In Love With Her escrita por naty


Capítulo 30
Ex-namorada




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MANUELA

Eu estava me sentindo como um grande buraco de nada. O vazio no meu peito ao terminar tudo com Duda era insuportável. Saí da escola meio zonza por tudo que tinha acontecido. Na verdade, não queria pensar em nada.

— Manu, espera! – Ana chamou, e eu parei onde estava, porém, sem olhar para a direção de onde ela vinha, não queria correr o risco de ver aquele maldito carro novamente.

— Não sei por quanto tempo eu aguentaria isso, Ana

— Eu sei, eu sei – foi tudo que ela disse antes de me envolver em um abraço que eu aceitei de bom grado, molhando sua blusa de uniforme com minhas lágrimas.

Quando dei por mim, já estávamos sentadas no canto mais isolado da sorveteria que tinha perto da escola, e Ana já pedia dois milk-shakes de morango.

— Quando eu fico pra baixo, nada melhor que me entupir de açúcar – justificou ao ver meu olhar para ela quando fez o pedido para a garota no balcão – Acredita em mim, funciona mesmo, essa belezinha faz milagres! Claro que fazer compras ajuda mil vezes mais, mas isso aqui também funciona

Eu sorri, Ana por mais que tentasse, não perdia a sua pose de patricinha.

— Quer conversar? – ela perguntou quando a garçonete voltou com nossos pedidos

— Eu não sei o que falar... Não sei como eu me sinto, é muita confusão. Estou triste, é claro que eu estou, eu amo aquela idiota! Mas fora isso, não sei definir o que está acontecendo comigo.

— Se ela tivesse vindo atrás de você, você perdoaria aquele beijo?

— Eu realmente estava disposta a esquecer aquilo para ficar bem com ela, mas... Depois de ter ouvido da boca da Eduarda que ela estava indo transar com a Márcia...

— Você sabe que aquilo foi uma mentira pra me afastar, não sabe? Eu conheço a Duda bem demais, tem alguma coisa acontecendo, e ela não quer contar

— Será mesmo, Ana? Ou nós é que queremos enxergar desse modo? Eu realmente não sei

E não sabia mesmo.

Por um lado eu queria muito confiar na Duda, acreditar que tudo não passava de um péssimo mal-entendido, mas simplesmente não conseguia, não depois de ela ter entrado naquele carro com a Márcia.

Não sei se algum dia eu conseguiria voltar a acreditar nas palavras da Eduarda.

— Manu, eu não tiro a sua razão, ela está errada, seja lá o que está acontecendo. Mas não acredito que ela seria tão baixa a ponto de estar te traindo dessa maneira tão... tão suja.

— Eu não sei o que pensar, mas uma coisa eu sei: não dava para continuar um relacionamento desse jeito. Eu posso ser egoísta nesse ponto, mas preferi terminar tudo antes de me magoar de novo. Ontem foi um beijo, e amanhã? Eu não queria ter o desgosto de pegar minha namorada na cama com outra de novo.

— De novo? – Ana estava confusa com o que eu havia dito

— Natália, minha ex. A gente tinha tudo para dar certo, no início ela era tão carinhosa comigo, a primeira garota que eu beijei... Ela dizia que estava apaixonada, e eu, idiota, acreditei. Eu realmente achava que amava aquela garota, Ana, e a peguei na cama com outra. Na MINHA cama! - não consegui falar mais, os soluços me impediam de continuar.

Ana, em um gesto de solidariedade, apenas me estendeu o milk-shake, e eu sorri em agradecimento.

Ainda ficamos um bom tempo ali. Ana – ao contrário do que qualquer um esperava da melhor amiga da Eduarda – em nenhum momento tentou me convencer a dar outra chance a Duda. Ela sabia que a amiga estava errada, e tudo o que me pediu foi que tomasse o meu tempo, mas que conversasse com Eduarda para colocar tudo em pratos limpos. Concordei com os seus apelos, mas enfatizei que não sabia quando conseguiria conversar com Duda de novo.

— Leva o tempo que você precisar, Manu, mas conversa com ela. Eu não falo pela Eduarda, mas por você, eu sei que você não vai conseguir ficar em az sem esclarecer tudo – assenti com a cabeça e deixei que meus olhos se perdessem novamente na rua.

O fluxo de pessoas estava grande: alguns corriam para almoçar, outros, para voltar ao trabalho; algumas crianças divertiam-se na praça que havia ali perto. O que todas essas pessoas tinham em comum era que nenhuma delas se importava com o que estava acontecendo à sua volta. Todos estavam mais preocupados com a suas próprias vidas, seus próprios problemas, para observar algo que não girasse em torno de seus próprios umbigos. E eu não podia culpá-los, era apenas mais uma que não se importava, era apenas mais uma, preocupada com a minha dor e nada mais. Talvez esse fosse o meu erro, me preocupei demais com meus problemas e esqueci de olhar à minha volta. Talvez tenha sido por isso que não percebi que a minha namorada não se preocupava só comigo. Se eu tivesse olhado ao meu redor ao menos uma única vez, talvez enxergasse isso.

