Tinha um parque.Esse parque era cercado por árvores,de todas as alturas possíveis.Algumas pareciam tocar o céu,enquanto outras ficavam humildes,rasteiras.Você ouvia o burburinho das conversas alheias,e do vento soprando entre as copas.E,de vez em quando um casal passava,de braços dados,sorrindo e apontando para os pássaros que cantarolavam sem pudor.

Ali era o meu refúgio.Ou como gostava de chamar,”A paz”.Podia ficar lá por tempos,dias,anos.Era simplesmente o lugar onde você podia refletir.Pelos erros,pelos acertos.Por tudo.E era um tanto interessante fugir da realidade.Por isso eu podia passar décadas ali.

E eu ficava.A maior parte do tempo,saía com meu capuz e o boné,e sentava em um banquinho simples de madeira em baixo de uma grande e densa árvore.O parque era tampouco movimentado para que percebessem a presença de Niall Horan no local.Logo perceberiam,e eu teria que sair.Mas não queria.

Eu não era um incômodo afinal.Ficava quieto,sentado no banco,observando com olhos distantes a pequena agitação.Mas meus pensamentos se mantinham no alto,bem longe dali.Não.Eu era um incômodo.Era como eu me sentia.Me sentia um intruso na casa de quem um dia eu entrava sem bater.Agora era como se o parque fosse minha casa.Numa quinta-feira,tinha passado exatas onze horas parado,sentado.Não ligava mais pro tempo.Era inútil.Apesar de sempre olhar para o calendário,eu simplesmente tinha perdido a vontade.O interesse em si.Já havia se passado um mês.Uma bosta de um mês.

Harry.Tinha conseguido uma ligação dele,e as poucas coisas que ouvi foram do gênero “Ficarei bem,estou aqui com minha família,voltarei logo.”,com sua voz fraca,e cheia de dor.E depois um bipe.E nunca mais tinha ouvido sua voz.Ele já estava à um maldito mês em Ohio.Pelas notícias,soube onde ele estava.Notícias.Sempre e somente elas que podiam me dizer o que estava acontecendo.Nunca imaginei eu mesmo correndo para um site de fofoca adolescente e lendo que Harry Styles havia sido visto andando pelo centro de Ohio,de um elegante casaco preto e óculos escuros,com uma cara de fim.Mas eu estava lentamente desistindo.E por dentro algo gritava para que parasse de se importar.Mas não era assim que eu pensava.Ele precisava de ajuda..apenas..não a queria.E isso me fazia sentir impotente.Uma merda,pra ser sincero.Toda vez,antes de dormir,checava o celular,e esperava uma mensagem.Mas ela não chegava.Nunca chegava.E eu ia dormir geralmente segurando o choro.Podia ser melhor pra ele,mas estava fazendo mal pra mim.Mas não vou culpá-lo.É errado.Só queria que ele voltasse logo.

Zayn.Ele me mandava mensagens.De vez em quando.Ele tinha ido passar uns tempos em Bradford.Fui com ele até o aeroporto,e ele pediu pra eu permanecer forte,que ele logo estaria de volta.Apenas precisava de um tempo.E eu respeitei ele.Mas o conhecia,e sabia o que ele ia fazer.Ia se afastar e se consumir na dor.Era típico do Zayn.Iria ficar com a mãe,tentar se ocupar e apenas esquecer...mas no fim do dia,pegaria dois ou até três maços de cigarro,e os tragaria chorando.Ele mandava mensagens dizendo que estava bem e perguntando se eu estava.Ele se preocupava comigo.E por mais que não admitisse,se preocupava com Liam,demais.

Liam.As vezes parece que ele quem está em coma em um hospital.Não sai do quarto.Realmente não sai.As vezes,na madrugada,estou na varanda,pensando em tudo,e ouço passos.E sei que é ele.Ele pensa que estou dormindo ou algo do gênero,e vai até a cozinha.Abre a porta da geladeira,pega uma fruta,abocanha e se apoia na bancada,chorando novamente.Mas logo sobe,e não sai de lá por mais alguns dias.Ele deve estar doente,por não comer.Mas ele nunca abre a porta pra mim.O próprio Simon fez uma visita recentemente e mal pra ele Liam abriu.Conversamos muito e me permiti chorar na frente dele.E ele,coração de pedra,também chorou.Disse que sente falta do Louis.E ficou comigo até de manhã.Foi um pequeno remédio pra mim.Tenho que agradecê-lo por isso,mais tarde.

