Em Perigo escrita por bianoronha


Capítulo 28
Capítulo 28 - Fragmentos


Notas iniciais do capítulo

Assim, de surpresa, só para saber se ainda tem alguém por aqui.
Bem, espero não estar sozinha.

História em reta final, quase o finalzinho da primeira parte e a história veio com tudo em minha mente novamente, então, espero que aproveitem!



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Somos fragmentos. Nascemos inteiros e nos despedaçamos dia-a-dia, até o fim da vida. Deixamos pedaços de nós a cada pessoa perdida, em cada decepção, em cada frustração de nós mesmos.

 

Poderia perder tudo. Essa verdade caia sobre meus ombros com um peso esmagador. Não sabia se valeria a pena, no fim das contas. Minha vida estava em jogo e o pior, a vida das pessoas que agora eu chamava de amigas. Eu sabia que me sentiria exausta até tudo aquilo acabar, mas não sabia o quanto. Meu corpo era um emaranhado de fios de alta tensão, pronto para uma faísca. Era assim que me sentia entrando no salão com o vestido mais justo e curto que encontramos.

 

A festa pulsava no salão principal, mas dificilmente estava mais agitada que meu coração. Eu era uma gota naquele oceano. Destilava certezas desde o primeiro dia no Cartel, mas ali eu me sentia só uma criança.

 

A tarde passou voando, com jogos infantis na piscina novamente. Ganhamos alguns e perdemos outros, para o ódio do Cullen. Soltei um sorriso ao lembrar da cena. Era incrível como esses momentos eram valiosos para mim, ainda que a realidade fosse outra, muito mais dura e pesada, ainda conseguíamos nos divertir.

 

Com o teatro montado pela Alice, nós éramos uma família em férias, mas as vezes me perdia em distinguir meus sentimentos, pois de fato os via como minha família.

 

Os mafiosos estavam em suas posições, monitorando qualquer imprevisto. Emmet monitorava os movimentos no ambiente. Alice estava sentada gargalhando com estranhos no bar, atenta ao lado oeste do salão. Jaz, armado, fixo no duto do ar exatamente ao centro e Edward estava na sala de controle, fiscalizando as câmeras. As crianças dormiam tranquilas, sem imaginar uma gota sequer daquele caos.

 

O meu desfile pelo salão era lento e proposital. Os olhares não eram poucos, assim como os convites para sentar junto as mesas de pôquer, entretanto, existia um único alvo, que estava exatamente abaixo da localização de Jaz e cercado por seus capangas.

 

Estava claro para mim quais eram os meus objetivos da noite: chamar atenção de Carlisle. O tempo corria contra nós e até o momento eu não tinha exatamente um contato íntimo com ele. Era necessário chamar a sua atenção e ganhar sua confiança, mas eu começava a questionar se de fato tinha condições de cumprir esse papel. Eu estava suando, e não era por calor. O nervosismo aos poucos corria por minhas veias, tirando o resto da confiança que ainda existia. Dois dias, era esse o tempo que tínhamos para a noite da entrega. Só dois dias para o desfecho daquela história.

 

É claro que com um único tiro Jasper conseguiria, em sua posição estratégica, terminar com o dilema da vida do mafioso. Com um único tiro ele encontraria a almejada vingança de Edward. Entretanto, o mestre havia sido claro desde o início: queria Carlisle com vida. Eu não tinha coragem de perguntar o motivo. Não queria saber se o pedido era por vontade de mata-lo da forma mais dolorosa possível e com suas próprias mãos, ou se simplesmente queria encontra-lo face a face para fazer as perguntas que nunca saíram de sua mente.

 

Verdadeiramente não sei se suportaria o peso dessa resposta.

 

Foram com passos sensuais e lentos que atraí o primeiro olhar do alvo. O vestido vermelho era estratégico, cuidadosamente apertado nos lugares certos, realçando a beleza que certamente poderia atrair um homem, seja lá quem ele fosse. O alvo me analisou de longe, por poucos segundos, e voltou seu olhar para o jogo, sendo rodeado de pessoas para o bajular com gargalhadas falsas.

