O sinal para o almoço tinha acabado de bater. Rachel levantou calmamente da sua mesa, e vislumbrou a silhueta de Brittany a aguardando na porta da sala, indo em sua direção. Estava preocupada com Quinn, e isso a deixava maluca. Não encontrou a loira em nenhuma das classes em que compartilhavam, e estava constrangida demais para tentar puxar conversa com os outros alunos.

Não tinha nem conseguido perguntar a Santana o que havia acontecido mais cedo, já que a latina se esforçou para desviar o assunto.

Por isso seguiu até a Brittany. Talvez ela pudesse ter alguma notícia.

“Oi Rach.” A loira sorriu, mostrando uma fileira de dentes brancos. “Como foi a aula?”

“Foi boa Brit.” A morena retribuiu a sorriso. “Onde estão Quinn e Santana?”

“Esperando no refeitório.” Ela agarrou o braço moreno em um aperto firme, e foi puxando a judia em direção ao aglomerado de pessoas.

Elas entraram no refeitório, e avistaram a mesa com as garotas com extrema facilidade. Era uma mesa no lado esquerdo da grande sala, de frente para uma enorme janela de vidro. Era ocupada por vários jovens que a morena tinha certeza ter visto em algumas das classes que teve pela manha. Brittany soltou seu braço e saltitou – porque aquilo não era nada parecido com andar – em direção a Santana, que sorriu radiante ao ver a namorada.

A morena continuou o caminho lentamente, e sentou em uma cadeira vaga no lado direito de Quinn. A loira estava tensa, e encarava com fúria a mesa dos jogadores de futebol, mas a carranca relaxou em um sorriso imediato assim que ela sentiu a presença da morena.

“Rach.” A saudação saiu de forma suave pelos lábios finos, acompanhada de um sorriso doce. Não parecia em nada com a expressão que a loira tinha até segundos atrás.

“Oi Quinn.”

A mesa com os garotos do Glee Club tinha ficado em silêncio desde o momento que a morena tinha chegado, e agora era acompanhada pelos olhares arregalados de todos. Finalmente descobriam quem era a morena que foi defendida tão apaixonadamente pela HBIC, e todos estavam completamente abismados e confusos com o motivo da atitude tão extrema por ela adotada.

Bom, quase todos estavam abismados.

Os garotos Finn e Puck estavam mais preocupados em manter a boca fechada ao encarar a morena. Ela podia sentir os olhares em si, e começava a se sentir profundamente constrangida. O que era realmente muito engraçado, já que a judia adorava receber atenção.

“Não vai nos apresentar sua amiga Q?” Um garoto com cara de bebe perguntou encarando a loira e todos a sua volta concordaram com um aceno de cabeças.

“Rachel esse é o pessoal. Pessoal essa é Rachel Berry.” Ela gesticulou de má vontade e depois agarrou a mão da judia, fazendo a garota corar levemente.

“Prazer em conhece-la Rachel.” O mesmo garoto tomou a frente de todos os outros e estendeu a mão em direção a morena, que apertou a sua levemente com a mão que não segurava a de Quinn. “Estavamos imensamente curiosos para saber quem era a morena misteriosa que fez a nossa capitã aqui parar o colégio. A propósito, sou Kurt Hummel, irmão dessa loira pscicótica.”

A mesa explodiu em risos depois da apresentação de Kurt. Rachel olhou interrogativamente para Quinn, já que não tinha entendido como o menino poderia ser seu irmão, mas a loira deu de ombros e começou a fazer circulos com os dedos nas mãos morenas da judia.

Um a um os garotos do coral foram se apresentando, e a morena foi descobrindo um pouco sobre cada um deles.

Kurt era gay e seu pai havia se casado a pouco mais de 2 anos com a mãe de Quinn – por isso tornou-se irmão dela -, e namorava a pouco mais de 1 ano com Blaine Anderson; Blaine era um menino muito bonito e pouco mais novo que o namorado, e se transferiu para o McKinley por causa de Kurt; Mercedes Jones era uma garota negra cheia de atitude e atual líder feminina do coral da escola; Sam Evans jogava futebol e era um garoto loiro muito bonito que podia se passar facilmente por uma versão masculina de Quinn ou talvez seu irmão gêmeo – se não fosse pela cor dos olhos e pelos lábios enormes -, e namorava a diva negra do coral; Artie Abraams era um menino tímido e usava cadeira de rodas, e Rachel descobriu que era um incrivel rapper; Tina Cohen-Chang era uma asiática baixinha com um visual um pouco gótico e namorava Mike; Mike Chang era asiático e jogava no time de futebol do colégio, era um dançarino fantástico e junto com Brittany montava as coreografias do coral; Noah Puckerman – ou Puck, como gostava de ser chamado - , usava um moicano e também era do time de futebol, sendo sem duvida nenhuma o badboy do grupo. Ele não tinha tirado os olhos das pernas da morena desde que ela havia chegado. Finn Hudson era jogador de futebol e o líder masculino do coral, um gigante que parecia desengonçado e que demostrava interesse na judia.

