Só me dei conta do que estava prestes a acontecer quando eu estava lá, novamente deitada ao lado de Percy em sua cama, debaixo das cobertas. Foi então que o nervosismo começou a tomar conta de mim. Eu havia vindo o caminho todo super empolgada e confiante. Eu sabia o que eu queria. Sabia que tinha chegado a hora. Sabia que estava pronta. Mas não pude evitar sentir aquele friozinho na barriga que insistia em me atormentar.

Imaginar a nossa primeira vez era uma coisa, agora estar vivendo aquele momento era completamente diferente. Eu simplesmente não sabia como agir. Percy estava ocupado verificando alguma coisa na gaveta de seu criado mudo enquanto eu tentava recobrar a minha confiança de minutos atrás. Ele pegou alguma coisa lá dentro e a deixou em cima do pequeno móvel. Eu não pude identificar o que era e também não estava com cabeça para me preocupar com aquilo. Havia algo mais importante e mais urgente para resolver.

Percy havia dado um jeito com as nossas roupas molhadas usando o seu dom. Em alguns segundos havíamos ficado secos. Nem nos demos ao trabalho de colocar pijama, havíamos deitado na cama daquele jeito mesmo. Percy voltou a virar-se para mim e segurou minha mão que estava repousada em minha barriga sobre o cobertor. Ele certamente percebeu o quanto eu estava apreensiva, pois acariciou minha mão levemente e me lançou um olhar de compreensão.

- Tem ideia do quanto já sonhei com esse momento?

- E você acha que eu não?

- Não, eu sei que você também deve ter imaginado como seria. Só duvido que tenha sido tanto quanto eu.

- Pode ser que eu não tenha pensado tanto sobre isso. Mas não quer dizer que eu não queira que aconteça, tanto quanto você.

- É bom saber disso. Mas sabe, em todas essas vezes, não houve uma em que eu não imaginasse que tudo seria perfeito. E é assim que eu quero que seja – ele fez uma pausa e eu continuei olhando seu rosto concentrada – Então quero que saiba que se em algum momento quiser parar, se sentir que não esta preparada, você pode me dizer. Eu não vou achar ruim nem ficar chateado. Quero que seja bom para os dois...

Eu o beijei antes que ele continuasse falando. Afinal não havia nada mais irresistível sobre Percy do que toda aquela lealdade e compreensão. A forma como ele havia tomado tanto cuidado ao dizer aquelas palavras havia me tocado profundamente. Como eu poderia querer mais do que aquilo? Me sentia a pessoa mais sortuda do universo só por poder estar ali com ele. Toda e qualquer incerteza que ainda poderia existir em mim desapareceu naquele instante. Ele era excepcionalmente perfeito para mim. Tudo que eu sempre quis e mais. Muito mais do que eu pensava merecer.

Foram esses pensamentos, misturados a aos meus instintos e desejos que me fizeram ultrapassar todas as barreiras que havia entre nós. Todas minhas defesas vieram abaixo e me desarmei completamente. A partir daquele segundo eu estava entregue de corpo e alma, e nada mais importava.

Não me lembro exatamente o que aconteceu primeiro. Só sei que em alguns segundos nos vimos livres de algumas peças de roupa. O fino cobertor que cobria nossos corpos acabou caindo ao chão sem que percebêssemos. O calor, tanto externo como interno, nos consumia rapidamente. Uma avalanche de sensações me invadia e eu apenas continuava respondendo a todos os meus instintos conforme eles iam me comandando. Minhas mãos, totalmente desprovidas de qualquer inibição percorreram tantos lugares quanto pode alcançar. O mesmo acontecia com as dele, que me faziam suspirar a cada toque.

Nem ao menos percebi em que momento exatamente Percy estendeu a mão para pegar aquilo que havia deixado sobre o móvel ao lado da cama. Mais tarde talvez eu me achasse muito burra e inconsequente por não me preocupar com aquilo. Mas iria agradecer eternamente por ter um namorado tão sensato e responsável a ponto de não deixar que a sua ansiedade o fizesse esquecer de se proteger e proteger a mim.