 

Nenhum comando, nenhuma palavra para seus capangas, sequer um convite para assentar a mesa.

 

No ponto eu só ouvia respirações, todos concentrados, tentando avançar, mas sentindo o mesmo medo e angústia que meu coração sentia. O medo de fracassar era absurdo, mas a vontade de fazer dar certo era muito maior.

 

Em poucos segundos de receio, consegui definir exatamente o desfecho da noite. Estava ali para o tudo ou nada, e sinceramente, eu esperada ganhar tudo, pois não tinha arriscado tanto para não ter êxito.

 

“Alvo distraído” A voz de Emmet soou no ponto. “Devemos começar o plano B?” No fundo era possível sentir a tensão entre todos. Não era fácil lidar com as expectativas de Edward, nenhum de nós queria fracassar.

 

“Ainda não” Ergui a cabeça e caminhei com passos firmes até o palco. Uma música agitada soava enquanto todos se concentravam em seus jogos. “Vou começar a brincadeira agora”

 

“Isabela…” A voz do meu mafioso preferido continha receio, talvez até pânico, mas não era hora de hesitar.

 

“Confie em mim, mestre” Houve silencio no fone.

 

“Positivo” A voz do mafioso quebrou o silencio. “Siga em frente”

 

Era o voto de confiança que precisava para desenvolver meu plano. Os passos foram firmes em direção ao palco. Dei algumas palavras para o apresentador, desligando o ponto, para me concentrar no que faria a seguir. O homem alto, de pose atlética, sorriu sacana para mim, afirmando com poucas palavras:

 

“O palco é todo seu” Em segundos, eu não tinha mais outra opção. Ele caminhou para o centro apresentando: “Queridos negociantes, temos uma bela surpresa essa noite, uma apresentação, recebam nossa convidada especial, Hadassa” Respirei fundo, mantendo a posição firme, caminhando até o centro do palco e arrastando comigo uma cadeira.

 

O homem se afastou e as luzes do salão diminuíram drasticamente, tendo o foco do refletor exclusivamente em mim. O salão era um único som de respiração, sem um barulho sequer, aguardando com ansiedade o que viria a seguir. Respirei fundo, encarando um único ponto, para tentar controlar o nervosismo. Subi uma das pernas lentamente sobre a cadeira, ouvindo as primeiras notas do baixo da música soando.

 

 

I don't want to be alone tonight

(Não quero ficar sozinho hoje à noite)

It's pretty clear that I'm not over you

(Está bem claro que eu não te esqueci)

I'm still thinking ‘bout the things you do

(Ainda estou pensando nas coisas que você faz)

So I don't want to be alone tonight

(Então, não quero ficar sozinho hoje à noite)

 

 

A música começou baixa e comecei meus movimentos lentos, tentando ao máximo lembrar das aulas de dança que tinha feito. O vestido facilitava os movimentos e fiz questão de subir o tecido alguns centímetros. Por sorte consegui manter o ritmo, dançando ao som da música.

 

Os movimentos aos poucos foram fluindo ao som da música, o corpo se movimentando, fechei os olhos e levantei os braços no ritmo da música, movendo todo meu corpo de forma sincronizada. A música invadindo meus poros aos poucos, sentia meu corpo ser dominado por ela.

 

As cenas vinham em minha mente, momentos felizes no cartel. As amizades, os treinamentos, o rosto do mafioso. Estava tudo lá, pulsando em minhas veias. No fundo eu sabia a força disso em mim, sabia o quanto de mim tinha sido descoberto no cartel. A minha força, minha resiliência. Naquele momento, naquele palco, senti que tinha muito orgulho de quem eu era.

