume cítrico invadiu meu olfato, fazendo com que me perguntasse qual perfume deveria usar.


Divaguei um pouco mais sobre seu cheiro e a última imagem que ficou em minha mente foi o rosto tranquilo do Cullen, imagem essa, que era rara de se ver, mas eu a vi, apenas por uma noite, mas a vi.






*





A claridade invadiu minha visão, fazendo com que soltasse um resmungo. Tateei ao meu lado e a cama agora jazia vazia.


Abri lentamente os olhos e vasculhei o quarto procurando o corpo do Cullen, não sabendo se tudo o que havia acontecido na noite anterior era apenas um sonho, ou não, mas ao ver o corpo definido, agora em uma calça jeans e ainda sem camisa, andando em direção à porta, me fez constatar que realmente estava no quarto do Cullen.


Ele entreabriu a porta, encostando-se na mesma.


"O que você quer?" Sua voz já amanhecia irritada.


"Mestre" Surpreendi-me ao notar a voz de Emmet. "Bella dormiu aqui?" Sua voz beirava preocupação.


"E o que você tem a ver com isso?" Não entendi porque o Cullen estava tão na defensiva, ele costumava falar normalmente com Emmet.


"Nada, senhor" Respondeu sem graça. "Acho que fiquei preocupado, vim buscá-la para o café da manhã"


"Tenho certeza que ela pode ir com as próprias pernas até o refeitório Emmet, não se preocupe" Fechou a porta girando os calcanhares e entrou no banheiro sem dirigir um olhar para mim.


Levantei lentamente, percebendo que ainda estava com as roupas de ontem. Uma vontade de sair rapidamente do quarto me invadiu, lembrei do momento patético em que havia pedido para dormir com o Cullen, e sabia que uma hora ou outra usaria essa fraqueza contra mim. Procurei meus sapatos em todo lugar e não os achei, a porta do banheiro estava quase se abrindo quando decidi ir embora do quarto, descalça mesmo.


"Você está procurando por isso?" A voz do Cullen impediu que abrisse a porta, estava com um de meus sapatos em suas mãos.


"Exatamente" Disse um pouco desconcerta.


"Impressão minha ou você estava tentando fugir?" O Cullen possuía o maldito sorriso zombador nos lábios.


"Claro que não, estava indo tomar café, simples" Dei de ombros.


"Ah claro, você estava indo tomar café descalça?" Sua fala estava carregada de ironia.


"As vezes é bom andar descalça" Disse séria. "Demonstra humildade, coisa que provavelmente você não tem"


"Não, eu não tenho" Disse dando alguns passos em minha direção. "Humildade é para fracos" Chegou um pouco mais perto, e a cada passo que ele dava, eu dava outro para trás. "Humildade é para quem quer fugir" Dei um último passo, tocando na parede com minha costa, ele colocou os braços na parede, prendendo o meu corpo no dele.


"Eu já disse que não estava fugindo" Disse encarando seus enormes olhos questionadores, desconfortável com a proximidade.


"Tudo bem, não tem problema" Deu um pequeno sorriso de lado. "Você não precisa ficar com vergonha por querer dormir comigo" Chegou mais perto, fazendo com que nossos rostos ficassem a centímetros. "Aliás, minha cama estará sempre disponível para quando precisar" O maldito sorriso zombeteiro ainda estava ali.


O nervosismo me encontrou de repente e não soube o que responder, o que o maldito queria dizer com aquilo? É óbvio que eu nunca o procuraria, estava fazendo mais um de seus jogos.


O barulho da porta abrindo fez com que nos separássemos rapidamente, enquanto o Cullen jogava um lado de meu sapato aos meus pés.


"Bom dia!" Alice entrou cantarolando pelo quarto, enquanto ainda estava encostada na parede, desconcertada. O Cullen voltou-se para sua mesa, como se procurasse por algo. "Está tudo bem, Bella?" Olhou desconfiada de mim, para ele. "Que cara de assustada é essa?"


"Eu pensei que tivesse perdido meus sapatos" O Cullen soltou uma quase imperceptível risada e Alice me olhou estranho.


"Ok, vim buscá-la para tomar café" Sorriu e logo pude sair do quarto sufocante, indo em direção ao refeitório, não sem dar um último olhar para o interior do quarto, com um certo mafioso ainda devolvendo um olhar zombador.


