Capítulo 33

Acordei em cima de Kol. A minha cabeça descansava no seu peito que se mexia à medida que ele inspirava e expirava. Olhei-o e sorri. Kol era um perfeito anjo quando dormia, tão calmo e indefeso.

-Já vi que acordaste – disse ele, com a voz ensonada e sem abrir os olhos.

-É, parece que sim. E por falar nisso, tenho que ir.

-Não – resmungou ele e abraçou-me com força.

-Kol! – exclamei e ri. – Vá lá, não quero ser apanhada pela tua mãe.

-Demasiado tarde. Ontem não deve de ter havido uma única pessoa nesta casa que não nos tenha ouvido.

Corei instantaneamente e pousei a testa no seu peito nu.

-Coitado do Elijah…

-Oh, ele não dormiu em casa.

-A sério? – inquiri, surpreendida e olhei para ele, que ainda tinha os olhos fechados. – Onde é que o maroto foi?

-Ter com Bridget, talvez. Alugaram alguma casa?

-Ela fez questão para se produzir toda e não termos que trazer as nossas malas.

-Então já sabemos onde o Mr. Moralidade está.

Ri.

-E quanto aos outros?

-Bem, não oiço um único passo característico de Rebekah, o que indica que ela foi-se embora bem cedo, ou nem colocou cá os pés para dormir.

Respirei fundo ao mesmo tempo que ele e sorri.

-A noite passada foi…

-Uma das minhas favoritas – completou ele e sorriu todo convencido. – Levei-te às nuvens.

-E eu mostrei-te o que andaste a perder. Tal como o prometido.

-Sem dúvida. Nem acredito como é que ele perdeu isto.

Eu sabia que ele se referia a Klaus e o meu corpo sofreu um arrepio.

-Desculpa, não o queria trazer para esta conversa maravilhosa – disse ele, passeando os seus dedos suaves pelas minhas costas. – Que tal irmos ao Grill procurar alguma diversão?

-Tenho só que ir a casa vestir uma coisa mais casual. Não quero que todos comecem a falar por onde andei com o vestido.

-Ou o que restou dele.

Ele abriu os olhos e vi o quão brilhantes estavam. Olhei-o em pânico e em volta pelo quarto. O vestido estava a um canto… quase em fanicos.

-Oh, Kol! – lamentei. – O vestido era tão lindo!

-Pensa assim: valeu a pena.

-Kol! – exclamei e levantei-me da cama, arrastando o lençol comigo para me tapar.

Encontrei o vestido, os sapatos e as joias. O vestido estava em farrapos. O meu lindo vestido vermelho estava em farrapos.

-Ficas-me a dever um vestido, Kol – ameacei, enquanto vestia o que restava dele, ou seja, o que havia dele da coxa para cima. – E de cerimónia.

Ele riu, e ficou a ver-me a vestir e a calçar.

-Não olhes assim para mim! – exclamei, lançando-lhe o lençol, já que estava vestida e pronta para ir embora. – Vou embora. Encontramo-nos mais logo no Grill?

-Claro que sim – disse ele, piscando-me o olho. Revirei os olhos e saí do quarto dele.

A noite anterior tinha sido maravilhosa, tinha sido tudo o que eu tinha sonhado, mas não era Kol quem eu queria. E por pensar no Diabo…

Klaus apareceu e parecia furioso. Cruzei os braços, sentindo-me envergonhada com os meus trajes.

Passámos ao lado um do outro e eu parei, bem junto a ele. Olhei para ele, e vi que ele estava a fazer precisamente o mesmo.

Então tudo aconteceu muito rápido. Ele prensou-me contra parede e colocou as suas mãos ao lado do meu rosto.

-Porque me fizeste isto? – perguntou ele, fora de si e com os dentes cerrados. Arregalei os olhos, surpresa com a sua súbita violência.

-Porque sempre me abandonaste? Porque é que ao fim de todos estes séculos ainda tens medo de ficar comigo? Já não te provei o suficiente que te amo? Te amei – corrigi. Ele não precisava de saber os pormenores dos meus sentimentos naquele momento. – Tu obrigaste-me a seguir em frente, e foi isso que fiz.

-Mas com Kol? O meu irmão?

-Ao menos ele ama-me.

-Sabes que isso não é recíproco – disse ele, aproximando os nossos rostos.

-Estás a dizer que ainda me amas?

Ficámos olhos nos olhos por breves instantes, sem dizer nada.

-Eu amei-te. Mas quando fomos transformados, tudo mudou. Eu nunca quis que tu fosses um monstro como eu – murmurou ele, com paixão nos olhos. – Ainda te amo, mas…

-Mas o quê, Niklaus? – tentei completar a frase que ele deixou inacabada.