 

Look what you made me do

(Olhe o que você me fez fazer)

I'm with somebody new

(Estou com um novo alguém)

Ooh, baby, baby I'm dancing with a stranger

(Ooh, amor, amor, estou dançando com um estranho)

 

 

Inevitavelmente o rosto do mafioso veio em minha mente. Era impossível fugir da nossa conexão, era improvável que o destino estivesse ao nosso favor, mas quem se importava. Eu queria ser algo com ele, queria tentar, queria ser tudo que pudesse ser, para depois lidar com as consequências. Ali, sobre aquele palco, entregava tudo de mim. Era assim sempre, eu ia até o fim. Entregava tudo que tinha por minhas relações. Não existia meio termo: era tudo ou nada. Era fogo, era o caos, mas era algo.

 

Por um momento, por uma fração de segundos eu senti que estava no lugar certo. Finalmente, em toda a minha, senti que pertencia a algum lugar, a alguém. Ali, movimentando meu corpo, deixando a música invadir cada pedaço de mim, me senti preenchida, sem nenhuma lacuna em aberto. Sentia em meu ser tanto carinho pelas relações que tinha construído, por meus amigos, por Edward. Eles pulsavam em mim, me completavam. Além disso, a missão, o cartel, as crianças, as pessoas que não estavam na viagem, mas estavam em minha mente, pelos céus, tudo aquilo me completava.

 

Sentindo a música eu pensava em nosso futuro. Certamente concluiríamos a missão, e depois disso tudo seria melhor, acreditava profundamente nisso. Era necessário que o Cullen virasse aquela página, Alice e Emmet também precisavam. Depois da missão 313, finalmente seríamos livres dos fantasmas do passado. Com o coração livre, começaríamos uma nova história do cartel. Seria feito tudo de novo, começando do zero.

 

Meu coração se enchia de esperança. Certamente tudo ia valer a pena. Edward também queria um futuro novo, dava para notar em suas ações e até em suas palavras. Sorri em meio aos movimentos. Minha parte seria feita e em breve tudo estaria em paz.

A tempestade tinha hora para terminar e com este último pensamento a música terminou, fazendo com que meus olhos abrissem e encarasse a multidão. De repente lembrei que não estava só e com a respiração ofegante encarei todas as pessoas. Um a um, os jogadores foram levantando e pasmem, começaram a aplaudir minha apresentação improvisada.

 

Meu rosto imediatamente passou a arder em chamas e a vergonha tomou conta de mim, enquanto via o salão repleto de aplausos, assovios e elogios. Voltei para meus sentidos e encarei o alvo, que também estava em pé, me encarando com óbvio interesse. Os olhos enigmáticos pareciam mais suaves e finalmente consegui sua atenção. A expressão dura permanecia ali, talvez ele não tivesse algo agradável em seu rosto. Apenas maldade.

 

Devolvi o olhar demonstrando interesse, e me curvei agradecendo as palmas, mantendo firmeza no olhar, eu não teria medo, iria até o fim. Era tudo ou nada. Maldição, seria tudo! Eu teria tudo ou não me chamaria Isabela Swan.

 

“Maravilhosa, cheia de vida!” O apresentador da noite voltou ao palco, entusiasmado pelo entretenimento que causei. “Sim, meu povo, o mundo é todinho delas, das mulheres!”

 

Para nosso espanto, uma fila de mulheres se amontoava ao lado do palco, para as próximas apresentações. Parece que minha coragem incentivou outras mulheres a se apresentarem. Caminhei até a escada para voltar ao meu lugar, me espremendo entre as várias jogadoras que interditavam a escada.

 

“Calma meninas, tem lugar para todas” O apresentador afirmava entusiasmado.

 

“Você foi incrível” Uma mão firme agarrou meu braço, enquanto descia a escada. Encarei os olhos escuros de Eva e me espantei com sua proximidade.  “Adorei a apresentação”

 

“Ah, obrigada” Respondi com timidez. “Fiz muitos anos de aula” Ri com a minha mentira, de fato era uma habilidade natural, pois adorava dançar.

 

“Se quiser pode sentar em nossa mesa, vi que está desacompanhada” Sorriu de forma simpática, apontando para a mesa. “Ainda temos um lugar” Sorri, afirmando que em breve passaria lá.

