For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 17
XVII - De virada


Notas iniciais do capítulo

Betas Reader: Keli-chan, kikatz
Música: Deliver Me (Sarah Brightman)



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Deliver me, out of my sadness.

Livre-me, da minha tristeza
Deliver me, from all of the madness.

Livre-me, de toda loucura
Deliver me, courage to guide me.

Dê-me, coragem para guiar-me
Deliver me, strength from inside me.

Dê-me, coragem para guiar-me

 

_ Aí Thaís, troca de lugar com a Bruna pra gente jogar truco. - pediu um dos meninos que eu ainda não sabia se era o Denis ou o Pedro.

_ Demorou.

Ela se levantou e trocou de lugar com a Bruna. Ela e a Camila formaram uma dupla, e os outros dois formaram outra.Enquanto eles se matavam de blefar e aumentar o truco, eu e o Aquiles conversamos sobre o trabalho. Ele me perguntou como estava e o que eu havia escrito, então expliquei a interpretação do texto. Ao ver nossa conversa, a Bia não perdeu a oportunidade de se debruçar sobre o ombro dele para participar também.

_ Então quando eles se banham no rio, mudam de cor e de raça? - ele perguntou surpreso.

_ Não, bem, mais ou menos. O autor quis representar as três raças formadoras da nossa nacionalidade...

_ Nossa, que livro mais chato! - a Bia disse só para me confrontar.

_ Que nada, pensando por esse lado, é incrível, não é Mel? Eu não conseguiria tirar uma conclusão dessas... Se eu lesse que os caras mudaram de cor depois de entrar no rio, eu simplesmente ia interpretar que a água estava suja.

Eu não pude deixar de rir diante de observação tão simplória.

_ É, mas não foi bem isso que Mário de Andrade quis dizer. Depois dessa ele deve estar se revirando na cova...

O Aquiles também foi obrigado a rir de sua ingenuidade, e a Bia pareceu não gostar muito da nossa cumplicidade.

_ Aí! Gente, ganhamos dessas marrecas! - gritou um dos garotos que jogava truco. - Quem vai entrar no próximo?

_ Sabe jogar truco, Mel?

Nossa, que surpresa. Quem imaginaria que eu soubesse jogar truco? E o pior era que eu sabia... Até isso eu aprendi a fazer pela internet, e às vezes praticava com meu pai. Contra a vontade dele, logicamente.

_ Ah, não muito bem...

_ Beleza, eu jogo por nós dois. Vamos lá.

_ Não, melhor arrumar um outro parceiro...

_ Vai, quem sai na chuva é pra se molhar, vamos.

Ele se levantou e me puxou pela mão para os lugares das duas que tinham saído. Como assim se molhar? O que era a chuva naquele contexto maluco dele?

 

All of my life I've been in hiding.

Por toda a minha vida, eu fiquei escondida.
Wishing there was someone just like you.

Desejando que houvesse alguém como você.
Now that you're here, now that I've found you,

Agora que você está aqui, agora que eu te encontrei
I know that you're the one to pull me through.
Eu sei que você é aquele que vai me ajudar em minhas dificuldades

 

Mas acabei me sentando no lugar da Thaís e arrisquei uma rodada. O pior que poderia acontecer era perdemos. Corri os olhos nas mesas procurando pela Bia. Por que ele não a chamou para ser parceira dele? Será que ela não sabia jogar truco?

_ Ai Cris, você também vai se meter com essas brincadeiras de meninos? - perguntou numa voz nasal como se ouvisse meus pensamentos.

Ah, que beleza, agora além de estranha eu era masculinizada!

_ Desde quando você é tão machista? - perguntou a Thaís tomando as dores, uma vez que ela parecia gostar muito de truco.

_ Desde quando você é tão feminista?

_ Ainda assim acho que estou na vantagem. Passo mais tempo com eles do que você. - Só que ela apontou somente para o Aquiles.

Opa, parecia que o clima tinha esquentado. A Thaís sabia qual era o ponto fraco da Bia.

_ O tempo que passo com eles está suficiente pra mim.

_ Que bom Bia, então não vai se incomodar se jogarmos truco com os meninos, não é? - ela falava com tanta naturalidade que nem parecia que estavam prestes a se agarrarem pelas belas madeixas.

_ Claro que não, vai em frente Cris e arrasa no seu jogo de menino.

_ Cris, ignora e acaba com eles.

Agora eram duas contra a Bia. Meu exército estava crescendo. Dois a zero pra mim.

Acabei rindo sem querer.

_ Ah, deixa nossa ilustre visitante fazer as honras. - pediu um dos garotos me entregando o monte de baralho.

Provavelmente para descobrir se eu entendia mesmo as regras do jogo. E pelo que pude perceber, ele se surpreendeu quando embaralhei e pedi que cortasse o monte. Entreguei as cartas e aguardei o outro amigo dele começar a jogar.

Olhei para a carta na mesa e dela para o Aquiles. Era um inofensivo seis. Em seguida observei as minhas cartas.

