O som absurdamente alto do despertador tirou a morena do mundo de sonhos que estava. Ainda meio desnorteada conseguiu o desligar e quando fechou os olhos por um pequeno instante, sua porta for aberta de forma afoita por um de seus pais.

“Estrelinha, está na hora de levantar.” O homem alto e forte andou em direção a cama, sorrindo de forma larga e mostrando a carreira de dentes perfeitamente brancos. "Primeiro dia de aula na volta a Lima."

“Eu tenho mesmo que ir?” A morena abriu lentamente os olhos e a imensidão chocolate focou o rosto sorridente de Hiram. “Eu não quero ir para a escola.”

“Mas suas amigas já estão ali em baixo esperando.” Ele riu suavemente da cara de desgosto da filha e puxou o endredom que a cobria. “Eu acho que vou começar a contar umas histórias vergonhosas da sua infância para elas.”

“Você não faria isso.” a voz saiu chocada e os olhos se estreitaram. “Papai, você não faria isso.”

“Paga pra ver estrelinha?” O homem arqueou a sobrancelha e ameaçou sair do quarto, sendo impedido pelos braços da morena que o seguraram. “Vai se arrumar logo. Te dou dez minutos até começar com as histórias.”

O homem nem bem terminou de falar e a morena já corria em direção ao seu banheiro. Ele gargalhou alto e balançando a cabeça em descrença saiu do quarto da filha. Não demoraram nem dez minutos e Rachel já aparecia na porta da cozinha totalmente vestida. Tinha escolhido uma calça jeans escura que abraçava suas curvas e uma camiseta branca soltinha. Completou o look com um par de sapatilhas pretas.

Uma garota loira e uma latina conversavam animadamente com seus pais enquanto esperavam pela morena. As duas usavam um uniforme vermelho das lideres de torcida.

“Ei Rach.” A loira foi a primeira a perceber sua presença e a puxar para um abraço apertado.

“Oi Britt.” A morena sorriu levemente. “Oi San.”

“Oi Berry.” A latina devolveu o sorriso. “Vamos? Eu e a Britt ainda precisamos conversar com a nossa capitã.”

A morena assentiu e todas se despediram dos pais da garota. Rachel correu até seu quarto e buscou o material. Do lado de fora da casa, Santana e Brittany a esperavam encostadas no Jeep da latina. As duas estavam presas no próprio mundinho de felicidade e não viram a aproximação da morena, que abrindo um sorriso malicioso se aproximou das meninas.

“BUUUUUHHH.”

“AAAAAAAAAHHHHHHHHHHH.” As garotas gritaram assustadas e a morena começou a gargalhar. A risada era tanta que algumas lágrimas já escapavam dos seus olhos. Ela só parou quando a mão pesada da latina encontrou seu braço.

“Ai San, não precisava disso.” Ela resmungou e entrou no carro, fechando a cara.

A latina sorriu maldosamente e contornou o Jeep, abrindo a porta para a loira, que sorriu apaixonada em sua direção. Santana voltou a contornar o carro, e entrou no lado do motorista, dando enfim a partida. Brittany cantava animadamente uma música e logo foi acompanhada por Santana, enquanto Rachel gargalhava da tentativa improvisada de cantarem Me against the Music.

Em poucos minutos já se aproximavam do prédio imenso que abrigava o colégio William McKinley High School. Alguns poucos carro já ocupavam o estacionamento e a latina estacionou o imenso Jeep ao lado de um New Beetle vermelho. As três garotas sairam do carro e quando a morena fazia mensão de seguir para a entrada do colégio, a loira segurou seu braço e a puxou em direção ao ginásio.

“Acha mesmo que a gente ia te deixar sozinha pelo colégio Berry?” A latina revirou os olhos assim que as garotas de aproximaram.

“Nós só precisamos falar com a Q, e depois te levamos conhecer a escola Rach.” A loira sorriu em sua direção e a morena assentiu.

O barulho de um megafone já podia ser ouvido ao longe, e em poucos intantes a morena ouviu a voz de quem presumiu que fosse a Treinadora das cheerios, que gritava insultos aos quatro ventos. Ela observou Brittany e Santana apertarem o passo, e tentou as acompanhar do jeito mais rápido que conseguiu. As perdeu de vista não muito depois, mas continuou seguindo os gritos da mulher, até encontrar a entrada do ginásio. Lá dentro encontrou muitas garotas vestidas com o uniforme das cheerios e avistou uma garota loira sentanda ao lado de uma mulher também loira que gritava ao megafone. Céus, aquela deveria ser a Treinadora Sue Sylvester, a mais temida e vitoriosa treinadora das cheerios de todo o país.