Chegamos ao refeitório e o café da manhã já havia terminado, o ambiente estava silencioso e Alice acabou tomando café junto comigo. Me perguntou como havia dormido e a única coisa que consegui responder era que tinha dormido bem, o que não era mentira.


Alice tinha várias coisas para fazer e após o café foi monitorar algumas transações, enquanto eu ia até a ala de segurança procurar por Emmet.


Estava em sua sala com o rosto ainda preocupado, quando me viu.


"Bella, você está bem?" Veio em minha direção e me deu um abraço.

"Meu Deus, o que aconteceu?" Disparava as perguntas. "Tinha um homem morto e depois você estava desacordada, e ainda dormiu no quarto dele, ele te fez alguma coisa e..." tive que interromper.


"Ei, calma" Me afastei para olhá-lo melhor. "Está tudo bem Emm, aconteceram algumas coisas complicadas ontem, mas já está tudo bem, não quero falar sobre isso agora" Não queria ter que contar para Emmet, que assim como todos no maldito cartel, eu também era um assassina.


"Tudo bem" Relaxou. "Mas vê se não me dá mais um susto desse garota, você quase me matou do coração"


Sorri olhando para Emm, realmente era uma pessoa especial, mesmo estando no Cartel a algum tempo, não deixava de ser atencioso com as pessoas, continuava o mesmo Emmet de sempre.


"Senhor" Um de seus subordinados nos interrompeu. "Acho que temos um problema"


Emmet voltou para sala, me puxando com ele, enquanto olhava um pequeno monitor.


"Mas que merda é essa?" Olhava intrigado para a tela e por curiosidade me aproximei. "Quem é essa mulher?"


Para a minha surpresa, a mulher do monitor era minha mãe, estava do lado de fora do enorme portão e parecia discutir com um dos seguranças.


"Meu Deus" Exclamei surpresa. "É minha mãe"


"Você disse para sua mãe que está aqui?" Me olhou surpreso.


"Claro que não Emmet, não sei como me achou" Ainda olhava surpresa para o monitor.


"Você precisa mandá-la embora, se o Cullen descobrir que está aqui não ficará nem um pouco satisfeito"


Nem esperei Emmet terminar de falar e desci rapidamente as escadarias. Era só o que faltava para completar a semana, minha mãe estava no castelo. Corri, entre os jardins, chegando rapidamente no portão.


O segurança era muito maior do que minha mãe, e já possuía uma feição irritada, o que mostrava que não aguentaria muito tempo para chutar minha mãe dali.


"Mãe!" O segurança carrancudo abriu o portão ao me ver. "O que você está fazendo aqui?"


"O que eu estou fazendo aqui?" Gesticulava, falando alto. "Estou procurando minha filha desaparecida que não manda notícias a mais de um mês"


"Por favor, pare de fazer escândalo, tenho muito trabalho e já disse que não é para você vim aqui" Disse falando baixo, para que o segurança não ouvisse.


"Que raio de empresa é essa que não deixa as pessoas viverem?" Ela olhou para mim abismada. "E que roupas são essas, Isabella?" Tocou a jaqueta. "Você está parecendo uma criminosa!"


"Pelo amor de Deus mãe, só estou com umas roupas diferentes, não é nada demais" Dei de ombros. "Agora você precisa ir, meu chefe não gosta que a gente fique recebendo visitas"


"Eu não vou embora, se você não vier comigo" Cruzou os braços, possessa de raiva. "Você não vai mais ficar nesse lugar, Isabella"


O desespero me alcançou, precisava tirar minha mãe daquele lugar antes que algo ruim acontecesse, várias famílias já tinham morrido por se meterem em negócios do Cartel, não podia deixar que isso acontecesse com minha mãe.


"Mãe, é sério, você precisa sair daqui" Tentei empurrá-la, mas ela não saia do lugar. "Eu preciso voltar ao trabalho"


"Isabella" A voz grossa me fez congelar. Olhei para trás e o Cullen vinha andando a alguns metros e logo chegou ao nosso lado. "Isso são modos de tratar sua mãe?" Aproximou-se, pegando lentamente uma das mãos de minha mãe e depositando um pequeno beijo. "Prazer em conhecê-la, senhora Swan, sou o chefe de Isabella"


Olhei surpresa para ele, tentando descobrir qual era sua intenção ao estar ali, minha mãe encarava hipnotizada.


"O prazer é todo meu, senhor?"


