In Love With Her escrita por naty


Capítulo 29
Despedida


Notas iniciais do capítulo

Holla!
Quero agradecer aos comentários, fico muito feliz em saber o que vcs estão achando. Esse retorno é importantíssimo, quem escreve sabe do que eu estou falando!
Um beijo, e espero que gostem :*



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EDUARDA

Meu sangue gelou nas veias ao ver Manuela sair de dentro da escola e passar por mim como um furacão.

Ela tinha ouvido!

Muito bem, Eduarda, uma salva de palmas para a sua estupidez sem limites. Custava manter a merda da boca fechada? Não, não custava nada ter ficado calada, porque você sabia que a Ana estava completamente certa em estar brava.

Mas você tinha que abrir a boca pra falar esse monte de besteiras, não é? Imbecil!

— Manu, espera! Me deixa falar com você, não é nada disso que você está pensando – falei nervosamente

— Não, eu ouvi o que você disse, Eduarda. Vai lá, a Márcia tá te esperando, mas pode ir livre, sem nenhum peso na consciência, porque a partir desse momento você não tem mais nenhum impedimento para ficar com ela

— D-do que você tá falando, Manu?

Não, não estava acontecendo! Não podia ser o que eu estava pensando que era.

— Não fui clara o suficiente? Eu digo com todas as letras: tá tudo acabado entre nós, Eduarda! Nós não somos mais namoradas – Manu disse firme

— N-não... não faz isso, Manu, vamos conversar – comecei a tentar me explicar, mas fui interrompida pela buzina da Márcia.

Manu olhou na direção de onde o carro estava parado e disse:

— Não tem mais conversa, se tem uma coisa que eu não admito é traição. Mesmo assim, eu estava disposta a ignorar aquela droga de beijo porque o amor que eu sinto é maior que isso. Mas para tudo tem limite, Eduarda, se você quer ir lá atrás dela, pode ir, eu não quero mais nada com você

— Manu, a gente só vai conversar, confia em mim – eu estava entrando em desespero com a certeza de que estava perdendo a garota que eu amava

— Será que você merece mesmo a confiança que eu depositei em você nesses dois meses de namoro? Vejo que me enganei completamente a respeito de você, Duda, cadê todo aquele caráter que você sempre demonstrou ter? Deve ter ficado lá nos lençóis dela né? Ela tem cara de ser boa de cama, depois você me conta se é mesmo – eu a tinha ferido de uma forma que me doía apenas de imaginar o estrago feito.

E tudo isso só estava acontecendo por causa de meia dúzia de mentiras que eu contei no intuito de afastar a Ana de mim, pois do jeito que a minha amiga me conhecia, logo sacaria toda a verdade.

— Eu nunca te traí, pelo amor de Deus, Manuela, foi só um beijo! – só faltava eu me ajoelhar e implorar pelo perdão dela, mas não surtiu nenhum efeito.

Eu vi em seus olhos que a decisão já estava tomada, e nada que eu dissesse ou fizesse, a faria voltar atrás. Não naquele momento.

— Faz o seguinte: finge que você nunca me traiu com a Márcia que eu faço de conta que nunca te conheci ok? Vai lá, a sua nova namorada tá te chamando, manda um beijo pra ela por mim! – Manu me deu as costas e saiu andando.

Meu mundo caiu.

Não conseguia acreditar que a Manuela tinha terminado comigo. Olhei desolada para Ana, que permanecia calada desde a hora que Manu apareceu.

— Você sabe que pode correr atrás do prejuízo, ela te ama tanto quanto você parece amá-la. A escolha é sua, Eduarda. Mas se você entrar naquele carro, é prova de que não merece o amor dessa menina – ela falou e saiu andando

Mas que ótimo!

Perdi a minha namorada, minha melhor amiga estava uma arara comigo e, mesmo assim, fui até Márcia e entrei no carro dela.

Se eu queria a Manuela de volta, era melhor ir atrás dela depois dessa conversa, só assim eu poderia ir de consciência limpa, se é que a minha consciência poderia ficar limpa depois de tudo.

Fomos o caminho todo em silêncio, eu sabia que a Márcia ouvira toda a discussão, por isso não comentou nada. Apenas encostei a minha cabeça ao banco do carro, fechei meus olhos e deixei que as lágrimas escorressem em silêncio.