 

Caminhei com passos bambos, sendo seguida por olhares de vários jogadores, que lançavam piadinhas enquanto caminhava em direção ao bar. Sentei em uma das cadeiras livres, estrategicamente ao lado de Alice, que fingia se divertir com dois estranhos no bar. Fiz um movimento ao atendente, que logo trouxe uma dose de whisky. Sim, precisava de uma bebida forte hoje.

 

Lentamente levei os braços até os ombros, simulado um ajuste na alça do vestido e liguei o ponto anteriormente desligado.

 

“Porra, arrasou Bella!” A voz de Emmet soou com ansiedade.

 

“O alvo demonstrou muito interesse na apresentação” A voz de Jaz era um misto de êxito e preocupação. “Bela jogada”

 

Senti o sorriso de Alice ao meu lado, e o silencio voltou ao ponto. Inevitavelmente aguardávamos o ultimato de Edward.

 

“Estamos no caminho certo” A voz era baixa, gutural, orgulhosa. “O alvo estava hipnotizado. Provavelmente tudo ocorrerá como previsto. Parabéns a todos” O conteúdo da mensagem era positivo, mas a voz de Edward era baixa e confusa. Não continha risos ou alegria. Sabíamos que a missão era um enorme peso para todos. Um aviso geral, nada direcionado para mim. Ele aos poucos voltava para seu mundo, imerso em escuridão.

 

Porém, naquele momento, não deixaria todas as questões me envolver negativamente, só queria beber meu copo de whisky e comemorar as pequenas vitórias. Finalmente tinha atraído a atenção do alvo, o que me fazia respirar aliviada. Senti o líquido correr sobre minhas veias, ardendo minha garganta e esquentando meu corpo pouco a pouco.

 

“No final da festa a comemoração é por minha conta” Emmet lançou empolgado. “Vamos nos encontrar no Deck as 23h”

 

“Vou organizar as bebidas” Alice soltou entre os dentes. “Você é péssimo nisso”

 

“Só fiz o convite, sempre achei que a organização era sua” Emmet gargalhou. Alívio passou por meu corpo. Meus amigos estavam ali, todos estavam bem. Não precisava me preocupar tanto com o futuro. Um dia de cada vez. No meu caso, um copo de cada vez.

 

Segurei o copo e caminhei até a mesa de Eva, afinal, precisava me enturmar, Carlisle precisava achar que estava em um Cassino me divertindo como qualquer outra pessoa.

 

“Vou permanecer a postos, qualquer novo movimento do alvo, avisarei. Cambio, desligo” sorri com a formalidade das palavras de Jasper. Ele era assim desde criança, formal, responsável, levava quase tudo muito a sério.

 

Passei entre os convidados, chegando à mesa de Eva, a vendo sorrir entusiasmada.

 

“Nossa dançarina favorita nos dará a honra da sua presença” Os demais convidados sorriram, enquanto ela puxava uma cadeira ao seu lado esquerdo. Do lado direito estava seu marido, Steve, que me olhava de canto de olho. Eles pareciam completamente diferentes. Ela me passava um olhar tranquilo e animado, enquanto o marido possuía algo distante, uma certa arrogância.

 

“Pois não, a dançarina chegou” Fiz uma reverencia exagerada, causando uma gargalhada em minha anfitriã. O espírito alegre era fruto do whisky que percorria minhas veias. Para aguentar tudo aquilo sabia que precisava do álcool. Era muita pressão. Sorri de volta, tentando fingir que não existia uma missão que dependia exatamente de mim para funcionar. Sorri fingindo que do outro lado do salão não existia o alvo que tão avidamente eu tentava conquistar.

 

Por Deus, eu estava tão cansada. Cansada da montanha russa de emoções, de duvidar e acreditar em meu potencial mil vezes por dia, de amar e odiar, de me sentir no lugar perfeitamente certo para mim e logo em seguida sentir que ia vomitar se permanecesse mais um minuto sequer ali. Estava exausta de não saber como tudo acabaria. Só queria acelerar o relógio para saber se minhas escolhas eram de fato corretas, saber se tudo aquilo de fato valeria a pena.