Louis.Sua situação não melhorou.Pelo contrário.Lentamente se degrada.Ele de vez em quando tem convulsões e queda de pressão.Vou visitá-lo sempre que posso,mas não consigo ficar por muito tempo lá.Sou um fraco.Mas apenas não consigo.E geralmente saio correndo,e venho para o parque.Eu sou o único que vai visitá-lo,e por geralmente não conseguir,me culpo.Sou o único que está de verdade ali por ele.Mas estou a ponto de cair do abismo.Precisava de ajuda.Mas não adiantava procurá-la.Porque eu sei onde ela estava,exatamente.E o ponto ali não era eu ir buscá-la.Era a ajuda vir até mim e me salvar.E essa ajuda estava se dissolvendo tão rápido quanto meu próprio coração.

Guiei meus pés até a avenida,entrando no carro e voltando mais uma vez pra casa,orando silenciosamente pra que tudo só desse certo.Voltasse ao normal.

POV Harry

Pelas pontas dos meus dedos passava o fino pedaço de seda do meu terno negro,da Armani talvez.Tinha custado tão caro.Mas uma roupa tão elegante não deveria estar vestida em um corpo cheio de vazio na alma.Os sapatos,tão lustrados,que podia ver minha própria reflexão neles.Meus olhos começaram a fitar em seguida o chão,com um tapete magenta provavelmente coberto de ácaro,e as tábuas de madeira,cheias de poeira,que se acumulavam em pequenos cantos.Escorreguei meus braços pela cama e me deitei,percebendo a dobra que fazia no terno,e o amassava.Ignorei e me encolhi,simplesmente fitando a porta,como se fosse a coisa mais importante no momento.Franzi a sobrancelha.

-Harry? – minha mãe,com uma voz açucarada,perguntou com um vestido verde-esmeralda lindo que batia um pouco antes do tornozelo,exibindo um sapato de brilhantes que eu mesmo havia comprado para ela.

-Oi. – respondi sem me mexer.

-Querido..a festa já começou. – e eu tinha percebido isso.O movimento,as conversas.Estava bem claro.O casamento tinha sido há uma hora.Participei,com o meu melhor sorriso falso no rosto,e assim que cheguei em casa me larguei na cama,perdendo a noção de tudo.

-Eu sei. – murmurei.

Ela se sentou ao meu lado,e fez um carinho no meu braço.

-Faça um esforço. – ela suspirou – as pessoas querem falar com você.

-Querem falar comigo por eu ser o famoso Harry Styles. – afirmei.Estava cansado disso – Se fosse aquele garoto de Chesire provavelmente nem iriam notar minha presença.

-Pra mim você ainda é meu garoto de Chesire.E me orgulho dele.– Anne olhou para baixo,triste e me observou. – Vai.

Eu relutei por alguns segundos,mas logo resolvi ceder.Sussurrei um “tá” para ela,e levei um beijo na testa em resposta.Ela desceu e eu apenas a segui.

Passei pelo Hall,lotado de pessoas,que me olhavam entreabrindo as bocas e falando coisas como:”Harry Styles,é ele!” Eu apenas segurava a mão da minha mãe enquanto ela me guiava até o quintal.A decoração estava linda.Realmente.Tinham lírios e rosas brancas por toda a parte,além de uma tenda cheia de luzes suaves,contrastando com o fim de tarde.As mesinhas eram cobertas por toalhas caramelo e velas com a chama acesa,ao lado de mais flores.E sem falar na louça impecável de porcelana,talheres de prata e copos de cristal.Os noivos foram os primeiros que consegui ver,que dançavam ao som de uma música clássica.Pareciam tão felizes que conseguiam contagiar o ambiente,mas não a mim.Minha mãe me soltou e acenou para que eu falasse com eles.E eu fui.

-Parabéns. – arranquei meu melhor sorriso e estendi a mão ao noivo,Christian,que sorriu de canto.Jessica me abraçou com força,e eu retribui.

-Deus!Quanto tempo. – ela exclamou,e me soltou.Pude ver seus olhos brilhando,e foi um incentivo para que me animasse pelo menos um pouco.Ela realmente se importava.

-Muito mesmo.A festa está ótima. – falei simples.

-É. – ela riu. – Estou amando. – e lançou um olhar para o marido,que sorriu.Isso me fez lembrar a mim mesmo e Louis,e afastei esses pensamentos tão rápido quanto vieram. – Mesmo por causa dos.. – ouviu-se um grito a chamando de longe – Rapazes,se me dão licença.