— Chegamos – Márcia falou alguns minutos depois

Descemos do carro e subimos até seu apartamento. Márcia parecia angustiada com alguma coisa, mas preferi esperar até conversarmos para perguntar.

— Entra – ela disse dando lugar para que eu entrasse – Não vou tomar muito do seu tempo, prometo que o almoço não demora a sair, e aí poderemos conversar – ela colocou a bolsa sobre o sofá e eu deixei a minha mochila no chão mesmo, em um canto da sala

— Não tô com fome

— Mas vai comer, nem pense nisso, eu sei que você está sem comer nada desde ontem

— Como...

— Eu te conheço, Duda, você é assim desde pequena, sempre que alguma coisa te chateia você para de comer – falou encaminhando-se para a cozinha

Fiquei na sala olhando para a televisão sem realmente ver nada, só conseguia pensar em Manuela.

Eu queria achar um buraco para me enfiar e passar as próximas décadas ou séculos. Meu coração doía tanto que era difícil até mesmo de respirar.

E logo eu que sempre achei que dor de amor fosse coisa da cabeça dos outros. Ledo engano! Aquela dor era real até demais.

Logo Márcia me chamou, dizendo que a mesa estava posta. Almoçamos em um clima tenso, e ela tentava amenizar um pouco falando sobre trivialidades, sem mencionar nada nem ninguém que me fizesse lembrar de tudo que estava acontecendo na minha vida naquele momento.

Terminamos, e eu a ajudei a lavar as louças.

— Márcia, por favor, seja breve, eu tenho que ir para casa logo, minha mãe deve estar preocupada – falei a primeira desculpa que encontrei

— Eu só queria me despedir de você, Duda

— Nós ainda vamos nos ver antes de você ir

— Na verdade, não, meu voo tá marcado para esta tarde, eu só queria te ver uma última vez antes de ir

— Pensei que você tivesse dito que só viajaria na próxima semana

— Eu decidi adiantar, não tenho mais nada para fazer aqui em BH – falou desanimada

— E a escola? – perguntei olhando para as malas encostadas à parede

— Eu já resolvi tudo, na verdade eu só ficaria mais essa semana para me despedir, mas a única pessoa de quem eu preciso realmente me despedir é você, Eduarda. Eu não vou sentir falta de nada aqui, a única pessoa de quem sentirei saudade é você

— Não fala assim, Márcia, ainda tem seus pais, tem a Karina, que eu tenho certeza que vai sentir muito a sua falta

— Eles vão ficar bem sem mim

Márcia passou por mim, indo para a janela da sala, ficou debruçada ali por alguns minutos, e eu permaneci em silêncio, respeitando o seu momento.

Ela virou-se para mim com um sorriso saudoso nos lábios.

— Lembra de quando seus pais saíam à noite, e a Jéssica e a Karina iam dormir na casa da sua avó, mas você preferia ficar em casa, e então eu tinha que ir pra lá ficar com você?

— Claro, eu odeio ir dormir na vovó, desde que o vovô morreu dormindo eu tenho medo de passar a noite lá – confessei com lágrimas frescas nos olhos ao lembrar do meu avô. Aquele velhinho que eu venerava quando criança me fazia uma falta danada.

— Aquelas noites eram as melhores, Duda. Eu tinha você só pra mim, podia guardar as suas risadas, velar pelo seu sono, sorrir com a sua inocência e a sua pureza no auge dos seus 10 anos. Naquela época eu já te amava, Eduarda. Achava que era só uma amizade mais forte que qualquer outra e estava satisfeita em guardar aquilo só para mim, ninguém precisava saber dos meus sentimentos. A sua irmã sabia... Eu nunca disse a ela, mas ela sabia, muito antes de mim. A Karina era como minha irmã gêmea, nós sentíamos o que a outra sentia, e parece que nesses anos em que ela morou em São Paulo essa conexão aumentou, estranho, né? – perguntou sorrindo - Quando percebi que realmente estava apaixonada por você, eu tentei me punir de todas as formas, você já tinha seus 14 anos, mas ainda era uma criança perto de mim, eu nunca tentaria nada com você e tentei te esquecer de todas as formas, passava madrugadas chorando no telefone com a Karina, achando que ela não sabia de quem eu falava.