 

 

EDUARDA

Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Não queria conversar com ninguém e agradeci por Jéssica estar na escola, eu só teria que enfrentar a minha mãe mais tarde, pois cheguei na hora que ela estava saindo para o trabalho, e não trocamos uma só palavra, mas só seu olhar já me dizia que teríamos uma conversa quando ela chegasse.

Deitei em minha cama abraçando o ursinho de pelúcia que ganhei de Manuela. Não pude evitar lembrar daquela noite de sábado tão alegre.

 

“ – Vamos, amor, vai ser divertido! Os meninos só estão esperando nós duas – Manu insistia para irmos a um parque de diversões que estava temporariamente aberto perto de casa

Tudo bem, mas só vou porque você tá pedindo, não tava a fim de sair de casa hoje – falei levantando da cama – E os meninos vão ter que esperar eu tomar um banho e me arrumar.

Tá bom, vou ligar para o Rafa! – Manu disse pulando pelo quarto como uma menininha, e eu ri disso.

Dei um selinho em seus lábios e me encaminhei para o banheiro.

Ei, espera aí!

Que foi, Manu?

Isso lá é um beijo que se preze? – perguntou, aproximando-se de mim

O que tem de errado com o meu beijo? – me fiz de desentendida, entrando em seu jogo

Acho que não te ensinei nada – balançou a cabeça em falsa decepção

Me ensina agora – provoquei, abraçando-a pela cintura e deixando meus lábios a milímetros dos seus

Não precisa pedir duas vezes! – sussurrou antes de capturar meus lábios em um beijo quente e carinhoso como só ela sabia fazer

Nunca havia beijado outra pessoa, mas sabia que ninguém teria o beijo envolvente como a minha baixinha, que eu amava mais que tudo.

Nos separamos, e eu sorria bobamente para Manuela, que estava do mesmo jeito.

Te amo! – falei, dando-lhe outro selinho demorado antes de entrar no banheiro 

Eu amo mais – ainda pude ouvi-la falar antes de fechar a porta atrás de mim e sorri.

Cheguei ao quarto para me vestir, e Manu estava sentada na cama à minha espera, distraída com o meu violão no colo.

Já liguei para o Rafa, eles chegam aqui em meia hora para irmos todos juntos

Okay, me arrumo rápido – falei indo até o armário, onde escolhi uma calça jeans e uma camiseta simples, nada demais.

Manu me olhava fixamente, e eu a encarei de volta

Que foi? – perguntou

Eu quero me trocar – falei envergonhada

O que te impede?

Manu!

Ah, Duda, não tem nada aí que eu já não tenha visto

Balancei a cabeça e me virei de costas, deixando a toalha cair para vestir minhas roupas íntimas. Assim que vesti a calcinha, Manu me abraçou por trás, distribuindo beijos pelas minhas costas, me fazendo arrepiar inteira.

Você é linda, sabia? – sussurrou o mais próximo que conseguiu chegar de minha orelha devido à sua pouca altura, mas foi o suficiente para me fazer estremecer.

Amor... me deixa... me deixa terminar de me vestir – falei com dificuldade – Vamos nos atrasar

Tudo bem, vista-se, vou olhar se a Jéss já está pronta – falou, me dando um último beijinho nas costas e saiu do quarto

Terminei de me arrumar e elas estavam na sala me esperando, junto com Lucas e Ana, que disseram que Rafael e Matheus já estavam a caminho. Ana falou que encontraria Guto, seu namorado, no parque.

Os meninos chegaram, e logo saímos, não sem antes ouvir as recomendações da minha mãe, que renderam boas risadas às minhas custas. Mamãe, às vezes, me tratava como se eu fosse um bebê, e, devo admitir, eu gostava do cuidado que ela tinha comigo e a minha irmã.

Vamos logo, bando de hienas! – exclamei, puxando Manu e Jéssica comigo

Não demorou muito e chegamos ao tal parque de diversões. Compramos os ingressos e nos separamos, cada um indo para uma atração diferente.

Duda, eu vou ficar com a Yasmin e a irmã dela ali, tudo bem? Jéssica falou, e eu concordei

Quando estivermos indo embora eu te ligo, e você me encontra aqui – disse, e ela assentiu, indo em direção às amigas

Rafael, Ana e Guto foram para a montanha-russa, e eu, Manu, Lucas e Math fomos para a roda gigante.