 

“Foda-se tudo, hoje vamos brindar a nós, pois somos incríveis” Eva levantou o copo me encarando com intensidade. “Merecemos esse brinde” Levantou da mesa. “Um brinde às mulheres fodas e tudo que podemos” Gargalhei, notando que também tinha um copo em minhas mãos, sabe Deus como.

 

“Saúde!” Gritei, tomando tudo em meu copo. Emmet gargalhou em meu ouvido, berrando um alto saúdeeeeee. Senti a risada de Alice ao longe. Bati o copo vazio na mesa. “Saúde, meus amigos, pois merecemos!” Disse entre os risos.

 

O jogo voltou com tudo, a mesa estava animada. No auge da minha bebedice, era fácil, tão fácil gargalhar e me sentir leve. Soltava piadinhas a todo momento, fazendo os jogadores se distraírem. Era a terceira rodada e eu estava um passo a frente, mas a cada gole, meus movimentos ficavam mais lentos e pensados.

 

Se me analisassem com calma, certamente achariam que estava muito concentrada em minha próxima jogada, entretanto, estava mais interessada no homem do outro lado do salão que me lançava dois ou três olhares sempre que alguém gargalhava. Minha performance tinha chamado atenção de Carlisle de alguma forma, mas seria suficiente?

 

De longe tentava manter minha sanidade e pensar nos próximos passos. Caso não houvesse alguma tentativa de contato até o fim da noite, tragicamente teríamos que apelar para o Plano B que envolvia muita humilhação para alcança-lo e ainda mais riscos para a missão, caso ele suspeitasse de minhas ações.

 

“Sua vez, dançarina” Voltei o foco para a mesa, notando que todos me esperavam. Soltei uma gargalhada para disfarçar.

 

“Eu sinceramente nem sei mais o que estou fazendo” Joguei mais algumas fichas, aterrissando as cartas. “Tudo ou nada, certo?”

 

Notei uma nova movimentação: Carlisle levantou da mesa, sendo seguido por três seguranças. O meu coração acelerou e senti cada centímetro de mim em alerta.

 

“Cambio, o alvo está se movimentando. Todos em posição” A voz de Emmet soou com exatidão.

 

“Positivo, estou acompanhando, tudo sob controle” Jaz respondeu. Endireitei minha postura, movendo minimamente o rosto para acompanhar seus passos. “Ele está indo para a... saída?” Soltou com incerteza.

 

“Infelizmente sim” Alice soltou, mais perto da porta. “Temos que acionar o Plano B

 

Caí em desespero sentindo meu corpo tremer. O álcool não me permitia pensar com rapidez, mas lembro que o Plano B envolvia comparecer em seu quarto tentando uma aproximação, o que gerava muito risco. Ele não cairia fácil se forçássemos o contato, mas era a última alternativa para alcança-lo.

 

Reuni o que restava de minha coragem ao notar que ele não estava no salão. Tentaria alcança-lo no elevador para não parecer absurda. Casualmente me aproximaria. Levantei da mesa com lentidão.

 

“Estou com muita dor de cabeça, acho que exagerei na bebida” Sorri sem graça após perder a maior parte das minhas fichas propositalmente. “Dedico o que restou a minha nova amiga, Eva” Ela devolveu o sorriso com empolgação, agarrando o restante das minhas fichas.

 

“Amigas de fichas” Sacudiu a cabeça com força. “O elo mais forte de amizade”  Pisquei para ela, que já estava completamente bêbada.

 

“Nos vemos amanhã” Ela deu um gritinho, voltando sua atenção ao jogo, enquanto Steve lançava um último olhar sério para mim. Dei de ombros.

 

Firmei meus passos em direção a porta, ignorando meu coração que tentava a todo custo comprovar que não existia coragem nenhuma ali. Os passos eram apressados e cambaleantes, eu precisava chegar até o elevador a tempo. Alguns metros e minha mão estava quase na porta de vidro, quando ouvi o alerta de Edward.