Eu sabia que nesse assunto, Percy era tão inexperiente quanto eu. No entanto ele conseguiu fazer com que tudo saísse perfeitamente bem. Me levou ao paraíso com apenas o toque de seus dedos. Sua boca e sua língua clamavam por conhecer cada pedaço do meu corpo. Experimentei sensações que pareciam que iam me levar a loucura. E quando enfim chegamos a parte principal, ele foi tão carinhoso e gentil que eu quase não senti nenhuma dor. Esse era o meu maior medo. Mas ele tinha me deixado tão a vontade que eu nem ao menos me importei. Reprimi um leve grito que alcançou minha garganta, mas depois voltei a disfrutar de seus movimentos firmes e  envolventes.

Alcançamos o ápice quase que ao mesmo tempo. Eu respirava bem fundo, buscando recuperar o folego junto com os meus sentidos que pareciam ter ido embora também. Definitivamente não poderia haver nada melhor do que aquilo. O êxtase e a satisfação plena compartilhadas com a pessoa que eu mais amava no mundo. Unidos de corpo e alma enquanto nossos corações batiam rápido no mesmo ritmo.

Percy rolou para o lado para livrar meu corpo do peso do dele. Eu teria protestado de tivesse forças para isso. Estava exausta, mas não me importaria de continuar como estávamos. Mas ele também parecia cansado então resolvi não reclamar. Nós dois olhávamos para o teto do chalé e ainda estávamos um pouco ofegantes. Segurei sua mão só para me certificar de que ele continuasse ali do meu lado. Não que eu pensasse que ele fosse me abandonar a qualquer momento, mas sentia a necessidade de me manter em contato com sua pele.

Nenhum de nós falou nada por um longo tempo. Parecia que estávamos refletindo sobre o que havia ocorrido. Em todas as vezes que eu havia imaginado aquilo eu simplesmente sabia que seria bom. Ainda assim eu nunca poderia ter nem sequer chegado perto de adivinhar o quão perfeito foi. Em todos os momentos eu estava segura do que queria e não tive medo de fazer o que tinha vontade nem tive vergonha de deixar ele fazer o que tinha vontade. Mesmo eu tendo sentido uma pequena dor no começo, aquilo não foi nada perto do imenso prazer que tomou meu corpo quase que o tempo todo.

Pensei em falar alguma coisa para ele. Tinha percebido que ele seguia acordado assim como eu. Mas fiquei com medo de estragar aquele momento com alguma palavra errada. Havia uma espécie de atmosfera de luz e calor que nos envolvia. Eu não queria me desconectar dela. Ficaria ali para sempre se pudesse.

- Eu te amo – foi ele quem quebrou o silêncio. Entretanto isso não mudou em nada a sensação de paz e tranquilidade que havia sobre nós. Pelo contrário, se encaixou perfeitamente. O som de sua voz entrou como música em meus ouvidos e eu sorri.

- Eu também te amo – respondi ainda olhando para o teto e apertando sua mão que eu segurava.

- Sei que não tem necessidade de preencher esse momento com palavras, mas eu preciso te dizer como estou me sentindo.

- Então diga.

- Sou oficialmente o semideus mais feliz de todo o universo. E não é só pelo que acabou de acontecer. Claro que foi ótimo e que eu não vejo a hora de repetirmos – não pude deixar de soltar um risinho ao ouvir isso – Mas falando sério, eu não posso imaginar nada que seja melhor do que estar com você. Mesmo quando brigamos, mesmo quando estamos só assim, um do lado do outro sem fazer nada. Todos os segundos que passo com você se tornam os melhores segundos de toda a minha existência.

- Percy, não me leve a mal, mas você está errado – quando eu disse aquilo ele levantou a cabeça para poder me olhar. Seu rosto expressava confusão, o que me fez rir de novo.

- Estou errado?

- Sim! Me desculpe mas tenho que discordar de você. A única pessoa aqui que faz com que todos os momentos sejam perfeitos é você. E eu não vou, em hipótese alguma, assumir essa culpa! – sorri enquanto via sua expressão mudar para um olhar travesso.