"Me chame de Edward" Sorriu e percebi que foi a primeira vez que o vi sorrir e ser simpático, o maldito Cullen, além de arrogante, era um ótimo ator. "Há algum problema por aqui?" Olhou dela para mim e percebi que o real problema era a presença dele ali, fiquei em alerta para reagir caso tentasse machucá-la, mas parecia tranquilo.


"Na verdade há sim, quero entrar para conhecer sua empresa" Ela disse decidida, e pela primeira vez na vida senti vontade de bater em minha mãe, estava pedindo para morrer, se soubesse com quem estava falando, certamente teria ido embora. "Não entendo porque os empregados não podem dormir em casa, minha filha está aqui a um mês e mal fala comigo, a mesmo coisa aconteceu com Jasper" Aumentou o tom de voz. "Mas eu não sou igual a mãe dele, não vou abandonar a minha filha nesse lugar, quero que ela volte para casa"


Revirei os olhos, estressada, minha mãe adorava fazer um drama de mãe ofendida, mas a verdade era que nem parava em casa, não tinha porque fazer todo aquele escândalo, para que voltasse. Olhei nervosa para o Cullen, esperando por sua resposta.


"Entendo sua reclamação, mas infelizmente não há nada que possa fazer" Sua voz soava tão pausadamente que até parecia verdadeiro. "Preciso dos meus empregados com tempo integral, nossa empresa exporta para vários países, fazendo com que a atividade seja intensa" Continuou, aparentando tranquilidade. "Em relação a conhecer a empresa, infelizmente não poderá conhecer hoje, devido alguns trabalhos internos que estamos realizando, não poderíamos dar a atenção devida, mas dou a minha palavra que assim que for possível, marcarei um dia para que venha conhecer toda minha propriedade" Concluiu dando um sorriso simpático, já disse que o maldito era um ótimo ator?


"Entendo, sei que sua empresa precisa de muitos funcionários e essas coisas" Minha mãe acreditou em cada palavra do Cullen. "Mas quero que você dispense minha filha, ela não precisa desse trabalho, ganho o suficiente para nos manter, quero que você a dispense"


Por um momento percebi que não imaginava a possibilidade de voltar para casa, e aliás, essa possibilidade era impossível, já que ninguém saia do cartel ileso, ou permanecia, ou saia dentro de um caixão, mas minha mãe não sabia disso.


"Infelizmente, não posso fazer isso" Passou os braços sobre meus ombros, numa admiração fingida. "Não posso dispensar uma das minhas melhores funcionárias, se Isabella quiser sair, terá que sair com suas próprias pernas, eu não irei demiti-la" Lançou um olhar para mim e pareceu tão verdadeiro, que quase acreditei que precisava de mim ali. Quase.


Minha mãe olhou para mim, como se realmente tivesse opção, mal sabia ela que se fosse embora, nós duas morreríamos.


"Eu vou ficar mãe, vou continuar trabalhando aqui" Minha mãe olhava magoada para mim, enquanto o Cullen dava um sorriso vitorioso.


"Tudo bem, já gastei tempo demais aqui" Conformou-se. "Mas fiquei mais tranquila por conhecê-lo, Isabella não me disse que tinha um chefe tão gentil" Minha mãe sorriu para o Cullen e quase dei um tiro em mim mesma por realmente ter escutado aquela frase. Maldito ator dos infernos! "Fico mais tranquila por saber que está em boas mãos"


"Com certeza está em boas mãos" Deu mais um olhar cínico para mim, e apertou um pouco meus ombros.


"Adoraria que fosse jantar em minha casa qualquer dia" Minha mãe olhou para mim. "Quando Isabella for passar uns dias lá, é claro"


"Será um enorme prazer" Puxou a mão de minha mãe dando novamente um beijo estalado no local. "Com certeza nos veremos mais vezes" Sorriu fazendo com que a cada segundo me surpreendesse mais com sua cara de pau, certamente o Cullen era uma caixinha de surpresas negativas.


Minha mãe virou-se e logo entrou em seu carro. O maldito esperou que  partisse e virou-se para mim.


"Você tem sorte que estou de bom humor hoje" O babaca virou as costas e sumiu, enquanto eu me perguntava que tipo de transtorno bipolar ele deveria ter.


Após essa situação estranha, voltei às atividades normais do cartel.


O final de semana passou rapidamente, e logo era segunda-feira, estava tão perdida no tempo que mal me lembrei da viajem, e acabei fazendo as malas apressadamente.