Pouco a pouco Rachel foi relaxando na presença daquele estranho grupo. A conversa fluia facilmente entre eles, mas foi basicamente centrada nas audições para novos membros para o coral.

“Nós precisamos de alguma voz como a da Harmony, e rápido.” Artie pontuou sabiamente e todos agitaram suas cabeças concordando.

“Quem é Harmony? Ela faz parte do coral?” A morena virou para Quinn e viu o semblante da loira endurecer levemente a menção do nome da garota. A capitã das cheerios desviou o olhar da mesa e largou a mão da morena que ainda segurava, levantando e saindo do refeitório. Rachel seguiu seu movimento confusa e quando fez menção de levantar, foi parada por Brittany.

A loira tinha uma expressão fechada no rosto bonito, os lábios formando uma linha fina e as sobracelhas levemente franzidas. Rachel a olhou interrogativamente.

“Deixa ela Rach.” Suspirou lentamente, a voz subitamente cansada. “Harmony era a nossa capitã no coral, e foi namorada da Q. A história delas é um pouco complicada e o término não foi nos melhores termos. Quando a Q estiver pronta ela vai te procurar.”

“Tudo bem.” A judia sorriu de forma leve e recebeu um em troca de Brittany. Conhecia Quinn o bastante para saber que uma hora ou outra ela falaria. “Me contem mais sobre o coral.”

E assim o intervalo correu. A morena nem viu o tempo passar, de tão absorta que ficara nas conversas que se seguiram. Descobriu que o clube do coral tinha sido reativado a quase quatro anos, e era bicampeão na competição nacional de corais. Os garotos insistiram para que ela fosse na reunião do Glee que teria no final da aula, e depois de um pouco de drama e caras pidonas a judia aceitou.

O restante das aulas passou como um borrão, e logo Rachel era arrastada por Kurt e Mercedes – com quem dividira a classe – para a sala do coral New Directions. Eles cruzaram o mar de alunos e com alguma dificuldade conseguiram adentrar a sala, encontrando praticamente todos os garotos por lá. Rachel avistou as líderes sentadas na última fileira de cadeiras e não hesitou em se juntar a elas. Sentou em uma das cadeiras vagas ao lado de Brittany e recebeu um abraço apertado da garota.

“Rach. Como foi o resto do dia?”

“Foi bom Britt.” A loira sorriu com a resposta da judia. “Só não vi vocês na classe que deviamos ter compartilhado.”

“A treinadora queria falar com o plantel” Brittany deu de ombros.

“Quando eu digo que a treinadora Sylvester está ficando louca, ninguém acredita.” A latina comentou atraindo a atenção da morena. “Tenho dó é da Fabray que ainda está na sala dela.”

“Será que vamos ter que resgatar a Q?” A pergunta da loira fez Rachel franzir o cenho e depois olhar de forma divertida. “Eu lembro da vez que tive que resgatar o Lord Tubbington do carinha do filme. Será que vai ser assim com a Quinn?”

Rachel fechou os olhos levemente e se forçou a fazer uma expressão séria. Coisa muito complicada quando a loira soltava esses tipos de comentários.

“Não vai precisar Britt.” Quinn surgiu na frente das garotas e as assustou. Tomou a cadeira ao lado de Rachel e sorriu. “Eu consegui fugir dela antes.”

“Ainda bem.” Brittany sorriu brilhantemente.

E com isso um homem usando coletes entrou na sala. A morena o reconheceu como sendo o professor de espanhol Will Schuester.

“Bem vindos de volta garotos.” Ele saudou todos, e as conversas foram cessando lentamente. Abriu um sorriso de covinhas e se posicionou na frente da classe. “Como foram de férias?”

Os garotos começaram a falar ao mesmo tempo e o professor soltou uma sonora gargalhada. Sentira muita falta dos filhos postíços durante as férias, e agradecia por estar os reencontrando mais um ano. A única baixa tinha sido Harmony – que tinha se formado – e ele se sentia muito triste pelo modo que as coisas entre ela e Quinn tinham terminado.