 

“Bella, cuidado!” Não tive tempo de perguntar o motivo do alerta, abrir a porta com força, virando à direita e tropeçando sobre Vitoriano que permanecia ao lado da parede como uma muralha. Cambaleei para trás, mas ele segurou meu braço antes que meu corpo visse ao chão.

 

“Oh meu Deus, mil perdões” Sorri sem graça, tentando controlar minha respiração. Tinha medo que meus batimentos cardíacos fossem tão altos que denunciassem minhas intenções. Ele manteve a postura impenetrável e a cicatriz em seu rosto estava tão latente, tão próxima, que todo o contexto me causava arrepios. Aquele cara era assustador!

 

“Vai a algum lugar, senhorita?” A expressão impenetrável, os olhos frenéticos, tentando a todo custo descobrir minhas verdades. Juro que as vezes a cicatriz sobre os olhos parecia se mover enquanto ele respirava.

 

“Para o quarto, meu marido nem sabe que bebi tanto, sou uma fugitiva” Gargalhei, batendo em seu braço, como se fosse íntima. “Não estou em meu melhor estado, acha que ele vai notar?”

 

Ele permaneceu me encarando, sem responder uma palavra sequer. Não sei ao certo quanto tempo passou enquanto me encarava, mas sinceramente, para mim parecia uma amostra grátis da eternidade. O meu corpo estava em alerta, meu coração pulsando feito louco, meus pés firmes e minha mente consciente da faca escondida em minha perna direita abaixo do vestido. Não tinha ninguém no corredor e a música alta encobriria qualquer pedido de socorro.

 

Estava bem consciente da presença de Jasper bem acima de nós, pronto para qualquer combate, mas notei que a única saída do duto de ar existia a uma distancia de mais ou menos sete metros e sabia que um guarda como Vitoriano era treinado para exterminar em segundos. Arrisquei um olhar para a saída, vendo um pedaço de pano vermelho que parecia um resto de tecido esqueci no teto, mas sabia que era um sinal de Jaz informando que estava a postos.

 

“Estou pronto ao seu comando, Bella” Voltei os olhos para o rosto de Vitoriano, devolvendo a firmeza que emanava. O silêncio finalmente foi quebrado com suas poucas e firmes palavras. Ele levou a mão até seu smoking e eu quase gritei, quando puxou o que parecia ser um cartão.

 

“O mestre quer vê-la amanha, às 20h na suíte presidencial” Estendeu o cartão do hotel para mim. “Não se atrase” Ele permanecia sério, intragável e justificando o fato ser a pessoa de maior confiança do alvo. A palavra mestre fez com que minha respiração falhasse, parecia simplesmente um insulto chama-lo dessa forma. Esse não era um adjetivo dele.

 

Obriguei minha mão a ser estendida, alcançando o cartão, torcendo para que ele não notasse minha tremedeira.

 

“Não me atrasarei” O homem com quase o dobro do meu tamanho e uma expressão de poucos amigos não esperou o final da frase para virar de costas e pisar com passos duros e rápidos até o elevador. Depois que sumiu entre os elevadores, me permiti encostar na parede e deixei meu corpo escorregar até o chão, perdendo a força das pernas. Em poucos segundos Alice estava ajoelhada ao meu lado segurando minha mão.

 

“Está tudo bem Bella, você conseguiu, caralho, você conseguiu” Buscava tentava falar o mais baixo possível e só alguns minutos depois percebi que lágrimas escorriam do meu rosto, sentíamos uma emoção avassaladora tomando conta de nós duas. “Tudo bem, está tudo bem” Ela me ajudou a levantar me arrastando pelas escadarias, segurando meu peso até chegarmos ao Deck.

 

O local estava fechado e escuro, parecendo abandonado. Era possível ouvir o som das ondas e a música distante abafada por conversas e risadas que vinham do salão principal. Emmet já estava ali e apenas o vi correndo em minha direção, me dando um abraço de urso.

 

“Eu sabia que conseguiria” Me girou no ar. “Você foi incrível” A sua alegria era quase palpável.

