4 dias depois

Ringo bateu de leve na porta, segurando umas folhas em mão.

Havia passados quatro dias. Toda a agitação tinha passado e Ringo e Paul não se falaram desde esse dia. Assim que acordaram, cada um se levantou e saiu sem dizer uma palavra. Na verdade, eles não sabiam o que dizer mesmo.

–Entre. – Ringo entrou, espreitando primeiro para saber se de alguma forma se poderia entrar. – Oh, Ringo, entra logo. – Paul disse animado, sentado ao piano. – Como soubeste que estaria aqui?

O baterista deu um aperto de mão e um abraço ao baixista que se levantara para o cumprimentar e explicou. – Onde mais estarias?

–O que traz aqui ao meu estúdio?

Ringo mostrou os papéis que trazia. – Escrevi umas três músicas e tenho uma incompleta. Pensei se talvez quisesses gravá-las comigo. Uma delas já tem alguma composição feita…

Paul sorriu e debruçou-se sobre o piano, agarrando também em algumas folhas. – Eu próprio acabei quatro músicas e tenho uma inacabada também. Talvez se juntarmos a minha com a tua resulte em alguma coisa.

–Pode ser que sim. – Paul partilhou o assento do piano com Ringo e ambos mostraram os papéis. – Pode ser que resulte como a “A Day In The Life”.

Paul ainda só tinha deitado os olhos sobre o papel e já dizia, lendo um pedacinho de uma frase. – “To not forget”? Bem Ringo, se o John estivesse aqui, esta já estava no caderninho dele!

–Nem me lembres do maldito caderno!

–Vá lá, admite: sempre tiveste um Inglês mais peculiar do que nós!

–O George sempre teve um sotaque diferente e isso nunca importou…certo?

Paul apenas riu, não lhe respondendo à pergunta. Os dois começaram a tentar juntar os pedaços de letra que tinham. E mesmo que a música de Ringo se chamasse “To not forget” e a de Paul “To remember”, ambas falavam exatamente da mesma coisa: o que tinha acontecido dentro daquele quarto há quatro dias atrás. E por maior salgalhada que parecesse que fosse dar, a música saiu perfeita e à qual deram o nome “Remember to not forget”. Esta era a primeira música creditada à dupla McCartney-Starr. E eles os dois compuseram mais quatro músicas no espaço de dias.

Depois deste primeiro encontro apenas se passou uma semana para que Paul tivesse uma ideia. Julho estava quase a acabar e Paul estava a um dia da sua atuação nos Jogos Olímpicos. Ele chamou Ringo e fez-lhe a proposta: tocar com ele na abertura dos Jogos. Ringo nem pensou duas vezes e aceitou de imediato. E assim fizeram. Após essa pequena performance, os dois ficaram pensativos.

Refletiram sobre o dia que passaram com George e John, e sobre a semana que passaram a escrever e compor músicas. Três escritas por Ringo, quatro por Paul e cinco escritas pelos dois. Isso dava no total onze composições. Mas composições completas, feitas apenas por eles os dois, desde a letra à melodia.

Porque não lançavam um álbum os dois?

Foi exatamente o que passou pela cabeça deles. Tocar “Hey Jude” nos Olímpicos lembrou-os dos outros dias e abriu-lhes a mente para esta possibilidade. Ringo e Paul reuniram-se desde os finais de Julho até Dezembro gravando o disco, havendo algumas interrupções pelo meio já que Paul andava atarefado com o lançamento do seu álbum “Kisses On The Bottom” e Ringo ainda promovia o seu “Ringo 2012”.

Mas no final do ano, o álbum estava pronto, com a ajuda do produtor George Martin. O álbum falava de tudo pelo qual tinham passado, lembrava os amigos, os bons velhos dias e ainda os homenageava e expressava a saudade por eles. Só faltava mesmo o álbum ter um nome. E tal como para escrever as músicas, de duas cabeças diferentes saíram duas ideias também diferentes que se complementaram e chegaram a um belo acordo. O título revelava o que John e George eram para eles…“Guardian Angels, Guiding Stars”.