— Eu nunca entendi a cumplicidade de vocês, chegava a ter ciúme quando vocês se trancavam no quarto e ficavam horas conversando. Eu teimava que já era adolescente, que já tinha idade suficiente para ouvir os papos de vocês

— Eu lembro disso... Sinto saudades daquela época, era tudo tão simples. Nós estávamos nos descobrindo, foi logo quando ela me confessou que estava namorando um garoto da escola. Como eu gostaria de voltar no tempo – suspirou – Você era tão linda, Dudinha, uma criança tão doce e meiga, apesar de aprontar muito – ela falou, e dei um sorriso fraco, eu sabia o quanto gostava de aprontar quando criança

— Eu cresci, Márcia, não sou mais aquela menininha que vivia cheia de band-aids pelo corpo todo

— Sim, você cresceu, e ficou mais linda ainda, amadureceu, mas aquela criança ainda está aí dentro – apontou para o meu peito – Você continua tão doce quanto antes, e, por mais que tente negar, você ainda é muito inocente, Duda, e eu admiro muito isso. Tenho muito orgulho da mulher que você está se tornando, você é forte, decidida, o seu caráter é invejável.

Soltei um riso amargo. Caráter... O mesmo caráter que Manuela havia me acusado há pouco de não ter?

— Sim, meu caráter é mesmo invejável! Tão invejável que eu traí a minha namorada com aquele beijo, ou melhor, ex-namorada agora, né – falei com sarcasmo

— Nós duas sabemos que eu forcei a situação e você apenas cedeu diante das minhas palavras covardes, Duda. Você só correspondeu aquele beijo por pena. Depois de contar toda a história e te deixar chocada com o que estava por vir, foi fácil te fazer ceder. Eu não me orgulho disso, passei a noite em claro, pensando no que eu fiz. Eu te manipulei, e só agora a ficha caiu. Só agora percebo a dimensão do que eu fiz

— Não importa o que você tenha dito ou feito, eu ainda me sinto culpada

— Não sinta. Olha, Duda, eu provavelmente nunca mais vou te ver. Então, por favor, me perdoa pelo mal que eu tô te causando. É difícil de admitir, mas eu sei o quanto você ama a Manuela, e sei que ela te ama muito também. Promete que não vai deixar a sua felicidade ir embora? Promete que você vai atrás da Manuela e vai fazer ela te perdoar? – perguntou olhando-me nos olhos com intensidade.

— Prometo – respondi com firmeza sabendo que não desistiria tão fácil do amor de Manu, e ela sorriu largamente.

— Ótimo, eu não poderia partir sem te fazer me prometer que vai ser feliz. Já que eu não poderei estar ao seu lado, sei que a Manuela vai cuidar bem de você, meu amor, você merece tudo de melhor nesse mundo – Márcia chorava – Vem, eu vou te deixar em casa, tenho que chegar no Aeroporto de Confins logo para fazer o check-in – falou enxugando as lágrimas

— Márcia – chamei, e ela virou-se para mim – Eu te prometi uma coisa, mas quero que você me prometa algo em troca

— O que você quiser

— Promete que vai lutar até o último minuto, que não vai desistir sob hipótese alguma?

— Duda, eu... Eu não posso prometer isso, eu... Eu lutei até agora, já estou saturada de tudo isso... pra te falar a verdade, eu já me conformei

— Não, Márcia! – eu já chorava também – Não vem com esse papo de já ter se conformado! Você tem que continuar lutando, não pode desistir agora. Você não está indo para os Estados Unidos para fugir, você vai para lá para lutar contra essa droga de tumor! Promete, Márcia! Não faz isso, droga!

— Duda, entende uma coisa, eu não tenho mais por que lutar. Tudo o que me importa é que você seja feliz, e eu tenho certeza que estou te deixando em boas mãos

— Márcia, olha pra mim – pedi – Você não vai desistir, tá me ouvindo? Você vai até lá, vai fazer o tratamento e vai ter uma vida feliz e normal na medida do possível nesses anos que ainda te restam. Promete isso pra mim, por favor. Eu nunca vou conseguir viver em paz se souber que você desistiu de lutar. Faça isso por mim!

— Tudo bem, eu prometo que vou tentar o tratamento. Mas, veja bem, se não surtir efeito, eu não vou mais me sujeitar a nada, não quero ser operada de novo. Já faz dois anos Duda... Eu sabia que o tumor poderia voltar depois daquela cirurgia. Eu prometo que farei o tratamento, mas não quero outra cirurgia, você sabe que as chances de eu perder a minha identidade na retirada desse novo tumor são enormes, eu posso morrer, mas quero morrer sendo a mesma pessoa, não uma estranha sem personalidade, sem memórias, eu não quero ser a Márcia que nunca te amou. Eu quero e vou continuar sendo a Márcia que sente orgulho em amar alguém como você, Duda, mesmo não sendo correspondida.