Se aproximou de forma acanhada de Santana e Brittany, que conversavam com uma garota ruiva, que presumiu que fosse a tal Q. A ruiva se virou e correu em direção as duas loiras sentadas. Rachel se colocou ao lado das amigas.

“Ela é a Q que vocês queriam conversar?”

“Não, essa é a Stacey.” A latina falou. “Ela foi chamar a Q.”

“A Q é a garota com a Treinadora Sylvester então?” A morena tornou a perguntar.

“Isso mesmo Rach.” Quem respondeu agora foi a loira, fazendo a morena se virar em sua direção e de costas para a garota que agora caminhava em direção as meninas. “Oi Q.”

“Oi S. e B.” Uma nova voz foi adcionada a conversa. “Olá garota que eu não conheço.”

A morena tinha ficado tensa no momento que escutou a voz. Ela conhecia aquela voz a muito tempo, mas mesmo assim custava a acreditar que a estava ouvindo depois de longos quatro anos. Se virou lentamente e encarou a garota que estava em sua frente. Os cabelos loiros agora estavam curtos e bagunçados, e os olhos esverdeados adquiriram um brilho de reconhecimento assim que pousaram no rosto da morena.

“Rachel Berry?” O tom de voz da loira era incrédulo e ela sacudiu a cabeça lentamente para se certificar que não estava tendo alguma alucinação. “Isso é inesperado.”

“Quinn Fabray.” O nome saiu da voz trêmula quase em um sussurro, mas a loira pode ouvir e um sorriso amplo se apoderou dos lábios finos. Ela se aproximou cautelosamente e abriu os braços, esperando que a morena a cumprimentasse, coisa que não demorou nem dois segundos para acontecer. O corpo pequeno ainda se encaixava perfeitamente nos braços longos e pálidos da mais alta, que o apertou fortemente contra o seu. Um tremor percorreu o corpo de ambas, que se deliciavam com o contato.

“Alguém pode me explicar que diabos acontece aqui?” A latina as encarava de forma confusa, assim como a namorada e todas as cheerios do ginásio. “Vocês duas se conhecem de onde?”

“Ela era minha melhor amiga antes da minha família se mudar.” A morena respondeu ainda sem se soltar da garota loira.

“Então ela é a garota que você falava?” A latina arqueou a sobrancelha direita e abriu um sorriso malicioso. “Bom saber disso.”

“Do que ela está falando Quinn?” Rachel encarava as duas confusa.

“De nada. Essa latina é só uma intrometida.” A garota se fez de desentendida e se virou para as cheerios que ainda olhavam. “Vocês não tem algo para fazer? A treinadora está lá e não aqui.”

E em menos de dois segundos todas as garotas viraram para a treinadora Sylvester. Afinal, ninguém queria arrumar encrenca com a HBIC do McKinley.

“Mas então, vocês queriam falar comigo?” Quinn perguntou para as duas lideres.

“É que nós queriamos dispensa do treino de hoje de manha.” A latina mudou desconfortavelmente de lugar, esperando uma negativa da capitã.

“Nós queriamos mostrar o colégio para a Rach.” A loira de olhos azuis abriu um sorriso brilhante.

“Podem ir. Nós só estamos selecionando novatas mesmo.” A capitã deu de ombros e soltou um suspiro longo. “Na verdade eu acho que vou com vocês. Não aguento mais ouvir a treinadora gritar naquele maldito megafone.”

E só para dar mais enfase a fala da loira a treinadora voltou a gritar.

“Vocês são as maiores vergonhas que eu já vi. Caiam fora antes que eu tenha que furar os olhos. Q? Traga essa bunda magrela pra cá AGORA.”

A loira revirou os olhos e suspirando seguiu até a treinadora, enquanto as outras garotas continuaram no mesmo lugar. A morena tinha os olhos arregalados do tamanho de pires, e isso estava fazendo a diversão de Santana.

“Fecha a boca antes que entre mosquito Berry.” A risada da latina foi alta e Brittany acompanhou.

“Ela sempre é assim? Quero dizer, como vocês aguentam Sue Sylvester como treinadora?” A morena perguntou ainda chocada com o modo que a mulher tratava suas cheerios.

“Hoje ela tá boazinha Rach.” Quem falou foi a loira, fazendo Rachel abanar a cabeça em descrença. “Mas só porque é o primeiro dia.”

As garotas esperaram mais algum tempo e mais alguns gritos da treinadora até que Quinn voltasse a se reunir a elas. A loira tinha um sorriso no rosto, e encarava Rachel descaradamente, coisa que foi percebida por Santana. A morena deu um passo a frente e enganchou seu braço no braço pálido de Quinn, que ampliou mais ainda o sorriso que carregava. Ela não conseguia acreditar que sua Rachel estava de volta a Lima. E mais linda do que ela lembrava.

