Mas uma das férias de verão tinha chegado. Normalmente as pessoas esperam pacientemente por essa época do ano, mas era a que eu mais temia. Não vou negar que as últimas duas férias que passei em Holmes Chapel e em Londres, meu Deus, foram as melhores de toda a minha vida e falo isso sem sombras de duvida. Só que essa seria diferente, seria dolorosa e eu estava tentando ao máximo não pensar nesse assunto, como eu sempre fazia, bloqueava tudo que era ruim em minha mente. Em especial, esses pensamentos estavam sendo bem difíceis. A toda hora flashbacks passavam rodopiando por minha cabeça e era duro conter o sorriso com as memórias boas dos amigos maravilhosos que conheci, do menino que entrou de paraquedas na minha vida e a virou de cabeça pra baixo, das minhas duas quase irmãs de sangue que sempre estiveram ao meu lado desde que pus meus pés em Cheshire e principalmente a minha família inglesa maravilhosa que me acolheu como se me conhecessem desde recém nascida. E o mais difícil ainda era conter as lágrimas, que eu sabia que iria derramar os oceanos inteiros quando tivesse que me despedir de cada pessoinha que se enfiou no meu caminho de alguma forma. Hoje não era um dia como qualquer outro. Rachel estava completando seus quinze anos de vida e iríamos sair para comemorar essa data importante. Aqui na Inglaterra os quinze anos não era tão importante como no Brasil, mas era uma data a se celebrar. Já fazia alguns dias que eu não estava em clima de festa e hoje não seria diferente, mas eu daria o meu melhor para estar bem esta noite, eu não poderia decepcionar uma menininha tão doce como a Rachel, que sempre esteve do meu lado, enxugou muitas de minhas lágrimas e compartilhou tantos sorrisos. Eu praticamente a vi crescer diante dos meus olhos. Quando cheguei ela era aquela pré-adolescente desajeitada, sapeca e muito espertinha e hoje ela estava quase uma mulherona, maior, mais bonita... Era tão lindo ver toda essa evolução dela. Só que a hora estava correndo e eu tinha que arrumar todo aquele mundo de roupas dentro de minhas malas, teria que afastar aqueles pensamentos nostálgicos de minha cabeça e colocar a mão na massa. Então continuei tirando bolos de roupas das gavetas, dobrando-as e arrumando bem organizado dentro de minha mala. Deixei umas três mudas de roupas separadas fora da mala e continuei a me organizar.

– Eu não sei ainda, eu vou sair hoje pra ver! – Escutei uma voz conhecida gritando do lado de fora do quarto enquanto subia os degraus da escada. Era Gemma. Não pude deixar de sorrir e balançar a cabeça negativamente com o fuzuê que aquele menina fazia quando estava ali em casa. – CADÊ MINHA CAT GUURRRL? – Gritou ela assim que abriu a porta do meu quarto, imitando um sotaque americano do interior que me fez franzir a sobrancelha e rir.

– To aqui arrumando essas tralhas sozinha porque uma cowgirl, no sentido literal da palavra, se é que tem um, não quis me ajudar. – Esbravejei brincando.

– Opa, opa, opa... Bora colocar os pingos nos is aqui, gata. Eu disse que eu ia vir ajudar, num tenho culpa que tu nasceu quase num jato de xixi de tão rápido e começou antes da minha ilustre chegada. – Disse ela sentando toda esparramada em minha cama e fazendo uma cara de malandra.

– Cara, incrível como você convive uns míseros dias com o teu irmão e fica exatamente igual a ele. – Eu ria mais uma vez.

– Sem ofensas a minha integridade, por favor. – Era impossível não rir com aquela otária. Até ela riu um pouco, mas depois voltou ao normal, pra tocar no assunto que eu não queria. – E aí, ansiosa pra ver a família “real” semana que vem? – Até nos trocadilhos ela estava superando o Harry hoje. O que houve com essa menina?

