Here, There And Everywhere escrita por Shorty Kate


Capítulo 7
O Quinto


Notas iniciais do capítulo

Eu não mencionei o nome da pessoa, mas acho que vão entender! Nem que seja pela última frase!!!
Espero que tenha ficado bom!



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As portas do Wembley Stadium abriram e um banho de multidão entrou, por entre atropelos e empurrões. Ainda mais milhares ficaram do lado de fora, chorando e ouvindo do lado de fora o concerto. Por causa do enorme número de pessoas à volta do estádio, as ruas circundantes foram cortadas pois a massa de pessoas recusavam-se a sair dali.

Os quatro Beatles estavam nervosos. Mais nervosos do que algum dia estiveram. O sound check tinha corrido às mil maravilhas e George Martin tinha até ficado de lágrimas nos olhos ao ver como os quatro se entendiam a tocar passados tantos anos. Ainda lembravam os tempos, os acordes, as harmonias. Sabiam quem ia tocar o quê. E não foi só o George que ficou impressionado, eu também. Estive sempre meio escondido, por isso não foi de estranhar que ninguém me visse. Mas agora estava à frente do gradeamento, mais perto do palco do que qualquer fã. Sim, eu sempre fui fã deles. Mau era se eu não fosse!

Mas o concerto não começou logo. Fiquei comovido, e eles os quatro certamente mais do que eu, assim que a banda subiu ao palco. 15 Mil pessoas aplaudiram-nos durante dez incessantes minutos. E não havia um único berro, um único nome a ser chamado. Apenas palmas. E choro. Choro de alegria, de felicidade, de emoção. E só 15 Mil lá dentro a fazer isto, quantos mais milhares do lado de fora estariam fazendo o mesmo.

Então foi Paul que deu início ao concerto depois de todos saudarem o público e agora eles festejarem com imensos gritos. Todos tocaram o primeiro acorde e Ringo deu a primeira batida na bateria. Então Paul disse:

-Roll up, roll up, roll up for the magical mystery tour, step right this way.

Foi mágico mesmo, como se os meus e os ouvidos de todos se tivessem aberto com as vozes deles. Continuaram a tocar. Após a primeira música, sentiu-se uma confiança em todo o som e a postura deles relaxou. Naquele momento souberam que nada tinha mudado. Perceberam que o tempo não alterara nada. Rigorosamente nada. Olhei para trás de mim e vi o público. Avós, filhos e netos; pessoas dos 8 aos 80.

Foram tocando as músicas até que chegaram à sexta e George chegou-se ao microfone, dizendo. – Esta música é pelo no empresário Brian Epstein. Um das pessoas consideradas o 5º Beatle. Assim como George Martin que ajudou o Ringo a fazer este espetáculo.

Antes mesmo de eles puderem tocar, mais uma salva de palmas foi ouvida. Fiquei com o coração inchado de felicidade. As pessoas admiravam e lembravam-se do velho George e do velho Brian, o homem que sempre se sentiu demasiado velho para a idade que carregava.

Eles continuaram o concerto e foi quando George, Ringo e John saíram por um momento do palco. Paul ficou sozinho, apenas se deparando com o público, cantando “Blackbird” e “Yesterday”. Chegaram à 10ª música e os outros três voltaram a subir ao palco. Parecia que quase tinha sido combinado, já que tocavam “Come Together”.

Chegou então a ocasião de George brilhar. Ele chegou-se ao microfone, cantando. – I got my mind, - E esperou que a multidão acabasse.

E foi o que eles fizeram em uníssono. – Set on you!

A partir daí só foi fazer como tinham combinado no sound check e seguir atrás do guitarrista. Oh, aquilo foi de loucos. Pessoas a saltar, a berrar em plenos pulmões a letra da música. Pessoas a dançar por entre tanta gente. Mas foi perfeito. George, não muito habituado a tanta ansiedade assim acabou mesmo por se curvar, agradecendo.

Enquanto tocavam “Can’t Buy Me Love”, a cenas do filme “A Hard Day’s Night” passavam no ecrã atrás deles. Reparei várias pessoas rindo do que viam, com um brilho nos olhos. O ritmo alegre continuou até que as luzes do palco se apagaram uma por uma e um foco ficou sobre Paul. Ele pegou na guitarra outra vez e engoliu em seco, falando:

-A partida de pessoas próximas faz-nos pensar muito e foi quando eu escrevi “Here Today” e emociono-me em cada concerto, não só por lembrar o John, mas por saber e ver a emoção em cada um de vocês também.

Todos conseguiam ver o quanto as mãos de Paul tremiam. Ele dedilhou os acordes, mas não cantou. Continuou a tocar, cada vez que chegava a boca ao microfone, gaguejava ou ficava mudo. Por fim lá conseguiu começar, mas notava-se demasiada fraqueza na voz.