_ Eu truco.

O garoto arregalou os olhos e riu.

_ Nossa, não tá meio cedo pra blefar?

Encolhi os ombros sem resposta aparente.

_ Demorou, seis. - ele rebateu.

_ Nove.

Ele riu novamente e disse:

_ Hã? - colocou uma mão no ouvido como se não tivesse ouvido minha aposta.

_ Eu quero nove.

_ Vamos lá Mel, peça nove como um garoto! - pediu o Aquiles entre risos.

_ É, isso aí, pede igual garoto Cris! - incentivou a Thaís.

O Denis/Pedro continuava com a mão no ouvido simulando não ter ouvido.

_ Nove! - arrisquei mais alto.

_ Põe mais força nesse pulmão! Assim ó: NOVE MARRECOOO!!! - gritou a Thaís, atraindo a atenção de todos na lanchonete.

Mas ela não parecia muito preocupada com isso. Era difícil imaginar a miss popular da sala tão descontraída e despreocupada com o que pensavam de suas indiscrições.

_ É, tem que dizer igual você disse ontem pra Bia! - o Denis/Pedro sugeriu.

Todos riram ao lembrar da cena, mas eu fiquei preocupada. Olhei para a Bia e não me surpreendi com a expressão zangada dela.

_ É, a Cris botando moral... - comentou a Thaís entre uma gargalhada e outra.

_ Ai gente, por favor, foi sem querer... - tentei contornar.

_ Não liga não Cris, eu sei que todo mundo aqui nessa mesa é bobo alegre. - finalizou a Bia.

Ela só não queria que continuassem lembrando do momento em que a fiz se calar com apenas uma frase de efeito. Três a zero pra mim.

_ Mas e aí, você tá querendo correr? - perguntei ao meu adversário.

_ Muito pelo contrário! Eu quero é doze!

_ Vixi, chamou na chincha, hein Mel... - o Aquiles não parecia muito confiante na minha jogada.

Coloquei minha carta na mesa. Era a manilha de ouros. O garoto gargalhou vigorosamente quando viu a carta e disse:

_ Você pegou um pica fumo e achou que já podia arrebentar? - dizendo isso ele jogou uma manilha de copas.

O Aquiles jogou uma carta qualquer e o outro também. Perdemos a primeira rodada.

_ Legal, doze de uma vez só! - o outro comentou com o amigo.

Joguei um três na mesa e ganhamos a rodada, pois nossa dupla adversária esperava ganhar a última rodada. Antes que eu pudesse colocar minha última carta na mesa, o garoto ainda disse para o Aquiles:

_ Você vai ser zoado até o fim do ano por essa derrota, tá sabendo, né?

_ Calma compadre, você não sabe do que essa garota é capaz. - dizendo isso deu uma piscadela maravilhosa para mim, e eu quase esqueci que tinha que jogar a minha carta.

 

Deliver me, loving and caring.

Dê-me amor e carinho.
Deliver me, giving and sharing.

Dê-me, entrega e colaboração
Deliver me, the cross that I'm bearing.

Livre-me da tribulação que estou sofrendo.


Uma gritaria ensurdecedora tomou conta das nossas mesas quando joguei a carta.

_ Eu disse compadre, eu disse! - riu o Aquiles. - Não Mel, o zap você cola na testa do adversário! - dizendo isso tentou colar a carta na cabeça do outro engraçadinho.

_ Vixi Denis, vamos lembrá-lo até o fim do ano dessa derrota! - comentou a Thaís rindo-se do amigo.

_ Na próxima vou querer parceria com a Cris! - reclamou o outro perdedor.

Eu já não sabia se fizera bem ou mal, mas estava divertido. Pelo jeito eu tinha ficado popular.

_ Minha nossa, olha as horas! - comentei assustada ao olhar no relógio.

_ Ih, relaxa Cris... É só revisão pra prova, não pega nada. - a Thaís me tranquilizou.

_ Mesmo assim... Bom, eu vou indo, porque ainda vou passar no banheiro.

Dizendo isso impediria o Aquiles de vir atrás de mim. Estavam confraternizando tão bem... Seria injusto o Aquiles deixar a rodinha de amigos pra fazer companhia pra nerd anti-social.

Consegui deixar a lanchonete entre muita ovação e me dirigi ao banheiro. Lavei minhas mãos que pareciam estar empoeiradas por causa das cartas e dei uma olhada no espelho. Soltei aquele coque ridículo e decidi deixar o cabelo solto. Não estava tão armado como de costume, e as pontas duplas também não estavam muito visíveis. Precisava ir urgentemente a um salão.

_ Oi! Que coincidência!

Sei...”

Até parece que a Bia não tinha me seguido até o banheiro. E o que pretendia? Me dar uma surra? Não fazia muito o estilo dela...

_ É. Muita.

Virei-me novamente para o espelho e dei uma olhada discreta na minha aparência.

_ Posso te fazer uma perguntinha?

Encarei-a pelo espelho mesmo.

_ Outra?