— Já é alguma coisa – falei baixo – Posso te perguntar algo?

— Claro

— Por que você não quer dizer a ninguém que está doente? Por que você tá falando pra todo mundo que vai estudar fora?

— Eu não quero a pena de ninguém. A única pessoa que sabe é você, e eu espero que continue sendo assim.

— Isso não é justo, sabia? As pessoas que te amam merecem saber a verdade, já pensou em como os seus pais vão ficar quando souberem? Já pensou na Karina? Na sua melhor amiga?

— Vai ser melhor assim, Eduarda, e eu conto com você para manter a sua promessa.

— Por que eu, Márcia? Porque não a Karina ou qualquer outra pessoa? – perguntei

— Eu te amo, Duda, jamais conseguiria esconder isso, e você merecia saber a verdade

— Claro, e serei obrigada a conviver com ela sozinha – respondi amargurada

— Eu espero que um dia você me perdoe por isso – pausou – E mais uma coisa: eu não quero mais ter nenhum tipo de contato com você

— Mas...

— Mas nada, mocinha, isso é uma despedida, para sempre. E só para ter certeza, vou garantir que você não tenha nenhuma forma de se comunicar comigo

— Não faz isso, eu quero receber notícias suas, você ainda é minha amiga, e eu me importo com você, você me deve isso depois de tudo que aconteceu

— Sim, eu te devo muito, e é por isso mesmo que você vai esquecer completamente que eu existo e vai ser feliz com a sua namorada. Você vai lá atrás da Manuela, vai fazer ela voltar para você e vai cuidar bem dessa menina, escutou? Não quero que você faça como a sua irmã que- Márcia calou-se de repente, percebendo que, provavelmente falaria demais

— Continua, Márcia, o que aconteceu?

— Eu não posso te falar

— Mas como eu posso evitar fazer igual se nem sei do que se trata? – joguei a isca, sabia que era algo envolvido ao passado de Karina

— Mas que droga, Duda! Eu nunca te contei isso, e sob hipótese alguma você vai mencionar o meu nome quando falar sobre isso, porque eu sei que você vai falar, e eu só vou te contar porque acho que você merece a verdade. Veja bem, eu estou traindo a confiança da sua irmã ao te contar isso, então respeite o limite do que eu posso te falar, o restante você vai ter que descobrir sozinha.

— T-tudo bem, tem algo a ver com a saída da Karina de casa, não tem?

— Sim... A sua irmã não saiu de casa por que quis e muito menos porque queria fazer faculdade – pausou, parecendo procurar as palavras certas - Ela foi expulsa, Duda – disse depois de algum tempo

— O quê?

— Seu pai a expulsou de casa quando ela se assumiu. É por isso que você vai ter que ser forte, não vai ser nada fácil para você, mas eu tenho certeza que você vai conseguir superar qualquer obstáculo que se erga entre você e a Manuela... Eu sei que você vai passar por cima de tudo por quem você ama

— Meu pai nunca faria isso, você deve estar enganada – eu estava incrédula

— Não estou, Duda, infelizmente o seu pai foi capaz disso e de muito mais

— O que mais ele fez, Márcia? O que você está me escondendo?– perguntei em desespero, esperando que ela me dissesse que era tudo mentira, que era só uma brincadeira de mau gosto

— Assunto encerrado, eu não posso te contar mais nada, já falei até demais. Vamos, vou te deixar em casa agora, senão vou me atrasar para o meu voo.

— Não precisa me deixar em casa, eu quero ir a pé, preciso de um tempo sozinha

— Tem certeza?

— Tenho

— Então vem cá me dar um abraço... O último – pediu, e eu a aninhei em meus braços, chorando por perder uma das melhores amigas que eu já tive na vida

Apertei seu corpo, mostrando o quanto me importava com ela. O diagnóstico era bem claro: um câncer de mama tratado 2 anos antes e que ela agora descobrira uma metástase no cérebro, em uma região difícil de operar e já em estágio avançado. Com muita sorte, ela teria no máximo 10 anos de vida, se nesse tempo não parasse com o tratamento. Aquela seria a última vez que nós nos veríamos. Ficamos ali, sem falar nada.