As duas garotas sempre foram um dos melhores duetos do Glee e formavam, sem sombra de dúvidas, um dos casais mais bonitos do clube e do colégio. Nunca soube os detalhes do fim do namoro, mas o suficiente que viu o deixava preocupado com a loira.

Inevitavelmente passou seu olhos claros pelas fileiras de alunos, parando em Quinn. A loira sentava ao lado de uma garota morena, que ele reconheceu como Rachel Berry. A morena tinha tido classe de espanhol e mostrou um domínio excelente da língua, quase tão bom quanto Santana. O professor também havia ouvido um comentário circulando pelo colégio de que Quinn Fabray tinha defendido uma morena novata – Rachel – e quase deixado Azímio traumatizado. Olhou preocupado para as duas e a loira sentiu o olhar do professor em si.

“Algum problema Sr Shue?” A voz da loira saiu um pouco mais dura do que pretendia e o professor focou nela. “Você gostaria de falar comigo?”

“Não Quinn, só estava pensando.” Ele negou e virou de costas para a classe, mexendo nos materiais que havia trazido.

“Sr Schue!”

“Sim Kurt?” Ele virou em direção ao garoto - que estava sentado entre Blaine e Mercedes.

“Nós temos uma pessoa para te apresentar.” O garoto sorriu e a morena sentada ao lado de Quinn bufou alto, fazendo ele rir levemente. “Ela acabou de chegar na escola e vai assistir nossa aula hoje.”

“Se não tiver nenhum problema.” A voz forte da morena foi ouvida e um rubor se espalhou pelo seu rosto enquanto esperava a resposta do professor que olhava curioso em sua direção. “Eu realmente entendo se o senhor achar melhor que eu não acompanhe a aula, tendo em vista que eu não faço parte do clube, mas garanto ao senhor que não tenho quaisquer intenções de prejudicar sua classe e vou sair no exato momento que me for solicitado.”

Schuester olhou espantado com o pequeno discurso da judia. Ela o lembrou tanto de Harmony. Não só a ele mas aos outros garotos do coral também.

“Não tem nenhum problema senhorita Berry.” Ele sorriu e a morena relaxou na cadeira, buscando a mão de Quinn.

“Rachel.” A morena suspirou. “Pode me chamar de Rachel.”

O professor sorriu e balançou a cabeça assentindo. Se virou para o imenso quadro que havia em uma das paredes e escreveu em letras garrafais “AUDIÇÕES”, virando novamente para os alunos.

“Nós precisamos fazer audições para encontrar uma substituta ou substituto para a Harmony.” Ele começou com a expressão preocupada, olhando para cada um dos garotos. “Precisamos preparar a equipe para as competições desse ano, e para ganhar novamente as Nacionais. Mas precisamos de uma voz poderosa como a dela. A tarefa de vocês essa semana é trazerem pelo menos uma pessoa cada um para se apresentarem para o Glee. O melhor se junta ao New Directions.”

“Rachel, porque você não tenta?” Kurt se virou para a morena, que o olhou confusa. “Faça uma audição. Tenho certeza que existe uma ótima voz ai dentro.”

“A Rach é uma ótima cantora.” Quinn falou pela primeira vez e a morena se sentiu corar. “Você deveria fazer essa audição mesmo.”

Quinn tinha um sorriso imenso no rosto e a morena sorriu de volta.

“Eu também acho que a Berry tem que tentar.” Uma voz latina foi adicionada a conversa.

“Vai lá Rach.” Quem a encorajava agora era Brittany e a morena assentiu lentamente uma vez. Estava prestes a tentar entrar para o clube de coral do colégio, e se sentia absurdamente nervosa.

“Sr Schue? A Berry aqui vai fazer uma audição.” Santana falou e todos os olhares se viraram em direção a Rachel, que mordia levente o labio inferior. “Vai lá e arrasa Rachel.”

“Tem certeza disso Rachel? Não quero que se sinta forçada.” O professor falou cauteloso, mas por dentro estava se matando para ouvir a garota cantar. Se o monólogo de antes fosse um indício, a morena podia ser mais parecida com Harmony do que ele previra.

“Eu tenho certeza.” Ela respirou fundo e desceu os degraus. “Vocês tem alguma preferencia de música ou eu posso escolher?”

“Pode escolher.” Schuester voltou a sorrir e depois sentou em uma das cadeiras.