Ela deu uma risadinha desdenhosa, e então perguntou curta e grossa:

_ Você está afim do Aquiles?

_ O quê?!

Acabei me virando para encará-la de frente.

_ Ah, sei lá... Achei que estivesse... A forma como você fala com ele... Como age na presença dele... Ah, sabe como é, nós mulheres nos entendemos!

_ Não estou afim dele, Bia. Mas pensei o mesmo de você.

_ Eu? Parece que estou?

_ Parece.

Ela riu e abanou uma das mãos como quem dizia “imagina”.

_ Então parece que nós duas nos enganamos. - finalizou.

_ Concordo.

Virei e comecei a sair do banheiro. Mas ela não ia deixar por aquilo mesmo.

_ O Aquiles é meu amigo há muito tempo e gosto de você também... Eu só não quero que vocês acabem sofrendo Cris... Você sabe que ele tem namorada há muito tempo, não é?

Parei, mas não me atrevi a me virar.

_ Ah, acho que ele não chegou a te contar isso mas... Você sabia que ela é modelo?

Dez a três para a Bia.

Continuei imóvel na mesma posição. O que ela pretendia com aquela afirmação?

_ Nem eu me arriscaria a competir com ela... - continuou.

Ah. Entendi. Se nem mesmo ela, dona de uma beleza tão invejável se atrevia a isso, imagine eu...

Sem dizer mais nada deixei o banheiro e segui para a sala. O que havia de tão extraordinário nas informações da Bia? Afinal, eu já sabia que ele tinha namorada. E eu não estava afim dele. Então, qual o problema da namorada dele ser linda de morrer?

 

All of my life I've been in hiding.

Por toda a minha vida, eu fiquei escondida.
Wishing there was someone just like you.

Desejando que houvesse alguém como você.
Now that you're here, now that I've found you,

Agora que você está aqui, agora que eu te encontrei
I know that you're the one to pull me through.
Eu sei que você é aquele que vai me ajudar em minhas dificuldades

 

Prendi o cabelo novamente de qualquer jeito, irritada. Quando cheguei na sala já tinha bastante gente, parecia que só faltava mesmo o Aquiles e a turminha do truco.

Depois que eles chegaram acabamos não nos falando. No fim da aula ele me esperou para irmos juntos para a aula de química.

_ Quem diria, além de crânio você é sortuda! - brincou lembrando da vitória inesperada.

Confirmei balançando a cabeça, mas sem prestar muita atenção.

_ Ficou brava com as brincadeiras dos meninos?

_ Eu? Não, por quê?

_ Nada, achei que estivesse irritada.

_ É, eu também achei. - intrometeu-se a Bia com ar preocupado.

_ Só estou preocupada com a aula de química... Talvez o professor resolva implicar com a gente...

_ Não esquenta, Mel. Ele já fez o que tinha que fazer. - ele tentou me tranquilizar, contrariado com a atitude do professor.

_ Tem razão. - Eu só queria fazê-los parar de falar.

O professor não se dirigiu a nós durante a aula, e engatou a explicação da matéria nova. Concentrei-me no professor e não me atrevi a olhar para o lado durante toda a aula. Mas pelo canto do olho eu ainda consegui perceber que às vezes ele olhava pra mim. Só não sabia se estava intrigado com o meu comportamento ou com alguma dúvida. Mas eu também preferi não descobrir.

 

Livre-me,

Deliver me,
Livre-me,

Deliver me,
Oh livre-me.
Oh deliver me.

 

Desci em silêncio e como a Bia desceu com a gente, não precisei me explicar.

_ Então tchau pra vocês, e até amanhã. - ela se despediu de nós dois com beijos. - Tem que vir vitaminado amanhã, hein Aquiles... Tem aula de educação física e as partidas começam a semana que vem, não é?

_ Não tenha dúvidas. Falou Bia.

Eu já estava descendo em direção ao ponto.

_ Mel?

_ Sim?

_ Tá tudo bem mesmo?

_ Claro que está. Parece mesmo que estou irritada?

_ Sei lá, você tá meio quieta, pensativa...

Sorri, achando aquilo engraçado.

_ Acho que sempre fui assim, Aquiles.

_ Hoje você está especialmente quieta e pensativa.

_ É só a emoção de ganhar a partida de truco.

_ Hum! Tô sabendo!

Ele continuou falando mais algumas besteiras e eu fiz força para demonstrar naturalidade. Qual o problema em não querer papo?

_ Até amanhã. - me despedi distante enquanto embarcava no meu trólebus.

Chegando em casa almocei e me joguei no sofá. Eu só queria dormir. Muito.

 

Deliver me,

Livre-me,
Oh deliver me.

Oh livre-me
Won't you deliver me
Não vai me livrar?

 

Continua


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Notas finais do capítulo

*
*
N/A: Meus dois amorezinhos betaram a fic pra mim dessa vez! Tô importante? Não, tenho amigas maravilhosas!
E as leitoras então? Cara, me derreto a cada review q respondo... Todos, todos!
Amo vcs!
Kissus!