Eu tinha que admitir que foi bem divertido. Entre um brinquedo e outro, o grupo se reunia novamente, e não poderíamos deixar de rir das palhaçadas de Math, as brigas constantes entre Rafa e eu e os comentários engraçados de Lucas.

Estava adorando aquela noite ao lado da minha namorada e dos meus amigos, apesar de ter que me policiar pelo fato de estarmos em um local público e também pela presença da minha irmã, que não sabia sobre o nosso namoro (ou pelo menos era nisso que eu queria acreditar).

Duda, vamos ali naquela barraca de tiro ao alvo, eu quero um urso de pelúcia – Manu me chamou, e concordei

Por mim tudo bem, mas se você quiser um urso, vai ter que ganhar por conta própria, eu sou horrível nesse tipo de jogo

Duvida que eu consigo ganhar não um, mas dois ursinhos?

Duvido! – falei desafiando-a

Você vai dobrar a sua língua, Eduarda

Veremos – brinquei abraçando-a e dando-lhe um beijo na bochecha

Comprei três fichas e as entreguei a Manu.

Todas suas

Só preciso de duas! – falou e preparou-se para atirar

Fiquei de boca aberta quando ela acertou os dois primeiros tiros, ganhando um cachorro e um sapo de pelúcia

Fecha a boca, Eduarda, eu te disse que era boa nisso

Nunca mais duvido da minha namorada! – respondi rindo

Qual você quer? – perguntou com os dois prêmios na mão

Acho que vou ficar com o sapinho – falei, e ela me entregou – Obrigada, amor – agradeci

Logo nos encontramos com o restante do pessoal e decidimos ir embora, já estava ficando tarde.

Olha só, a sapa arrumou um sapinho pra fazer companhia pra ela – Rafael, como sempre – Combinou perfeitamente, Duda! completou, e todos riram, menos a minha irmã, que estava com cara de paisagem, sem entender a piada.

Quando olhar pra esse sapinho e eu não estiver com você, pensa em mim, tá? – Manu me falou baixinho quando estávamos indo embora

E tem como esquecer de você, Manuela Fernandes? — respondi com um sorriso no rosto

 

 

Acho que passei a tarde toda chorando por ter feito com que Manuela terminasse comigo; por saber que a Márcia iria embora para nunca mais voltar; por não saber o que me esperaria quando eu assumisse a minha homossexualidade perante meus pais. Eu coloquei tudo para fora até adormecer do jeito que estava, abraçada ao Samy, meu sapinho que fora batizado pela minha namorada, minha ex-namorada na verdade. Eu só esperava que essa condição não fosse por muito tempo.

Acordei meio atordoada, já era noite e alguém batia à porta do meu quarto. Levantei-me ainda um pouco grogue e abri a porta.

— Duda, que demora – minha mãe entrou no quarto falando – O que aconteceu, meu amor? – perguntou preocupada, sentando-se ao meu lado na cama

— Nada – respondi baixo, sem olhá-la nos olhos

— Eduarda, olha pra mim

Relutei em levantar a cabeça, mas enfim sustentei seu olhar por alguns segundos, apenas para voltar a olhar para o nada

— Mãe, não se preocupe comigo, eu estou bem

— Não, você não tá nada bem, Duda, me conta o que tá acontecendo?

Permaneci calada, não podia me abrir com mamãe, não sem antes descobrir o que acontecera realmente com Karina.

— Se você não quer falar, eu respeito o seu tempo – mamãe falou carinhosamente, passando a mão por meu rosto – Mas saiba que você é e sempre vai ser o meu bebê, você sempre vai poder contar comigo, Duda. Para o que der e vier eu estou aqui pra você. Nada do que você diga ou faça poderá mudar isso, entendeu?

Assenti, e mamãe se levantou me dando um beijo no topo da cabeça e falando:

— O jantar está pronto, tome um banho, eu vou trazer para você comer.

— Eu não...

— Sem discussão, e eu vou ficar aqui até a última garfada, só para garantir – falou, e eu dei um sorriso amarelo, não tinha nem um pouco de fome depois do dia que tive.

Mas prometi pra mim mesma que a partir da manhã seguinte, eu não mais choraria, e, sim, correria atrás do prejuízo. Eu reconquistaria a minha namorada, levasse o tempo que fosse, eu a teria de volta. Não só pela promessa feita a Márcia, mas porque eu não conseguia mais me ver sem Manuela fazendo parte da minha vida.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Tava sem criatividade, mas foi o que saiu, só pra não ficar em branco. Essa semana eu posto novamente, só não sei ao certo o dia, mas esperem por outro capítulo :)

Obrigada a todas pelos comentários, é muito, muito bom mesmo saber a opinião de vocês. Para o pessoal da "moita", obrigada por acompanhar, vocês também são importantes *-*



Beijos e uma ótima semana para vocês

—Naty