Um novo começo

XI

O cheiro de sangue pairava no ar. Havia algumas pessoas em volta, algumas com rostos borrados, outras não. Mas Natsu não conseguia e nem conhecia nenhuma delas. Mexeu-se e então caiu na real. Uma garota loira estava no seu colo, aparentemente morta e ouvia-se algumas risadas. Levantou a cabeça com uma cara desesperada e avistou sua dama de companhia, Lisanna. Ela estava com os braços de uma pessoa desconhecida em volta de sua cintura. Até que o rosto daquela pessoa apareceu. Era seu antigo inimigo de infância, Loki. Ouvia-se algumas daquelas pessoas sem rosto murmurar:

— É tudo sua culpa... culpa.. sua culpa.

O rosado apertou as mãos na cabeça querendo livrar-se daquilo, até sentir uma dor estranha. Olhou para baixo e encarou uma faca cravada no seu estômago. Sentiu-se perder os sentidos. Sua visão foi ficando escura até que..

...

— LUCY! – O rosado gritou assustado o nome de uma pessoa que sequer sabia quem era, olhou para os lados e notou onde se encontrava, no hospital. Aquele cheiro de remédio e um silêncio mortal pairava no quarto. Até a porta ser aberta.

— Nat-kuuuun, você acordou! – Uma albina feliz que se encontrava na porta quase deu um grito.

— Lisanna. – Natsu fitou-a.

— Você está se sentindo bem? Quer que eu chame a enfermeira? Tá com fome?- A albina preocupada perguntava aproximando-se da cama.

— O que aconteceu? – Natsu ignorou-a.

— Bem, digamos que você não pode ver muito sangue. Principalmente quando ele mancha a sua roupa. Então você desmaiou. – Lisanna riu.

— Onde ela está? – Um Natsu irritado murmurou.

— Ela quem? – Lisanna perguntou com a voz mais enojante e manhosa que podia fazer. Dando ênfase ao ela, também.

— Aquela garota.

— Ah, você está perguntando sobre aquela loira maluca? A enfermeira disse que ela está melhor, mas que passou por uma cirurgia arriscada e quase faleceu. No entanto, ela está bem. Não se preocupe. Não vamos ter que pagar nada a ela.

— Qual é o nome dela?

Lisanna irritou-se com a curiosidade excessiva do rosado. Ele seria dela. Somente dela. Mas respondeu, não querendo ouvir sermões do rosado. Afinal, ele poderia perguntar para uma enfermeira e acabaria descobrindo cedo ou tarde.

— Lucy. Lucy Heartfilia. – Falou com desgosto.

O rosado percebeu o tom de voz da albina, mas nem ligou. Lucy. Então, era o nome dela que ele acordou gritando. Ele queria saber quem era ela. Ela passou de "estranha assustadora" para "pessoa que salvou a minha vida" e ele sequer a conhecia. Ou era isso que ele pensava. Levantou-se com um pouco de dificuldade, seu corpo todo doía. E passou por uma albina que murmurava para que ele voltasse a se deitar. Encaminhou-se até a enfermeira mais próxima e perguntou onde ficava o quarto da garota.

— 235, mas o senhor ainda não pode fazer esforços! Muito menos correr! – A enfermeira de cabelos também brancos, mas longos murmurou aproximando-se do rosado.

— Senhor? Eu não sou tão velho assim. E deixe-me passar, eu estou melhor. – Natsu resmungou sem paciência.

Abriu a porta do quarto com alguma dificuldade e então deparou-se com uma loira dormindo. Respirando tranquilamente e com um pouco de dificuldade também. Ele queria que ela acordasse. Que ela acordasse agora, para ser mais sincero. Ele tinha tantas coisas para falar com ela...

— Natsu, vamos. Temos que deixar ela descansar. – A enfermeira puxava o rosado pelo braço.

....

Era a décima vez só naquele dia. Já devia ter se passado uns 3 meses e nada de a loira acordar. Mas parecia que eles se entendiam. De um modo mágico, parecia que conversavam. Mesmo que fosse mentalmente. O rosado estava sentado pela décima vez naquela poltrona branca que se localizava ao lado da cama, onde a loira continuava de olhos fechados. Sua visão cansada, implorando silenciosamente algo como : "Por favor, acorde."

— Você sempre vem visitá-la. Afinal, o que vocês eram? – A enfermeira de cabelos brancos alongados perguntou adentrando o quarto e arrumando alguns equipamentos que estavam ligados á loira.

— Eu sequer sabia quem ela era, Mira.

— Mas vocês.. você é tão ligado a ela. E ela te salvou, não foi?

— Isso mesmo. E é por isso que eu gostaria de falar com ela. – Natsu fitava a loira a cada movimento da mesma, era óbvio que ele queria que ela acordasse.

— Hm. Eu vou cuidar de outro paciente, com licença. – Disse a enfermeira albina se retirando da sala.

Lucy se remexeu. Uma, duas, três vezes. Murmurou alguma coisa ininteligível e então abriu os olhos. A claridade a fez piscar várias vezes, até enfim seus olhos se acostumarem. Estava fraca, mas conseguiu sentar-se na cama. Olhou para os lados, onde ela estava? Até encontrar seu olhar com o verde-musgo de outra pessoa.

— Você acordou. Finalmente! Você gosta de dormir, hein? – Um rosado sorridente exclamava com uma felicidade que nem poderia ser descrita.

...

Em outro lugar..

— Wendy. Você sabe que é uma anja, mas precisa seguir as regras! – Um homem de cabelo azul murmurava.

— Desculpe, Jellal-san mas eles já passaram por tanta coisa.. eu precisava trazer ao menos alguns fragmentos de memória. Você sabe o que eles passaram. Eles merecem isso.

— Wendy, eu sou seu mentor e você sabe que quem vai acabar levando sermão da Anja Superior vai ser eu!

— Me chamaram? – Uma garota de longos cabelos loiros e olhos esverdeados encarou-os.

— M-Mavis! N-Não é nada! – Jellal falou com um tom de medo na voz, curvando-se em gesto de cumprimento.

— Ele tá brigando comigo porque eu mudei o passado de duas pessoas. – A azulada sorriu.

— Certo.. VOCÊ O QUE?! – Mavis encarou a pequena anja incrédula.

— Wendy, você precisa aprender a calar a boca. – Jellal reclamou sendo acertado na cabeça por Mavis.

— Você precisa aprender a cuidar dos seus ALUNOS!

— I-isso não vai se repetir. – Wendy murmurava com uma cara triste. — Mas eles passaram por tanta coisa.. Você não acha que mereciam uma chance de mudar, Mavis?

— Isso é verdade. Desta vez, vou deixar o que você e seu mentor fizeram passar. Mas só dessa vez.

...

A loira encarou-o por um longo tempo. Sua cabeça doía, mas parecia que ela o conhecia a tanto tempo. Ela não sabia porquê. Mas tinha certeza. Ela o conhecia. E com certeza sentia algo por ele também. Após algum tempo entre o silêncio ela finalmente murmurou alguma coisa.

— Natsu..

Continua...