– Ai Gemma, nem fala. Eu preferia que eles viessem pra Londres me visitar e falar que iriam pagar mais oitenta e cinco anos de intercambio pra mim do que eu voltar pra lá. – Falei desanimada. Sim, meus anos de intercambio acabaram e eu teria que retornar ao meu país. Eu amava o Brasil com todas as forças. Amava as praias quentes, a comida, o clima, as pessoas, sentia falta das minhas amigas, dos meus pais... Mas era absurdamente difícil ter que deixar a Inglaterra. Apesar do clima frio que eu sempre detestei, as pessoas aqui eram incrivelmente educadas, simpáticas e maravilhosas, minhas amigas aqui também não deixavam NADA a desejar. É vai ser muito egoísmo da minha parte dizer isso, mas uma das principais causas para eu não querer partir, era Harry. Nós estávamos tão fortes com nosso relacionamento. Tivemos altos e baixos, mas estávamos forte desde que começamos. E eu não queria deixar o menino que eu sabia que realmente amava. Que ainda fazia meu coração bater rápido, que colocava o sorriso no meu rosto só de pensar nele, que me abraçava tentando me esquentar quando eu morria de frio. O menino que era minha vida agora. Eu não sei o que iríamos fazer, mas eu não queria me despedir dele.

– Não sei se iria te aguentar por mais oitenta e cinco anos, amiga. Acho que uns oitenta já tá bom. – Gemma brincou e eu peguei um travesseiro que estava em cima da cama e joguei com força na cara dela.

– GUERRA DE TRAVESSEIROOO! – Na mesma hora, quatro loucos e uma menina entraram no meu quarto gritando todos juntos em meio à bagunça de roupa que estava naquele lugar por cima da cama, no chão e fizeram um montinho em mim e na Gemma, fazendo-nos gritar e rir ao mesmo tempo. Eram Louis, Niall, Liam, Zayn e Alice. Agora todos os meus melhores amigos estavam ali ao meu redor e não poderia ser melhor. Eles sabiam que Rachel era louca por One Direction, então vieram pra comemorar o aniversário dela. Todos se ajeitaram em cima da cama e eu pensei que a qualquer momento ela iria quebrar com quatro marmanjos sentados sobre ela, duas meninas metidas a princesas e mais um castelo de roupas e malas amontoadas.

– E aí? Pronta pra voltar pro Brasil? – Perguntou Niall todo fofo e eu já estava me irritando com todo mundo me fazendo lembrar que eu teria que voltar.

– AHHH! CHEGA! Está oficialmente proibido me fazer essa pergunta até segunda ordem. – Gritei e Niall fez uma expressão de assustado meio que rindo e eu não pude conter a risada, mesmo tentando.

– Sim sargentão! – Retrucou Niall e eu dei uma blusada em seu ombro com a peça de roupa que estava em minha mão.

– Vishhh! Alguém tá de TPM também. – Comentou Louis.

– Como assim também? – Perguntei curiosa.

– O curly boy acordou com os ovos virados hoje também. – Ele respondeu e eu ri de leve. Eu só imagino como ele estava com tudo isso.

– Bom, na verdade ele acorda estressadinho todos os dias. Pra mim não é novidade. – Disse Liam dando os ombros. Nisso eu vi que Zayn mexia em alguma de minhas roupas, até que ele pegou um sutiã rosa choque que tinha ali e o posicionou em seu peitoral por cima da camisa que vestia.

– Fico bem assim, diva? – Perguntou Zayn para Louis que pegou uma de minhas calcinhas e colocou na cabeça enquanto olhava pra Zayn e os dois não paravam de rir.

– Aff, suas pestes! ME DÁ ISSO! – Eles riram mais ainda enquanto eu subi na cama e tentava tirar minhas roupas intimas de perto deles. – MENINOS, CHISPEM DO MEU QUARTO! ISSO NÃO É LUGAR PRA VOCÊS. – Gritei tentando ao máximo conter meu riso e parecer brava. Nisso todos levantaram correndo e saíram do quarto na mesma pressa. Acho que fui tão séria que eles pensaram que iriam apanhar. E eles realmente tinham medo de apanhar de mim.