Paul cantou dois versos e sucumbiu. Da voz abalada começou-se a ouvir um leve choro. E foi aí que se viu o momento mais bonito e tocante de todo o concerto. John apareceu do escuro do palco e foi até à beira dele. Ele começou a cantar, o público ajudou e isso levantou o ânimo de Paul. No fim não havia uma única pessoa que não cantasse junto.

Eles foram inteligentes ao fazer o alinhamento do concerto, conjugando os momentos conforme os queriam. E assim que o humor tinha subido de novo, desta vez foi John quem colocou toda a gente de lágrima no olho, olhando os amigos enquanto cantava “In My Life”. Mas o mais fantástico era mesmo com eles conseguiam elevar a moral do público com uma simples piada.

Sim, as pessoas riam, mas sentiam aquela tristeza, sabendo que aquilo era algo único que provavelmente não se repetiria. E elas estavam longes de imaginar o que iria na cabeça e no coração daqueles quatro. Para eles é que deveria estar a ser difícil, mas não significava que isso fosse algo mau. Sabendo que eram os últimos momentos que tinham juntos fê-los aproveitar cada segundo.

Os Beatles George e John ficaram então assombrados ao ver Paul levantar a voz de 15 Mil pessoas, cantando junto com ele. Foi de arrepiar, no mínimo. E novamente, mais um acontecimento ternurento entre Paul e John. Ele sentou-se ao piano ao lado do baixista e tocaram a duas mãos a música “Let It Be”. 

John tinha agora a oportunidade de ver quanta falta fazia e quantos fãs tinha. Havia isqueiros e luzes de telemóvel a ser levantados no alto, cantando com ele o hino da paz da atualidade, “Imagine”. Eu nunca tinha ouvido a música, mas fechei os olhos e imaginei. Deixei-me levar pela voz de John, que o tempo tornou doce.

O show infelizmente caminhava a largos passos para o final. Parecia que ainda há pouco tínhamos entrado, e daí a pouco estaríamos a sair. Claro, antes disso, faltava ainda um Beatle ter o seu momento de protagonismo. E tal como Paul, também Ringo se emocionou por serem os dois únicos que ainda estão vivos.

- Há músicas que com o tempo ganham novos significados. Isso foi o que aconteceu com a música que eu e o George escrevemos, “Photograph”. Já quando a escrevemos ela tinha um significado especial, representava as nossas memórias e as saudades que tínhamos dos anos passados. Assim que o George nos deixou, começou a ser difícil tocá-la, já que eu tinha perdido um amigo e ele agora não passava de uma memória. Até mesmo a escrita daquela música deixou de ser um facto e passou a ser uma memória. Infelizmente, - Ele lamentou. – eu perdi grande parte dessas memórias porque perdi a maioria das fotografias que tinha nossas por ter demasiada tralha! Mas, enfim, quem souber cante junto connosco, “Photograph”.

“With A Little Help From My Friends” foi uma música que não considero que tenha sido cantada para o público. Aliás, acho que nenhuma música foi realmente interpretada para as pessoas que os viam. Estavam cheias de introspeções, saudades. Eram recordações para eles. Bem, digamos que recordações à maneira deles, cada uma com a sua emoção já que não havia uma única pessoa no Wembley que não estivesse a gravar o concerto.

Maioria das pessoas adivinhou que o concerto estava no fim porque assim que começaram a cantar “Sgt. Pepper’s” a expressão na cara delas mudou. E o final doeu a todos. A todos mesmo. Desde o mais novo ao mais velho.

-And in the end, the love you take is equal to the love you make.

A banda despediu-se e depois de mais uma chuva de aplausos, instalou-se um silêncio inquisidor. Os olhos estavam sobre George e John. Os do público, os meus, os de Ringo, os de Paul. Todos esperavam que eles simplesmente desaparecessem ali à vista desnudada. Mas os dois homens estavam…assustados. Eles não sabiam o que iria acontecer.

Saíram os quatro pela lateral do palco e 15 Mil pessoas saíram conformadas, diria. De forma ordeira, chorosas, mas ainda assim de sorriso nos lábios. Muitos ainda cantavam a sua música preferida, outros saiam cabisbaixos e em silêncio. Cada um lidava com aquelas últimas duas horas e meia à sua maneira. E todos foram embora para as suas casas. Conformadas com o que acontecera.

E eu? Eu só dou graças pelo dia em que entrei no Cavern Club. O que seria o mundo sem os Beatles? 


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Notas finais do capítulo

Façam comentário a uma pobre rapariga que foi tirar sangue hoje (agora não são poucas as vezes!)