Íamos mais e mais para baixo até que comecei a sentir como se estivesse sendo comprimida por uma força imensa, que ia ficando mais forte. Minha visão foi escurecendo e eu perdi a consciência. A última coisa que vi foram os olhos verdes de Percy toldados de preocupação. Isso só podia significar uma coisa, a pressão.

  Eu me sentia estranha, como se estivesse deitada nos braços de alguém. Algo quente esquentava o meu rosto e fazia minhas pálpebras queimarem. Teria eu morrido?  Acho que não...já tinha ido ao mundo inferior uma vez, não parecia que eu estava lá. Decidi abrir os olhos. O que vi foram duas piscinas verdes-mar me observando, Percy. Quando viu que eu estava acordada, o Cabeça de Alga soltou um suspiro de alívio. O Sol estava alto e quente.

   - Você está bem, Sabidinha? Eu sinto muito..

   - Estou - falei com a voz rouca - Mas, o que aconteceu? Onde estamos?

   - Bem...eu não consegui controlar a pressão de imediato, mas depois deu certo... - ele disse envergonhado - Eu sinto muito...

   Peguei sua mão para mostrar que estava tudo bem.

  - Depois que vocês três já estavam inconscientes, Mare Laudes e eu conseguimos trazê-los para dentro do Mar de Monstros. Viemos para a primeira ilha que encontramos.

   - Certo...mas onde estão Nico e Thalia?

  - Estamos bem aqui! - gritou uma voz bem atrás de mim, antes de alguém vir e me dar um abraço de urso. - AH, ANNIE QUE BOM QUE ESTÁ BEM!

  - Tudo bem, Thalia, eu estou legal - eu ri me desvencilhando do seu aperto sufocante - Mas que ilha é essa, exatamente?

  Olhei para os lados e tudo o que vi foram dunas e mais dunas de areia.

  - Nós também não sabemos - disse Percy se levantando e estendendo uma mão para me ajudar - mas não encontramos nada além de areia até agora...

  - Estranho...mas se bem me lembro tudo por aqui é estranho.

  - Bem, agora que já estamos todos bem e acordados podemos explorar a ilha - sugeriu Nico vindo ao nosso encontro.

  - Têm certeza que não devemos continuar indo para nosso destino? - perguntou Mare Laudes

  - Não sei se temos muita escolha...afinal, não temos mais barco, não temos material para construir um barco...o que podemos fazer é explorar a ilha e tentar encontrar alguma coisa útil. - concluiu Percy e todos concordamos.

  Andamos por horas, mas nada encontramos a não ser areia, muita areia. Durante todo o tempo eu sentia que algo estava nos observando, Percy parecia sentir o mesmo porque olhou para mim de um modo significativo e segurou firme a minha mão.

  Thalia ia conversando com Mare logo atrás de nós, elas pareciam estar se dando muito bem, o que eu achei estranho, visto que Thalia é filha de Zeus e caçadora de Ártemis, e Mare é uma nereida, um ser do reino de Poseidon conhecido por encantar homens. Mas Mare Laudes não é como as outras nereidas, ela é tão, como posso dizer...inocente. Nico estava a vários passos longe de nós, parecia refletir.

  Era como andar no deserto, só que o nosso suprimento de água nunca se esgotava (tenho que me lembrar de agradecer ao Cabeça de Alga por isso).

  Andamos mais um pouco até encontrá-lo. O nosso primeiro esqueleto. Olhei para Percy, refletindo. Teria sido o deserto ou alguma outra coisa que causara a morte daquela pessoa?

  Minha pergunta mental logo foi respondida quando demos um passo à frente e encontramos um enorme buraco cheio de outros esqueletos dos mais variados tipos, eram humanos, sátiros, semideuses, centauros, até nereidas.

  Mare soltou um grito e deu três passos para trás esbarrando em Nico que ficou todo vermelho, mas a segurou.

  - Bem... - disse Percy - acho melhor darmos um jeito de sair desse lugar, antes que algo pior aconteça.

  Todos assentimos e corremos tentando voltar para a praia, porém não encontramos o caminho de volta, estávamos perdidos.

