Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 11
Prometendo promessas


Notas iniciais do capítulo

Oi, sei que demorei um pouquinho para postar, mas não tenho desculpas ^^ Dedico esse capitulo as duas tigrosas lindas *VictóriaReginaGates*,e *apenas uma sobrevivente* que deixaram um review no último capítulo, vocês são D+



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Uma semana havia se passado desde que me mudei para meu novo lar. Não iria admitir, mas finalmente estava me sentido feliz, mais do que jamais me sentira. Manuela continuava com suas drásticas mudanças de humor, hora meiga e outra beirando para o psicopatismo(?). Eu continuava tendo minhas rixas com a Gabriela, mas a gente até que havia se tornado um pouco amigos. Acabei descobrindo que o Tom gosta dela, o que é meio obvio. Unindo o útil com o agradável, ele começou andar comigo. Lauren estava me deixando pirado. Para uma garota que nunca recebeu um ‘não’, eu acabei representando um desafio para ela. De repente me lembro de quarta-feira, quando ela me parou na saída do banheiro.

–Oi Lipezinho.

Franzo o cenho, muito enjoado com todo aquele doce, tanto nas palavras quanto no tom de voz.

–O que você quer?

Ao contrário do que era para acontecer, minha voz um pouco –muito- mal educada, fez com que ela se inclinasse na minha direção, com seu sorriso carregado de atributos. Sua intensão era muito clara. Mostrar seu degote para mim. O que a coitada não compreendia, era que além de não gostar muito desse tipo de garota, eu também tinha Manu. Por quem era estupidamente apaixonado, e ela odiava Lauren do fundo do estomago. A minha sorte, acho, era que Gabriela apareceu no corredor, parando imediatamente para olhar na minha direção. Fiquei imaginando o que ela estava vendo. Um garoto com um aspecto muito gay, encostado na parede, praticamente tentando atravessa-la para fugir de uma loira que o prensava contra a mesma.

–Por que não o deixa em paz?

Lauren parecia surpresa quando se virou e viu Gabriela lá, com suas mechas coloridas e sua roupa estranha. Com seu salto enorme, Lauren era muito maior que a outra, que possuía uma estatura um tanto, pequena, por assim dizer. Mas mesmo com a diferença de tamanho, minha quase amiga parecia ter muito mais presença. Era quase como se algo viesse de dentro dela, fazendo Lauren se tornar menos importante.

–Você devia cuidar do seu nariz. Pena que você não estava no carro com aquela lá.

Terminou a frase torcendo o nariz. Uma súbita onda de raiva tomou conta de mim, quando percebi de quem ela falava. A empurrei para longe, sem pensar no depois, me concentrando no agora. Seu equilíbrio perfeito não a deixou cair, apenas se desiquilibrou e se apoiou contra uma parede. Seu olhar em mim era de pura indignação. Empinando o nariz e todo o resto, assumindo um ar arrogante, saiu de lá para tentar resgatar um pouquinho da dignidade que restou.

Fiquei observando ela partir, quando senti uma presença ao meu lado. Olhei de relance e vi Gabriela sorrindo para mim.

–Você acabou de ganhar o meu respeito.

Depois desse dia, a gente começou a se dar bem melhor. Sempre quando Lauren me encurralava, Gabriela estava lá para me salvar. Manuela parecia cada vez mais distante, e quando perguntei o que ela tinha, a garota simplesmente ficou olhando além de mim, antes de perguntar o que eu havia dito.

O diretor me perguntou se eu havia encontrado meu rato, e eu nem sabia o que responder, e acabei dizendo que não, e que ia comprar outro. E é por isso que estou aqui, parado em frente a um pet shop, com uma Manuela olhando para o nada.

–Vamos? –perguntei e ela assentiu.

Como de costume, passou na minha frente, sem um pingo de educação. Isso era tão... ela. Observei como seu vestido preto ficava lindo nela. De um modo triste. De repente me preocupei. Ultimamente ela só estava usando preto. Era quase como se estivesse de luto.