Rachel foi lentamente até os músicos que estavam na sala. Falou para eles qual música cantaria e depois caminhou até o meio da sala, virando para todos eles. Doze expressões de expectativa a encaravam, esperando ansiosamente pela música. A única que tinha uma expressão presunçosa no rosto era Quinn – que já havia te ouvido cantar milhões de vezes em todos os anos que se conheciam.

“Eu vou cantar uma música que está no topo do meu Ipod nos últimos dias. Ela se chama Titanium, e é uma parceria entre David Guetta e Sia. Espero que gostem.” Tomou uma profunda respiração e fez sinal para a banda começar.

Os primeiros acordes da música soaram, com o acompanhamento marcado do piano – que fazia as vezes da parte eletrônica – dando outra cara a músca, e logo a voz de Rachel preenchia a sala.

You shout it out

But I can't hear a word you say

I'm talking loud not saying much

I'm criticized but all your bullets ricochet

You shoot me down, but I get up

Todos olhavam admirados para a morena, que cantava com toda a sua alma. Cantar sempre fora uma terapia para Rachel, e agora a vontade de entrar no clube era somada a isso, fazendo a morena cantar com todo o coração.

I'm bulletproof, nothing to lose

Fire away, fire away

Ricochet, you take your aim

Fire away, fire away

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

A voz da morena foi crescendo no refrão, se misturando com os instrumentos. Ela olhou para Quinn que trazia um olhar orgulhoso no rosto bonito, e depois encarou Santana e Brittany, que mesmo perplexas tinham um brilho de orgulho nos olhos.

Cut me down

But it's you who'd have further to fall

Ghost town, haunted love

Raise your voice, sticks and stones may break my bones

I'm talking loud not saying much

I'm bulletproof nothing to lose

Fire away, fire away

Ricochet, you take your aim

Fire away, fire away

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

I am titanium...

Stone-hard, machine gun

Firing at the ones who run

Stone-hard, that bulletproof glass

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

You shoot me down but I won't fall

I am titanium

You shoot me down but I won't fall

E num ultimo suspiro ela sussurra a última frase.

I am titanium

E a sala do coral explodiu em aplausos. Eles nunca tinham ouvido uma voz tão potente quando a da judia, e ficaram boquiabertos. Sempre pensaram que não tinha uma voz tão poderosa quanto a de Harmony e encontrar uma maior em uma garota de pouco mais de um metro e meio. Era algo simplesmente incrível e impressionante.

“Uau.” Foi a única coisa que saiu dos lábios do impressionado professor. Rachel sorriu para ele e viu Quinn descendo da sua cadeira e se aproximando com um sorriso enorme do rosto.

“Foi incrível Rach.” A voz doce chegou antes da loira e o sorriso de Rachel se ampliou. “Você está mais impressionante do que antes. Simplesmente perfeita.”

Quinn abriu os braços e a morena se atirou em sua direção. Sentiu um leve beijo no topo da cabeça e aspirou o cheiro que a loira exalava.

“Rachel, você está completamente dentro do clube.” Schuester falou assim que se recuperou da apresentação explosiva da judia. Ele tinha certeza de que com ela na equipe a vitória era mais do que certa. Afinal, a garota cantava mais do que a melhor cantora que o Glee já teve.

Um a um os garotos foram parabenizar a morena. Eles estavam impressionados e deixaram isso absolutamente claro.

“Garota, se eu cantasse como você estaria rica agora.” Santana falou quando conseguiu chegar na judia. Seus olhos negros ainda estavam arregalados e a boca levemente aberta. “Como um corpo tão pequeno pode ser dono de uma voz assim?”

“Foi lindo Rach.” A loira de olhos azuis sorriu e abraçou a judia apertado. “Me ensina a cantar assim?”

“Claro Britt.”

Logo depois todos foram dispensados. Enquanto caminhavam para os carros iam contanto a Rachel coisas que ainda não havia contado sobre o clube.

Quando a judia se preparava para entrar no Jeep da latina, uma mão pálida segurou levemente seu braço. O arrepio foi o suficiente para saber quem era.

Quinn.

“Quer que eu te leve? Quero dar oi para seus pais.”

“Se não tiver problema.”

“Nenhum Rach.” A loira puxou a outra até o New Beetle vermelho estacionado ao lado. Kurt e Blaine já estavam dentro do carro e sorriram para ela. Quinn abriu a porta do caroneiro e esperou a morena entrar, antes de dar a volta e entrar no carro. Ela acenou para a latina no Jeep e então finalmente começou a tirar o carro do estacionamento. “Me guie.”