  - Vocês não podem sentir o mar ou coisa assim? - perguntou Thalia olhando de Percy para Mare que ainda estava tão abalada que nem ouviu.

  - Bem, em geral sim, mas aqui é tudo tão seco...eu não faço ideia. – respondeu o Cabeça de Alga.

  - Ah que ótimo - ela resmungou. O Perseu ia responder alguma coisa, mas eu não estava mais prestando atenção.

  Algo vinha em nossa direção, algo grande.

  Os olhos, mais vermelhos que rubis, me encaravam, seu corpo preto e comprido reluzia e o rabo estava se movendo perigosamente em nossa direção. 

  Era um escorpião. Um escorpião gigante. E quando eu ia suspirar aliviada, pensando que já havíamos enfrentado seres bem piores, começaram a aparecer mais e mais deles. Cinco, sete, dez, não, agora doze...vinte...trinta...

  Quarenta escorpiões gigantes.

  - Acho que não temos escolha a não ser lutar - disse Percy, sacando Contracorrente.

  - Vamos morrer - Mare Laudes falou abalada.

  - Não vamos, não - Nico respondeu ainda segurando em seus ombros - vamos conseguir

  Mas nem ele parecia estar convicto disso. Na verdade nossas chances eram poucas, nada realmente novo se pararmos para pensar.

  Peguei minha faca e meu boné (velho presente de minha mãe), o coloquei ficando invisível.

  - Vamos nessa - Percy disse.

  Ataquei um escorpião sem que ele tivesse chance de se defender, depois de sucessivos golpes ele foi derrotado. Passei para outro, maior, um pouco mais difícil de destruir. Atacava sem parar, mas minhas facadas não pareciam feri-lo. Subi em suas costas procurando um ângulo melhor para esfaqueá-lo, o monstro se retorcia em baixo de mim, ele não gostava de estar com uma semideusa montada em suas costas. Finalmente consegui matá-lo.  

  Parei e olhei em volta para ver a situação de meus amigos, eles pareciam estar se saindo razoavelmente bem. Percy lutava com três monstros ao mesmo tempo, sem uma gota de suor, e ele estava ganhando, usando sua espada como um arco de pura destruição. Nico usava sua espada de ferro estígio, pulverizando um escorpião que estava ameaçando as costas de Thalia, que atirava flechas certeiras junto a Mare Laudes, essa parecia milagrosamente recuperada do choque de ter visto esqueletos de suas irmãs.

  Voltei minha atenção para outro monstro. Esse foi mais fácil que os outros. 

  Nós continuamos nesse ritmo até que todos os escorpiões sobreviventes se viraram e foram embora, nos ignorando.

  Estávamos todos cansados de lutar nesse deserto quente e seco.

  - Não foi tão difícil quanto eu achei que seria - concluiu Percy

  - Não, foi fácil demais. - eu respondi - Tenho a impressão que ainda não acabou...

  Antes que eu pudesse concluir a minha frase, os monstros reapareceram, e, com eles, uma mulher. Ela tinha cabelos muito pretos, pálida, olhos completamente negros, como os de Nico, mas era cheia de uma aura de poder que só os deuses podem ter, em sua cabeça carregava uma tiara e em seu pescoço uma cobra ia enrolada.

  Ela parou diante de nós, nos encarando.

  - Digam-me,por que estão incomodando meus escorpiões?

  - Ah, desculpe, mas quem é a senhora? - perguntou Percy

  A deusa olhou para ele.

  - Me chamo Hécate. E você deve ser Perseu Jackson, ouvi muitas coisas sobre você, boas e ruins - ela disse inexpressiva, e Percy pareceu nervoso.

  - Hécate? Mas a senhora não deveria estar no submundo? - perguntou Nico desconfiado

  - Deveria? Uma deusa não pode optar por passear de vez em quando? Quem é você para me dizer onde devo ou não devo estar di Ângelo? - Hécate não parecia zangada, nem aborrecida. - Bem, essa ilha é minha, e vocês a estão invadindo.