 

“Calma, ainda temos um longo caminho pela frente” Buscava manter o foco, era apenas um primeiro grande passo para o restante do plano.

 

“Dane-se, vamos comemorar!” Me soltou no chão, dando um forte abraço em Alice. “Não conseguiríamos sem você, sua baixinha insuportável”

 

Permiti que meu corpo se jogasse em uma das cadeiras de Sol, sentindo o efeito após a adrenalina me dominar, sentindo uma moleza.  Encarei a escuridão, vendo duas silhuetas surgirem no horizonte, a bebida fazendo minha mente girar. Uma delas era de meu mafioso favorito, de alguma forma me sentindo eletrizada novamente. Não sabia qual de suas versões encontraria naquele momento.

 

Ele não hesitou, seus passos foram firmes em minha direção e Emmet se afastou, saindo do caminho, como se notasse sua determinação. Levantei, mantendo minha concentração em seus olhos intensos que não vacilaram um segundo, nem para direita, nem para esquerda. No meio do caminho seus braços se abriram fazendo o convite. Meus pés se moveram por conta própria, não podia aguarda-lo chegar até mim. Voei ao seu encontro me jogando em seus braços, que me seguraram com tanta força que achei que fosse quebrar.

 

Seu abraço era um aço ao meu redor e por alguns minutos ficamos assim, apenas sentindo a presença um do outro. Me apertava tanto que me sentia a ponto de precisar pedir ajuda para respirar. Ah, nós sabíamos que o medo habitava em nossos corações. Nossa primeira vitória era um marco, uma estrada, um ponto de esperança no fundo do poço escavado pelo meu mafioso. O medo era a corrente que entrelaçava o nosso abraço. Pelos céus, eu me sentia tão feliz e ao mesmo tempo tão assustada. Senti novamente as lagrimas intrusas em meu rosto, molhando sua camisa. Ele me apertou ainda mais.

 

“Eu consegui” Senti um soluço. “Consegui, consegui, consegui...”

 

“Você conseguiu” Beijou o topo da minha cabeça repetidas vezes, caminhando para meus olhos, enxugando minhas lágrimas com seu rosto. “Me perdoe, por Deus, me perdoe, não é justo exigir tanto de você, arriscar tanto você, estou a ponto de enlouquecer” Ele segurou meu rosto entre as mãos, me encarando com tanta intensidade. “Se algo acontecer com você como vou me perdoar? Não consigo parar de pensar nisso um segundo sequer, não posso perder nenhum de vocês”

 

Ele pareceu perceber que tinham outras pessoas ao nosso redor.

 

“Estamos juntos nessa” Ouvi a voz emocionada de Alice. “Vamos todos ficar bem, em breve tudo isso terá um fim” Vi de longe Alice enxugar o rosto. “Hoje precisamos comemorar, Emm, bebida aqui, por favor, chega que choro!”

 

“Pois não, madame” Passou a vasculhar um isopor cheio de diversas bebidas.

 

“Essa missão será concluída com segurança, mestre” A voz aveludada de Jaz preencheu o ambiente. “Estou aqui para garantir que isso aconteça” Era impossível não notar emoção até em Jaz, no fundo, todos nós estamos totalmente envolvidos na missão.

 

“Conto com isso” Edward me soltou, mas ainda com uma das mãos em meu braço. “Obrigada por isso, obrigada a todos vocês, nunca vou esquecer disso” Emmet parou de se mover, voltando a atenção para Edward. “Terei para sempre uma dívida de gratidão” Emmet e Jaz, de forma sincronizada firmaram a postura, em posição de combate, como um gesto de respeito ao mestre.

 

Eu e Alice nos entreolhamos, repetindo o movimento ao lado deles. Juro que vi emoção nos olhos de Edward, que logo se dissipou.

 

“Agora vamos parar com essa frescura e nos embebedar”

 

Emmet aumentou a música e distribuiu as bebidas. Estava afim de ficar muito louca, disso eu sabia. Era o nosso momento, meu e de meus amigos. Ali, estávamos unidos até o fim na loucura de Edward.