*flashback*

Era mais um daqueles finais de semana que eu ia para Londres passar com Harry, só que dessa vez ao invés de sairmos à noite, decidimos fazer alguma coisa diferente ali mesmo no flat dele. Então convidamos os meninos e eu iria mostrar meus dotes culinários e provar para Harry que sabia cozinhar bem melhor que ele. Iria fazer pastéis, uma coisa que é bem típica no Brasil. Eu mesma iria preparar a massa e os recheios. Só pra me achar um pouco e mostrar o meu potencial. Harry já estava apostando que eu iria errar em tudo, já que nunca tinha posto a mão na massa em sua frente e ele sempre que cozinhava pra mim, e por sinal, MUITO bem. Compramos tudo que precisávamos para preparar os pastéis e previamente, quando chegamos em casa eu já preparei a massa e deixei descansando para mais tarde. O tempo passou e os meninos chegaram, como sempre, fazendo AQUELA bagunça, ainda mais quando estavam todos os cinco juntos. Meu Deus parecia que aquela casa iria desabar. Eu só imagino como os vizinhos do andar de baixo adoravam toda aquela correria pela casa. Pra cozinhar eu era muito parecida com Harry, não gostava que ninguém se metesse a besta no que eu estava fazendo, então já fui dizendo pra todos ficarem longe da cozinha. Só que não deu muito certo.

– Caraaaca, olha a cara que tá isso! – Disse Niall berrando assim que entrou na cozinha enquanto eu colocava uns queijos em cubinhos num pedaço de massa. Nisso ele chamou a atenção dos meninos e todos eles foram correndo pra cozinha, todos falando ao mesmo tempo e eu já estava ficando maluca com aquilo. Até que cada um deles pegou um cubinho de queijo na massa do pastel e quando eu fui ver já não tinha mais nenhum ali na massa, só no potinho. Então eu dei a louca.

– SAI DA MINHA COZINHAAA! – Gritei, pegando o rolo de massa e dando na cabeça de cada um enquanto eles saíram correndo pela casa. Obviamente, naquele momento, eu me recusei a bater em Harry. Mas quando eu descobri que ele pagou para os meninos me atrapalharem, ele foi o que mais apanhou.

(...)

Balancei a cabeça negativamente e ri quando fui fechar a porta.

– Não é possível! Esses meninos tem uma formiga no orifício anal. – Disse brincando enquanto voltava minha atenção às roupas.

– Ui, ela é chique, fala orifício anal! – Brincou Alice.

– E você cala essa matraca, o Tomlinson dois. Se não eu faço você engolir essa meia e eu aposto que teu namorado não ia gostar de te beijar depois isso. – Brinquei, apontando a meia na direção dela e ela se afastou fingindo estar com medo. Alice ainda estava com Louis também, e era absurdo de ver como o tempo passava e ela a cada dia ficava mais parecida com ele.

– Enfim, ma bitches. Eu preciso arrumar uma roupa nova pra ir no aniversário da Rachel, até porque meu tchuco dos sonhos vai estar lá. – Disse Gemma com um sorriso sapeca no rosto. – E foi pra isso que eu vim aqui. Quero que você saia comigo pra me ajudar a escolher uma roupa descente, porque o Styles eu tenho só no nome, sabe “comé”, né? E você tem o namorado Styles, é “Styles”... Daqui a pouco tá com o nome Styles. Nunca se sabe. – Disse Gemma como quem não quer nada e eu ri com a confusão de trocadilhos que ela fez com o próprio nome.

– Eu vou com você, cara de jaburu. Também to precisando de roupa descente pra ir. – Respondi.

– Ah, também quero participar dessa orgia de compra. – Disse Alice.

– Então vamos, minhas quengas? – Disse Gemma e eu ri.

– Espera eu me arruma. – Falei.

– Vishhh... – Bufou Alice.

– Então ta bom, amanhã nós vamos. – Debochou Gemma e eu fiz uma careta pras duas. Como já estava de banho tomado, apenas separei uma roupa adequada para ir, me vesti, não passei quase nada de maquiagem, ajeitei o cabelo, me perfumei e estava pronta. E essa tinha sido a primeira vez na vida que eu demorei apenas trinta minutos contados no relógio pra me arrumar. Tempo recorde. Acho que merecia até um espacinho no Guiness Book.