Quinn estava paralisada no meio do corredor, os olhos arregalados. Nunca havia visto nada como aquela criatura em sua vida. Sue Sylvester era um monstro asqueroso, de pele grudenta, com quatro pernas longas apoiadas no chão. Suas patas tinham dedos compridos, com unhas negras. O rosto da treinadora estava obviamente deformado naquela forma: Estava bem mais magro e não possuia nariz, apenas uma boca cheia de dentes pontiagudos que se abria, revelando uma língua igual a de uma cobra. Seus olhos eram vermelhos e cheios de fúria, suas orelhas eram pontudas. O cabelo loiro estava desgrenhado, e a criatura ficou de pé.

Mas que merda é essa? Eu estou morta. Eu estou morta. Se mexe, Quinn. Vai, se mexe. Não fique parada aí, ou você vai realmente morrer.

Mas Quinn não conseguia se mexer. Sentia que se desse um único passo a criatura a atacaria. Mas ela não tinha escolha. E então aquilo começou a gemer. Gemidos horríveis que feriam os ouvidos de Quinn. Ela precisava sair dali. Agora. Então Quinn correu. Seguiu pelo corredor na maior velocidade que estava ao seu alcance, ouvindo as unhas da criatura batendo no chão enquanto corria atrás dela. Quinn tentou elaborar um mapa em sua mente, procurando a saída mais próxima: O pátio. O coração da loira estava a mil, e ela não parava de correr por nada nesse mundo. O medo era tão grande que ela mal respirava. Em sua cabeça, rezava sem parar, apenas pedia por uma salvação naquele momento, porque sabia que sozinha não conseguiria. E quando estava chegando no pátio encontrou a porta de vidro que levava a ele e quase deu de cara com ela. Ao tentar abrir, foi impedida por um cadeado. Quinn se virou em um movimento rápido e viu a criatura a aproximadamente dois metros de distância dela.
"Por favor, por favor." Lágrimas desciam do rosto de Quinn enquanto ela murmurava palavras entrecortadas, pedindo piedade. A criatura se aproximou mais um pouco. E mais um pouco. A líder de torcida sabia que estava perdida, que aquele era o seu fim. E pensou nos seus pais, a dor que já havia trazido à sua família. Pensou em seus amigos, no bem que fez para alguns, no mal que fez para outros. Pensou em Brittany, Santana. Pensou em Rachel Berry.

Rachel, por que não está aqui? Por que, Rachel?

E mais lágrimas escorreram pelo seu rosto, Quinn esperando pela morte. Viu aquele rosto horrendo se aproximar dela, e de repente, tudo escureceu.