 

No dia seguinte só lembrei de fragmentos, mas o mais incrível, é que em quase todas as minhas memórias cortadas, estávamos sorrindo.

 

E isso bastava pra mim.

 

 

*

 

 

 

O dia nos atravessou e nem tivemos tempo para questionamentos. Se estava pronta para isso, ou não, só Deus sabia.

 

O sapato de salto alto estava firmemente amarrado em meu tornozelo, as pernas bronzeadas cobertas por seda pura, de cor carmesim. Nenhum passo em falso, eu era toda certeza. Estava pronta para o que quer que fosse aquele ponto final. A fenda de meu vestido iniciava no alto da coxa de minha perna direita e mostrava que não tinha nenhuma menina ali, estava entregue. O vestido, preto, demonstrando o luto de tudo aquilo.

 

O plano estrategicamente fixo em minha mente. O mafioso me aguardaria em seu quarto, sozinho, depois de dispensar seu capanga. Nesse momento eu teria tempo para agir. Sentia latejar amarrado em minha coxa esquerda uma injeção que o faria dormir pelo tempo necessário para entrega-lo ao Cullen com vida. Transportar o mafioso e distrair seus ajudantes era parte do plano B, que seria executado por Emmet, com análise minuciosa de Jaz sobre as câmeras. O nosso iate já estava ancorado no porto particular do Hotel, aguardando nosso encontro. O transporte seria realizado por uma das entradas secretas subterrâneas do Hotel utilizadas para conceder privacidade e rota de fuga aos grandes empresários que frequentavam o Cassino.

 

Particularmente, pensando rápido, o plano era perfeito e inacreditavelmente simples em em relação à execução, claro, se não estivéssemos falando de um dos traficantes mais perigosos da história. Cada passo precisava ser perfeito, milimetricamente calculado para não falhar.

 

“Descreva o salão, Emm” A voz de Edward soou autoritária no minúsculo ponto em meu ouvido, o aparelho media milímetros e me permitia ouvir todos os integrantes de nosso grupo, assim como eles poderiam me ouvir em detalhes, inclusive o ambiente até dois metros.

 

“Seguro, nada em vista, o alvo não está no local” Como esperado, Carlisle não aparecia muito em público e com certeza já se preparava para a entrega da carga. Como não tínhamos o nome do comprador, qualquer um da festa poderia ser o mercenário.

 

Me arremessei entre os corpos, segurando um copo de whisky entre os dedos, dentro da personagem festeira. Não tomei sequer um gole, toda a minha concentração focada em acertar em cada passo, tinha muita coisa envolvida, e eu não aceitaria nada menos que o perfeito.

 

Sorri para um ou outro convidado, deixando a música alta eletrizar meu corpo, diminuindo consideravelmente meu nervosismo. Avistei um relógio que batia no alto da parede externa: 19:50h.

 

Todos nós sabíamos que uma hora ou outra eu teria que dar início (ou fim) a toda aquela loucura. Por muitas vezes questionara a sanidade de Edward naquele plano insano, entretanto, estávamos tão envolvidos nisso que não tinha mais saída. Eu sabia muito bem que não tinha volta.

 

Firmei meus passos em direção a saída do salão.

 

O silencio reinou entre meus amigos. Ninguém ousava dizer nada.

 

“Boa sorte, Bels, você vai conseguir”

 

Foi a voz tímida de Alice que quebrou o silencio, mas eu não cheguei a ouvir, estava tão focada em seguir o meu caminho até a porta de vidro que só consegui pensar em uma coisa: chegou a hora de destruir esse filho da puta!


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Notas finais do capítulo

Oi, alguém ainda por aqui?
Espero que sim! Essa história e esses personagens não saem da minha mente, então, espero que eles encontrem lugar nos corações de vocês.

Próximo capítulo já escrito, então, se tiver vários comentários e recomendações, talvez ele seja postado muito em breve.

Um beijo da Bia ♥

@bianoronha
(insta e twitter, me chama lá).



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