Entrei depois dela, sentindo a campainha anunciar minha chegada. Uma mulher de meia idade me recebeu com um sorriso.

–Pois não?

–Eu gostaria de comprar um rato.

–Você quis dizer hamster, certo?

Dei de ombros, pouco me importando com o nome apropriado. Afinal, era tudo igual.

Ela foi em direção a algumas gaiolas num canto da loja, obviamente esperando que eu fosse atrás. Claro que fui. Chegando lá, percebi uma infinidade de roedores, de todas cores e sabores. Percebi que Manu os observava como uma predadora, olhos semicerrados e expressão de concentração. Estava escolhendo para mim. Apontou o dedo de modo satisfeito para um muito parecido com uma vaca, com todas aquelas manchinhas pretas em contraste com o branco. E credo, que bicho mais gordo. Eu ia poder estudar matemática com ele, quando precisasse de uma esfera. Claro que não diria isso em voz alta, e é claro que o compraria.

–Aquele, -repeti o gesto dela ao apontar para ele- pode ser?

–Sim, é uma menina. Ótima escolha, é uma das mais queridas daqui.

Comprei uma gaiola e comida também, acertando tudo no balcão.

–Foi uma prazer, volte sempre!

–Com certeza! –principalmente quando a rata tiver uma parada cardíaca devido ao excesso de gordura concentrada.

Lado a lado, eu e Manu fomos andando até a nossa –sim, nossa—casa.

–E ai, novidade?

Tentei quebrar o gelo, mas minhas palavras produziram uma nevasca.

–Não sei, que tipo de novidades uma pessoa morta poderia ter? Sim, porque estou começando a pirar –ela jogou os braços para o alto, de forma dramática. Droga, ela estava tendo um ataque de sei lá o que.

Paramos em frente à porta de casa, enquanto procurava as chaves no bolso, ia pensando em algo para falar. Ela atravessou a porta, de forma impaciente. Finalmente encontrei as chaves e entrei feito um furacão. Subi as escadas correndo, e quase tropecei no ultimo degrau, provavelmente matando a mim e a minha rata ainda desnomeada. Caramba, ela nem era minha namorada –não que eu não quisesse que fosse, mas isso era irrelevante no momento—e eu era obrigado a ficar aguentando esses chiliques. Cadê o tal do Peter nessas horas!?

Entro no não-só-mais-meu-quarto e a vejo sentada na janela, com metade do corpo para fora. Mesmo sabendo que não existem motivos para isso, sinto uma pontada de medo pela sua segurança. Mas como
disse, não há motivos para isso. Sinto decepção ao constatar esse fato, o que é estupido. Geralmente ficamos felizes ao saber que as pessoas que gostamos não correm perigo, mas no meu caso, a ausência de perigo é sinônimo de um futuro impossível para nós. Tanta incerteza me sufoca.

Coloco a gaiola rosa pink –que não fui eu quem escolheu—na cômoda ao lado da cama, e caminho com pequenos e sutis passos até onde ela esta. Sinto um arrepio ao me lembrar da ultima vez que estive naquela janela, ao seu lado. Descobri que possuía sentimentos que não deveria sentir. Talvez eu estive louco. Não, então eu continuava louco.

Ela se vira e me encarra, me fazendo lembrar-me da noite em que ‘dormiu’ ao meu lado. Ninguém dormiu, ela porque não podia, e eu porque não consegui.

–Por que eu?

Sua voz é um sussurro, mas seria o suficiente para calar uma multidão.

–Por que nós?

A corrijo, indiferente se me entende, ou não. Caramba, esse momento esta muito confuso. Ela apoia a cabeça entre os joelhos, tentando se esconder do mundo. De mim. Esse ultimo pensamento me machuca, querendo fazer o possível para vê-la alegre e rabugenta de novo.