Gritos. Calor. Dor. Movimento. Gritos. Calor. Dor. Movimento.
Quinn sentia tudo isso acontecer de uma vez, mas não tinha noção do que estava acontecendo. Os gritos eram familiares, ela conhecia as pessoas, mas não as identificava. Gemidos de dor e raiva ecoavam em sua cabeça e sua visão estava turva. Quinn sentia o movimento, mas não estava se mexendo. Sem falar nas dores, que pouco a pouco, vieram a tona.
"Quinn?" Uma voz feminina a chamou, logo em seguida gritando, e depois ouvia-se o barulho de algo muito duro batendo contra um corpo forte.
"Hmmm" Era tudo o que Quinn conseguia responder. Sua visão foi voltando a se normalizar, e Quinn percebeu que estava sendo carregada.
"Ela acordou." Disse uma voz familiar, perto demais. Provavelmente quem a estava carregando.
"Santana, eu preciso que venha aqui agora!" A voz gritou novamente e Quinn a reconheceu: Rachel. "Você precisa fazer. Rápido."
'Mas Berry, não dá! Eu preciso estar muito irritada." Disse Santana, uma voz que Quinn reconheceria em qualquer situação. A loira recuperou praticamente todos os sentidos, lentamente, e percebeu quem a estava carregando: Puck. De repente, o movimento parou, e ele perguntou:
"Quinn, consegue andar?" E a colocou de pé. Ela ainda cambaleava, mas conseguiu se manter de pé. Eles já estavam na entrada principal do colégio e, quando Quinn se virou, viu Puck correndo em direção à criatura que a atacou antes. Dando um passo para trás, a loira se assustou com a cena.
"Puck, irrite a Santana." Disse Rachel, que em seguida se esquivou de um ataque da criatura. "Boa. Mas não o bastante." Disse, pegando um taco de baseball no chão e a atacando.
"Anda logo, Puckzilla." Disse Santana, apressando-o.
"Você é uma vaca gorda, uma vadia, seu espanhol é horrível..."
"Vamos, você é melhor do que isso."
"A Brittany é uma burra." Ele viu a expressão de Santana mudar. "É, isso aí, ela é uma idiota, estúpida, não sei como você pode gostar daquilo e..." Os olhos de Santana ficaram vermelhos e sua pele começou se mexer de dentro para fora.
"Con... Continue!" Disse a latina, visivelmente tomada de dor.
"Mas..."
"Vai!" Gritou, seu grito se unindo ao de Rachel, que dava golpes na criatura, mas sabia que não era o bastante.
"A Brittany é a pessoa mais burra de Lima, não, do universo! Ela é uma imbecil, vocês fazem um belo par até, porque..." E aconteceu. Santana deu um grito horrendo e uma fumaça vermelha saiu de sua boca. Ela apertou os olhos com força, e quando os abriu, estavam totalmente vermelhos, mais do que antes. E, do nada, Santana pegou fogo.
"Obrigada, Puck." Ela murmurou, a voz tomada por ódio, em seguida virando-se para a criatura e correndo em direção a ela. Rachel se afastou no mesmo momento, correndo para longe. Avistou Quinn e correu até ela.
"Você está bem?" Ela perguntou, abraçando a loira com força. Quinn não se mexeu, boquiaberta.
"Eu... não acredito." Sussurrou.
"Shhhh. Vai ficar tudo bem, Quinn. Ela vai dar conta." Disse Rachel, largando Quinn e virando-se para Santana, que lançava chamas na criatura.
"Você sabe que é a Sue, não é? Vocês estão machucando a Sue!" Gritou Quinn, nervosa.
"Quinn, não! Aquilo não é a Sue, tá bom?'" A loira respirava com dificuldade e Rachel a segurou pelos ombros para olhá-la olhos. "Não é a Sue. E aquilo também não é Santana."
"Como assim? Ela pegou fo..." Quinn não terminou a frase ao ver a quantidade de chamas na sua frente. A criatura havia sido incendiada, e o fogo estava se alastrando.
"Vamos sair daqui!" Disse Puck, pegando sua bolsa no chão e a de Quinn, que a loira nem havia percebido que estava ali. Santana voltou à forma normal e desmaiou no chão. Quinn gritou ao ver a amiga tão perto do fogo, tão frágil. Puck largou as bolsas e correu em direção a Santana, em seguida pegando a latina em seu colo e correndo em direção as meninas.
"Rachel, pegue as bolsas." Ele disse, com a voz trêmula. Afinal, carregar uma pessoa não era tão fácil quanto parecia. Rachel obedeceu e pegou as duas bolsas com pressa. Em seguida, pegou o taco no chão.
"Abram caminho." Disse Rachel, com o taco na mão. Correu em direção à porta e bateu nela com o taco, quebrando o vidro. Puck passou com Santana pela grande abertura, em seguida Quinn e depois Rachel. Os três respiraram fundo ao saírem do colégio, sentindo o ar puro. Quinn se abaixou, apoiando as mãos nos joelhos. Passava mal com tudo aquilo, nunca estivera em situação tão perigosa. Mais uma vez, poderia ter morrido lá dentro.
"Vamos sair logo daqui, antes que a polícia, os bombeiros, ou seja lá quem for chegue. Eu vou levar a Santana pra casa da Brittany. Vocês decidem o que fazer, mas eu acho melhor Quinn ir pra sua casa." Disse Puck, apontando para Rachel. Em seguida apanhou a sua bolsa de apetrechos da mão de Rachel e saiu correndo com Santana no colo, para entrar em seu carro.
"E então?" Rachel questionou Quinn.
"Vou com você." Respondeu a loira. Rachel começou a andar em direção ao seu carro, com Quinn logo atrás. Ouviram ao longe sons de sirene e sabiam que teriam que ser rápidas, então correram. Rachel jogou a bolsa de Quinn para a dona, pulando dentro do carro com visível nervosismo, seguida por Quinn. Rachel acelerou o carro e saiu do estacionamento o mais rápido que pôde, bem antes de os bombeiros chegarem.

Sendo assim, nenhum vestígio ou pista daquela noite restaria.