The 68th escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 30
Frente a Frente


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas chegou. Aproveitem!



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Quando saio do palco, passo reto por Elise, Fennie e Burton. Pois é, loucura eu achar que conseguiria sair daquela sala sem ser interrogada.

– June, espere! - ouço Elise gritar, colocando a mão em meu ombro e forçando-me a parar. - Não pense que você vai sair daqui sem dar explicações, mocinha.

Paro durante um momento e olho em seus olhos. Torço para que, evidentes meu rímel borrado e olhos inchados, ela me deixe passar reto.

– Não sei você, mas eu acho que a explicação que dei para toda Panem já foi mais do que suficiente - digo friamente, voltando à tentativa de fugir do interrogatório.

Como o esperado, volto a ser impedida.

– Então quer dizer que tudo aquilo que você disse lá é verdade? - pergunta Elise enquanto se aproxima de mim.

Eu ando até um dos sofás e continuo:

– Eu menti o tempo todo, Elise. Eu menti na entrevista, menti na Arena, menti no treinamento... Agora eu não tenho mais nada a perder. Por que continuar com as mentiras?

Elise se acomoda ao meu lado e começa a mexer em meu cabelo daquele modo reconfortante.

– Eu entendo, June - ela diz. - Mas prometa-me que não fará mais que isso.

– Como assim? - pergunto, confusa.

– O que eu quero dizer é que esse é o máximo que a Capital consegue aguentar. - Eu continuo com a mesma expressão de dúvida, então Elise percebe que tem que esclarecer o que acaba de dizer. - Há muitas pessoas revoltadas com as decisões da Capital; mais uma não irá mudar muita coisa. Mas o problema, June, é que agora você é uma Vitoriosa, e tem um poder imenso de fazer com que suas palavras sejam ouvidas por todos. O que você acabou de fazer naquele palco não afetará diretamente a Capital, ou seja, consequentemente não afetará você. Mas qualquer passo além pode acabar dando ideias aoa distritos para que eles se rebelem, e nós não queremos isso, porque isso muito provavelmente causará sua morte e a de muitas pessoas. Qualquer passo além pode acabar forçando Snow a ser um tanto... vamos dizer, radical.

Paro e raciocino por alguns segundos.

– Você diz que... Snow poderia agir contra mim matando aqueles que me apoiassem? Mas isso não seria certo. Ele não poderia fazer uma coisa dessas enfrentando toda Panem.

Elise faz que sim com a cabeça.

– Confie em mim, ele faria muito pior que isso. O Presidente Snow nunca foi um cara sensato que escuta a maioria de sua população, e disso você deve saber muito bem. Se ele o fizesse, os Jogos não estariam quase em sua septuagésima edição. Mas a questão é que você cresceu na Capital e por isso pensa que a conhece como realmente é, quando, na verdade, isso só te impediu de ver o mal que causa aos distritos. Snow não se importaria se o Distrito 6 de repente tivesse cinco mil habitantes em vez de dez.

Ficamos em silêncio por um tempo enquanto eu raciocino o que acabei de ouvir, mas Elise acaba quebrando o silêncio novamente:

– Em alguns minutos um carro passará aqui e te levará até a coroação. Isso significa que você ficará frente a frente com Snow. - Então ela respira fundo. - June... Por favor, controle-se. Não diga nada que possa piorar as coisas, o que seria muito fácil de acontecer.

**

Quando sou forçada a colocar os sapatos novamente, encontro-me tremendo. Há outra multidão lá fora esperando para que eu entre, mas dessa vez seria diferente; eu acabara de fazer um discurso dizendo que eram todos idiotas e que eu os culpo pela morte de meu irmão - não que eu pense algo diferente a respeito deles agora. Com certeza eu receberia alguns milhares de olhares tortos.

Sinto novamente a mão de Elise em meu ombro; isso é algo que ela pegou o costume de fazer para me acalmar.

– Você já enfrentou muitas multidões antes, June, eu sei que mais uma não será problema.

– Há, mas é, sim. O problema é que eu nunca enfrentei uma multidão enfurecida. E agora que sei que posso colocar uma população em perigo...

– Eu já te disse: não piore as coisas e eu prometo que tudo correrá bem. Afinal, é só o Snow.

– "Só"? - pergunto, arqueando as sobrancelhas. Nós duas rimos.

Elise então olha para trás e alguém a comunica que chegou a hora da tão esperada coroação. Ela inclina-se e me dá um beijo na testa.

– Alguém que sobreviveu aos Jogos Vorazes não pode ter medo de um velho barbudo.

Não contenho um sorriso. Elise me deixa e eu me aproximo do palco, respirando lenta e calmamente para baixar o nervosismo que corre em minhas veias feito sangue. Quando piso no palco com meu salto prateado, a multidão emite palmas baixas sem muito entusiasmo. Vou andando até o centro e me sento no trono dourado ao lado da coroa.

Todos na plateia ficam de pé quando Snow entra no palco, inclusive eu.

Enquanto ele se aproxima, eu tento manter a calma e socá-lo apenas mentalmente. Confesso que, naquele momento, desejo que a faca em meu pingente seja de verdade.

Quando Snow chega perto de mim e pega a coroa, sinto cheiro de sangue. Não ligo muito para esse detalhe, afinal, não é isso que me preocupa. O Presidente então ergue a coroa para toda a Panem e, depois de alguns segundos, acomoda-a em minha cabeça. E é no momento em que ele para em minha frente e olha em meus olhos que eu sinto meu corpo congelar.

– Meus parabéns - ele me deseja, beijando minha mão. Tento retrai-la calmamente depois que seus lábios desencostam da minha pele. Não é como se eu quisesse deixar transparecer que estou com nojo de sua boca. - Você realmente fez valer sua origem. Venceu as probabilidades.

– Obrigada - respondo, breve e friamente. Não devo nenhum respeito ou cordialidade àquele homem, não mesmo.

Quando tenho esperanças de que ele simplesmente saia do palco, Snow aproxima os lábios de minha orelha e sinto sua barba ainda curta roçar meu rosto, transmitindo a mim uma sensação realmente desconfortável.

– É melhor você parar por aí caso ache que a morte de seu irmãozinho já é o suficiente. - Chuto sua parte inferior mentalmente por ter se referido a Cameron daquela maneira. Em quaisquer outras circunstâncias, eu não teria entendido Snow e sua mensagem implícita; mas, graças aos conselhos e ao discurso de Elise, sei exatamente do que está falando. Por mais que eu não quisesse, teria que obedecê-lo, teria que parar por aqui. Eu não quero morrer, muito menos desejo isso a outras pessoas. Snow então abre um sorriso ao ver a expressão de medo em meu rosto. - Você pode achar que o que disse na entrevista mudará alguma coisa, mas fique sabendo que é preciso mais do que uma garota bonita revoltada para derrubar um regime firme e forte como o meu.

E com essas últimas palavras ditas próximas ao meu ouvido, ele sai do palco, deixando-me sozinha com os aplausos sem entusiasmo da plateia de Panem.


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Notas finais do capítulo

Tá acabando! ): (Rescrito em 11/12/2014)



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