–Manu, você é forte, eu sei que é. Não pode ficar triste.

–Eu quero ir.

Fico confuso até perceber o que ela quis dizer. Então tudo começa a fazer sentido. As roupas pretas, a nostalgia que parece sempre carregar consigo, seu olhar perdido, ela quer partir. Medo. Medo. Medo. É assim que me sinto, a personificação do medo.

–Partir?! Você esta ficando louca? E me deixar aqui, sozinho? Abandonado?

Ela me olha quase curiosa. Certo, eu sei, extrapolei um pouco. E acabei de parecer extremamente carente e desequilibrado. Mas a garota
que eu gostava estava pensando em ir. Uma palavra com duas letras que tinha o poder de derrubar meu mundo cuidadosamente remendado.

–Você estava muito bem antes de eu aparecer. Tudo bem, você é um pouco fracas.., er, antissocial, mas nada que não possa ser consertado. Eu só estou atrasando a sua vida. Meu Deus, você passa a maior parte do seu tempo com um fantasma! Eu não posso mais fazer isso contigo, seria muito egoísmo da minha parte.

–Você devia ter pensado isso antes, antes de ter mexido com o meu mundo desse jeito maluco. É a mesma coisa que devolver a visão a um cego, e depois rouba-la novamente.

Seus olhos estão marejados.

–Você esta falando hipoteticamente?

–Não.

Soou melhor do que poderia esperar. Tipo, muito másculo, e forte, e decidido, e...

–Eu sou o pior tipo de pessoa para passar o tempo. Sou mal humorada, rabugenta, irritante e falo demais. Como posso ter te dado a luz?

Você é a luz.

Acho que não preciso dizer mais nada. A frase é curta, simples. Mas cheia de significados. Meus olhos falam mais do que minha boca poderia pronunciar em mil anos. Porque é isso que a paixão faz contigo. O
tudo se transforma em nada. E os opostos roubam seus significados, fazendo do simples, algo complexo demais para que possa ser explicado.

Sua mão vem em minha direção, quase me tocando, mas impedida pela barreira que se chama realidade. Fecho os olhos, sentindo um frio magico onde sua mão deveria me tocar, no meu lado esquerdo do rosto. Eu viveria mil anos por um momento como esse, em que posso suspirar de felicidade, por completa euforia. E daria tudo para que pudéssemos ficar juntos.

–Lipe?

–Sim?

–Eu estou apaixonada por você. E acho que foi no momento em que me falou sobre “a falta de lembranças”.

Sorrio tímido, mas ao mesmo tempo feliz.

–Eu também estou apaixonado por você, mas foi muito antes de te conhecer. Quando vi sua foto, sorrindo como um raio de sol, eu nunca quis tanto alguma coisa daquela forma. Era como se meu mundo se resumisse a você. Mesmo parecendo loucura, uma coisa era certa: Se eu nem a conhecia, e já me sentia assim, como seria quando realmente a conhecesse? Amor não iria ser o suficiente para denominar.

–Você realmente existe?

Que desgraça de pergunta, eu é que devia perguntar isso. Mas quer saber? Se ela existe ou não, não faz diferença nenhuma. Ela existe para mim, e isso basta. Chame de loucura, chame de estupidez.

Eu chamo de amor.

–Só me prometa uma coisa, ta?

Ela me olha, prometendo com o olhar antes mesmo de saber o que irei pedir.

–Promete que não vai me deixar? Que não vai partir.

–Eu não tenho mais motivos para ir.

Sorrio com toda a minha alma e meu ser. Dizer que estou feliz nesse momento é eufemismo.

–Nós vamos encontrar uma forma de ficar juntos. Essa é a minha promessa.

Na falta de abraço, ou até mesmo um beijo, ficamos nos olhando, olhares carregados de promessas, sentimentos e esperança.

Nunca antes quis cumprir uma promessa como agora.


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