O último chamado foi feito: todos os iniciantes deveriam ir para jardim, e logo partiríamos para Cotswolds. Jenny parecia ter um ataque de cinco em cinco segundos, só sabia falar sobre a viajem e como estava empolgada para chegar logo, já tinha pesquisado tudo sobre a cidade, que segundo ela, ficava no interior de Londres.


Peguei minha mala e arrastei até o jardim, enquanto Jenny ainda falava sobre como era incrível viajar.


Um enorme caminhão estava estacionado perto do local, e todos jogavam suas bagagens ali. Arrastei a minha até o local e um senhor a jogou para cima do caminhão.


Avistei o rosto de Jasper um pouco distante de mim, e sorri para ele recebendo um sorriso cansado de volta. Um "Estou com saudade" saiu de sua boca, e respondi com uma careta triste, mostrando que sentia o mesmo. Todos iniciantes estavam empolgados, andando de um lado para o outro, enquanto esperávamos que o ônibus chegasse, quando percebi que Emmet se aproximou.


"Vamos, todos devem ir para o estacionamento" Emmet nos puxou em direção ao local.


Estiquei o pescoço tentando ver o ônibus, mas tudo que vi foram motos. Dezenas delas.


"Cadê o ônibus?" Perguntei e percebi que Emmet caminhava em direção a sua moto.


"Que ônibus?" Fez uma careta.


"O ônibus que vem nos buscar" Falei como quem explica para uma criança e continuou me olhando estranho.


"Bella, não vem nenhum ônibus, cada um vai em sua moto" Dessa vez foi Jenny que me respondeu. "Já que eu não sei andar, pedi para Emmet me levar em sua garupa" Deu de ombros, quando percebeu que também não sabia dirigir direito.


Procurei por Jasper no meio do aglomerado de pessoas, mas ele levava um carregamento em sua moto, fazendo com que já estivesse cheia, quando uma voz enjoativa surgiu.


"Acho que alguém está sem carona por aqui" Virei e dei de cara com o sorriso de Step, que possuía uma incrível moto. "Pode subir" Piscou para mim e  caminhei até a moto sem opção, quando uma última voz entrou na conversa. Uma voz que eu conhecia muito bem.


"Ela vai comigo" Virei para observar o dono da voz firme e me surpreendi com a cena.


O Cullen estava sentado em uma das motos mais velozes do mundo, era uma incrível Suzuki Hayabusa preta que parecia brilhar no Sol.


O Cullen usava sua famosa jaqueta de couro.


"Sobe" Disse simplesmente.


Não olhava para mim como alguém que perguntava algo, sabia que aquilo não era uma pergunta, aquilo era uma ordem.


Pela primeira vez na vida eu não questionei o maldito Cullen, não tinha o que questionar. Estava me salvando da presença indesejada de Step.


Passei os braços na cintura de meu inimigo, enquanto todos olhavam paralisados a cena absurda.


"Está pronta?" A voz rouca soou em meu ouvido.


"Como nunca estive" Não esperou que eu terminasse de falar e já tinha arrancado.


Aquela viagem seria inesquecível.

 

 


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Notas finais do capítulo

Gente do céu, eu não gostei desse capítulo, na verdade, o meu desejo era fazer uma atualização dupla, mas como sempre, o tempo não deu para escrever, um saco isso =/ mas enfim!
Espero do fundo do meu doce coração que vocês tenham gostado!
NÃO ESQUEÇAM DE SEGUIR O @EMPERIGO
Lá eu dou alguns recados sobre as atualizações e essas coisas.
Um beijão pro pessoal da comunidade do orkut, vocês são lindas!
E um ENORME OBRIGADA para TODAS as garotas que comentam, vocês fazem cada esforçozinho valer a pena, desejo sempre escrever capítulos bons pra vocês!
E pra você que lê a história e nunca comenta: Tome vergonha na cara e comente! hahaahhahaa brincadeira
Mas sério gente, não digo isso só pra minha história, mas em todas as que vocês leem. Comentários são a única forma de recompensar as escritoras por seu trabalho, então, eu incentivo a todas comentarem em suas histórias favoritas.
Mais uma vez obrigada, Bia sem vocês não é Bia!
Ok, já chega de drama! uahuahua
Ps: Algumas surpresinhas no próximo capítulo, não percam!
Beijos, Bia.