Assentimos e eu me senti um pouco desconfortável pelo silêncio que se seguiu.

-Tudo bem? – Chris perguntou,quebrando a tensão.

-É,tudo. – era a minha resposta padrão para todas as perguntas de como eu estava,atualmente.Enganar a si mesmo parecia ridículo.E era afinal.

-Vi o que aconteceu com seu amigo. – ele disse erguendo uma sobrancelha.Meu corpo tremeu ao ouvir isso.Sabia que iria acontecer. – Louis.

Travei,e pensei logo em um reposta.

-É,eu sei. – murmurei em voz trêmula.

-Melhoras – ele desejou com um sorriso sincero,colocando uma mão no meu ombro,assim que eu devolvi o sorriso,ele saiu.Fiquei um pouco desnorteado por alguns segundos e resolvi ir sentar em uma mesa perto da pista.Observei os casais passando e dançando.Mas novamente ele estava na minha cabeça,dominando meus pensamentos por completo.Tudo ficava mais distante a cada segundo,e imaginei como seria se os meninos,e Louis,estivessem aqui comigo.O que faríamos,como faríamos.Tudo isso passava pela minha cabeça.o fato engraçado é que eu pensava muito em como ficaria com ele,em especial,e isso me deu a maior vontade do mundo de tê-lo comigo.Mais do que ninguém.Percebi a aproximação de um garçom,e limpei a garganta,engolindo o choro.

-Aceita algumas bebida,senhor? – perguntou gentil.

Olhei a bandeja por cima,e vi alguns martinis de líquido perolado com cerejas no fundo.Peguei um,e o virei na hora.E peguei mais um.E o garçom permaneceu ali,como eu queria.Virei mais esse e por fim pedi um terceiro,estava na metade deste quando ouvi uma conhecida voz.

-Pode sair.Ele não vai beber mais. – disse Gemma.

Sorri cínico.Já sentia a bebida revirando meu estômago vazio novamente.

-Vamos curtir essa festa um pouco – e sem aviso prévio me puxou da cadeira e me levou até a pista de dança – Depois preciso falar com você. – e me encorajou a dançar,enquanto How We Do(http://www.youtube.com/watch?v=dOOxlVUC08Q)tocava animadamente.Tentei me por pra cima e dançar de leve.E logo consegui me soltar,lembrando do dia em que eu e Louis fomos a balada.Dançávamos como se não houvesse amanhã,e a sensação era tão boa.Trocávamos olhares constantes,e eu sentia que aquilo me aquecia por dentro.Tinha me perdido de Gemma,e agora dançava discreto pela pista,indo lentamente par fora dela,e fora da tenda,e longe de tudo.Um sentimento chamado saudade veio sem avisar,como uma bomba.Me afastei do movimento e sentei em uma pedra perto de uma fogueira apagada,ou quase.Abracei meus joelhos,e me permiti chorar.

Não fui forte o suficiente.Mais uma vez.

POV Narrador

Fechava o punho com força,e socava a cabeceira da cama.E socava denovo.E denovo.Sua mão já estava coberta por marcas avermelhadas,e algumas até roxas.E estava,mais uma vez,soluçando.Murmurando palavras que pareciam ser “eu sou um idiota” ou “tudo isso é minha culpa”,mas elas mal podiam ser entendidas direito.Era um martírio.Recitar essas frases como se fossem parte de uma canção,enquanto socava os travesseiros,ou a cabeceira,já que os travesseiros tinham virado um conjunto de plumas flutuantes.Parecia aliviar a tensão,mas na realidade,só machucava o coração dele mais e mais.Então ele sentou na cama,e passou a manga do casaco no rosto,respirando o tão fundo quanto pode,e se livrando do choro.Sua barriga protestou novamente e sua boca pedia por água.A única coisa colocada no estômago nos dois dias,ou três,ele de qualquer forma não contava,foi umas mordidas fulas em uma maçã.

Liam Payne olhou para sua própria cara no espelho,mas não se reconheceu.Passou um pouco de água,mas nada pareceu mudar.As olheiras tão profundas,que pareciam ser marcas de socos permanentes.Isso lhe fez pensar no soco que tinha dado em Harry.E logo parou de pensar nisso.Só tinha vontade de sofrer mais e mais.Era tudo culpa dele,afinal.

Os olhos,estavam totalmente inexpressivos e vazios,como sua alma.Vazia.Seu rosto estava vermelho devido ao choro e seu cabelo estava inteiramente bagunçado.Ele estava acabado.Apoiou os braços na pia e continuou olhando seu reflexo.E de certa forma isso o dava nojo.