-Eu sou o que sou. Nada me irá mudar.

Coloquei uma mão no seu rosto e ele fechou os olhos por breves instantes.

-Podemos voltar ao que éramos. Não precisarás de me compelir a ficar junto a ti, porque eu ficarei. Só precisas de dizer as palavras certas.

-Que palavras?

Inclinei a cabeça para o lado, sorrindo triste.

-Tu sabes quais.

Afastei um dos braços deles e continuei a andar para a saída. O meu casaco estava no bengaleiro, conjuntamente com a minha mala que estava na mesa de apoio ao lado. Vesti-o e peguei na minha mala, abrindo-a e vendo o meu telemóvel. Tinha algumas chamadas de Bridget e Elijah.

As chaves do meu carro estavam lá dentro, por isso conseguiria sair dali rapidamente. O carro estava na garagem deles, ao lado do jipe de Klaus. Passei as minhas mãos pelo carro preto, sorrindo, lembrando-me do local onde nos tínhamos reencontrado, há apenas três meses atrás.

A porta da garagem abriu-se e um Bugatti Veyron cinzento entrou, parando logo de seguida ao lado do carro de Klaus, fazendo os pneus chiarem. Rebekah saiu do veículo.

-Bom dia, Samantha – disse ela, sorrindo e passando por mim com o nariz empinado.

Tentei não gargalhar com a atitude dela. Era óbvio onde ela tinha passado a noite: na cama de Damon.

-Bom dia, Rebekah – falei, entrando no meu carro e saindo antes que a garagem se fechasse. Ela ficou a olhar para mim com os lábios cerrados e eu revirei os olhos. Ela era Team Klaus. Sempre tinha sido ele. Será que ela sentia algo mais por ele do que simples fraternidade? Estaria ali um caso de incesto?

Guiei até casa, confusa com tudo: Kol e Klaus. Será que eu tinha feito bem em aceitar o seu convite para a festa e para a sua cama? Ou será que eu tinha feito precisamente tudo errado? Kol sabia que aquela relação jamais seria séria, certo?

Estacionei e vi o Lincoln MKZ de Elijah. Ele ainda estava ali, por isso tinha que ser muito rápida e silenciosa para não os incomodar. Subi as escadas em bicos dos pés e entrei no meu quarto, encostando somente a porta. Fui até á minha mala ainda por desfazer e peguei numas quantas peças. Queria tomar banho, mas não queria que eles soubessem que eu estava aqui.

-A estas horas, menina Samantha?

Dei um salto e virei-me de repente. Bridget estava com um roupão branco e Elijah estava atrás dela, com um sorriso nos lábios inchados e os olhos mais brilhantes que estrelas numa noite de céu limpo.

-Bom dia para ti também, Bridget. Bom dia, Elijah.

Ele sorriu, envergonhado e deu um beijo no topo da cabeça de Bridget. Olhei para o chão, sentindo-me a mais naquele lugar.

-Vejo-te mais logo.

-Até logo, Elijah – disse Bridget com um tom de voz que me fez lembrar pastilhas elásticas com sabor a morango.

Ele saiu, e eu fiquei calada até ouvir o motor do carro dele sair da nossa propriedade.

-Onde estiveste? – interrogou Bridget, impedindo-me de fazer alguma pergunta.

-Em casa dos Mikaelson.

Ela sorriu ternurenta.

-Tu e Niklaus fizeram as pazes?

-Eu disse Mikaelson, não Niklaus – fiz questão de diferenciar e o sorriso dela desapareceu, para um rígido.

-Com Kol?

-Não, com Finn, Bridget! – disse, entrando na minha casa de banho. Ela seguiu-me, fechando a porta atrás de si. – Não quero falar sobre isso.

-Tu e Kol… vocês foram… vocês fizeram – ela estava a tentar encontrar as palavras certas, tal era o seu espanto.

-Sim – suspirei, despindo o vestido e a minha roupa interior. Entrei no poliban de massagens e liguei as torneiras. – Não é como se fosse uma coisa séria, Bridget. Não me julgues.

-Kol sempre gostou de ti, sabes disso melhor do que ninguém.

Voltei a suspirar, sentindo-me a pior pessoa á face da terra por ter utilizado os seus sentimentos por mim para... Para quê afinal?

-O que tu fizeste foi para Niklaus ver que já não és a mesma Samantha?

-Kol foi um cavalheiro. Ao contrário dele – ripostei. – Céus, Bridget, deixa-me tomar um banho em paz e sossego.

Ela tocou com os seus dois dedos no seu pescoço.

-Alimenta-te para não ficar cicatriz – avisou ela e saiu da casa de banho, deixando-me em paz, lembrando-me dos beijos que Kol tinha depositado no meu pescoço.

©AnaTheresaC