- Que tal se nós dividirmos a culpa então? – ele se virou ficando de lado e por um momento eu havia me esquecido que ainda estávamos sem absolutamente nada cobrindo nossos corpos. Tentei não pensar naquilo ou iria morrer vergonha.

- Feito! – disse enfim enquanto ele me olhava nos olhos.

Sua mão repousou-se em minha barriga enquanto ele se inclinava para me beijar. Mal seus lábios tocaram os meus e eu já sentia meu corpo clamando por ele. Depois do que havíamos acabado de viver, eu era muito mais consciente das minhas vontades e principalmente dos meus pontos fracos. E parecia que Percy também, porque no instante seguinte ele começou a me fazer suspirar novamente com as suas caricias.

Ainda não podíamos dizer que éramos experts no assunto, mas a segunda vez foi com certeza bem melhor que a primeira. O desejo era o mesmo, mas agora sabíamos o caminho para chegar onde queríamos. Dessa vez, depois de terminarmos, porém não sobrou disposição para declarações nem palavras de afeto. Assim que nos separamos Percy puxou o cobertor que havia caído no chão  e nos cobriu. Eu me aconcheguei em seus braços e caímos em um sono profundo.

No meu sonho eu estava suspensa flutuando em um lugar onde não havia absolutamente nada. A sensação do que eu havia feito com Percy continuava comigo. Como se eu ainda estivesse em seus braços. Havia uma cortina translúcida que me envolvia, cobrindo meu corpo que parecia estar nu por baixo. Girei a cabeça de um lado a outro tentando encontrar alguma coisa que fizesse aquele sonho fazer sentido.

Até que uma voz de mulher forte e autoritária alcançou meus ouvidos. Eu a reconheci mesmo a tento ouvido muito pouco em minha vida. Atena foi aparecendo pouco a pouco a minha frente, como se viesse se aproximando de um lugar distante. Ela estava em sua forma humana. Usava uma túnica branca e sua expressão era séria e fria.

- Sabia que cedo ou tarde teríamos esse encontro – disse ela ao me encarar.

- Por que está aqui? – fui direto ao ponto. Minha mãe nunca fez questão de se comunicar comigo. As vezes que havíamos nos falado foram para tratar de assuntos de extrema importância ou então nas vezes que visitei o Olimpo. Eu sabia que se ela estava em meus sonhos era porque tinha um bom motivo. Ou não tão bom assim.

- Achei que soubesse mais sobre a história dos deuses gregos, Annabeth. Todas as minhas filhas que deixam de ser donzelas veem ao meu encontro para poderem clamar por perdão.

- Perdão?

- Sim. Ou por acaso sente orgulho do que acabou de fazer?

- O que? – por mais que eu tentasse aquilo não cabia na minha cabeça. Eu não podia acreditar que fosse sério – Espera que eu sinta vergonha do que aconteceu? Acha que me arrependo ou que não fiz por vontade própria?

- Seria ingenuidade da minha parte acreditar que você não tenha desejado isso. Lamentavelmente vejo que até disfrutou bastante da experiência.

- Do que está falando? Por acaso é errado se entregar ao amor?

- Não é errado amar, Annabeth. Mas tampouco é certo deixar-se levar pelo desejo. Ceder às vontades da carne e entregar-se ao pecado da luxuria.

- Luxuria? Me desculpe mas não pode me obrigar a concordar com isso. Você não tem a menor ideia do que significa amar alguém de corpo e alma.

- Não é necessário que concordemos, minha filha. Apenas faça o que tem que ser feito. Então eu concederei o meu perdão e a deixarei ir.

- Sinto muito mamãe, mas não farei isso. Não vou pedir perdão por algo que não acho que é errado. Por algo que me fez sentir a pessoa mais feliz do mundo.

A expressão de Atena se escureceu e ela sumiu em um estalo que me fez acordar sobressaltada. Felizmente não acordei Percy que continuava dormindo do meu lado. Voltei a me deitar aferrando-me a ele. Fechei os olhos tentando me esquecer daquele pesadelo terrível que acabara de ter.