Ele não dormia.Se culpava por tudo,o tempo todo,e não conseguia dormir.As vezes ouvia Niall chorando,e pelo que parecia ele estava sentado na porta,esperando Liam sair.Mas Liam não saía.Tinha vergonha de enfrentar qualquer pessoa que tivesse algo a ver com One Direction.Aliás,não queria ver ninguém.As pessoas apenas iriam dizer que ele tinha toda a culpa,e já bastava ele mesmo se culpar todos os minutos e segundos.Liam sabia que tinha tomado a atitude errada no momento que chamou Harry de Louco.Mas ele não estava de fato pensando.Toda aquela situação,Louis,Chaz ligando sempre pra saber quando eles iriam fazer uma entrevista e declarar algo vindo deles,isso tudo era muita pressão.E as vezes eles não pareciam perceber que Liam sofria com isso tudo.Que Liam sentia a falta de Louis.

Mas na concepção dele,ele era o culpado por tudo.Tinha afastado Harry,machucado Harry.Que diabos estava acontecendo com ele afinal?Liam tinha virado um monstro?Porque era isso que ele via na reflexão do espelho.Um monstro.Que estava acabando com a banda,com o sonho,e com as esperanças de todo mundo.E se culpava por tudo.Ele não passava de um merda.Um nada.E sabia disso.

Liam voltava para a cama olhando para os próprios pés e se jogava lá novamente,abraçando o travesseiro.

-Desculpa.Desculpa.Desculpa. – ele sussurrava sem parar,apertando com muita força o travesseiro e sentindo que ele estava começando a ficar molhado.Tudo o que ele queria é que nada disso tivesse acontecido,que nesse momento ele estivesse rindo enquanto ouvia Louis falar coisas idiotas,e logo depois Harry quase cair no chão de tanto rir.Tudo o que ele queria é que essa dor fosse embora.Só isso.

POV Harry

A chama da lareira permanecia alta,e me aquecia.Estava sentado bem perto dela,segurando uma perna com as duas mãos,e descansando a cabeça no sofá,em permitindo fechar os olhos por um minuto.Ouvi passos e imediatamente a levantei,e vi Gemma indo se sentar do meu lado.

-Hey. – ela disse gentilmente.

Dei um muxoxo em resposta e virei a cabeça,mas ela impacientemente a puxou,me forçando a olhar pra ela.Gemma era realmente teimosa.

-Fala. – disse tão baixo que quase eu mesmo não ouvi.

-Você vai ficar assim pra sempre? – ela perguntou e eu não respondi. – Escuta.Eu sei que não é fácil.Mas,Harry..você precisa ser forte.Precisa ser forte pelas fãs.Precisa ser forte pelo Louis. – ela pausou e eu senti meu corpo tremer de alguma forma – Pelos meninos.E pelo Liam.

Ao som da última frase,inclinei a cabeça e a olhei com curiosidade.Só Anne sabia de Liam.

-Ela me contou. – Gemma murmurou como se lesse meus pensamentos

-Liam..ele não..se importa. – falei com uma pequena dificuldade.

-Ele se importa,sim.Mais do que você pensa.

-Ele,me chamou de louco.

-Você já pensou por um minuto,que não é só você que está sofrendo com isso tudo?Haz,ele também sente falta do Louis.E isso deve estar afetando-o de alguma forma.

-Liam perde a cabeça fácil. – disse concordando.Tudo o que ela dizia fazia sentido.E eu sabia disso. – Mas o que você quer que eu faça?Apareça com um pedido de desculpas? – debochei.

-Quero que volte pra Londres. – ela disse me fitando.

-Não vou voltar. – desviei o olhar.

-E vai ficar escondido aqui pra sempre? Não vou te deixar fazer isso.

De repente meus olhos marejaram e resisti com força a vontade de chorar que apareceu do nada.Mas foi inútil.Logo estava reduzido em lágrimas.Gemma me abraçou forte,e eu afundei a cabeça no seu pescoço.

-E-eu sou um idiota.

-Não é. – e fez um carinho no meu cabelo,segurou meu queixo e me fez olhar nos seus olhos. –Vai dar tudo certo,confia em mim.

E a abracei denovo,grato pela família abençoada que tenho.

-Marquei seu vôo pra amanhã ás seis da tarde.

Eu ri fraco e ela me acompanhou.Gemma,sempre Gemma.

Agora,eu voltaria pra casa.