“Então, nós podemos ir ou as pombinhas ainda precisam de um convite?” A voz da latina arrancou as garotas da bolha que haviam entrado. “Eu já tô ficando velha aqui de tanto esperar pelas duas.”

“San.” Brittany repreendeu a namorada, que abaixou a cabeça envergonhada. Isso só fez as outras garotas rirem e a latina bufar irritada.

“Vamos então sua latina mau humorada.” A capitã puxou braço da amiga com a mão livre, e todas seguiram em direção aos corredores.

Primeiro passaram na sala do diretor para saber os horarios das aulas da morena. Ela acabou compartilhando inúmeras aulas com as cheerios e outras tantas com pessoas que as garotas conheciam e se comprometeram em apresentar. Então seguiram para o armário de Rachel, que ficava de frente para o de Quinn. A latina e sua namorada foram buscar seus materiais para as classes do dia, e a loira também foi.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido. Pelo canto do olho a capitã das cheerios viu um dos jogadores do time de futebol se aproximar da morena com um copo de slushie nas mãos. Era uma tradição maldita que tinham na escola. Jogar o liquido pegajoso na cara de todos os novatos. E na cara dos membros do Glee Club antes da entrada das lideres.

Ela nem pensou muito, e instintivamente se colocou na frente da morena, no exato momento que o jogador atirou o slushie em seu rosto. A loira mal teve tempo de fechar os olhos e já estava toda coberta do liquido gelado.

O silencio que se seguiu foi sepulcral. Todas as pessoas que passavam pelos corredores congelaram. A loira abriu os olhos lentamente, e os cravou com furia no enorme jogador o fazendo retroceder com medo. Nunca tinha visto tanto ódio no olhar da Rainha de Gelo, e a atitude dela o pegou completamente de surpresa. Afinal de contas, era só mais uma novata.

Uma pena que a HBIC não pensava o mesmo que ele.

Santana viu a ação do jogador e se aproximou da capitã como um missil prevendo o pior. Tudo na linguagem corporal da loira apontava para um desastre de proporções épicas. Rachel ainda estava paralizada pela ação da loira, e no momento que foi encostar em seu ombro, foi parada pela mão da latina.

“Você não quer fazer isso agora Rach.”

“Porque não?” A morena a encarou confusa. “O que foi isso?”

“Depois eu te explico Berry.” A latina murmurou e viu sua namorada se aproximando. “Brit, leva a Rachel pra próxima aula. Eu tenho a impressão de que isso vai ficar muito feio.”

“Tudo bem San.” A loira rebocou a pequena morena na direção contrária a que veio, e logo sumiu pelos corredores.

A HBIC ainda encarava o jogador. Aquilo já estava o deixando profundamente constrangido, e com toda a certeza do mundo, totalmente gelado, ao ponto de tremer o suficiente para não conseguir se manter em pé pelas próprias pernas.

Dois segundos depois ele já estava encurralado contra o ármario, e com a loira fervendo de raiva em cima dele. Nesse momento o garoto teve certeza que via a filha do demônio em sua frente. E isso o aterrorizava.

“QUAL A PORRA DO SEU PROBLEMA?” A voz dela estava tão fria que toda a multidão que se aglomerava em volta dos dois tremeu. “Todo mundo nessa droga de escola sabe que não se mexe com quem é meu protegido.”

“Eu-eu-não sabia.” O jogador gaguejava. Podia ser maior que a lider de torcida, mas nunca se podia brincar com loira em questão. Não era a toa que a garota tinha se tornado capitã logo no primeiro ano. Ela realmente metia medo só com o olhar. “Por favor-eu juro-nunca mais faço isso.”

“Olha aqui Azimio. Eu vou te poupar dessa vez, mas se você ou mais alguém desse grupo de jogadores se aproximar daquela morena, eu acabo com a raça de todos.” Ela sentenciou, e saiu pisando duro até o vestiário.

Azimio escorregou até o chão e por lá ficou. A latina despertou do transe com o barulho do jogador se encontrando com o piso duro. Seus olhos ainda estava arregalados, mas elas conseguiu manter a pose de bitch.

“CAIAM FORA.” Gruniu, fazendo todos os alunos voltarem a seus caminhos originais mais rápido que um foguete.

A latina marchou até o armário de Quinn e ajuntou os matériais que a loira tinha arremessado ao chão, e suspirando foi em direção ao vestiário. Tinha uma bomba atômica para acalmar.