Fui afrouxando o aperto aos poucos. Antes que eu me soltasse, Márcia me olhou com uma expressão suplicante, e não pude me impedir de dar a ela o que ela precisava naquele momento. Eu não sei bem por que, mas eu tinha que dar aquilo a ela, em respeito ao amor que ela sempre sentiu por mim, apenas isso.

Eu sabia bem que o que estava fazendo não era a coisa mais ética e correta do mundo, tinha consciência daquilo. Mas precisava dar a Márcia aquele beijo, um beijo sofrido, de despedida, e, ainda assim, o único sentimento que eu tinha naquele momento era amizade, a enorme amizade que eu tinha por ela desde que me entendia por gente.

Não havia amor, não havia paixão nem nenhum outro sentimento semelhante da minha parte, mas eu me sentia na obrigação de permitir que ela se sentisse amada antes que fosse embora, pra sempre.

Lentamente, aproximei meu rosto do seu, podia sentir a sua respiração batendo contra a minha face. Acariciei seu rosto, demonstrando todo o carinho que sentia por ela. Márcia fechou os olhos, e eu fiz o mesmo, selando meus lábios nos seus de forma lenta. Em nome da nossa amizade, eu a beijei.

Márcia me apertou contra si com força, e eu desci minhas mãos por sua cintura de forma lenta e carinhosa. Aos poucos, fui aprofundando o beijo, até que nossas línguas bailassem juntas, em uma dança lenta e sincronizada. Não sei por quanto tempo nos beijamos, mas não importa, cada segundo daquele contato foi comparado aos beijos de Manuela.

Não senti o arrepio por todo o corpo, o frio na barriga não estava ali, meu coração continuou batendo regularmente, minhas mãos não suavam, eu não fiquei nervosa, minha respiração manteve-se estável, nem mesmo um único resquício de excitação. Eu sentia como se estivesse beijando a minha irmã, e isso me atormentou. Era pura amizade, e Márcia sabia disso.

— Obrigada, Eduarda – falou olhando-me nos olhos quando nos separamos – Eu te amo mais que qualquer coisa nesse mundo, seja feliz por mim, vá atrás da sua garota.

— Eu irei, Márcia, cuide-se, minha amiga – falei apertando-a em outro abraço e lhe dei um beijo na bochecha antes de pegar minha mochila e ir embora.

Minha mente estava fervilhando com tudo que estava acontecendo. Márcia estava mesmo indo embora e não voltaria nunca mais. Eu nunca saberia o quanto a minha amiga conseguiu resistir, se ela morreria feliz, se estaria consciente do que acontecia a sua volta quando chegasse a hora de partir. Será que ela sofreria? Sentiria dor?

Era difícil de aceitar que alguém que esteve ao meu lado a vida inteira morreria de forma tão injusta, com uma doença tão ingrata quanto câncer.

E, além de tudo isso, ainda havia o que Márcia disse sobre a minha irmã. Eu tinha que descobrir a verdade sobre isso, sentia que as respostas estariam diretamente ligadas à minha vida. E sabia que não seria nada fácil fazer Karina abrir a boca e me contar.

Eu já desconfiava dessa volta repentina da minha irmã para Belo Horizonte, agora tinha mais certeza ainda de que havia algo errado. Se ela tinha sido mesmo expulsa de casa ao se assumir para o meu pai, duvido que voltaria para BH de forma tão estranha e ainda menos que procuraria um apartamento para morar tão perto da antiga casa. Isso, sem contar que ela tinha pedido sigilo absoluto da sua volta. Eu investigaria tudo aquilo e descobriria a verdade, poderia demorar o tempo que fosse, mas eu não desistiria.

E como se não bastasse a minha irmã estar envolvida, aparentemente, eu também não conhecia o homem por quem fui criada. Aquele homem de expressão bondosa no rosto, que me colocava pra dormir quando eu tinha sonhos ruins, jamais colocaria a Karina para fora de casa.

Senti uma dor no peito ao pensar nisso, porque lembrei da minha baixinha. Agora eu tinha uma noção do que ela passava com o pai. Mesmo assim, eu não queria acreditar que era verdade, tudo que eu mais queria era que Márcia houvesse se enganado.


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Notas finais do capítulo

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